Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

A Vaca Violeta

 

 

Em ordem alfabética, alguns tipos de governo são:

Anarquismo = Você tem duas vacas. Mata as duas e faz um baita churrasco com os funcionários do Governo. Como você é um bom chocorreta, o churrasco é regado a vinho.

Burocracia de Estado = Você tem duas vacas. O Governo burocratiza as duas, deixa uma morrer à míngua e joga fora o leite da outra (que também acaba morrendo à míngua).

Capitalismo Selvagem = Você tem duas vacas. Vende uma pelo dobro do valor de mercado, compra um touro reprodutor[1] pela metade do valor de mercado, e o Governo confisca os bezerros como imposto de renda na fonte. E fica tudo bem, porque se o fisco entrasse de sola você acabaria tendo que entregar até o touro reprodutor. Quem sabe, até mais alguma coisa!

Comunismo = Você tem duas vacas. O Governo se apossa das duas, e dá a você, de vez em quando, para você matar a fome, um pouquinho do leite que já era seu[2], em troca (barganha cavilosa) de um trabalhinho forçado que você detesta fazer. Mas você tem que fazer o trabalhinho forçado, senão, com fome ou sem fome, você cai em desgraça patriótica e é apagado. Sem choro, sem vela e sem fita amarela.

 

 

Democracia = Você tem duas vacas. Vende as duas para o Governo, muda para a cidade e, por ser bem empistolado, passa a chuchar diretamente na teta da vaca estatal, isto é, consegue, sem concurso, um emprego público com função comissionada e tudo. E trabalha só se der na telha e quando dá na telha! Ou como faz agora o touro Ferdinando, que, depois de se tornar funcionário público da Prefeitura, só trabalha por prazer!

Ditadura Republicana = Acreditava Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857), o fundador do Positivismo, que o Governo deveria ser republicano e não monárquico, a República deveria ser ditatorial e não parlamentar e a Ditadura deveria ser temporal e não espiritual. As vacas, como todos os outros animais e cidadãos, deveriam se sujeitar às leis que regulam o estado sociocrático positivista bolado por Comte. Se quisessem votar, cidadãos e vacas, deveriam se mudar para o raio que o parta, porque, neste regime, o voto, como meio de investidura política, era e é considerado um método irracional e imoral, já que os positivistas julgavam e continuam a julgar inconcebível os inferiores escolhendo os superiores. Em parte, reconheço, no que concerne às vacas, concordo com eles: ainda que todas as vacas (e, universalmente, todos os seres) sejam nossas Irmãs Menores, já imaginaram vaca votando em presidente da República? No mínimo, lá pelas 5 horas da tarde, as sessões eleitorais estariam cheias de bosta vacum pelo chão e cheirando a bosta. Entretanto, acreditem: no futuro, a bosta vacum poderá ser muito útil. É provável que um dia destes, pisar em bosta de vaca seja uma constante do dia-a-dia. Investigadores da Universidade do Michigan estão a desenvolver uma maneira de aproveitar a fibra de estrume de vaca, depois de processado e esterilizado, para fazer aglomerados, como o aglomerado de madeira, que depois poderá ser utilizado para fazer desde pavimentos a mobiliário. É mais barato do que a madeira, existe em abundância e a sua utilização não implica na aniquilação de árvores e em comprometimento do meio ambiente. Agora, se isso fede eu não sei; mas é possível que, se você tiver duas vacas, possa vir a ganhar um extra-bosta-vacum com a bosta diária que suas Irmãs despejam. Quanto à flatulência vacum, a camada de ozônio que se cuide!

 

 

Fibra de Estrume Vacum

 

Fascismo = Você tem duas vacas. O Governo se assenhoreia das duas e vende o leite a você. Se você não tem dinheiro para comprar, morre de fome. Se você dissentir do Governo, é preso e poderá ser fuzilado.

 

 

 

 

Governo Patropi Tupiniquim = Sua vaca sumiu. Saiu voando por aí. Ninguém sabe, ninguém viu. Vai ver que ela foi tirar umas férias naquela fazenda do Espírito Santo... Que todo mundo sabe qual é!

 

 

A Vaca Voadora

 

Governo Tupiniquim Patropi = Com o salário-mínimo que você ganha, você não tem vaca alguma que muja. E, provavelmente, jamais terá. O Governo vende as dele (que nunca foram dele, mas suas, que você tinha sem saber que tinha, pois, você é arrochado em ± 35% de impostos disto, de impostos daquilo, de impostos daqui, de impostos dali[3]) para o Uncle Sam,[4] e você passa a comprar (quando o dinheiro dá) leite importado de caixinha. Do próprio Uncle Sam.

Monarquia Absoluta = Vida longa ao rei! É caracterizada pela concentração absoluta do poder e pelo arbítrio absoluto do rei, que governa desvinculado de qualquer limitação jurídica (solutus legibus). Em outras palavras: você pensa que é dono das suas vacas, mas quem é o verdadeiro dono é o rei.

Monarquia Constitucional Pura = O rei exerce plenamente a função governamental, na condição de Chefe de Estado e Chefe de Governo, consagrado, porém, o princípio da separação e independência das funções. As vacas do rei são só dele; já as suas, são suas e dele.

Monarquia Constitucional Parlamentar = O rei é mero Chefe de Estado, sendo a Chefia de Governo, ou função governamental propriamente dita, exercida pelo primeiro-ministro, assessorado por um Gabinete. Quanto à forma de sucessão, há três: a) a hereditária (os monarcas vêm da mesma família e a coroa é passada de um membro para outro da família, ou seja, o governo é transferido por laços hereditários, observada a linha de sucessão legalmente estabelecida; por exemplo: o atual chefe da Casa Imperial do Brasil é Sua Alteza Imperial e Real D. Luiz de Orleans e Bragança, bisneto da Princesa Isabel, a Redentora, e trineto do Imperador Dom Pedro II, e, de jure, isto é, por direito, o Imperador Senhor D. Luiz I, do Brasil, desde 1981); b) a eletiva (por exemplo, a eleição do Papa, efetuada por um Colégio Cardinalício); e c) a cooptação (o sucedido impõe, a seu talante, o sucessor, como, por exemplo, Nerva, senador romano, fundador de dinastia, que escolheu como sucessor Trajano, um de seus generais, e, também, como segundo exemplo, a escolha impositiva de seu sucessor pelo caudilho, militar e ditador espanhol Francisco Paulino Hermenegildo Teódulo Franco y Bahamonde Salgado Pardo de Andrade, 1892 - 1975). O fato é que o primeiro-ministro não faz tudo o que quer na Monarquia Constitucional Parlamentar. Faz mais ou menos. Porque pode, só a título de exemplo, fazer uma coalizão para invadir o Iraque para roubar o petróleo e as vacas do povo iraquiano. Neste caso, o rei e o primeiro-ministro são donos apenas das suas vacas, mas podem furtar ou roubar as dos outros. Basta pôr os canhões para funcionar. Então, abra o olho com a suas vacas!

Nazismo = Você tem duas vacas. O Governo, para direcionar a produção, manda você para um campo de concentração e confisca as duas vacas. O que ele faz com elas é segredo de Estado e nunca se saberá. O que ele faz com você, que é menos importante do que as vacas, só se saberá muito tempo depois.

Socialismo = Você tem duas vacas. O Governo se apodera de uma e dá essa uma (que era sua[5] e foi apoderada à força) para o seu vizinho que não tinha nenhuma (e, como criança que ganha um 'pilulito', esse seu vizinho, bafejado pela lady luck socialista, fica rindo pra você).

Teocientificismo = Já escrevi alguns trabalhos sobre este assunto. Neste regime Aristocrático de Governo (entenda-se o Teocientificismo como um Governo Aristocrático Espiritual, de todos, com todos e para todos) as vacas e todos os outros animais serão considerados nossos Irmãos Menores e...

 

 

 

 

 

 

 

A VACA E O CHOCORRETA

 

 

 

Oiça bem, ó chocorreta!

Tudo bem, se é vaca-preta;

tudo mal, se é minha carne

porque eu não sou encarne.

 

Você já foi a um matadouro?

Lá é um tremendo desdouro.

É um lugar de padecimento,

mugido, comoção e lamento.

 

Oiça bem, ó chocorreta!

Inapetente, gagá e cambeta

todo mundo haverá de ficar.

E aí? O que irá recordar?

 

Chega de nos assassinar

e de nossa carne degustar.

Se ela é comida com vinho

é bem maior o descaminho.

 

Oiça bem, ó chocorreta!

Nem a radiação ultravioleta

pode ser pior para a saúde.

Já providenciou seu ataúde?

 

Depois, não chie do destino

O mau destino[6] você fabricou;

seu hiperpepino você semeou.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

[1].  O caboclo Nepomuceno tinha um touro reprodutor que era o melhor da Cidade de São João Nepomuceno, Zona da Mata Mineira. O touro Ferdinando era seu único patrimônio. Os fazendeiros descobriram que o tal touro era o melhor animal reprodutor das redondezas, e começaram a alugar o bicho para cobrir suas vacas. Era só colocar uma vaca perto do touro, e ele não perdoava! Mugia e cravava a bovina! Com isso, o caboclo acabou ganhando um dinheirão.

Os fazendeiros, que estavam gastando uma baba com as cobrições, se reuniram e decidiram fazer uma vaquinha para comprar o touro. Foram à casa do caboclo e propuseram:

Seu Nepomuceno, põe um preço no seu bicho que estamos interessados em comprá-lo.

O caboclo, se aproveitando democraticamente da situação, pediu um preço absurdo. Os fazendeiros não aceitaram a escorchadora proposta e foram choramingar e se queixar com o Prefeito da cidade. Este, sensibilizado com o problema dos fazendeiros, comprou o animal com o dinheiro da Prefeitura. Pagou uma fortuna e o registrou como patrimônio seminal da cidade. Fizeram uma festa imensa na cidade para comemorar! Veio gente até do Espírito Santo que nunca entendeu nem de boi nem de vaca.

Os fazendeiros, então, trouxeram suas vacas para o touro cobrir. Tudo de graça! Veio a primeira vaca, e o touro, muito de leve, deu uma assuntada, e necas de pitibiribas. Saiu todo 'reboloso' e foi cheirar flores.

Deve ser culpa da vaca. Ela é muito magrinha! — disse um fazendeiro.

Trouxeram outra vaca, uma holandesa, a mais bonita da região. O touro, de soslaio, deu espiadela na vaca e... bulhufas! Preferiu cheirar flores de novo.

O Prefeito, desesperado, chamou o caboclo Nepomuceno e lhe perguntou o que estava acontecendo. Afinal, o investimento havia sido enorme e arrombara os cofres da Prefeitura. Como seria possível, logo agora, o touro falhar no cumprimento do dever?

Sei não, seu Prefeito — disse o caboclo. — O Ferdinando nunca fez isso antes! Deixa com eu, seu Prefeito. Eu vou ter uma conversinha com esse bicho e descobrir por que ele tá fazendo essa sem-vergonheza com nós.

O caboclo Nepomuceno, aproximando-se do boi inteiro, perguntou:

O que há com você, Ferdinando? Quer me envergonhar? Não tá mais a fim de trabalhar?

E o touro, dando uma espreguiçadela, respondeu:

Pára com isso, meu bom Nepuça. Agora sou funcionário público da Prefeitura! Só 'trabalho' por prazer.

 

 

O Touro Ferdinando

 

[2].  Na realidade – como nós não somos donos de nada, muito menos dos animais o leite também nunca foi seu; sempre foi da vaca e do seu bezerro. Mais da vaca do que do bezerro. Seu é que nunca foi.

[3].  A carga tributária brasileira é a maior do Sistema Solar. Em 2006, alcançou a cifra estratosférica de 38,8% do PIB. O imposto é o substrato da cidadania, com bem disse Lucia Hippolito. Mas, no Brasil, é assim: uma boa faixa da população é bitributada porque paga um imposto enorme e não tem escola, então tem que levar o filho para a escola particular; não tem segurança, compra segurança particular; não tem saúde, paga plano de saúde. E por aí vai.

[4].  Uncle Sam (Tio Sam) é uma personificação nacional dos Estados Unidos da América que data da Guerra de 1812. A lenda diz que o Uncle Sam foi criado por soldados americanos no norte de Nova Iorque, que recebiam barris de carne com as iniciais U.S. estampadas (U.S de United States, que significa Estados Unidos em português). Os soldados teriam brincado, dizendo que as iniciais U.S. significariam Uncle Sam – uma referência ao dono da companhia fornecedora da carne, Samuel Wilson, de Troy. A brincadeira ficou bastante popular, e a revista americana Punch o batizou como símbolo americano. Em 1870, o cartunista Thomas Nast fez o desenho de Uncle Sam baseado no rosto de Abraham Lincoln, 1809 - 1865, que foi Presidente dos Estados Unidos de 16 de março de 1861 até 15 de abril de 1865, e é considerado um herói nacional. Em 1917, o artista James Flagg desenhou-o com o dedo em riste e com a frase I Want You (Eu Quero Você), encomendado pelas Forças Armadas americanas, que estavam recrutando soldados para a Primeira Guerra Mundial.

 

 

Uncle Sam

 

 

[5].  Tenho que insistir: nós não somos donos de nada, muito menos dos animais. Por outro lado, somos responsáveis por tudo que fazemos. Logo, não adianta botar a culpa na mula-sem-cabeça nem no saci-pererê pelas nossas educativas compensações.

[6].  Não há destino, bom ou mau, determinado de antemão. Somos nós, com nossos pensamentos, nossas intenções, nossas palavras e nossas ações que fabricamos nosso destino. Bom ou mau, benfazejo ou malfazejo. Quem bota a culpa em mula-sem-cabeça ou no saci-pererê pelo seu mau destino está mais por fora do que cello* em batuque de dança afro-brasileira ou do que berimbau** em orquestra sinfônica.

* Mais conhecido por violoncelo, é um instrumento de arco e cordas friccionáveis, que corresponde ao baixo da família dos violinos, executado, porém, entre as pernas, e apoiado em um espigão.

** Instrumento idiofone de origem banta que consiste em um arco de madeira retesado por um fio de arame e com uma meia cabaça (caixa de ressonância) presa ao dorso da extremidade inferior. A abertura dessa cabaça o tocador aplica sobre o seu peito ou barriga, enquanto faz vibrar a corda, geralmente com uma vareta, aproximando e afastando a cabaça do corpo para modificar o som, e utilizando para o mesmo fim, mas sobre o fio, uma moeda ou objeto similar, que segura com os dedos polegar e indicador da mão que sustenta o berimbau.

 

 

Berimbau

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.students-capoeira-angola-australia.info/

http://humptydumpty.website-lab.com/
2007/03/23/madeira-de-coco-de-vaca/

http://www.monarquia.org.br/

http://www.dji.com.br/
constitucional/monarquia.htm

http://www.dpent.com/
cgi-bin/dpstore.cgi?page=flyinganimals

http://glenndairy.tripod.com/

http://propositu.blogspot.com/
2007/04/o-touro-reprodutor.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Tio_Sam

 

Fundo musical:

Swingin on a Star (Jimmy Van Heusen & Johnny Burke)

Fonte:

http://members.lycos.nl/
catchytune/samples2.html

 

Convite:

Vale a pena dar uma conferida nos importantes trabalhos Discurso Sobre a Voracidade e Discurso Sobre o Destino (Onde se Examina a 'Hora da Verdade'), ambos de autoria do Rev. Illuminatus Frater Velado, 7Ph.D., Irmão Leigo da Ordem Rosacruz e Dirigente da Ordo Illuminati Ægyptorum (Illuminates of Kemet).

Os endereços, para leitura on-line ou download, são:

1º - Discurso Sobre a Voracidade

http://svmmvmbonvm.org/voracidade.pdf

2º - Discurso Sobre o Destino (Onde se Examina a 'Hora da Verdade')

http://svmmvmbonvm.org/destino.pdf