TELEOLOGIA
E INTENCIONALIDADE
Rodolfo Domenico
Pizzinga
A
Criação de Deus
Como Travão aos Instintos
Uma obrigação
para com Deus: esta idéia foi, porém, um instrumento
de tortura. Imaginou-se Deus como um contraste dos seus próprios
instintos animais (do homem) e irresistíveis, e, deste modo,
transformou estes instintos em faltas para com Deus, hostilidade,
rebelião contra o «Senhor», «Pai»
e «Princípio do mundo», e colocando-se galantemente
entre «Deus» e o «Diabo» negou a Natureza
para afirmar o real, o vivo, o verdadeiro
Deus, Deus santo, Deus justo, Deus castigador, Deus sobrenatural,
suplício infinito, inferno, grandeza incomensurável
do castigo e da falta. Há uma espécie de demência
da vontade nesta crueldade psíquica. Esta vontade de se achar
culpado e réprobo até ao infinito; esta vontade de
se ver castigado eternamente; esta vontade de tornar funesto o profundo
sentimento de todas as coisas e de fechar a saída deste labirinto
de idéias fixas; esta vontade de erigir um ideal, o ideal
de «Deus santo, santo, santo», para se dar melhor conta
da própria indignidade absoluta... Oh, triste e louca besta
humana!
A
que imaginações contra natura, a que paroxismo de demência,
a que a bestialidade de idéia se deixa arrastar, quando se
lhe impede ser besta de ação! Tudo isto é muito
interessante, mas, quando se olha para o fundo deste abismo, são
sentidas vertigens de tristeza enervante. Não há dúvida
de que isto é uma doença, a mais terrível que
tem havido entre os homens, e aquele cujos ouvidos sejam capazes de
ouvir, nesta negra noite de tortura e de absurdo, o grito de amor,
o grito de êxtase e de desejo, o grito de redenção
por amor, será presa de horror invencível... Há
tantas coisas no homem que infundem espanto! Foi por tanto tempo a
Terra um asilo de dementes!
Friedrich
Nietzsche, in: A Genealogia da Moral
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Haverá
uma intencionalidade cósmica?
Haverá uma predeterminação
cósmica?
Será o Cósmico
teleológico? Finalístico?
Será o Cósmico
promotor? Afilhadístico?
Estas
perguntas só serão respondidas
– bem respondidas!
– se forem preteridas
a idéia dum omnipotente
e a religiosidade,
o preconceito, o terracentrismo
e a vaidade.
O
homem deve se tornar Super-homem,
O Kosmos
foi, é e será o que sempre foi:
em cuca de bode não
nasce chifre de boi.
Essa
coisa de achar que o Kosmos
foi criado
por um deus onitudo (em
um trono sentado)
e que o homem é
sua primeira semelhança
é desconhecimento,
puerilidade e chibança.
Não
há uma perpetrabilidade cósmica.
Não há uma
planejabilidade cósmica.
O Cósmico não
é apriorístico, fatalístico,
escolhedor, protegedor
ou casuístico.
Ou
nos livramos da nossa insabidade
ou não conquistaremos
a maioridade.
Ou prerrogativamos a nossa
Voz Interior
ou não diremos:
— Eu-sou meu Iniciador.
Ou...
Não sei aonde nos levará este ou,
enquanto preponderar o
fedido não-sou.
Pomba! Quousque
tandem ajoelhados?
Bolas! Quousque
tandem abichornados?
Eta!
Quousque tandem
preconceituosos?
Cruzes!
Quousque tandem acrimoniosos?
Caramba!
Quousque tandem
cagagésimos?
Essa não! Quousque
tandem infinitésimos?
—
Na lameira, deslizei!
Contra tudo, pequei!
Oh!, e agora, José!
Oh!, e agora, mané!