TEMPO DE INOCÊNCIA

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Stan Laurel e Oliver Hardy
Charles Chaplin

 

 

 

 

O tal do ferrugento saudosismo

– não o de Teixeira de Pascoaes1

poderá nos arrastar para um abismo.

 

 

A valorização supérflua do passado

é o que de pior podemos entretecer,

pois não olhamos sequer para o lado.

 

 

O tempo da inocência é uma ilusão.

Viver soldado ao que, no tempo, já se foi

não é viver; é claudicar fora de mão!

 

 

Em termos, o que passou, já passou,

pois a experiência2 já foi experimentada.

Não se vive do eu-fui; vive-se eu-sou.

 

 

 

 

 

 

Mas há um certo tipo de Saudade,

esta, sim, benfazeja e bem-querida:

 

 

E, a Iniciação Mística é outra coisa.

Aperfeiçoa, desentrava e ascensiona;

inesquecida, vai com a gente até a loisa!3

 

 

 

 

Saudade Metafísica

 

 

 

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Notas: Saudade Metafísica

1. Teixeira de Pascoaes é o pseudônimo literário do poeta e escritor português Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos (Amarante, 8 de novembro de 1877 – Gatão, 14 de dezembro de 1952), principal representante do Saudosismo português, que foi um movimento estético ocorrido em Portugal no primeiro quartel do século XX. Com António Sérgio e Raul Proença, foi um dos líderes do chamado movimento da Renascença Portuguesa, e lançou, em 1910, no Porto, juntamente com Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, a revista A Águia, principal órgão do movimento. O Saudosismo consubstancia uma atitude humana perante o mundo que tem como base a saudade, considerada por Pascoaes o grande traço espiritual definidor da alma portuguesa, o que, segundo o poeta, é testemunhado pela literatura portuguesa ao longo dos séculos. No entanto, mais do que sentimento individual, a saudade é elevada a um plano místico (relação do homem com Deus e com o mundo, ânsia nostálgica da unidade do material e do espiritual) e corresponde a uma doutrina política e social. Surgido no clima mental nacionalista, tradicionalista e neo-romântico do início do século passado, o Saudosismo pretendia, tomando a saudade como princípio dinâmico e renovador (de forma algo obscura) levar a cabo, pela ação cultural, a regeneração de Portugal. Seria, de acordo com o seu teorizador, a primeira corrente autenticamente portuguesa. Ligado a uma expectativa messiânica e profética, o Saudosismo acabou por dar azo ao afastamento de alguns dos seus adeptos – como António Sérgio, que não reconhecia no seu passadismo capacidade de renovação, ou até Fernando Pessoa, que, embora partilhando este elemento messiânico, acabou por preferir o projeto cosmopolita e revolucionário da Orpheu. O Saudosismo, embora tenha desaparecido como corrente literária e espiritual, mantém ainda ecos na obra de alguns escritores e pensadores ligados à análise do caráter nacional e dos seus traços definidores. É de Teixeira de Pascoaes o seríssimo comentário divertido: A vaidade é a sinceridade em pessoa.

Nota editada das fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Teixeira_de_pascoaes#cite_note-0

http://pt.wikipedia.org/wiki/Saudosismo

2. A experiência experimentada deve ser educativa e ascendedoira; agora, ficar abodegando e abufelando, ruminando e mastigando, chacoalhando e vascolejando, remastigando e revivendo, resmungando e ranhetando... Bolas! Nem orgasmo poderá ser bom desta maneira!

3. Na realidade, a Iniciação Mística, em princípio, depois de adquirida, não é perdida. Em princípio, porque só o mérito poderá mantê-la.

 

Observação:

A animação em flash Saudade Metafísica foi produzida a partir de uma fotografia digital disponibilizada no Blog Lá no Mundo de Lá. Neste sentido, o autor da fotografia digital mantém os mesmos direitos autorais sobre a animação em flash. O endereço do Blog citado é:

http://lanomundodela.blogspot.com/

 

Fundo musical:

Ai, Mouraria (Amadeu do Vale & Frederico Valério)

 

Ai, Mouraria,
da velha Rua da Palma,
onde eu um dia
deixei presa a minha alma,
por ter passado,
mesmo ao meu lado,
certo fadista
de cor morena,
boca pequena
e olhar trocista.

Ai, Mouraria,
do homem do meu encanto
que me mentia,
mas que eu adorava tanto.
Amor que o vento,
como um lamento,
levou consigo,
mais que ainda agora,
a toda a hora,
trago comigo.

Ai, Mouraria,
dos rouxinóis nos beirais,
dos vestidos cor-de-rosa,
dos pregões tradicionais.
Ai, Mouraria,
das procissões a passar,
da Severa em voz saudosa,
da guitarra a soluçar.


Fonte da música .mid:

http://br.geocities.com/osabordasaudade/portuguesas-c.htm