TOM JOBIM

Helena é que me deu o apelido de Tom. Ela não conseguia dizer Antônio Carlos, então me chamava de Tom-Tom, Tom-Tom... Virou Tom. Mais tarde, os caras vieram me dizer que Tom era um nome americano como Johnny Alf ou Dick Farney. Tive que carregar essa cruz. Lutei muito para ser Antônio Carlos, mas não consegui. Ninguém vai chamar um cara de Antônio Carlos se pode chamá-lo de Tom.

O Villa-Lobos dizia: — O Brasil é uma floresta encantada onde a Europa jogou o tapete persa velho, mofado, cheio de poeira, cheio de ácaro.

A criação resolve em parte a angústia. Eu acho que quando você faz uma música você dissolve uma depressão. O piano funcionava como espelho na correção de meus defeitos. Procurava uma harmonia, uma coisa boa. Eu não ia fazer uma música para incentivar o suicídio, para arregimentar o ódio, nem para conduzir à droga.

Minha música é essencialmente harmônica. Sempre procurei a harmonia. Parece que eu tentei harmonizar o mundo. O que é evidentemente uma utopia.

Foi a inteligência que nos levou a todos esses absurdos. A destruição da Natureza, a violência, o banditismo.

O cultivo da hipocrisia chegou a um ponto em que o País ficou de cabeça para baixo. Como disse Chico Buarque, 'dinheiro é bom para comprar uísque, charuto e pagar o aluguel'. Quando o dinheiro é tudo, a vida vira a maior chatice.

O Brasil não é para principiantes.

Tom Jobim (Manuscrito)

O Brasil é de cabeça para baixo e, se você disser que é de cabeça para baixo, eles o põem de cabeça para baixo, para você ver que está de cabeça para cima.

Se eu pudesse, por um dia,
Esse amor, essa alegria,
Eu te juro, te daria...

A voz humana é o instrumento mais rico que há.

Minha obra é toda um canto de amor ao Brasil, minha terra, povo, flora e fauna. À vista da minha janela ou da janela do avião.

O aeroporto é a melhor saída.

Ser conhecido, às vezes, ajuda; outras vezes, atrapalha. Um camarada diz: — Você é o Tom Jobim, então, vem cá, vem por aqui. Facilita sua vida. Outro, pelo contrário, diz: — Aquele lá é o Tom Jobim; então, manda ele lá para o fim da fila para ele aprender o que é Democracia.

O telefone... Eu perdi os meus melhores momentos ao telefone.

Tom Jobim (Manuscrito)

A gente passa a vida inteira ensinando os filhos a andar para frente. Aí, vem um tal de Michael Jackson e ensina a eles a andar para trás.

Eu não ouço rádio nem discos. Para ser sincero, não me preocupo com o que os outros fazem com a minha música.

Eu quis amar, mas tive medo,
E quis salvar meu coração.
Mas o amor sabe um segredo,
O medo pode matar o seu coração...

Volto para me aporrinhar, para responder a esse tipo de pergunta, para ser um dos 5% de brasileiros que pagam imposto de renda, para perder o apetite ou morrer de indigestão. Volto porque nunca saí daqui.

Há o mito de que o artista só cria quando está com fome e caído na calçada. Que nada. Ele trabalha quando acorda, bem sóbrio.

Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz.

Este é um País em que as prostitutas gozam, os traficantes cheiram e em que um carro usado vale mais que um carro novo. É ou não é um País de cabeça para baixo?

Mulher é assim: se a gente olha, ela desvia o olhar. Se a gente olha para a praia, ela olha para a gente. As mais moças empinam o nariz. As mais velhas, sempre retribuem.

Só o amor me ensina
Onde vou chegar...

Tenho esperanças que o 'rock' vai evoluir e descobrir o quarto acorde, porque fazer música só com três acordes é difícil, né?

Sobre o Rei Roberto Carlos: Ele é o Rei! Vox Populi, Vox Dei!

A música é o silêncio que existe entre as notas.

Bom é mesmo amar em paz.
Brigas nunca mais.

Eu sempre achei que ia morrer jovem; que não chegaria à idade de Cristo – 33 anos. Tinha até um sonho: se eu chegar aos 33, não morro mais.

Certamente, se o Sinatra pertencesse à Máfia, não me diria. Particularmente, eu acho que não.

Tom Jobim (Manuscrito)

É, meu amigo, só resta uma certeza:
É preciso acabar com essa tristeza;
É preciso inventar de novo o amor.

Nunca tentei e não tentarei acompanhar o modismo. Enquanto der para pagar o aluguel, comer o feijão com arroz, tomar uma cervejinha, não vou me desviar do que faço para atender às necessidades do momento.

Minha vida sempre foi compor. Para deixar de fazê-lo, só se trocasse a composição pela felicidade.

Céu, tão grande é o céu!
E bandos de nuvens que passam ligeiras...
Prá onde elas vão, ah!, eu não sei, não sei!
E o vento que toca nas folhas
Contando as histórias que são de ninguém,
Mas que são minhas e de você também.
Ai, Dindi!

Sou brasileiro por determinação e não por opção. E não sou tolo de escrever 'jazz', 'pop' ou 'rock', porque nunca poderia competir com seus autênticos criadores.

O bêbado que eu mais gosto sou eu. Bêbado, só eu mesmo.

Eu vivia de noite. As boates naquele tempo eram conhecidas como inferninhos. Depois ganharam o nome de casas noturnas. E aconteciam coisas terríveis. Um cara se suicidou no French Cancan, que ficava na Avenida Atlântica, no Posto Cinco; um camarada deu um tiro no outro, e quase me matou. Eu estava tomando um uísque encostado no bar, e a bala passou aqui perto do fígado, do estômago, do baço, bateu na parede. Eu escutei aquele estalo, olhei e vi o sujeito com o revólver na mão. Olhei a parede; ficou aquele furo. Parede segura a bala, e a bala estava no chão, toda amassada. Aquele buraco na parede destilando aquele pó fino. O cara estava tão nervoso... Ele era Procurador da República, tinha licença para andar armado. Quando puxou o revólver para dar um tiro, acho que foi para espantar. Ele não ia matar o Roger, que tinha sido da Resistência Francesa. O revólver disparou, furou a roupa do garçom que vinha com uma bandeja, deu risco nas costas do garçom assim de leve, passou por mim e bateu na parede. Ele disse para mim: — Pode tocar seu piano. Eu voltei a tocar. Imagina só o que é que eu ia fazer! O cara com um revólver na mão. Foi em 50, quando eu tocava na noite para ver se conseguia pagar o aluguel. Meu padrasto completava com um conto de réis. Eu morava em Copacabana num sala-e-quarto conjugado.

Acho que esse negócio de poesia nasce um pouco com a gente. A gente é poeta ou não.

Villa-Lobos dizia que era o autor mais vaiado do Brasil. Eu ainda não tive essa glória

O Rio que eu conheci não existe mais. Rua Nascimento Silva, 107, eu saio correndo do pivete tentando alcançar o elevador...

A calúnia é um negócio.

Eu não posso falar mal dos médicos nem dos advogados, como disse a imprensa: sem os advogados e os médicos eu morreria imediatamente. Morreria de fome e de todas as doenças. Porque, com a idade, vão chegando aqueles aborrecimentos...

Os grandes músicos que eu conheço são sujeitos que só pensam em música. Eu não sou assim. Eu gosto de chope, eu gosto de conversar com as pessoas, eu gosto de falar numa outra língua, de entender o que o sujeito está dizendo em espanhol, em italiano, em...

Deixa o mato crescer em paz...

A bossa-nova com, João Gilberto, trouxe grande inovação harmônica para nossa música. As letras também evoluíram muito, principalmente com Vinicius de Moraes; uma maneira nova de dizer as coisas. A simplicidade e a limpeza harmônica, sem que soubéssemos na época, já que a bossa-nova era um fenômeno puramente local – começou no Rio de Janeiro – se tornariam música de exportação, que explodiria no exterior e que até hoje é muito tocada nos Estados Unidos.

Tom Jobim (Manuscrito)

É difícil distinguir onde começa a Natureza e onde acaba o feminino.

Este seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas
Que eu não posso acreditar...

Mulher chega a um ponto em que quebra garrafa de 'whisky' na pia. Vocês sabem o que elas fazem… É a revolta, né? Mas não adianta, a gente compra mais.

Se não fosse a ‘Garota de Ipanema’, que fiz com o Vinicius e gravei com Sinatra, a esta altura eu estaria fazendo 'jingles' para a televisão...

Não tenho explicações para as minhas músicas. Fiz o que estava com vontade.

Sabe o que é melhor que ser bandalho ou galinha? Amar. O amor é a verdadeira sacanagem.

Eu sei e você sabe que a distância não existe...

Se vão as paralelas ao infinito se encontrar, porque demoram tanto os corações a se integrar?

Nenhuma situação é tão complicada que uma mulher não possa piorar.

... quem não
Pede perdão
Não é nunca perdoado.

Grandes mulheres merecem, pelo menos, um pequeno olhar.

Quando uma árvore é cortada ela renasce em outro lugar. Quando eu morrer quero ir para esse lugar, onde as árvores vivem em paz.

Quem acreditou
No amor, no sorriso, na flor
Então sonhou, sonhou...

O dinheiro não é tudo. Não se esqueça também do ouro, dos diamantes, da platina e das propriedades.

Nada é melhor para a saúde do que um amor correspondido.

No Brasil, o sucesso é ofensa pessoal. As pessoas só gostam do Garrincha, que morreu pobre e alcoólatra. Quando aparece um Pelé, todo mundo fica chateado...

E quem quer todas as notas
– ré, mi, fá, sol, lá, si, dó –
Fica sempre sem nenhuma,
fique numa nota só.

O Brasil persegue as pessoas que fazem sucesso. Não só o Brasil: o imposto de renda, os generais. Você, sendo um cidadão que trabalha, se transforma em um alvo nacional. É um negócio pavoroso.

A gente só leva da vida a vida que a gente leva.

Dediquei minha vida à música brasileira, porque já tem francês para escrever música francesa e americano para escrever música americana.

Carrego nas costas a cangalha de fazer música brasileira e alguns me acusam de ser estrangeiro.

Se todos fossem
Iguais a você,
Que maravilha viver...

Antigamente, as mulheres tinham medo dos homens. Hoje em dia, uma moça bonita bate na minha barriga e me convida para tomar um uísque no apartamento dela. Fico tão desconfiado...

Eu não sou homem de negócios, não tenho apartamentos alugados, nem terrenos. O dinheiro que entra é para a casa, o carro, o uisquinho, a cervejinha.

Pra que dividir sem raciocinar?
Na vida, é sempre bom multiplicar.

É preciso sobreviver para atingir a idade da realização, para ser feliz. Não vale sair antes de o jogo terminar.

O inglês é aquela língua de índio, uma coisa muito simples.

A gente não pode ser aquele garoto tímido toda a vida. Tem que se dar um pouco mais, chegar perto do público sem aquela armadura toda.

Um dia, eu vou morrer. A música vai ficar...

O problema do avião é que, quando ele dá defeito, é sempre lá em cima. E a oficina é sempre cá embaixo...

Tenho falado de serra, mato e passarinho. Mas o brasileiro se interessa somente por carro e apartamento.

Digo que minha música vem da Natureza, agora mais do que nunca. Amo as árvores, as pedras, os passarinhos. Acho medonho que a gente esteja contribuindo para destruir essas coisas.

No Brasil, é tudo importado: eu, você, a língua, os índios, a cana-de-açúcar e o café.

Tristeza não tem fim. Felicidade sim.

Ando pensando muito em bicho, porque estou achando o homem uma bobagem, uma chatice.

Urubu

Jereba é urubu importante como, aliás, todo urubu. Mas entre eles, urubus, observam-se prioridades. E esse um é o que chega primeiro no olho da rês. Sem privilégios.

Provador de venenos, sua prioridade é o risco. O que ele não toca é intocável. Jereba é urubu importante e, por isso, ganhou muitos nomes. Peba. Urubupeba. Urubu Caçador. Achador. Urubu Procurador. Urubu de Cobra. Urubu de Queimada. Camiranga. Urubu de Ministro. De cabeça Vermelha. Urubu Gameleira. Urubu Peru. Perutinga.

Um Mestre. Cathartes aura.

Não confundir com Urubu Rei. Nem é Urububu. Não tem pompas; nem é tão igual assim. Só se parece consigo mesmo.

Não é Urubutinga. Nem Urubu do Mar, Carapirá. Nem o de Cabeça Amarela, nem o famoso Urubu Chacareiro, que voa baixo sobre chácaras e quintais, só come manga e não existe. É mentira de caçador perna-de-pau, de cadeira de balanço, de aposentada carabina.

Nem mera citação de nomes – Urubu Sonho. Nem conotação de azar – Urubu Morcego.

Na verdade não és culpado da nossa devastação. Corcovado de duas corcovas, solenes ombros altos de tanta asa sobrante, as mãos cruzadas às costas, narinas conspícuas vazadas, grave, ministro de assuntos impossíveis, só tu sentas à mesa com o Rei.

No chão não te moves bem. Fraco de pernas, maljeitoso, troncho, pousado és o mais feio dos urubus.

Despropositado passarão.

Matas com fezes ácidas a árvore onde dormes à espera do dia solar. E vem o dia, as termais e o vento, e a necessidade de voar.

Dia velho, as asas aquecidas, o Jereba mergulha na piscina. Pé de serra, fim de baixada onde começa a ladeira e os contrafortes azulam na distância, o Jereba sobe na chaminé do dia. Urubupeba. As rêmiges das asas púmbleas, prata velha fosca, dedos de mão apalpando o vento, adivinhado tendências.

Urubu Mestre. As grandes asas expandidas cavalgam as bolhas de ar quente emergentes da ravina. Tolo papagaio, tola pipa boiando no ar, não-querente, não desejo navegante, à deriva, à bubuia – pois sim! – preguiçoso atento dormindo na perna do vento. Esse sabe o que há de vir. Aquário do céu.

Teu canto imita o vento. Hisss… As asas agora curtas, sobraçando trilhos de ar, pacote negro compacto, bico cravado no vento, velocidade feita letal, muro de azul aço abstrato – e adeus viola que o mundo é meu.

Nas lentes dos olhos, a águia oculta y entrabas e salias por las cordilleras sin pasaporte.

Urubu procurador. Urubu Achador. Que sabes do alto o que se esconde no chão da mata virgem e dos muitos perfumes que sobem do mundo.

Eterno vigia de um tempo imperecível. Guardião de dois absurdos.

Nos vetustos paredões de pedra, esculpidos pela millennia, dorme de perfil um urubu.

A vida era por um momento.

Não era dada. Era emprestada.

Tudo é testamento.

Fundamental é mesmo o amor; é impossível ser feliz sozinho.

Ah!, quem me dera ser poeta
Pra cantar em seu louvor
Belas canções, lindos poemas,
Doces frases de amor!

Assim como o brasileiro foi educado para perder, o americano foi educado para ganhar.

Tom Jobim (Manuscrito)

Toda a minha obra é inspirada na Mata Atlântica… O Brasil é o único país do mundo com nome de árvore. A gente tem que se orgulhar disso... Já está na hora da gente plantar mato, reconstruir um pouco da nossa Floresta Atlântica, que é a coisa mais linda do mundo, o lugar que tem mais variedade de bicho, de planta, de remédio, de tudo. A gente tem que fazer força para ter essa Mata Atlântica aí.

Os discos que eu gravava, os chamados ‘de catálogo’, não interessam mais às companhias. Elas querem é vender um estouro: a música passa quatro meses aí, e eles jogam fora. Depois, ninguém mais sabe o que é, não sabe o nome do autor; ninguém quer saber de nada, é uma diluição geral.

Quando me casei, descobri a felicidade; mas aí já era tarde demais...

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar...
Voa tão leve, mas tem a vida breve,
Precisa que haja vento sem parar...

Toda música é o reflexo de uma época.

Esse teu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas que eu não posso acreditar...
Doce é sonhar, é pensar que você,
Gosta de mim, como eu de você...
Mas a ilusão,
Quando se desfaz,
Dói no coração de quem sonhou,
Sonhou demais...
Ah!, se eu pudesse entender,
O que dizem os seus olhos!

Outro dia, entrei no mato para piar um inhambu e o que saiu de trás da moita foi um Volkswagen.

Porque foste em minha alma um amanhecer. Porque foste o que tinha de ser.

O futuro já era: vou acabar em plena Amazônia toda asfaltada com um matitaperê empalhado no dedo.

A inteligência é o mais pobre dos atributos humanos.

Morar em Nova Iorque é bom, mas é uma merda; morar no Brasil é uma merda, mas é bom.

Assim como viver sem ter amor não é viver, não há você sem mim e eu não existo sem você.

... o verbo amar não se conjuga sem você...

Para ser técnico num País de 150 milhões de técnicos, só mesmo tendo um saco de ouro.

Em primeiro lugar, eu acho que jararaca não menstrua. Em segundo lugar, eu não sei porque Vinicius e eu parecemos duas jararacas menstruadas!

Eu sou a favor da riqueza. Eu não acho que a gente deva cultivar a miséria. Como disse o Joãozinho Trinta, 'quem gosta de miséria é intelectual'.

Uma coisa lamentável essa de sempre destruir tudo e plantar café, de plantar cana, que é a história do Rio de Janeiro, a história de São Paulo, a história do Paraná, a história da Mata Atlântica. Que pega essa coisa que Deus nos deu, linda, e transforma num deserto. Quer dizer: quando você vem dos Estados Unidos e olha pra baixo, a zona da Mata, em Minas Gerais, não tem mais mato nenhum. Está tudo destruído. Você vê aquelas moçorocas, aquelas gretas, a terra toda despencando, a serra despencando, não tem árvores... Está tudo erodido, pra não dizer...

Tudo que dá certo é perseguido; é apontado como uma coisa indesejável.

Há aquele que escreve pensando que é a 'intelligentsia'; mas, de fato, é a 'burritsia'.

A minha paixão pelos pássaros é um pouco distante, entende; eu não gosto de pássaro no colo. Os pássaros são bons soltos, voando, cantando, né. Assim é que eles me divertem mais. Pássaro preso... Um pouco triste...

O meu pai era o meu velho, e hoje em dia eu estou muito mais velho do que o meu pai. Meu pai morreu aos 46 anos, de modo que eu já posso ser pai do meu pai.

Você destrói a Mata Atlântica toda... Você destrói a Floresta Amazônica... Quando chegar no poema do Villa-Lobos, você não vai entender porque não tem a Amazônia!

Esse pessoal, quando o outro fala de Ecologia, começa a cortar mais depressa antes que apareça o fiscal ou qualquer coisa que impeça a destruição.

Tom Jobim (Manuscrito)

Eu acho que o raciocínio comparativo é falso. Frank Sinatra com Pavarotti, o Brasil com os Estados Unidos. Eu acho que as coisas são incomparáveis.

Quantas vezes fui cobrado por fazer sambas. Os comunistas diziam: — Pôxa, fazendo samba enquanto jogam bomba no Vietnã? Ora, eu nunca joguei bomba no Vietnã.

Quando me perguntaram: — O senhor é comunista?, respondi: — Não, sou violonista.

Pé-direito bom é aquele em que você entra montado a cavalo e dá vivas à República tirando da cabeça o chapéu de mexicano.

A cada ausência tua eu vou chorar, mas cada volta tua há de apagar o que esta ausência tua me causou.

É mais confortável morrer em português. Como é que você vai dizer para o médico gringo, em inglês: — Tô com uma dor no peito que responde na cacunda?

As mulheres estão cada vez mais lindas e eu cada vez mais velho!

Se o cachorro morder o homem, não sai no jornal porque é uma notícia muito boba. Agora se um homem morder um cachorro, aí já fica muito melhor, né.

Eu recebi muita carta do exterior de gente que ia se suicidar e que disse: — Olha, eu não vou me suicidar porque escutei essa música sua e acho que a vida vale a pena.

Tom Jobim (Manuscrito)

A minha música não é pra levar à droga, nem à violência, nem à motocicleta, nem nada disso. A minha música é pra levar o cidadão à Deus.

O meu plano para o futuro é descansar, comprar uma bengala, uns óculos novos pra poder ver as moças de uma distância oficial. '

Essa conversa de vamos atingir São Paulo me dá uma preguiça... 'Vamos fazer os Estados Unidos', 'made in America', 'to make America'... Isso me dá um cansaço invencível!

De que adianta você pagar milhões de impostos e morar em uma cidade que você não pode respirar? Que imposto é esse que você tá pagando? São as grandes cidades, né?

Eu sou um mestiço de popular com erudito. Sou um eruditinho. Eu sempre falei mal de mim, mas com moderação. O pessoal aproveitou pra exagerar um pouco.

Eu não defino linhas de fronteira entre a música popular e a música erudita. Inclusive, em Chopin e em Villa-Lobos está cheio de temas populares dentro da música erudita. Essa divisão é falsa; não leva a nada também. Certas pessoas gostam de dar nome às coisas. E dar nome às coisas impede a compreensão. Eu chamo Maria de Maria, e aí penso que conheço Maria. Mas Maria é uma outra coisa. É essa coisa de fazer enciclopédia, de botar todos os nomezinhos lá.

Uma moça, que estudava jornalismo na PUC, perguntou ao Villa-Lobos, que estava morrendo: — Maestro, o que o senhor está compondo agora? Ele disse: — Agora, eu estou decompondo.

Só se vê bem com o Coração.

Se o Ari Barroso e o Villa-Lobos morreram, eu também posso morrer.

E o Tom Chorou...