Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Manuscrito do Timeu
(Tradução para o latim de Calcídio)

 

 

O diálogo platônico Timeu, escrito cerca de 360 a.C., pertence ao grupo dos diálogos da velhice, em que as idéias de Platão (428/427 – Atenas, 348/347 a.C.) são apresentadas por inteiro, fazendo parte do que se conhece como a oitava tetralogia (Clitofon, A República, Timeu e Crítias) – ligadas entre si por um tema comum. Neste diálogo, do qual participam do Sócrates, Crítias, Timeu e Hermócrates, o filósofo apresenta sua Cosmologia, isto é, sua teoria sobre a origem e a formação do mundo natural. As idéias desenvolvidas têm seqüência em outro diálogo – Crítias.

 

Para o filósofo e matemático Platão, a ordem e a beleza do Cosmo resulta de uma intervenção racional, intencional e benigna de um Divino Artesão – um Demiurgo – que impôs uma ordem matemática a um caos preexistente e, assim, produziu um Universo divinamente organizado, a partir de um modelo eterno e imutável. Neste diálogo (e também no Crítias), Platão mencionou o célebre Mito(-lógico) da Atlântida, que fascina, até hoje, tanto os eruditos como os leigos, tendo inspirado, ao longo dos séculos, numerosos textos e filmes de ficção. A visão platônica da origem do Universo também teve enorme influência na Filosofia, especialmente na neoplatônica, no ocultismo e na teologia, desde o século IV até nossos dias.

 

Enfim, este inconcluso estudo tem por objetivo apresentar para reflexão apenas alguns fragmentos do Timeu, obra que, basicamente, é constituída de três partes: 1º) o Mito(-lógico) da Atlântida – uma civilização muito evoluída que teria existido em uma ilha situada no Atlântico, e que foi tragada pelo mar (o que não é bem assim); 2º) a criação do mundo; e 3º) a formação da alma e do corpo do homem – tudo elaborado segundo determinadas proporções numéricas perfeitas e harmônicas.

 

 

Proporções Numéricas Perfeitas e Harmônicas

 

 

Devo explicar: como este é um estudo fragmentário e propositadamente não segue propriamente a ordem natural em que o Timeu foi escrito, talvez alguns excertos não sejam compreendidos. Mas o intento foi exatamente este: mais confundir um pouquinho do que explicar um tiquinho. Maldade? Claro que não. Apenas estimular que a obra seja lida e estudada, o que longe está de ser uma maldade.

 

Bem, se este estudo, que fiz para nós, não prestar, pelo menos a música de fundo Ta Pedia Tou Pirea, (tema do filme Never on Sunday/Nunca aos Domingos, uma comédia romântica que retrata a vida de Ilya – magnificamente interpretada por Melina Mercouri – uma prostituta de bom coração que vive no porto grego de Pireus) é ótima. E como eu não farei nenhum comentário no final, aproveito para, agora, dar um pitaquinho: os dois melhores remédios para a saúde são beber muita água e bom humor. Ao ler os fragmentos do Timeu você vai entender o porquê deste pitaquinho.

 

 

 

Proporções Numéricas Perfeitas e Harmônicas

 

 

 

Timeu (Fragmentos)

 

 

 

Em todas as matérias, é da mais alta importância começar pelo começo natural. Por conseguinte, a propósito da imagem e do modelo, há que fazer diversas distinções. As palavras têm um parentesco natural com as coisas que exprimem. Se exprimem o que é estável, fixo e visível com o auxílio da inteligência, são estáveis e fixas, e, na medida do possível e em que pertença às palavras serem irrefutáveis e invencíveis, não devem deixar nada a desejar a este respeito. Inversamente, se exprimem aquilo que foi copiado deste modelo e que não passa de uma imagem, são verossímeis e proporcionais ao seu objeto, porque a verdade está para a crença como o ser está para o devir. Então, Sócrates, se houver muitos pormenores em muitas questões relativas aos deuses e à gênese do mundo acerca dos quais não formos capazes de fornecer explicações absolutas e perfeitamente coerentes e exatas, não te admires; mas, se fornecermos explicações que não sejam inferiores à nenhuma em verossimilhança, teremos de nos contentar, lembrando de que eu, que falo, e vós, que julgais, não passamos de homens, e que, em semelhante assunto, convém aceitar o mito verossímil, sem procurar nada mais além.

 

A geração deste mundo resulta de uma mistura engendrada por uma combinação de Necessidade e Intelecto. Mas, como o Intelecto dominava a Necessidade, persuadindo-a a orientar para o melhor a maioria das coisas devenientes, foi, deste modo, através da cedência da Necessidade a uma persuasão racional, que o Universo foi constituído desde a sua origem.

 

 

 

 

Timeu exalta ser menos sofrível ter uma vida curta. Condena o uso de medicamentos, a não ser em caso de grandes perigos, porque estes irritam as doenças. Sobre os males do corpo, diz Timeu: De onde vêm as doenças é o que, sem dúvida, todos compreenderão facilmente. Sendo quatro os gêneros que entram na composição do corpo – Fogo, Água, Terra e Ar1 sempre que contrariamente à Natureza há carência ou excesso destes elementos ou mudança da sede própria para um lugar estranho, ou então, visto haver mais de uma variedade de Fogo e dos outros elementos, quando predomina nalguma parte do corpo uma variedade que não lhe é adequada, ou por outra causa do mesmo tipo, surgem as desordens e as doenças. Quando um destes elementos altera sua natureza ou muda de lugar, aquecem-se as partes que antes eram frias, e as secas adquirem umidade, a mesma coisa acontecendo com as leves e as pesadas, do que resulta sofrerem todas elas profundas alterações em todos os sentidos. A única maneira, é o que afirmamos, de alguma parte do organismo ficar idêntica a si mesma, sadia e com boa aparência, é ajuntar-se-lhe ou sair dela a mesma coisa, de modo uniforme e na devida proporção. O que viola uma dessas regras, ou porque se retire de um daqueles elementos ou porque nele penetre, provoca toda espécie de alterações, doenças e corrupções.

 

Temos que admitir que a doença da alma é a demência. E há dois gêneros de demência: a loucura e a ignorância. Os prazeres e as dores em excesso são as mais graves das doenças para a alma; é que quando um homem está excessivamente contente ou, pelo contrário, sofre por causa da dor, apressando-se a arrebatar inoportunamente algum objeto ou a fugir do outro, não é capaz de ver nem de ouvir nada corretamente, pois está louco e a sua capacidade de participar do raciocínio encontra-se reduzida ao mínimo. Aquele em quem se gera uma semente abundante que corre livremente pela medula, como se fosse uma árvore com uma carga de frutos superior à medida estipulada pela natureza, adquire repetidamente múltiplas angústias e múltiplos prazeres nos seus apetites e nos frutos que nascem desta condição. Torna-se louco durante a maior parte da vida por causa das dores e dos prazeres extremos, pois tem a alma doente, que é mantida na insensatez por via do corpo; ele é tido, não por doente, mas por propositadamente mau. A verdade é que esta licenciosidade em relação aos prazeres sexuais é uma doença da alma que se deve, em grande medida, a uma só substância que, por causa da porosidade dos ossos, corre pelo corpo e o umedece. De um modo geral, não é correto repreender tudo quanto respeita à incontinência de prazeres e ao que é considerado digno de repreensão, como se os maus o fossem propositadamente; ninguém é mau propositadamente, pois o mau se torna mau por causa de alguma disposição maligna do corpo ou de uma educação mal dirigida; estas são inimigas de todos e acontecem contra a nossa vontade. Novamente no que respeita às dores, a alma adquire, do mesmo modo, uma grande quantidade de males através do corpo... Devemos nos esforçar, na medida do possível, através da educação e de hábitos de aprendizagem, a fugir do mal e a alcançar o seu contrário.

 

Quando alguém se entregou aos apetites e às ambições e cultivou excessivamente estes vícios, é inevitável que todos os seus pensamentos sejam mortais; em tudo se tornou mortal, tanto quanto possível, e nada nele deixa de ser mortal, pois foi esta a natureza que desenvolveu. Por outro lado, para aquele que desenvolveu o gosto de aprender pensamentos verdadeiros, exercitando, sobretudo, esta vertente em si mesmo, é absolutamente inevitável que nele surjam pensamentos imortais e divinos, já que se ateve ao que é verdadeiro; e tanto quanto é permitido à natureza humana participar da imortalidade, dessa condição não deixe de lado nem a mínima parte. Ao cuidar sempre da parte divina que contém em si, cada um deve ter em ordem o gênio divino que habita dentro de si, bem como seja particularmente feliz. Para todos os seres há somente dois cuidados a ter em atenção: atribuir a cada coisa os alimentos e os movimentos que lhes são próprios. Os movimentos congêneres do que há de divino em nós são os pensamentos e as órbitas do Universo; é necessário que cada um os acompanhe, corrigindo, através da aprendizagem das harmonias e das órbitas do Universo, as órbitas destruídas nas nossas cabeças na altura da geração, tornando aquilo que pensa semelhante ao objeto pensado, de acordo com a natureza original, e, depois de ter feito esta assimilação, atingir o sumo objetivo de vida estabelecido aos homens pelos deuses para o presente e para o futuro.

 

Tudo o que é bom é belo. Tudo o que é belo não é assimétrico. Um ser vivo, para ter estes atributos, terá que ser simétrico... No que respeita à saúde e à doença, à virtude e à maldade, não há simetria ou assimetria maior do que a da própria alma em relação ao corpo.

 

 

 

 

O Universo foi criado por uma Divindade que, isenta de inveja, quis que, na medida do possível, todas as coisas lhe fossem semelhantes.

 

Se o Universo é todo esférico, não faz sentido dizer que um sítio é embaixo e outro é em cima.

 

Prazer = engodo do mal. Dor = antagônica do bem. Audácia e temor = conselheiros insensatos. Paixão = difícil de apaziguar. Esperança = induz e conduz ao erro.

 

O Universo foi criado como um animal dotado de alma e de razão.

 

Quanto à forma, concedeu-lhe a mais conveniente e natural. Ora, a forma mais conveniente ao animal que deveria conter em si mesmo todos os seres vivos, só poderia ser a que abrangesse todas as formas existentes. Por isto, Ele torneou o mundo em forma de esfera... por estarem todas suas extremidades a igual distância do centro – a mais perfeita das formas e a mais semelhante a si mesma.

 

A Divindade criou a alma antes do corpo, e, quanto à origem, mais velha e mais excelente do que ele, por estar destinada a comandar, e ele, a obedecer.

 

O Deus, graças à sua condição e virtude, constituiu a alma anterior ao corpo e mais velha do que ele, para o dominar e governar – sendo ele o governado – a partir dos seguintes recursos e do modo que se expõe: entre o Ser indivisível, que é imutável, e o Ser divisível, que é gerado nos corpos, misturou uma terceira forma de Ser feita a partir daquelas duas. E quanto à natureza do Mesmo e do Outro,1 estabeleceu, de igual modo, uma outra natureza entre o indivisível e o divisível dos seus corpos. Tomando as três naturezas, misturou-as todas em uma só forma, e pela força harmonizou a natureza do Outro – que é difícil de misturar – com o Mesmo. Procedendo à mistura de acordo com o Ser, formou uma unidade a partir das três, e depois distribuiu o todo por tantas partes quantas era conveniente distribuir, sendo cada uma delas uma mistura de Mesmo, de Outro e de Ser. Então, começou a dividir do seguinte modo: em primeiro lugar, retirou uma parte do todo; em seguida, retirou outra que era o dobro da primeira; uma terceira, que corresponde a uma vez e meia a segunda e ao triplo da primeira; uma quarta, que era o dobro da segunda; uma quinta, o triplo da terceira; uma sexta, oito vezes a primeira; e uma sétima, que corresponde a vinte e sete vezes a primeira. Depois disto, preencheu os intervalos duplos e triplos, subtraindo partes da mistura inicial e colocando-as entre as outras, de tal forma que cada intervalo tivesse dois centros: um que transpõe um dos extremos e é transposto pelo outro na mesma fração, e outro que transpõe o extremo que lhe é numericamente idêntico e também ele é transposto. Destas ligações, foram gerados nos intervalos atrás referidos outros intervalos de um e meio, um e um terço e um e um oitavo. Através do intervalo de um e um oitavo, preencheu todos os de um e um terço, deixando uma parte de cada um deles, tendo este intervalo sobrante sido definido pela relação entre o número duzentos e cinqüenta e seis e o número duzentos e quarenta e três. Foi deste modo que a mistura, da qual retirou aquelas partes, foi utilizada na sua plenitude. Então, cortou toda esta composição em duas partes no sentido do comprimento e, sobrepondo-as, ao fazer coincidir o centro de uma com o centro da outra, semelhantes a um X, dobrou-as em círculo, juntando-as uma à outra pelo ponto oposto àquele pelo qual tinham sido ligadas, e lhes impôs aquele movimento circular que gira no mesmo local; destes dois círculos, fez um exterior e outro interior. Então, determinou que o movimento exterior corresponderia à natureza do Mesmo, e o interior à do Outro. Fez com que o movimento do Mesmo se orientasse para a direita, girando lateralmente, e que o do Outro se orientasse para a esquerda, girando diagonalmente, e deu preeminência à órbita do Mesmo e do Semelhante, pois a ela só deixou ficar indivisa. Por outro lado, a órbita interior dividiu-a em seis partes e formou sete círculos desiguais, fazendo corresponder cada um deles a um intervalo duplo ou triplo, de tal forma que havia três tipos de intervalos. Definiu que os círculos andariam em sentido contrário uns aos outros, três dos quais com velocidade semelhante, e os outros quatro com velocidade diferente uns dos outros e dos outros três, mas movendo-se uniformemente.

 

 

 

 

 

 

O movimento do Mesmo se orienta para a direita, girando lateralmente, e o movimento do Outro se orienta para a esquerda, girando diagonalmente.

 

Concluída a composição da alma, de acordo com a mente de seu Autor, organizou dentro dela o universo corpóreo e uniu ambos pelos respectivos centros. Então, a alma, entretecida em todo céu, do centro à extremidade, e envolvendo-o em círculo por fora, sempre a girar em torno de si mesma, inaugurou para sempre o começo de uma vida perpétua e inteligente. Assim, formou-se, de uma parte, o corpo visível do céu, e da outra, a alma invisível, porém participante de razão e de harmonia, a melhor das coisas criadas pela Natureza mais inteligente e eterna.

 

O tempo nasceu com o céu, para que havendo sido criados concomitantemente, se dissolvessem juntos, caso venham um dia a acabar.

 

E, para que o tempo nascesse, também nasceram a Lua e os outros cinco astros denominados errantes ou planetas, para definir e conservar os números do tempo.

 

Temos, primeiro, que distinguir o seguinte: o que é aquilo que é eternamente e não devém, e o que é aquilo que devém sempre, sem nunca ser Um pode ser apreendido pelo pensamento com o auxílio da razão, pois é imutável; enquanto que o segundo é objeto da opinião e da irracionalidade dos sentidos e, porque devém e se corrompe, não pode ser nunca. Ora, tudo aquilo que devém é inevitável que devenha por alguma causa, pois é impossível que alguma coisa devenha sem o contributo de uma causa. Deste modo, o Demiurgo põe os olhos no que é imutável e que utiliza como arquétipo, quando dá a forma e as propriedades ao que cria. É inevitável que tudo aquilo que perfaz deste modo seja belo. Se, pelo contrário, pusesse os olhos no que devém e tomasse como arquétipo algo deveniente, a sua obra não seria bela.

 

Foi o fato de vermos o dia e a noite, os meses e o circuito dos anos, os equinócios e os solstícios que deu origem aos números, que nos proporcionam a noção de tempo e a investigação sobre a natureza do Universo. A partir deles, foi-nos aberto o caminho da Filosofia – um bem maior do que qualquer outro que veio ou que possa vir alguma vez para a espécie mortal, oferecido pelos deuses.

 

 

O que pretendem significar os dados
bem no meio do Quadrado do Sol?

 

O Demiurgo pensou em construir uma imagem móvel da eternidade, E, quando ordenou o céu, construiu, a partir da eternidade que permanece uma unidade, uma imagem eterna que avança de acordo com o número, que é aquilo a que chamamos tempo. (Grifo meu).

 

Na altura em que foi empreendida a organização do Universo, primeiro o Fogo, depois a Água, a Terra e o Ar, ainda que contivessem certos indícios de como são, estavam exatamente em um estado em que se espera que estejam tudo aquilo de que um deus está ausente; a partir deste modo e desta condição, começaram a ser configurados através de formas e de números.

 

Sobre a procriação entre os homens: É adequado assemelhar o receptáculo a uma mãe, o ponto de partida3 a um pai e a natureza do que nasce entre eles a um filho.

 

É necessário que tenhamos em mente que há três gêneros: aquilo que devém, aquilo em que algo devém e aquilo à semelhança do qual se cria o que devém.

 

Todos os triângulos têm origem em dois triângulos, cada um dos quais com um ângulo reto e com os outros agudos. Destes, um tem em cada lado uma parte do ângulo reto dividido em lados iguais, enquanto que o outro tem partes desiguais do ângulo reto dividas por lados desiguais.

 

Há um único céu, já que foi fabricado pelo Demiurgo de acordo com o arquétipo. É que aquele que abrange todos os seres vivos dotados de intelecto não pode, de modo algum, vir em segundo lugar, a seguir a outro. Caso contrário, deveria haver um outro ser vivo que abrangesse aqueles dois, do qual esses dois seriam uma parte, e seria mais correto dizer que o mundo não se assemelharia a estes dois, mas, sim, àquele que os abrangia. Portanto, foi para que se assemelhasse ao ser vivo absoluto pela sua unidade, que Aquele que fez o mundo não fez dois nem uma infinidade de mundos; deste modo, o céu foi gerado como unigênito. Assim é; assim continuará a ser.4

 

É impossível existir o que quer que seja sem que esteja dotado de movimento. O repouso existe na uniformidade; já o movimento existe na não-uniformidade. A causa da natureza do que é não-uniforme é a desigualdade. A órbita do Universo, visto que engloba todos os gêneros e é circular, tende, por natureza, a querer se concentrar em si mesma, comprimindo todas as coisas, não permitindo que lugar algum permaneça vazio. Então, repetindo: é impossível existir o que quer que seja sem que esteja dotado de movimento.

 

 

Movimento de um Elétron

 

O Deus, quando começou a constituir o corpo do mundo, o fez a partir de Fogo e de Terra. Todavia, não é possível que somente duas coisas sejam compostas de forma bela sem uma terceira, pois é necessário gerar entre ambas um elo que as una. O mais belo dos elos será aquele que faça a melhor união entre si mesmo e aquilo a que se liga, o que é, por natureza, alcançado da forma mais bela através da proporção. Sempre que de três números, sejam eles inteiros ou em potência o do meio tenha um caráter tal que o primeiro está para ele como ele está para o último, e, em sentido inverso, o último está para o do meio como o do meio está para o primeiro, o do meio se torna primeiro e último e o último e o primeiro passam ambos a estar no meio, sendo deste modo obrigatório que se ajustem entre si e, assim ajustados uns aos outros entre si, serão todos um só. Ora, se o corpo do mundo tivesse sido gerado como uma superfície plana, não tendo nenhuma profundidade, um só elemento intermédio teria sido suficiente para o unir aos outros termos; mas, convinha que o mundo fosse de natureza sólida, e, para harmonizar o que é sólido não basta um só elemento intermédio, mas, sim, sempre dois. Foi por isto que, tendo colocado a Água e o Ar entre o Fogo e a Terra, e, na medida do possível, produzido entre eles a mesma proporção, de modo a que o Fogo estivesse para o Ar como o Ar estava para a Água, e o Ar estivesse para a Água como a Água estava para a Terra, o Deus uniu estes elementos e constituiu um céu visível e tangível. Foi por causa disto e a partir destes elementos – elementos estes que são em número de quatro – que o corpo do mundo foi engendrado e posto em concordância através de uma proporção. E a partir destes elementos o corpo do mundo obteve a amizade, de tal forma que, tornando-se idêntico a si mesmo, é indissolúvel por outra entidade que não aquela que o uniu.

 

Pertence somente ao sábio cumprir a tarefa de se conhecer a si mesmo.

 

Invoquemos o Deus5 para que nos assista e nos guie rumo a uma conclusão verossímil.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. No Sofista, outro diálogo de Platão, é estabelecido que uma Forma encerra, além do Ser, dois outros elementos constitutivos inevitáveis: o Mesmo e o Outro. O Mesmo resulta do fato de a Forma ser aquilo que tudo o que não é ela própria não é – sua identidade; já o Outro denuncia o oposto desta relação, pois uma Forma difere de tudo aquilo que não é ela própria – sua alteridade.

2. Segundo Platão, esta é a ordenação da criação dos elementos. Segundo Helena Petrovna Blavatsky, a ordem correta do desenvolvimento dos elementos, segundo os Ensinamentos Secretos, é: Fogo, Ar, Água e Terra.

3. Isto é: o arquétipo.

4. Quanto a este tema, o argumento de Serge Raynaud de la Ferrière (1916 – 1962) – o fundador de uma organização à qual denominou Ordem de Aquarius, veículo, segundo afirmação do próprio fundador, da Grande Fraternidade Universal (GFU) – é o seguinte: em qualquer tempo não podem coexistir harmoniosamente dois Princípios Constitutivos do Universo. Se houvesse, pois, dois Princípios, ou seriam diferentes ou seriam iguais. Se fossem diferentes, anular-se-iam mutuamente; se fossem iguais, seriam idênticos como se um só houvesse.

5. Aqui, só posso conceber o Deus de nossos Corações.

 

Páginas da Internet consultadas:

https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/bitstream/103
16/13394/1/o_timeu_de_platao_mito_e_texto.pdf

http://www.videeditorial.com.br/dicionario-obras
-basicas-da-cultura-ocidental/r-s/timeu-de-platao.html

http://www.miniweb.com.br/
biblioteca/artigos/alma_timeu.pdf

http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d
/apostila/helen8/node10.html

http://www.miniweb.com.br/
biblioteca/artigos/15-ivan.pdf

http://criticanarede.com/html/his_timeu.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Timeu

http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0644

 

Fundo musical:

Ta Pedia Tou Pirea
Composição: Manos Hadjidakis

Fonte:

http://www.eadcentral.com/go/1/1/0/
http://members.cox.net/old-music/lucky-strike-extra.htm