Eu
Estava Onde
o Suicida Esteve
Uma
fotografia tirada por Massoud Hossaini de uma menina afegã
de pé em meio a uma pilha de corpos capturou a imagem da
devastação deixada imediatamente após um ataque
suicida contra um santuário xiita em Cabul, no Afeganistão.
O
fotógrafo da Agence France-Presse (AFP) Massoud Hossaini,
de 30 anos de idade, estava a alguns metros de distância quando
a bomba explodiu, deixando pelo menos 70 mortos. A imagem da menina
Tarana Akbari (que perdeu sete familiares no atentado, incluindo
um irmão de sete anos), de 12 anos, gritando em meio aos
corpos, ofereceu uma visão clara da devastação,
e foi capa dos jornais americanos The New York Times, The
Washington Post e The Wall Street Journal. Hossaini
descreveu o que aconteceu e o que significa ser um fotógrafo
afegão trabalhando em seu País destruído pela
guerra. Lei o relato a seguir.
Eu
estava checando a minha câmera, quando, de repente, houve
uma explosão enorme. Por um momento não tive consciência
de nada, só senti a onda da explosão e a dor em
meu corpo. Joguei-me no chão.
Vi
um monte de gente correndo no sentido oposto à fumaça.
Sentei-me e vi que minha mão estava sangrando, mas não
sentia dor.
É
o meu trabalho saber o que está acontecendo. Então,
corri na direção oposta de toda aquela gente. Quando
a fumaça baixou, vi que eu estava de pé, no meio
de um círculo de cadáveres, amontoados, um em cima
do outro. Eu estava exatamente no lugar em que o suicida esteve.
Fiquei
em estado choque. Não sabia o que fazer. Então,
comecei a clicar. Sabia que estava chorando. Foi muito estranho
chorar, pois eu nunca havia reagido daquela forma, antes.
Não
ajudei ninguém porque não pude; estava realmente
em choque. Sabia que precisava cobrir aquele horror, registrar
tudo, toda a dor, as pessoas correndo, chorando, batendo no peito
e gritando: — Morte à Al-Qaeda! Morte ao Talibã!
Virei-me
para a direita e vi a menina. Quando Tarana se deu conta do que
havia acontecido a seu irmão, primos, tios, mãe,
avó, todas as pessoas ao redor dela, começou a gritar.
Nas
minhas fotos, ela estava apenas gritando. Essa reação
de choque era tudo o que eu queria captar.
Nesse
momento, chegou um grupo de jovens que começou a atacar
os jornalistas no local do atentado.
Eles
me tiraram do local, mas de alguma forma eu consegui voltar e
só me lembro quando as pessoas estavam carregando os corpos
e eu tentei capturar aquele momento.
Eu
queria apenas refletir a dor real de todos ali, para qualquer
pessoa que visse minhas fotos. Não importava se seriam
afegãos, americanos, muçulmanos, cristãos,
ou outros quaisquer. Só queria que soubessem o que meu
povo estava sentindo.
Senti
100% tudo. Estive no local antes, durante e depois do atentado,
e fiquei ferido. Foi uma experiência importante.
Na
primeira e segunda noites, tive dificuldade para dormir. Sempre
que fechava os olhos, lembrava da cena, me perguntando o que mais
eu poderia ter feito por aquelas pessoas. Por que não ajudei
ninguém?
No
terceiro dia, todas essas emoções na minha cabeça
acabaram porque eu descobri que a foto tinha sido publicada em
todo lugar. Vi que tinha feito uma grande cobertura que tinha
tido um efeito importante. Graças a Deus eu estava lá
e consegui tirar uma foto e enviá-la o mais rápido
que consegui.
|