SONHO
AMALUCADO
Rodolfo Domenico
Pizzinga
Outra
noite, eu sonhei
um sonho amalucado.
De repente, eu acordei
ofegando e todo suado.
Sonho
escalafobético,
que me deixou perplexo.
Um horror, esquisitético,
sem sentido e sem nexo.
Era
um lugar ignorado
no alto de uma colina,
colorido e assombrado,
cheirando a aminofilina.
que morria de vergonha.
Seu gêmeo, um mirolho,
era um típico pamonha.
Aí,
apareceu um fanho
desavindo com um surdo.
Mas que bico quamanho
daquele fanho dessurdo!
Para
desnuviar a briga,
um privado da palavra
– com a mão
a fazer figa –
pôs cada um numa
lavra.
Depois,
um gira fantasma
– cheio de mesura
e rapapé –
padeceu uma crise de asma,
e caiu no regaço
de um pepé.
O
pepé tomou um susto,
e foi protestar com um
gago.
Maliciou o lingüinha
vetusto:
— Vovocê
é quéqué ééé aziago.
Como
se não bastasse,
o Pavarotti – com
talento –
veio e me deu um passe,
cantando Torna
Surriento.
Ao
longe, uma bruxa ria
de toda aquela confusão.
Meu gastrintestinal tremia,
e dei um tremendo punzão.
No
final, o Boris Karloff,
rabugento, me ofereceu:
— Tome
aqui esta ;
é um supimpa apotropeu.
Eu
não bebo, e recusei
com a maior delicadeza.
Subitamente, aquela grei
deu de chorar de tristeza.
Excitado,
fiquei pensando:
porra,
eu não mereço isto!
De
onde veio esse bando?
Que
bando mais permisto!
Então,
surdiu uma fada,
que me passou esta lição:
— Seja lá qual for a Estrada,
sempre ocorrerá
convulsão.
—
Agitando e até mimindo,
todos aprendem uma lição,
para que – um dia! –
tinindo,
se torne inútil a encarnação.
— Fútil
como aprendizado,
mas, útil como consolação.
Sendo ainda incerto o fado,
— A
glorificação do ser-aí
é se tornar um 'Nirmânakâya'.
Em Saturno (exatamente ali)
é que teve início o 'Trikâya'.
Mas, o homem está
perdido,
e até está destruindo a Terra.
Oh!, deliramento apodrecido!
Oh!, proceder terra-a-terra!
—
Está se esgotando o tempo,
e muitos persistem mugindo.
Nada acontece ao destempo,
seja descendo ou subindo.
—
Esperar que a roda gire?
Esperar sentado no mocho?
Esperar que a cachola pire?
Ora, isto é coisa de patocho!
—
É de já hoje, ó
Rodolfo:
faça o Tempo enflorescer.
Abra o olho com o regolfo:
subjugue o velho não-ser.
—
Senão, será feia
a dureza,
quando for pintando o fim.
Se você maisquiser moleza,
então, sente em um pudim.
—
Mas, esse mole pudim
poderá acabar em brunete.
E quem gosta é o azucrim:
quietinho com seu caluete.
—
Não há mesmo coisa
pior
do que uma alma empalada.
É preciso saber isto de cor,
e escolher bem a Estrada.
O
Azucrim e seu
Caluete