Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Noite Negra

 

 

 

 

colocou seu Tabernaculum no Sol,1

mas muitos ainda preferem a Lua Negra.2

Oh, Sol! Como privilegiar o intexto aranhol?

Oh, Sol! Como preferenciar a Noite Negra?3

 

 

serão tão-só prerrogativa e preferência

ou muito mais uma questão de insabidade?

Será uma simples e mera inconsciência

 

 

Deus colocou seu Tabernaculum no Sol,

há um reflexo deste Tabernaculum em nós.

Em nosso Coração há mesmo um Santo Sol.

Primeiro, Santo Silêncio; Santa LLuz,4 depós!

 

 

 

 

Santo Silêncio —› Santa LLuz

 

 

 

 

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Notas:

1. Robert Fludd (1574 – 1637).

2. Alegoricamente e segundo a KaBaLa, Adão teve duas esposas: Lilith e Eva. Eva, como é propalado na tradição mitológica judaico-cristã, foi feita a partir de uma costela de Adão; porém Lilith foi gerada da mesma argila com que Deus fez Adão. Por orgulho e por luxúria, Lilith cansou-se de sempre ficar por baixo de Adão durante os atos sexuais, e, por este motivo, foi se queixar com Deus: Fomos criados iguais e devemos fazê-lo em posições iguais. Como Deus não atendeu às suas reivindicações, Lilith foi embora do Paraíso, aliando-se aos inimigos do Eterno, passando a representar todos os desejos inferiores, ocultos e nefastos que existem em nosso infraconsciente – a Lua Negra. Perdida no mundo, Lilith terminou se transformando em um demônio perverso que assola e vampiriza todos os seres humanos que tentam viver o Amor. A partir desta narração alegórica e ao mesmo tempo ocultista, Lilith passou a ser apontada como a mãe dos demônios e de todas as perversidades sexuais, além de ser considerada uma traidora por se aliar aos anjos caídos. No âmbito da Filosofia Gnóstica, o inferno da Terra é regido por dois demônios: Lilith e Nahemah. Nahemah rege as duas primeiras Esferas ou Círculos Dantescos, onde vibra uma classe de infra-sexualidade ligada ao adultério, às paixões, à bigamia, à fornicação etc. Lilith dirige as outras Sete Esferas infernais, onde reina a sexualidade mais depravada que se possa imaginar. Entretanto, a figura de Lilith, na antiga Babilônia, era venerada sob os nomes de Lilitu, Ishtar e Lamaschtu. E Joëlle de Gravelaine afirma: Durante meus anos de prática astrológica, tenho utilizado a Lua Negra em todas as minhas análises de mapas natais, como complemento da interpretação da Lua. Jamais pensei em ignorar esta influência. A Lua Negra descreve nosso relacionamento com o Absoluto, com o sacrifício como tal, e mostra-nos como abrimos mão de certas coisas. Em trânsito, a Lua Negra indica-nos alguma forma de castração ou de frustração, freqüentemente nos assuntos relacionados ao desejo – uma incapacidade da psique ou uma inibição em geral. Por outro lado, também indica nossas áreas de autoquestionamento, nossa vida, nossos trabalhos, nossas crenças. Acho que isto é importante, pois nos dá a oportunidade de abrir mão de algo. A Lua Negra mostra onde podemos deixar que a Totalidade fale dentro de nós, sem atravessar um “eu” pelo caminho, sem erigir um muro formado pelo nosso ego. Ao mesmo tempo, ela não nos indica a passividade. Ao contrário, simboliza a firme vontade de mantermo-nos abertos e confiantes, de deixar que o Mundo Transcendental infiltre-se em nós, confiando inteiramente nas grandes leis do Universo – naquilo que chamamos e entendemos como Deus. A fim de nos preparar para essa abertura, a Lua Negra cria um vazio necessário.

 

 

A Lua Negra percorre o Zodíaco cerca de 40º por ano.
Uma revolução completa demora 8 anos e 10 meses.

 

 

Nota editada das fontes:

http://www.astro.com/astrology/in_lilith_p.htm

http://www.gnosisonline.org/
Magia_Cosmica/lilith_a_lua_negra.shtml

 

 

Lilith

 

 

3. Christian Bernard, 4º Imperator da Ordem Rosacruz AMORC para este Segundo Ciclo Iniciático, define a Noite Negra da Alma da seguinte forma: Posso dizer que, no plano individual, é um ciclo que corresponde a um questionamento do ideal seguido até então. Conforme o caso, esse questionamento pode ter origem em uma série de provações que atravessamos ou em uma crise interior sem qualquer ligação com o mundo objetivo. Também pode acontecer que, por razões puramente psicológicas, o místico se sinta invadido por impulsos interiores negativos que o levem brutalmente a rejeitar os valores em que acreditava. (BERNARD, Christian. Assim Seja. Curitiba: AMORC, 1994, p. 93.). Já o português lisboeta Fernando Martini Bulhões – que primeiro vestiu o hábito branco dos Cônegos de Santo Agostinho e depois e definitivamente o hábito marrom dos Franciscanos – conhecido como Santo António de Pádua, em seus estudos e reflexões filosóficas apresentou três estágios para o processo ascensional da consciência: Conticinium (Conticínio), Media Nox (Meia-Noite) e Aurora (Aurora).

4. Tenho falado muito em LLuz, mas acho que nunca expliquei exatamente o que entendo por LLuz, por achar que a grafia é intuitivamente auto-explicativa. LLuz é e não é Luz; mas, acima de tudo, é Santa Compreensão e Santa Liberdade. Compreensão e Liberdade que jamais poderão ser conquistadas ou alcançadas do lado de fora; tão-somente do lado de dentro é que elas poderão ser sentidas e se manifestar. E isto é LLuz! A grande questão em aberto é o que é perfeita e rigorosamente o lado de dentro. Por exemplo, uma projeção ao Sanctum Celestial é meio que uma projeção para o lado de fora, mas é estritamente uma vivência mística do lado de dentro! E um pensamento libidinoso, por hipótese canal de uma masturbação, é uma espécie de lado de dentro mental (astral), mas que não é nada mais nada menos do que um lado de fora orgasmal.

 

Fundo musical:

Minuet String Quintet (Luigi Boccherini)

Fonte:

http://www.sabbatini.com/renato/sabbmus.htm