Eis
que, quando menos se espera, algo inusitado pode acontecer e tudo ficar
muito pior. Muito pior mesmo. Principalmente se você for uma mulher
já entrada em anos!
As
pessoas deveriam sempre se olhar no espelho antes de comentar ou dizer o
que quer que seja sobre os outros. Ora bolas! Gentileza não paga
imposto. Já aconteceu de você se sentir desconfortável
ao olhar as pessoas da sua idade e pensar: estarei também assim
tão velha? Pois é. Insinuar ou dizer que alguém
é ou está velho é mesmo um verdadeiro horror. A gente
sabe que está velha, mas não quer que os outros digam ou dêem
a entender.
Se
isso já lhe aconteceu, então, você vai des–gostar
desta estória. Se não aconteceu, prepare-se; um dia, infelizmente,
poderá acontecer e se transformar em uma tragédia. Eu estava
sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista
– para avaliar o estado da minha dentadura superior – quando
observei que o seu diploma estava dependurado na parede. Levantei e fui
dar uma espiadinha. Estava escrito o seu nome, e, de repente, eu me recordei
de um moreno encantador, bonitão, olhos castanhos de encantos tamanhos,
que eu conheci com esse mesmo nome. Era o menino mais bonito do colégio
e estudava na minha classe do primário, há mais ou menos uns
60 anos, e eu me perguntei: poderia ser o mesmo garoto por quem eu havia
me apaixonado perdidamente naquela época? O fato é que
eu, até então, só sabia o primeiro nome daquele dentista
com quem marcara aquela consulta: Heusthákyo. Mas depois de ler seu
nome completo no diploma pendurado na parede, a ficha caiu. Era ele! Só
poderia ser ele!
Quando
entrei na sala de atendimento, imediatamente afastei esse pensamento do
meu espírito. Aquele homem alquebrado, sem o revestimento piloso
natural, rosto marcado e profundamente enrugado era demasiadamente velho
para ter sido o meu amor secreto do quarto ano primário. Não
poderia mesmo ser ele, apesar dos velhos olhos castanhos de encantos tamanhos
serem muitos parecidos. Até porque amor secreto não envelhece!
Depois
que ele examinou a minha estrutura superior de dentes artificiais e apresentou
o orçamento para fazer uma nova, por curiosidade, resolvi perguntar
se ele havia sido aluno no Colégio Curso Infantil, que ficava na
Travessa Santa Leocádia, em Copacabana.
— Sim — respondeu-me o calvo macróbio.
— Lembra-se da Dona Eva e da Professora Mazé? —
emendei.
— Sim, eu me lembro muito bem — confirmou.
— Quando se formou? — continuei.
— Em 1959. Mas por que a senhora está perguntando tudo
isso? — questionou o velho homem, que, com uma certa dificuldade,
já havia se sentado.
— Eh... Bem... Você era da minha classe. Nós...
Lembra? — exclamei meio encabulada.
E
então, aquele velho abominável de olhos cor de castanha passada
de desencantos estranhos, deplorável, execrável, pavoroso,
'horrético', careca, cretino, decrépito, arruinado,
caduco, gagá, tremelicoso e sei lá mais o quê teve a
inacreditável falta de pejo de me perguntar:
— A senhora era professora de quê?
Tudo
começou a girar, e eu desmaiei. Só me recuperei, e mesmo assim
não inteiramente, seis meses depois! E resolvi ficar definitivamente
com o meu antigo conjunto superior de formas geométricas na forma
de dentes postiços. E, claro, não voltei lá para continuar
o tratamento de permuta.
________
Pois
é!
O
tempo passa...
Envelhecemos...
Esquecemos...
Os
coronés?
Continuam
os mesmos.
Envelhecemos...
Esquecemos...
Os
políticos?
Sempre
os mesmos.
Envelhecemos...
Esquecemos...
Os
donos do poder?
Invariavelmente
os mesmos.
Envelhecemos...
Esquecemos...
Se
bobearmos...
Se
esquecermos...
Acabaremos
votando
nos
mesmos ladrões.
Podemos
envelhecer.
Certamente,
todos
nós,
estamos
envelhecendo!
Mas...
Envelhecer...
É
uma coisa.
Esquecer
de
quem
sempre
nos roubou...
É
outra...
Bem
diferente.
Eleger...
É
uma coisa.
Reeleger...
É
outra...
Bem
diferente.
Curral?
Ora!
Não somos vacas!
Website
consultado:
http://www.ehrlesparty.com/CostumeAccessories-Masks.htm
Em
2006, eleja mas não reeleja!