Rofolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

1º Parágrafo

 

 

O Blog Khalanet Treinamento e Desenvolvimento calculou que em 70 anos de vida, em média, uma pessoa gastará: 23 anos, 9 meses e 7 dias dormindo; 15 anos trabalhando; 14 anos e 6 meses assistindo TV; 4 anos, 9 meses e 18 dias em filas; 3 anos no vaso sanitário; 1 ano, 5 meses e 26 dias no trânsito; 8 meses e 1 dia escovando os dentes; 7 meses em reuniões de trabalho; 3 meses e 13 dias tomando banho; 2 meses e 15 dias ao telefone; 27 dias e 2 horas esperando o elevador; e 19 dias procurando o raio do controle remoto.

 

 

2º Parágrafo

 

 

Todavia, penso que faltem muitas coisas aí nesses cálculos. Por exemplo: quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem peidando no sofá e tirando meleca? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem futicando e enxovalhando? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem criticando e reclamando de tudo e de nada? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem falando mal da vida alheia? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem conspirando e engendrando sacanagens? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem urdindo e tramando contra os seus semelhantes? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem mentindo e alimentando preconceitos? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem, em comissão ou por omissão, em suas covardias e hipoteticidades? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem fingindo que não vê? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem arquitetando sobrevalias? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem de joelhos, ao invés de olhar para o seu próprio interior? Quantos dias, quantas horas e quantos minutos gasta o homem no patati, patatá, no tatatá teteté, tititi, tototó e tututu, no tal e coisa, nas coisas e loisas, no vira-e-mexe, no nhenhenhém e no et cetera e tal?

 

 

3º Parágrafo

 

 

Depois, um dia, quando a Divindade der de começar a diminuir sucessivamente (ou suprimir bruscamente) sua influência contínua sobre o Princípio Vital (Neschamah) e sobre a Sede da Vontade (Ruach), fato que a KaBaLa denomina de morte por cima ou de dentro para fora, ou, por outro lado, quando o corpo acabar se desorganizando sob a influência de alguma perturbação ou lesão, evento que a KaBaLa denomina de morte por baixo ou de fora para dentro, o ente, que, geralmente, não sabe de onde veio, o porquê de estar aqui e para onde irá depois da sua morte ou transição, haverá de – quem sabe? – ver a porca torcer o rabo. Terá que, educativa e inevitavelmente, experimentar uma das 900 (novecentas) espécies de morte, mais ou menos dolorosas, desde a mais doce – o beijo – até a mais penosa – a sensação de enforcamento. Para todos, eu gostaria que fosse um beijinho doce. Seja como for, uma vez mais me lembrei da frase derradeira de Quincas Berro D'Água, segundo o relato de Quitéria do Olho Arregalado, que estava a seu lado: — Cada qual cuide de seu enterro, impossível não há! Eu entendo isto como a necessidade de cada um se mancar enquanto está vivo, ao invés de ficar peidando no sofá e tirando meleca.

 

 

 

Jorge Amado

 

 

 

Fundo musical:

Rico Vacilon (Rosendo Ruiz)

Fonte:

http://www.publiespectaculos.com/
midis_actuales.asp?letra=c

 

Página da Internet consultada:

http://escafandro.blogtv.uol.com.br/2008/03/10/
jorge-amado-e-relancado-e-o-brasil-relembrado