HENRY DAVID THOREAU
(Pensamentos)

 

 

 

Henry David Thoreau

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Trabalho

 

 

 

Hoje, proponho para reflexão algumas migalhas do pensamento do autor norte-americano, poeta, naturalista, ativista antiimpostos, crítico da idéia de desenvolvimento, pesquisador, historiador, filósofo, e transcendentalista Henry David Thoreau. Os livros, ensaios, artigos publicados em jornais e poesias de Thoreau chegam a mais de vinte volumes, logo, este trabalho apenas repercute uma pálida sombra de sua obra.

 

 

 

Breve Biografia de Thoreau

 

 

 

Henry David Thoreau nasceu em Concord, Massachusetts, em 12 de julho de 1817. Foi o terceiro de uma família de quatro filhos. Formou-se em Harvard em 1837. Além de escrever, Thoreau foi sucessivamente um hábil agrimensor, mecânico, carpinteiro e, às vezes, jardineiro para seus vizinhos fazendeiros, que muito o respeitavam, depois de descobrirem que ele sabia muito mais sobre o campo do que eles próprios.

 

Thoreau apreciava a Natureza e adorava viver ao ar livre, vagando pelos campos com a mesma liberdade que tinha em seus próprios caminhos. Foi durante toda a sua vida um grande viajante, mas suas viagens eram sempre na região de Concord. Ele nunca atravessou o oceano. Morava a trinta quilômetros de Boston, mas raramente ia lá. Não apreciava os lugares freqüentados pelos homens, mas não era grosseiro nem anti-social, sendo querido por todos que realmente o conheciam.

 

Seu livro mais conhecido Walden (A Vida nos Bosques) é um registro do que ele fez e viu durante os dois anos que passou em uma cabana, construída com suas próprias mãos, às margens de um pequeno lago nos bosques de Walden, ao sul de Concord. O local de sua cabana é até hoje marcado por um monte de pedras colocadas pelos peregrinos que o visitam todos os anos. Entre outras obras, também escreveu Desobediência Civil após ter sido preso pelo Estado por não pagar seus impostos, que ele se negou a pagar porque estes financiavam a guerra contra o México, que, na época, teve grande parte de seu território anexado pelos EUA. A obra é uma defesa da desobediência civil individual como forma de oposição legítima frente a um Estado injusto. Seu conteúdo inspirou fortemente o Anarquismo (Filosofia Política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de Governo compulsório) e os admiradores desta ideologia. A Filosofia de Thoreau da desobediência civil influenciou o pensamento político e as ações de personalidades notáveis que vieram depois dele – filósofos e ativistas como Liev Tolstoi, Mahatma Gandhi e Martin Luther King, Jr.

 

 

Walden

 

Foi também um longevo abolicionista, realizando leituras públicas nas quais atacava as leis contra as fugas de escravos evocando os escritos de Wendell Phillips e defendendo o abolicionista John Brown.

 

Suas contribuições mais influentes são seus escritos sobre História Natural e Filosofia, onde antecipou os métodos e as preocupações da Ecologia e do Ambientalismo. Seu estilo de escrita literária intercala obsevações naturais, experiência pessoal, retórica pontuada, sentidos simbolistas e dados históricos, ao mesmo tempo em que evidencia grande sensibilidade poética, austeridade filosófica, e uma paixão yankee pelo detalhe prático. Thoreau também era profundamente interessado na idéia de sobrevivência em face de contextos hostis, mudança histórica e decadência natural, ao mesmo tempo em que buscava abandonar o desperdício e a ilusão, de forma a descobrir as verdadeiras necessidades essenciais da vida.

 

Thoreau morreu de uma tuberculose galopante em maio de 1862, com a idade de quarenta e cinco anos. Hoje, a casa que construiu no Lago Walden é um museu que possui uma estátua sua na entrada. A floresta em volta do lago virou área de preservação ambiental.

 

 

 

Migalhas Henryanas

 

 

 

Só amanhece o dia para o qual estamos despertos.

 

Uma vida de cada vez. Devemos expulsar de nós tudo o que não seja vida.

 

Quero dizer uma palavra em defesa do ambiente natural e da liberdade absoluta. Uma declaração extrema, pois, já há muitos defensores da civilização.

 

Tornei-me vizinho dos pássaros, não por ter aprisionado um, mas por ter me engaiolado perto deles.

 

Desfruta a terra, mas sem possuí-la. Por falta de iniciativa, os homens estão onde estão, comprando e vendendo, desperdiçando a vida como escravos.

 

Mais do que amor, do que dinheiro e do que fama, dai-me a verdade. Sentei-me à uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e, com fome, fui-me embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava em um vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar. O estilo, a casa com o terreno em volta e o entretenimento não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele. Até quando nos sentaremos nós nos nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e bolorentas, que qualquer trabalho tornaria descabidas? É como se alguém começasse o dia com paciência, contratasse alguém para lhe sachar as batatas, e, de tarde, saísse, com bondade premeditada, para praticar a mansidão e a caridade cristãs!

 

 

 

 

Os homens haverão de aprender que a política não é a moral e que se ocupa apenas do que é oportuno.

 

A linguagem da amizade não é de palavras, mas de significados.

 

Uma grande verdade, mesmo mal sugerida, comove-nos mais do que uma verdade medíocre completamente exprimida.

 

Cuidado com todas as atividades que requeiram roupas novas!

 

Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal há apenas um atacando as raízes.

 

Somos subeducados, atrasados e analfabetos. E, neste particular, confesso que não faço grande distinção entre a ignorância do meu concidadão que não sabe absolutamente ler nada, e a ignorância do que apenas aprendeu a ler o que se destina a crianças e inteligências medíocres. Deveríamos estar à altura dos grandes da Antigüidade, mas em parte por saber primacialmente quão grandes eles foram. Somos uma raça de homens-passarinhos; nos nossos vôos intelectuais mal nos alçamos um pouco acima das colunas do jornal. Nem todos os livros são tão insípidos como os seus leitores. É provável que haja palavras endereçadas exatamente à nossa condição, as quais, se de fato pudéssemos ouvi-las e entendê-las, seriam mais salutares às nossas vidas que a própria manhã ou a Primavera, revelando-nos, talvez, uma face inédita das coisas. Quantos homens não inauguraram uma nova etapa na vida a partir da leitura de um livro! Deve existir para nós o livro capaz de explicar os nossos mistérios e de revelar outros insuspeitados. As coisas que ora nos parecem inexprimíveis, podemos encontrá-las expressas algures. As mesmas questões que nos inquietam, intrigam e confundem, foram postas, por sua vez, a todos os homens sábios; nenhuma foi omitida, e cada um deles respondeu de acordo com a sua capacidade, por meio de palavras ou da própria vida. De mais a mais, juntamente com a sabedoria aprendemos a liberalidade.

 

Mede a tua saúde pela alegria que te causam a manhã e a primavera.

 

A violência do amor deve ser tão temida quanto a do ódio.

 

Sob um Governo que prende injustamente, o lugar de um homem justo é também na cadeia.

 

Uma frase perfeitamente sadia é muito rara.

 

Às vezes, faz bem ficar doente.

 

Uma palavra escrita é a mais fina das relíquias.

 

Como é vão sentar-se e escrever se você não se levantou para viver!

 

Eu não tenho dúvidas de que é parte do destino da raça humana, na sua evolução gradual, parar de comer animais, tal como as tribos selvagens deixaram de se comer umas às outras quando entraram em contato com os mais civilizados.

 

 

 

 

Quando um cão correr para você, assobie para ele.

 

Com um pouco mais de deliberação na escolha dos seus objetivos, possivelmente todos os homens, em essência, se tornariam estudiosos e observadores, porque a natureza e o destino de cada um interessam sem dúvida de igual maneira a todos. Ao acumular bens para nós ou para os nossos descendentes, ao fundar uma família ou um Estado, ou ainda ao alcançar a fama, somos mortais; mas ao lidarmos com a verdade somos imortais e não precisamos temer mudanças ou acidentes. O mais antigo filósofo egípcio ou hindu levantou uma ponta do véu que cobria a estátua da divindade. Esta trêmula túnica ainda permanece levantada, e eu contemplo uma glória tão fresca como a que contemplou o filósofo, já que era eu nele quem se mostrou tão audacioso naquela época, e é ele em mim quem agora volta a observar a visão. Nenhuma poeira se depositou sobre esta túnica; tempo nenhum decorreu desde que tal divindade se viu revelada. O tempo que aproveitamos realmente, ou que é aproveitável, não é passado, nem presente, nem futuro.

 

A não ser quando nos perdemos ou, em outras palavras, quando perdemos o mundo, é que começamos a nos descobrir e perceber onde estamos e o infinito alcance de nossas relações.

 

A nossa vida é como uma Confederação Germânica, composta de insignificantes Estados e com as fronteiras sempre a flutuar, de modo que nem um alemão sabe, em dado momento, dizer quais são.

 

A longo prazo, os homens acertam apenas em aquilo que apontam. Por isto, embora falhem imediatamente, seria melhor que apontassem para algo mais alto.

 

Como se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade!

 

Com a sabedoria aprendemos a ser tolerantes.

 

A lei jamais tornou os homens mais justos, e , por meio de seu respeito por ela, mesmo os mais bem-intencionados, transformam-se diariamente em agentes da injustiça.

 

Até hoje, as obras dos grandes poetas não foram lidas pela Humanidade, porque só grandes poetas podem lê-las. Só foram lidas como a multidão lê as estrelas, quando muito astrologicamente, e não astronomicamente. A maioria dos homens aprendeu a ler tendo em vista uma utilidade mesquinha, do mesmo modo que aprendeu a calcular para tomar nota das receitas e despesas e não ser trapaceado nos negócios; mas, da leitura como exercício intelectual nobre, pouco ou nada sabe. Contudo, isto é que é leitura em acepção elevada, não aquela que nos embala como um luxo e adormenta as nossas mais nobres faculdades, e, sim, a que nos mantém expectantes e à qual devotamos as nossas horas mais alertas e despertas.

 

 

 

 

O melhor Governo é aquele que menos governa. E quando estivermos preparados para isto, serei a favor de um Governo que não governe.

 

Às vezes, penso: ora, essas pessoas são bem intencionadas, mas são ignorantes.

 

Esta cidade é conhecida, em todos os arredores, por possuir as maiores estrebarias para bois, vacas e cavalos, construções que não ficam a dever nada nem sequer aos edifícios públicos; por outro lado, contam-se aqui pelos dedos os locais onde se pode rezar ou discursar com total liberdade. Em vez de se autocelebrarem por meio da arquitetura, não deveriam as nações fazê-lo pelo poder do seu pensamento abstrato? O Bhagavad Gita [texto religioso hindu que parte do épico Mahabharata] é muito mais admirável do que todas as ruínas do oriente. Torres e templos são luxos de príncipes. A mente simples e livre não moureja sob as ordens de nenhum príncipe. O espírito não é privilégio de nenhum imperador nem é exclusivo deste, a não ser em insignificante medida, a prata, o ouro e o mármore. Com que finalidade, digam-me lá, se talha tanta pedra? Quando estive na Arcádia, não vi pedras serem lavradas. As nações são possuídas pela louca ambição de perpetuarem a sua memória com a soma das esculturas que deixam. Que tal se esforços semelhantes fossem despendidos no sentido de aperfeiçoar e polir a sua conduta? Uma obra de bom senso seria mais memorável que um monumento da altura da Lua. Prefiro contemplar as pedras no seu local de origem.1

 

Não brigo com inimigos distantes, mas com aqueles que, aqui perto, cooperam com os que estão longe, e cumprem suas ordens, e sem os quais os últimos seriam inofensivos.

 

Não basta uma informação de como ganhar a vida simplesmente com honestidade e honra, mas que tal ato seja atraente e glorioso, pois se ganhar a vida não for atraente e glorioso não é a vida que se ganha.

 

A maioria dos luxos e muitos dos chamados confortos da vida não só são dispensáveis como constituem até obstáculos à elevação da Humanidade. No que diz respeito a luxos e confortos, os mais sábios sempre viveram de modo mais simples e despojado do que os pobres. Os antigos filósofos chineses, indianos, persas e gregos eram uma classe que se notabilizava pela extrema pobreza de bens exteriores, em contraste com a sua riqueza interior. Embora não saibamos muito a seu respeito, é de admirar que saibamos tanto quanto sabemos. O mesmo acontece com reformadores e benfeitores mais recentes, da nacionalidade deles. Ninguém pode ser um observador imparcial e sábio da raça humana, a não ser da posição vantajosa a que chamaríamos pobreza voluntária. O fruto de uma vida de luxo é também luxo, seja em agricultura, comércio, literatura ou arte. Hoje em dia, há professores de Filosofia, mas não há Filósofos. Contudo é admirável ensinar Filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser um Filósofo não é apenas ter pensamentos sutis nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança. É solucionar alguns problemas da vida, não só na teoria, mas, também, na prática.

 

A riqueza supérflua só pode comprar coisas supérfluas.

 

Ainda que sejas o maior dos ofensores serás capaz de cruzar o golfo do pecado em uma casca de sabedoria.

 

A comunidade não tem suborno capaz de tentar um homem sensato. É possível levantar dinheiro suficiente para perfurar um túnel em uma montanha, mas não é possível levantar dinheiro suficiente para contratar um homem que se ocupe com a sua própria vida. Um homem eficiente e valoroso faz o que pode, quer a comunidade lhe pague ou não. Os ineficientes oferecem a sua ineficiência a quem pagar mais, e sempre anseiam por uma colocação. É de se supor que estes raramente fiquem desapontados.

 

Cada pôr do Sol que vejo me inspira o desejo de partir para um oeste tão distante e belo quanto aquele onde o Sol sumiu.

 

Se a pessoa der ouvidos às sutis mas constantes sugestões do seu espírito, sem dúvida autênticas, não vê a que extremos, e até loucura, ele pode levá-la; contudo, por aí envereda o seu caminho, à medida que cresce em resolução e fé. A mais leve objeção segura que um homem sadio fizer, com o tempo prevalecerá sobre os argumentos e costumes da Humanidade. Nenhum homem jamais seguiu a sua índole a ponto de esta o extraviar. Embora o resultado fosse fraqueza física, ainda assim, talvez, ninguém pudesse dizer que as conseqüências eram lamentáveis, já que representariam a vida em conformidade com princípios mais elevados. Se o dia e a noite são de tal natureza que vós os saudais com alegria, se a vida emite uma fragrância de flores e ervas aromáticas e se torna mais elástica, mais cintilante e mais imortal – aí está o vosso êxito. A Natureza inteira é a vossa congratulação e tendes motivos terrenos para bendizer. Os maiores lucros e valores estão ainda mais longe de serem apreciados. Chegamos facilmente a duvidar de que existam. Logo os esquecemos. Constituem, entretanto, a realidade mais elevada. Talvez os fatos mais estarrecedores e verdadeiros nunca sejam comunicados de homem a homem. A verdadeira colheita do meu dia-a-dia é algo de tão intangível e indescritível como os matizes da aurora e do crepúsculo. O que tenho nas mãos é um pouco de poeira das estrelas e um fragmento do arco-íris.

 

Muitas vezes perco a esperança de conseguir neste mundo algo de simples e honesto com ajuda dos homens. Não esqueçamos, no entanto, que grãos de trigo egípcio chegaram até nós por intermédio de uma múmia.

 

 

 

 

Uma coisa é ser capaz de pintar um quadro especial ou esculpir uma estátua, produzindo, assim, objetos de beleza. Mas é muito mais glorioso esculpir e pintar a própria atmosfera e a maneira pela qual vemos o mundo. Influir na qualidade do dia, esta, sim, é a mais elevada das artes.

 

A maioria dos homens vive vidas de silencioso desespero.

 

A vida não foi feita para ser lamentada, mas para ser usufruída.

 

Ah!, um povo que iniciasse a destruição dos marcos e deixasse intactas as florestas!

 

Que fogo poderia se igualar a um raio de Sol em um dia de inverno?

 

Vivemos mesquinhamente, quais formigas, ainda que a fábula nos relate que há muito tempo atrás fomos transformados em homens. Como os pigmeus, lutamos com gruas; e é erro sobre erro, remendo sobre remendo, e a nossa melhor virtude decorre de uma miséria supérflua e evitável. A nossa vida é estilhaçada pelo pormenor. Um homem honesto dificilmente precisa contar para além dos seus dez dedos das mãos, acrescentando, em caso extremo, os seus dez dedos dos pés, e o resto que se amontoe. Simplicidade, simplicidade, simplicidade! Digo: ocupai-vos de dois ou três afazeres, e não de cem ou mil; contai meia dúzia em vez de um milhão e tomai nota das receitas e despesas na ponta do polegar. A meio do agitado mar da vida civilizada, tantas são as nuvens, as tempestades, as areias movediças, tantos são os mil e um imprevistos a ser levados em conta, que para não se afundar, para não ir a pique antes de chegar ao porto, um homem tem de ser um grande calculista para lograr êxito. Simplificar, simplificar, simplificar. Em vez de três refeições por dia, se preciso for, comer apenas uma; em vez de cem pratos, cinco; e reduzir proporcionalmente as outras coisas. A nossa vida é como uma Confederação Germânica, composta de insignificantes Estados e com as fronteiras sempre a flutuar, de modo que nem um alemão sabe, em dado momento, dizer quais são.

 

Existem 999 professores de virtude para cada pessoa virtuosa.

 

Qualquer homem mais correto do que os seus vizinhos constitui uma maioria de um.

 

Alguns vislumbres de verdadeira beleza podem ser vistos nas faces daqueles que vivem em verdadeira humildade.

 

Para um homem sábio, a água é a única bebida.

 

O mundo nada mais é do que uma tela em branco para a imaginação.

 

Você deve viver no presente. Lance-se em cada onda; encontre a sua eternidade em cada momento.

 

Não é o que olhamos o que importa; é o que vemos.

 

Toda a geração ridiculariza a moda antiga, mas segue religiosamente a nova.

 

Se você construiu castelos no ar, não pense que desperdiçou seu trabalho; eles estão onde deveriam estar. Agora construa os alicerces.

 

Considero saudável estar só na maior parte do tempo. Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se torna enfadonho e dispersivo. Adoro estar só. Nunca encontrei um companheiro tão sociável como a solidão.2 Estamos geralmente mais sós quando viajamos com outros homens do que quando permanecemos nos nossos aposentos. Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só. Deixai-o, pois, estar onde ele deseja. A solidão não é medida pelas milhas de espaço que separam um homem e os seus congêneres. O estudante verdadeiramente diligente de um dos enxames da Universidade de Cambridge está tão solitário como um dervixe no deserto. O agricultor pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques durante todo o dia, mondando ou podando, e não se sentir solitário porque está ocupado; mas quando chega à casa, à noite, não consegue se sentar em uma sala sozinho, à mercê dos seus pensamentos. Tem que ir onde possa «estar com as pessoas», distrair-se e ser compensado pela solidão do seu dia. E assim, um estudante pode estar só em casa durante toda a noite e grande parte do dia sem se aborrecer ou se sentir deprimido. Ouvi falar de um homem perdido na floresta e a morrer de fome e de exaustão ao pé de uma árvore, cuja solidão era aliviada pelas visões grotescas com que, devido à fraqueza física, a sua imaginação doente o rodeava, e que ele acreditava serem reais. Assim também, graças à saúde e à força física e mental, podemos sentir-nos continuamente animados por uma companhia semelhante, se bem que, mais normal e natural, é chegarmos à conclusão de que nunca estamos sós.

 

Quem viaja sozinho pode partir hoje. Quem viaja acompanhado deve esperar pelo dia seguinte.

 

Quem avançar confiante na direção de seus sonhos e se empenhar em viver a vida que imaginou para si encontrará um sucesso inesperado em seu dia-a-dia.

 

Fazer de todos os dias um bom dia, esta é a mais elevada das artes.

 

O que mais encoraja é a capacidade humana de elevar sua vida por meio do esforço consciente.

 

A bondade é o único investimento que sempre compensa.

 

Estou convencido, pela fé e pela experiência, de que nos mantermos sobre a Terra não é uma provação, mas, um passatempo – se vivermos de maneira simples e sábia.

 

Fui para os bosques
viver de livre vontade,
para sugar o tutano da vida.
Para aniquilar tudo
o que não era vida,
para, quando morrer,
não descobrir que não vivi.

 

É preferível cultivar o respeito pelo bem do que o respeito pela lei.

 

Já conhecemos a Sociedade para a Difusão do Conhecimento Útil. Dizem por lá que conhecimento é poder e coisas desse gênero. Eu penso que precisamos também de uma sociedade para a difusão da ignorância útil, o que podemos chamar de conhecimento belo, um conhecimento útil em um sentido mais elevado. Pois, o que vem a ser maior parte de nossa decantada e apregoada sabedoria senão a presunção de conhecer alguma coisa, presunção esta que nos priva da vantagem da autêntica ignorância? Freqüentemente, o que consideramos conhecimento é nossa ignorância positiva, sendo a ignorância o nosso conhecimento negativo. Depois de longos anos de trabalho e leitura de jornais – o que são as estantes da ciência senão arquivos de jornais? – um homem acumula uma miríade de fatos, empilha-os na memória; depois, quando, em alguma primavera de sua vida, resolve vagabundear até os grandes campos do pensamento, ele, por assim dizer, cai de quatro e pasta na grama como um cavalo, deixando no estábulo todos os arreios. Gostaria de dizer, às vezes, para a Sociedade para a Difusão do Conhecimento Útil: caiam de quatro e pastem na grama. Há tempo demais vocês estão comendo feno. A primavera chegou e trouxe o verde às vegetações. As próprias vacas buscam as pastagens mais retiradas ainda antes do fim de maio; mas já ouvi falar de um fazendeiro desnaturado que mantinha sua vaca presa no celeiro o ano inteiro alimentando-a com feno. É assim que, muitas vezes, a Sociedade para o Conhecimento Útil trata seu gado. A ignorância, às vezes, é não apenas útil, mas linda; a chamada sabedoria é freqüentemente pior do que inútil, além de horrorosa.

 

 

 

 

Não é desejável cultivarmos pela lei o mesmo respeito que cultivamos pelo Direito.

 

Mesmo votar em favor do Direito é não fazer coisa alguma por ele.

 

Dá teu voto inteiro, não uma simples tira de papel, mas toda a tua influência.

 

Um povo, tanto quanto um indivíduo, deve fazer justiça, custe o que custar.

 

Como pode um homem se satisfazer com apenas ter uma opinião e se deleitar com ela?

 

Desejo tanto ser um bom vizinho quanto um mau súdito.

 

Ao mesmo tempo que a realidade é uma fábula, simulações e enganos são considerados como as verdades mais sólidas. Se os homens se detivessem a observar apenas as realidades, e não se permitissem ser enganados, a vida, comparada com as coisas que conhecemos, seria como um conto de fadas ou as histórias das Mil e Uma Noites. Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem direito a ser, a música e a poesia ressoariam pelas ruas afora. Quando somos calmos e sábios, percebemos que só as coisas grandes e dignas têm existência permanente e absoluta, que os pequenos medos e os pequenos prazeres não passam de sombras da realidade, o que é sempre estimulante e sublime. Por fecharem os olhos e dormirem, por consentirem ser enganados pelas aparências, os homens em toda a parte estabelecem e confinam as suas vidas diárias de rotina e hábito em cima de fundações puramente ilusórias.

 

O talento limita-se a indicar a profundidade do caráter em uma certa direção.

 

Se uma planta não consegue viver de acordo com sua natureza, ela morre. Assim também acontece com o homem.

 

O que todos os empresários desejam, mas, em vão, e que qualquer assalariado consegue: lazer e uma mente em paz.

 

Desfruta de verdadeiro lazer quem tem tempo para melhorar o estado de sua alma.

 

Nossas invenções são apenas brinquedos bonitinhos que distraem nossa atenção das coisas sérias.

 

Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro.

 

A massa nunca se eleva ao padrão do seu melhor membro; pelo contrário, degrada-se ao nível do pior.3

 

A experiência localiza-se nos dedos e na cabeça. O coração não tem experiência.

 

Podemos odiar aqueles que amamos. Os outros, geralmente, nos são indiferentes.

 

A Matemática não mente. O que há são muitos matemáticos mentirosos.

 

Nove décimos da sabedoria provêm de sermos judiciosos a tempo.

 

Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá.4

 

 

 

 

É tão difícil se observar a si mesmo quanto olhar para trás sem se voltar.5

 

Se queres um escudo impenetrável, permanece dentro de ti mesmo.6

 

É preciso duas pessoas para falar a verdade: uma para falar; outra para ouvir.

 

Não nasci para ser forçado a nada. Respirarei a meu próprio modo.

 

Simplesmente desejo recusar sujeição ao Estado, afastar-me dele e manter-me à parte de modo efetivo.

 

Jamais haverá um Estado livre e esclarecido até que este venha a reconhecer o indivíduo como um poder mais alto e independente, do qual deriva todo o seu próprio poder e autoridade, e o trate de maneira adequada.

 

Não basta estarmos ocupados. A pergunta é: estamos ocupados com o quê?

 

Viva cada estação enquanto elas duram, respire o ar, beba a bebida, saboreie a fruta e se deixe levar pelas influências de cada uma.

 

A melhor coisa que posso fazer pelo meu amigo é simplesmente ser seu amigo.

 

Muitos sabem ganhar dinheiro, mas poucos sabem gastá-lo.

 

Nada é tão útil ao homem como a resolução de não ter pressa.

 

Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor.

 

Bendito, entre os mortais, aquele que não perde um momento da vida a remastigar o que passou.

 

O homem mais rico é aquele cujos prazeres são mais baratos.

 

Um homem é rico na proporção do número de coisas de que ele é capaz de abrir a mão.

 

Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos.

 

 

 

 

O dinheiro não é necessário para comprar uma única necessidade da alma.

 

O céu tanto está sob os nossos pés como sobre as nossas cabeças.

 

O pássaro azul carrega o céu nas suas costas.

 

Se qualquer homem formar na mente uma imagem do que quer fazer e sustentar esta imagem mental, o Pastor de Deus a desenvolverá e fará acontecer.7

 

Benditos os que nunca lêem jornais, porque verão a Natureza e, através dela, Deus.

 

 

 

 

 

 

 


Desconcordando...

 

 

 

porque, ao ficarem informados,

poderão divisar um pouco mais

além dos seus limites limitados,

 

das suas ignorâncias ignoradas,

dos seus repetecos reincididos,

das suas encarnações abobadas,

dos seus de já hojes bolorecidos.

 

Aquele que vive mal informado

– quando escolhe – escolhe mal,

e comprará água de cal8 por ado.

 

Aquele que vive mal informado

difere muito pouco de um animal,

e muge ao invés de ficar calado.9

 

 

 

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Notas:

1. Assim como a flores, que são mais belas vivas em a Natureza, do que mortas em jarros a enfeitar a nossa pobre pobreza.

2. Estar consigo mesmo, em silêncio, não é estar só e nem de longe é solidão. Os maiores momentos de solidão que vivi e ainda vivo foram e são quando estava ou estou acompanhado, no rolo e na barafunda. Só a solidariedade mística ainda me determina que esteja com os outros. Mas, isto, para mim, não chega a ser um sofrimento; é uma desértica alegria. Só não pode durar muito. A questão, então, é: quanto tempo é suficiente? Mas, se for preciso, abro mão do meu silêncio para ajudar quem quer que seja. Ora, o que adianta o silêncio quando há dor e lamentação por toda parte? Seja como for, como disse Henry David Thoreau, o silêncio é a comunhão de uma alma consciente consigo mesma.

3. Isto é um exagero. Se fosse assim, a Humanidade já não mais existiria. Agora, que temos uma tendenciazinha de preferir o que não presta, lá isto é verdade.

4. Para confirmar isto, basta assistir aos ramerraneiros programas religiosos que infestam a televisão aberta. São todos de doer, de chorar, de irritar e de sei lá mais o quê. Eu, por dever de ofício, digamos assim, me obrigo a, de vez em quando, assistir a estes programas. Por mais que eu me esforce, só agüento cinco minutos. Às vezes, nem isto.

5. E é exatamente por isto que iremos precisar de mais ou menos oitenta e quatro horas depois de morrer para observarmos e revermos todas as merdas que fizemos durante a vida, quando isto poderia ser amenizado, se tivéssemos o hábito de revisitar os fatos diários antes de dormir. E assim, todos nós, sem exceção, desceremos ao inferno que criamos.

 

 

 

 

6. Essa coisa de permanecer dentro de si mesmo é meio perigosa, quando ultrapassa o limite do normal, do ordinário, do razoável. Dar um tempo para si mesmo, meditar, isolar-se temporariamente, tudo bem. Agora, se mandar para um deserto, fugir para uma montanha, se meter em uma caverna, optar por uma reclusão conventual permanente são atitudes incapazes de produzir o efeito pretendido, pois todos nós encarnamos exatamente para trocar, para aprender e para ensinar, e uma forma insubstituível de adquirir conhecimento é pela permuta de experiências. Um místico consciente jamais se isola definitivamente. Ampliando o que comentei na nota 2, digo, agora, que estar consigo mesmo, em silêncio, é também, eventualmente, estar com o outro, mesmo que isto, algumas vezes, seja desesperante.

7. Pelo pensamento, pensamos; pelo pensamento, falamos; pelo pensamento, atuamos (construímos ou destruímos). Logo, sempre, em primeiro lugar o pensamento. Nossa responsabilidade perante a vida começa pelos nossos pensamentos. Isto é, mais ou menos, como ensinou Henry David Thoreau: As coisas não mudam; nós mudamos. E, ainda: Os homens se tornam ferramentas de suas ferramentas.

8. A água de cal é uma solução de hidróxido de cálcio, de uso externo, utilizada como adstringente e cicatrizante de queimaduras e úlceras. É obtida a partir do óxido de cálcio – CaO (cal viva ou cal virgem) – e água, que produz o hidróxido de cálcio, também conhecido como cal hidratada, cal apagada ou ainda cal extinta.

 

CaO + H2O —› Ca(OH)2

 

 

CaO

9.

 

 

O Analfabeto Político
(Bertolt Brecht*)

 

 

Panem et Circenses
[Juvenal, Satiræ, X: 81]

 


O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala e não participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida – o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, do remédio depende de decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

 

* Eugen Berthold Friedrich Brecht (Augsburg, 10 de fevereiro de 1898 – Berlim, 14 de agosto de 1956) foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo. No final dos anos 1920, Brecht se tornou marxista, vivendo o intenso período das mobilizações da República de Weimar (instaurada na Alemanha logo após a Primeira Guerra Mundial), desenvolvendo o seu teatro épico. Sua práxis é uma síntese dos experimentos teatrais de Erwin Piscator e Vsevolod Emilevitch Meyerhold, do conceito de estranhamento do formalista russo Viktor Chklovski, do teatro chinês e do teatro experimental da Rússia soviética, entre os anos 1917 e 1926. Seu trabalho como artista concentrou-se na crítica artística ao desenvolvimento das relações humanas no sistema capitalista.


 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.hellokids.com/c_14511/drawings/animated
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frases/Henry-David-Thoreau

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henry-david-thoreau

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http://pt.wikiquote.org/wiki/
Henry_David_Thoreau

 

Música de fundo:

It Might As Well Be Spring
Composição: Richard Rodgers (música) & Oscar Hammerstein II (letra)
Interpretação: Ella Fitzgerald

Fonte:

http://prostopleer.com/#/tracks/19312924edv