Só
amanhece o dia para o qual estamos despertos.
Uma
vida de cada vez. Devemos expulsar de nós tudo o que não seja
vida.
Quero
dizer uma palavra em defesa do ambiente natural e da liberdade absoluta.
Uma declaração extrema, pois, já há muitos defensores
da civilização.
Tornei-me
vizinho dos pássaros, não por ter aprisionado um, mas por
ter me engaiolado perto deles.
Desfruta
a terra, mas sem possuí-la. Por falta de iniciativa, os homens estão
onde estão, comprando e vendendo, desperdiçando a vida como
escravos.
Mais
do que amor, do que dinheiro e do que fama, dai-me a verdade. Sentei-me
à uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço
impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e, com fome,
fui-me embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como
os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los.
Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava em um vinho
muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que
eles não tinham e nem sequer podiam comprar. O estilo, a casa com
o terreno em volta e o entretenimento não representam nada para mim.
Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se
como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia
um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias.
Teria feito bem melhor visitando-o a ele. Até quando nos sentaremos
nós nos nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e bolorentas,
que qualquer trabalho tornaria descabidas? É como se alguém
começasse o dia com paciência, contratasse alguém para
lhe sachar as batatas, e, de tarde, saísse, com bondade premeditada,
para praticar a mansidão e a caridade cristãs!
Os
homens haverão de aprender que a política não é
a moral e que se ocupa apenas do que é oportuno.
A linguagem da amizade não
é de palavras, mas de significados.
Uma
grande verdade, mesmo mal sugerida, comove-nos mais do que uma verdade medíocre
completamente exprimida.
Cuidado
com todas as atividades que requeiram roupas novas!
Para
cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal há apenas um
atacando as raízes.
Somos
subeducados, atrasados e analfabetos. E, neste particular, confesso que
não faço grande distinção entre a ignorância
do meu concidadão que não sabe absolutamente ler nada, e a
ignorância do que apenas aprendeu a ler o que se destina a crianças
e inteligências medíocres. Deveríamos estar à
altura dos grandes da Antigüidade, mas em parte por saber primacialmente
quão grandes eles foram. Somos uma raça de homens-passarinhos;
nos nossos vôos intelectuais mal nos alçamos um pouco acima
das colunas do jornal. Nem todos os livros são tão insípidos
como os seus leitores. É provável que haja palavras endereçadas
exatamente à nossa condição, as quais, se de fato pudéssemos
ouvi-las e entendê-las, seriam mais salutares às nossas vidas
que a própria manhã ou a Primavera, revelando-nos, talvez,
uma face inédita das coisas. Quantos homens não inauguraram
uma nova etapa na vida a partir da leitura de um livro! Deve existir para
nós o livro capaz de explicar os nossos mistérios e de revelar
outros insuspeitados. As coisas que ora nos parecem inexprimíveis,
podemos encontrá-las expressas algures. As mesmas questões
que nos inquietam, intrigam e confundem, foram postas, por sua vez, a todos
os homens sábios; nenhuma foi omitida, e cada um deles respondeu
de acordo com a sua capacidade, por meio de palavras ou da própria
vida. De mais a mais, juntamente com a sabedoria aprendemos a liberalidade.
Mede
a tua saúde pela alegria que te causam a manhã e a primavera.
A
violência do amor deve ser tão temida quanto a do ódio.
Sob
um Governo que prende injustamente, o lugar de um homem justo é também
na cadeia.
Uma
frase perfeitamente sadia é muito rara.
Às
vezes, faz bem ficar doente.
Uma
palavra escrita é a mais fina das relíquias.
Como
é vão sentar-se e escrever se você não se levantou
para viver!
Eu
não tenho dúvidas de que é parte do destino da raça
humana, na sua evolução gradual, parar de comer animais, tal
como as tribos selvagens deixaram de se comer umas às outras quando
entraram em contato com os mais civilizados.
Quando um cão correr para
você, assobie para ele.
Com
um pouco mais de deliberação na escolha dos seus objetivos,
possivelmente todos os homens, em essência, se tornariam estudiosos
e observadores, porque a natureza e o destino de cada um interessam sem
dúvida de igual maneira a todos. Ao acumular bens para nós
ou para os nossos descendentes, ao fundar uma família ou um Estado,
ou ainda ao alcançar a fama, somos mortais; mas ao lidarmos com a
verdade somos imortais e não precisamos temer mudanças ou
acidentes. O
mais antigo filósofo egípcio ou hindu levantou uma ponta do
véu que cobria a estátua da divindade. Esta trêmula
túnica ainda permanece levantada, e eu contemplo uma glória
tão fresca como a que contemplou o filósofo, já que
era eu nele quem se mostrou tão audacioso naquela época, e
é ele em mim quem agora volta a observar a visão. Nenhuma
poeira se depositou sobre esta túnica; tempo nenhum decorreu desde
que tal divindade se viu revelada. O tempo que aproveitamos realmente, ou
que é aproveitável, não é passado, nem presente,
nem futuro.
A
não ser quando nos perdemos ou, em outras palavras, quando perdemos
o mundo, é que começamos a nos descobrir e perceber onde estamos
e o infinito alcance de nossas relações.
A
nossa vida é como uma Confederação Germânica,
composta de insignificantes Estados e com as fronteiras sempre a flutuar,
de modo que nem um alemão sabe, em dado momento, dizer quais são.
A
longo prazo, os homens acertam apenas em aquilo que apontam. Por isto, embora
falhem imediatamente, seria melhor que apontassem para algo mais alto.
Como
se fosse possível matar o tempo sem ferir a eternidade!
Com
a sabedoria aprendemos a ser tolerantes.
A
lei jamais tornou os homens mais justos, e , por meio de seu respeito por
ela, mesmo os mais bem-intencionados, transformam-se diariamente em agentes
da injustiça.
Até
hoje, as obras dos grandes poetas não foram lidas pela Humanidade,
porque só grandes poetas podem lê-las. Só foram lidas
como a multidão lê as estrelas, quando muito astrologicamente,
e não astronomicamente. A maioria dos homens aprendeu a ler tendo
em vista uma utilidade mesquinha, do mesmo modo que aprendeu a calcular
para tomar nota das receitas e despesas e não ser trapaceado nos
negócios; mas, da leitura como exercício intelectual nobre,
pouco ou nada sabe. Contudo, isto é que é leitura em acepção
elevada, não aquela que nos embala como um luxo e adormenta as nossas
mais nobres faculdades, e, sim, a que nos mantém expectantes e à
qual devotamos as nossas horas mais alertas e despertas.
O
melhor Governo é aquele que menos governa. E quando estivermos preparados
para isto, serei a favor de um Governo que não governe.
Às
vezes, penso: ora, essas pessoas são bem intencionadas, mas são
ignorantes.
Esta
cidade é conhecida, em todos os arredores, por possuir as maiores
estrebarias para bois, vacas e cavalos, construções que não
ficam a dever nada nem sequer aos edifícios públicos; por
outro lado, contam-se aqui pelos dedos os locais onde se pode rezar ou discursar
com total liberdade. Em vez de se autocelebrarem por meio da arquitetura,
não deveriam as nações fazê-lo pelo poder do
seu pensamento abstrato? O Bhagavad Gita [texto
religioso hindu que parte do épico Mahabharata]
é muito mais admirável do que todas as ruínas do oriente.
Torres e templos são luxos de príncipes. A mente simples e
livre não moureja sob as ordens de nenhum príncipe. O espírito
não é privilégio de nenhum imperador nem é exclusivo
deste, a não ser em insignificante medida, a prata, o ouro e o mármore.
Com que finalidade, digam-me lá, se talha tanta pedra? Quando estive
na Arcádia, não vi pedras serem lavradas. As nações
são possuídas pela louca ambição de perpetuarem
a sua memória com a soma das esculturas que deixam. Que tal se esforços
semelhantes fossem despendidos no sentido de aperfeiçoar e polir
a sua conduta? Uma obra de bom senso seria mais memorável que um
monumento da altura da Lua. Prefiro contemplar as pedras no seu local de
origem.1
Não
brigo com inimigos distantes, mas com aqueles que, aqui perto, cooperam
com os que estão longe, e cumprem suas ordens, e sem os quais os
últimos seriam inofensivos.
Não
basta uma informação de como ganhar a vida simplesmente com
honestidade e honra, mas que tal ato seja atraente e glorioso, pois se ganhar
a vida não for atraente e glorioso não é a vida que
se ganha.
A
maioria dos luxos e muitos dos chamados confortos da vida não só
são dispensáveis como constituem até obstáculos
à elevação da Humanidade. No que diz respeito a luxos
e confortos, os mais sábios sempre viveram de modo mais simples e
despojado do que os pobres. Os antigos filósofos chineses, indianos,
persas e gregos eram uma classe que se notabilizava pela extrema pobreza
de bens exteriores, em contraste com a sua riqueza interior. Embora não
saibamos muito a seu respeito, é de admirar que saibamos tanto quanto
sabemos. O mesmo acontece com reformadores e benfeitores mais recentes,
da nacionalidade deles. Ninguém pode ser um observador imparcial
e sábio da raça humana, a não ser da posição
vantajosa a que chamaríamos pobreza voluntária. O
fruto de uma vida de luxo é também luxo, seja em agricultura,
comércio, literatura ou arte. Hoje em dia, há professores
de Filosofia, mas não há Filósofos. Contudo é
admirável ensinar Filosofia porque um dia foi admirável vivê-la.
Ser um Filósofo não é apenas ter pensamentos sutis
nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo
os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade
e confiança. É solucionar alguns problemas da vida, não
só na teoria, mas, também, na prática.
A
riqueza supérflua só pode comprar coisas supérfluas.
Ainda
que sejas o maior dos ofensores serás capaz de cruzar o golfo do
pecado em uma casca de sabedoria.
A
comunidade não tem suborno capaz de tentar um homem sensato. É
possível levantar dinheiro suficiente para perfurar um túnel
em uma montanha, mas não é possível levantar dinheiro
suficiente para contratar um homem que se ocupe com a sua própria
vida. Um homem eficiente e valoroso faz o que pode, quer a comunidade lhe
pague ou não. Os ineficientes oferecem a sua ineficiência a
quem pagar mais, e sempre anseiam por uma colocação. É
de se supor que estes raramente fiquem desapontados.
Cada
pôr do Sol que vejo me inspira o desejo de partir para um oeste tão
distante e belo quanto aquele onde o Sol sumiu.
Se a pessoa der ouvidos às
sutis mas constantes sugestões do seu espírito, sem dúvida
autênticas, não vê a que extremos, e até loucura,
ele pode levá-la; contudo, por aí envereda o seu caminho,
à medida que cresce em resolução e fé. A mais
leve objeção segura que um homem sadio fizer, com o tempo
prevalecerá sobre os argumentos e costumes da Humanidade. Nenhum
homem jamais seguiu a sua índole a ponto de esta o extraviar. Embora
o resultado fosse fraqueza física, ainda assim, talvez, ninguém
pudesse dizer que as conseqüências eram lamentáveis, já
que representariam a vida em conformidade com princípios mais elevados.
Se o dia e a noite são de tal natureza que vós os saudais
com alegria, se a vida emite uma fragrância de flores e ervas aromáticas
e se torna mais elástica, mais cintilante e mais imortal –
aí está o vosso êxito. A
Natureza inteira é a vossa congratulação e tendes motivos
terrenos para bendizer. Os maiores lucros e valores estão ainda mais
longe de serem apreciados. Chegamos facilmente a duvidar de que existam.
Logo os esquecemos. Constituem, entretanto, a realidade mais elevada. Talvez
os fatos mais estarrecedores e verdadeiros nunca sejam comunicados de homem
a homem. A verdadeira colheita do meu dia-a-dia é algo de tão
intangível e indescritível como os matizes da aurora e do
crepúsculo. O que tenho nas mãos é um pouco de poeira
das estrelas e um fragmento do arco-íris.
Muitas
vezes perco a esperança de conseguir neste mundo algo de simples
e honesto com ajuda dos homens. Não esqueçamos, no entanto,
que grãos de trigo egípcio chegaram até nós
por intermédio de uma múmia.
Uma coisa é ser capaz de pintar
um quadro especial ou esculpir uma estátua, produzindo, assim, objetos
de beleza. Mas é muito mais glorioso esculpir e pintar a própria
atmosfera e a maneira pela qual vemos o mundo. Influir na qualidade do dia,
esta, sim, é a mais elevada das artes.
A
maioria dos homens vive vidas de silencioso desespero.
A
vida não foi feita para ser lamentada, mas para ser usufruída.
Ah!,
um povo que iniciasse a destruição dos marcos e deixasse intactas
as florestas!
Que
fogo poderia se igualar a um raio de Sol em um dia de inverno?
Vivemos
mesquinhamente, quais formigas, ainda que a fábula nos relate que
há muito tempo atrás fomos transformados em homens. Como os
pigmeus, lutamos com gruas; e é erro sobre erro, remendo sobre remendo,
e a nossa melhor virtude decorre de uma miséria supérflua
e evitável. A nossa vida é estilhaçada pelo pormenor.
Um homem honesto dificilmente precisa contar para além dos seus dez
dedos das mãos, acrescentando, em caso extremo, os seus dez dedos
dos pés, e o resto que se amontoe. Simplicidade, simplicidade, simplicidade!
Digo: ocupai-vos de dois ou três afazeres, e não de cem ou
mil; contai meia dúzia em vez de um milhão e tomai nota das
receitas e despesas na ponta do polegar. A meio do agitado mar da vida civilizada,
tantas são as nuvens, as tempestades, as areias movediças,
tantos são os mil e um imprevistos a ser levados em conta, que para
não se afundar, para não ir a pique antes de chegar ao porto,
um homem tem de ser um grande calculista para lograr êxito. Simplificar,
simplificar, simplificar. Em vez de três refeições por
dia, se preciso for, comer apenas uma; em vez de cem pratos, cinco; e reduzir
proporcionalmente as outras coisas. A nossa vida é como uma Confederação
Germânica, composta de insignificantes Estados e com as fronteiras
sempre a flutuar, de modo que nem um alemão sabe, em dado momento,
dizer quais são.
Existem
999 professores de virtude para cada pessoa virtuosa.
Qualquer
homem mais correto do que os seus vizinhos constitui uma maioria de um.
Alguns
vislumbres de verdadeira beleza podem ser vistos nas faces daqueles que
vivem em verdadeira humildade.
Para
um homem sábio, a água
é a única bebida.
O
mundo nada mais é do que uma tela em branco para a imaginação.
Você
deve viver no presente. Lance-se em cada onda; encontre a sua eternidade
em cada momento.
Não
é o que olhamos o que importa; é o que vemos.
Toda
a geração ridiculariza a moda antiga, mas segue religiosamente
a nova.
Se
você construiu castelos no ar, não pense que desperdiçou
seu trabalho; eles estão onde deveriam estar. Agora construa os alicerces.
Considero
saudável estar só na maior parte do tempo.
Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se torna enfadonho e dispersivo.
Adoro estar só. Nunca encontrei um companheiro tão sociável
como a solidão.2
Estamos geralmente mais sós quando viajamos com outros homens do
que quando permanecemos nos nossos aposentos. Um homem quando pensa ou trabalha
está sempre só. Deixai-o, pois, estar onde ele deseja. A solidão
não é medida pelas milhas de espaço que separam um
homem e os seus congêneres. O estudante verdadeiramente diligente
de um dos enxames da Universidade de Cambridge está tão solitário
como um dervixe no deserto. O agricultor pode trabalhar sozinho no campo
ou nos bosques durante todo o dia, mondando ou podando, e não se
sentir solitário porque está ocupado; mas quando chega à
casa, à noite, não consegue se sentar em uma sala sozinho,
à mercê dos seus pensamentos. Tem que ir onde possa «estar
com as pessoas», distrair-se e ser compensado pela solidão
do seu dia. E assim, um estudante pode estar só em casa durante toda
a noite e grande parte do dia sem se aborrecer ou se sentir deprimido. Ouvi
falar de um homem perdido na floresta e a morrer de fome e de exaustão
ao pé de uma árvore, cuja solidão era aliviada pelas
visões grotescas com que, devido à fraqueza física,
a sua imaginação doente o rodeava, e que ele acreditava serem
reais. Assim também, graças à saúde e à
força física e mental, podemos sentir-nos continuamente animados
por uma companhia semelhante, se bem que, mais normal e natural, é
chegarmos à conclusão de que nunca estamos sós.
Quem
viaja sozinho pode partir hoje. Quem viaja acompanhado deve esperar pelo
dia seguinte.
Quem
avançar confiante na direção de seus sonhos e se empenhar
em viver a vida que imaginou para si encontrará um sucesso inesperado
em seu dia-a-dia.
Fazer
de todos os dias um bom dia, esta é a mais elevada das artes.
O que mais encoraja é a capacidade
humana de elevar sua vida por meio do esforço consciente.
A
bondade é o único investimento que sempre compensa.
Estou convencido, pela fé
e pela experiência, de que nos mantermos sobre a Terra não
é uma provação, mas, um passatempo – se vivermos
de maneira simples e sábia.
Fui
para os bosques
viver de livre vontade,
para sugar o tutano da vida.
Para aniquilar tudo
o que não era vida,
para, quando morrer,
não descobrir que não vivi.
É
preferível cultivar o respeito pelo bem do que o respeito pela lei.
Já
conhecemos a Sociedade para a Difusão do Conhecimento Útil.
Dizem por lá que conhecimento é poder e coisas desse gênero.
Eu penso que precisamos também de uma sociedade para a difusão
da ignorância útil, o que podemos chamar de conhecimento belo,
um conhecimento útil em um sentido mais elevado. Pois, o que vem
a ser maior parte de nossa decantada e apregoada sabedoria senão
a presunção de conhecer alguma coisa, presunção
esta que nos priva da vantagem da autêntica ignorância? Freqüentemente,
o que consideramos conhecimento é nossa ignorância positiva,
sendo a ignorância o nosso conhecimento negativo. Depois de longos
anos de trabalho e leitura de jornais – o que são as estantes
da ciência senão arquivos de jornais? – um homem acumula
uma miríade de fatos, empilha-os na memória; depois, quando,
em alguma primavera de sua vida, resolve vagabundear até os grandes
campos do pensamento, ele, por assim dizer, cai de quatro e pasta na grama
como um cavalo, deixando no estábulo todos os arreios. Gostaria de
dizer, às vezes, para a Sociedade para a Difusão do Conhecimento
Útil: caiam de quatro e pastem na grama. Há tempo demais vocês
estão comendo feno. A primavera chegou e trouxe o verde às
vegetações. As próprias vacas buscam as pastagens mais
retiradas ainda antes do fim de maio; mas já ouvi falar de um fazendeiro
desnaturado que mantinha sua vaca presa no celeiro o ano inteiro alimentando-a
com feno. É assim que, muitas vezes, a Sociedade para o Conhecimento
Útil trata seu gado. A ignorância, às vezes, é
não apenas útil, mas linda; a chamada sabedoria é freqüentemente
pior do que inútil, além de horrorosa.
Não
é desejável cultivarmos pela lei o mesmo respeito que cultivamos
pelo Direito.
Mesmo
votar em favor do Direito é não fazer coisa alguma por ele.
Dá
teu voto inteiro, não uma simples tira de papel, mas toda a tua influência.
Um
povo, tanto quanto um indivíduo, deve fazer justiça, custe
o que custar.
Como pode um homem se satisfazer
com apenas ter uma opinião e se deleitar com ela?
Desejo
tanto ser um bom vizinho quanto um mau súdito.
Ao
mesmo tempo que a realidade é uma fábula, simulações
e enganos são considerados como as verdades mais sólidas.
Se os homens se detivessem a observar apenas as realidades, e não
se permitissem ser enganados, a vida, comparada com as coisas que conhecemos,
seria como um conto de fadas ou as histórias das Mil e Uma Noites.
Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem direito
a ser, a música e a poesia ressoariam pelas ruas afora. Quando somos
calmos e sábios, percebemos que só as coisas grandes e dignas
têm existência permanente e absoluta, que os pequenos medos
e os pequenos prazeres não passam de sombras da realidade, o que
é sempre estimulante e sublime. Por fecharem os olhos e dormirem,
por consentirem ser enganados pelas aparências, os homens em toda
a parte estabelecem e confinam as suas vidas diárias de rotina e
hábito em cima de fundações puramente ilusórias.
O
talento limita-se a indicar a profundidade do caráter em uma certa
direção.
Se
uma planta não consegue viver de acordo com sua natureza, ela morre.
Assim também acontece com o homem.
O
que todos os empresários desejam, mas, em vão, e que qualquer
assalariado consegue: lazer e uma mente em paz.
Desfruta
de verdadeiro lazer quem tem tempo para melhorar o estado de sua alma.
Nossas invenções são
apenas brinquedos bonitinhos que distraem nossa atenção das
coisas sérias.
Muitos
homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro.
A
massa nunca se eleva ao padrão do seu melhor membro; pelo contrário,
degrada-se ao nível do pior.3
A
experiência localiza-se nos dedos e na cabeça. O coração
não tem experiência.
Podemos
odiar aqueles que amamos. Os outros, geralmente, nos são indiferentes.
A
Matemática não mente. O que há são muitos matemáticos
mentirosos.
Nove
décimos da sabedoria provêm de sermos judiciosos a tempo.
Qualquer
idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá.4
É
tão difícil se observar a si mesmo quanto olhar para trás
sem se voltar.5
Se
queres um escudo impenetrável, permanece dentro de ti mesmo.6
É
preciso duas pessoas para falar a verdade: uma para falar; outra para ouvir.
Não
nasci para ser forçado a nada. Respirarei a meu próprio modo.
Simplesmente
desejo recusar sujeição ao Estado, afastar-me dele e manter-me
à parte de modo efetivo.
Jamais haverá um Estado livre
e esclarecido até que este venha a reconhecer o indivíduo
como um poder mais alto e independente, do qual deriva todo o seu próprio
poder e autoridade, e o trate de maneira adequada.
Não
basta estarmos ocupados. A pergunta é: estamos ocupados com o quê?
Viva
cada estação enquanto elas duram, respire o ar, beba a bebida,
saboreie a fruta e se deixe levar pelas influências de cada uma.
A
melhor coisa que posso fazer pelo meu amigo é simplesmente ser seu
amigo.
Muitos
sabem ganhar dinheiro, mas poucos sabem gastá-lo.
Nada
é tão útil ao homem como a resolução
de não ter pressa.
Se
um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é
porque ouve outro tambor.
Bendito, entre os mortais, aquele
que não perde um momento da vida a remastigar o que passou.
O
homem mais rico é aquele cujos prazeres são mais baratos.
Um homem é rico na proporção
do número de coisas de que ele é capaz de abrir a mão.
Nunca
é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos.
O dinheiro não é necessário
para comprar uma única necessidade da alma.
O céu tanto está sob
os nossos pés como sobre as nossas cabeças.
O
pássaro azul carrega o céu nas suas costas.
Se
qualquer homem formar na mente uma imagem do que quer fazer e sustentar
esta imagem mental, o Pastor de Deus a desenvolverá e fará
acontecer.7
Benditos
os que nunca lêem jornais, porque verão a Natureza e, através
dela, Deus.
Desconcordando...
porque, ao ficarem informados,
poderão
divisar um pouco mais
além
dos seus limites limitados,
das
suas ignorâncias ignoradas,
dos seus repetecos reincididos,
das
suas encarnações abobadas,
dos
seus de já hojes bolorecidos.
Aquele
que vive mal informado
–
quando escolhe – escolhe mal,
e
comprará água de cal8
por ado.
Aquele
que vive mal informado
difere muito pouco de um animal,
e
muge ao invés de ficar calado.9