Vida
é vida, seja de um gato, seja de um cão, seja de um homem.
Não há diferença entre um gato, um cão e um
homem. A idéia de diferença é uma concepção
humana apenas para dar vantagem ao homem.
Este
é o teu trabalho, a meta de teu ser e a razão de estares aqui:
para te tornares o Divino Supra-homem e um perfeito receptáculo da
Divindade. Tudo o mais que tens que fazer é somente uma preparação
para te aprontares, ou uma alegria no caminho, ou um declínio de
teu propósito. Mas, a meta é esta e o propósito é
este, e não no poder do caminho e na alegria do caminho, porém,
na alegria da meta está a grandeza e o deleite de teu ser. A alegria
do caminho é porque aquilo que te está atraindo, está
também dentro de ti, na tua senda, e o poder para galgar te foi dado,
para que possas escalar até tuas próprias culminâncias.
Se tu tens um dever, este é teu dever; se tu perguntas qual será
tua meta, que esta seja tua meta; se tu careces de prazer, não existe
maior alegria, pois, toda outra alegria é fragmentada ou limitada,
a alegria de um sonho ou a alegria de um sono ou a alegria do auto-esquecimento.
Mas, esta é a alegria de teu ser inteiro. Porque, se tu dizes que
é meu ser, este é teu ser, o Divino, e tudo mais é
apenas sua aparência pervertida e fragmentada. Se procuras a Verdade,
esta é a Verdade. Coloca-a diante de ti e em todas as coisas; sê
fiel a ela. Disse bem alguém que viu, mas, através de um véu,
e tomou o véu pela face, que tua meta é a de te tornares tu
mesmo; e ele disse bem, outra vez, que é da natureza do homem transcender
a si mesmo. Esta é, na verdade, sua natureza, e esta é, na
verdade, a meta divina de sua transcendência. O
que é, então, o ego que tens de transcender, e o que é
o Eu em que tens de te tornar? Porque é aqui que tu não deverias
cometer nenhum erro; pois este erro de não te conheceres a ti mesmo
é a fonte de todas as tuas tristezas e a causa de todos os teus tropeços.
Isto que tu tens de transcender é o ego que tu aparentas ser, e isto
é o homem como tu o conheces – o aparente Purusha. E o que
é este homem? Ele é um ser mental, escravizado à vida
e à matéria; e quando não está escravizado à
vida e à matéria, ele é o escravo de sua mente. Mas,
esta é uma escravidão grande e pesada, porque ser escravo
da mente é ser escravo do falso, do limitado e do aparente. O Eu
que tens de te tornar é aquele Eu que tu és dentro, por trás
do véu da mente, da vida e da matéria. É ser o Espiritual,
o Divino, o Super-homem, o Real Purusha. Porque aquilo que está acima
do ser mental é o Super-homem. E ser o senhor de tua mente, de tua
vida e de teu corpo é ser um rei sobre a Natureza, de quem és
agora um instrumento. É se revelar acima dela, que agora te tem sob
seus pés. É ser livre e não o escravo, é ser
uno e não dividido, é ser imortal e não sombreado pela
morte, é ser pleno de LLuz e não obscurecido, é ser
pleno de bem-aventurança e não um joguete de tristezas e de
sofrimentos, é ser exaltado ao poder e não lançado
dentro da fraqueza. É viver no Ilimitado e possuir o limitado. É
viver em Deus e ser uno com Ele em Seu Ser. Tornar-te tu mesmo é
ser isso e tudo que flui disso. Sê
livre em ti mesmo, e, portanto, livre em tua mente, livre em tua vida e
em teu corpo. Porque o Espírito é liberdade. Sê uno
com Deus e com todos os seres; vive em ti mesmo, e não em teu pequeno
ego. Porque o Espírito é união. Sê tu mesmo imortal,
e não ponhas tua fé na morte; porque a morte não é
de ti mesmo, mas, de teu corpo. Porque o Espírito é imortalidade.
Ser imortal é ser ilimitado em ser, em consciência e em bem-aventurança;
porque o Espírito é ilimitado, e aquilo que é limitado
vive apenas de sua limitação. Estas coisas tu és; portanto,
tu podes te tornar todas elas; mas, se tu não fores estas coisas,
então, tu não podes nunca te tornar nelas. O que está
dentro de ti, isso somente pode ser revelado em teu ser. Tu aparentas, na
verdade, ser diferente, mas, por que razão deverias te escravizar
às aparências? Melhor erguer-te, transcender a ti mesmo, tornar-te
tu mesmo. Tu és homem, e toda a natureza do homem é se tornar
mais do que ele mesmo. Ele era o homem-animal; ele tem que se tornar mais
do que o animal-homem. Ele é o pensador, o artesão, o que
busca a beleza. Ele será mais que o pensador; ele será o vidente
do conhecimento, ele será mais do que o artesão, ele será
o criador e o senhor de sua criação; ele será mais
do que aquele que busca a beleza, porque desfrutará de toda a beleza
e de todo o deleite… No físico, ele procura por esta substância
imortal; no vital, ele busca a Vida Imortal e o ilimitado poder de seu ser;
no mental, e parcialmente em conhecimento, busca a LLuz Total e a Completa
Visão. Possuir isto é se tornar Super-homem; porque ele tem
que se erguer acima da mente até a Supermente. Chame-a de Mente ou
de Conhecimento ou de Supermente; é o Poder e a Vontade Divina e
a Divina Consciência. Pela Supermente, o Espírito viu e criou
a si mesmo em mundos; por ela, ele vive neles e governa-os. Por ela, ele
é Swarat, o soberano de si e de tudo. Viver no Ser Divino e deixar
que a consciência e a ventura, a vontade e o conhecimento do Espírito
te possuam e brinquem contigo e através de ti, este é o significado.
Esta é a transfiguração de ti mesmo na montanha. É
descobrir Deus em ti mesmo e revelá-Lo a ti mesmo em todas as coisas.
Vive em seu ser, brilha com sua luz, age com seu poder, regozija-te com
sua ventura. Sê este Fogo e este Sol e este Oceano. Sê esta
Alegria, esta Grandeza e esta Beleza.
A
Espiritualidade é, em essência, um despertar para a Realidade
Interior do nosso ser, para um Espírito, para um Eu, para uma Alma
distinta da nossa mente. Vida e corpo – uma aspiração
interior de conhecer, de sentir, de ser, de entrar em contato com uma Realidade
Superior que permeia o Universo e o nosso próprio ser, de estar em
comunhão com Ela e de se unir à Ela, ocorrendo uma conversão,
uma transformação de todo o nosso ser, como resultado da aspiração,
do contato e da união, dando origem a um desenvolvimento ou a um
despertar, ou seja, um novo tornar-se ou um novo Ser, um novo Eu, uma nova
Natureza.
O
sofrimento, por natureza, é uma deficiência da força-consciência
em nós, ao enfrentar os choques da existência, e, conseqüentemente,
um retrair-se e uma contração, e sendo, na raiz, uma desigualdade
desta força de recepção e de posse – desigualdade
devida à nossa autolimitação pelo egoísmo, que
decorre da nossa ignorância sobre nosso Self verdadeiro, sobre Satchidananda.
A eliminação do sofrimento deve proceder, primeiro, pela substituição
de titiksha, fazer face, suportar e conquistar todos os choques da existência,
e, por jugupsa, retrair-se, contrair-se. Por esta perseverança e
esta conquista chegamos à uma igualdade que pode ser ou uma indiferença
igual diante de todos os contatos ou uma felicidade igual em todos os contatos;
e para que esta igualdade, por sua vez, encontre uma fundação
firme, devemos substituir a consciência do ego, que desfruta e que
sofre, pela consciência de Satchidananda, que é Toda-beatitude.
O
Amor é a única realidade, e não é um mero sentimento.
Ele é a verdade última que está no cerne da criação.
O
segredo da transformação está em movermos o centro
da nossa vida para uma Consciência Superior.
Calmo,
desapegado, interiormente livre, habito o Eu Silencioso e permito que sua
energia atue por meio de Seus instrumentos naturais.
Lembrem-se
que vocês vivem um tempo excepcional em uma época única,
e que têm essa grande felicidade, esse incalculável privilégio,
de estarem presentes ao nascimento de um novo mundo.1
Na
prática, o ser humano é transitório; mas é,
ao mesmo tempo, co-responsável por seu destino (individual e coletivo)
e, como expressão mais alta da evolução até
então realizada, também pela Terra. O homem é o pastor
das criaturas.
Na
prática, se a Matéria é Espírito, todas as coisas
são formas do Espírito. Devem, por isto, ser tratadas com
todo zelo e respeito, sem descuido, desleixo ou desperdício. A matéria
do corpo físico individual é a porção da Matéria
Universal que nos é dada para que a “colonizemos” e infundamos
nela o máximo de consciência possível ou, antes, para
que ajudemos a despertar a consciência que já está latente
nela.
Na
prática, realização material e realização
espiritual não se contradizem nem se excluem, mas, se completam para
uma integração feliz do indivíduo plenamente realizado
com um mundo que se torna também expressão da plenitude do
Espírito.
Na
prática, nas opiniões, nos costumes, nas crenças e
nos valores, a diversidade e as diferenças devem não somente
ser toleradas, mas, compreendidas, respeitadas, afirmadas e mesmo incentivadas
como necessárias à riqueza da manifestação e
da experiência humana.
Na
prática, não há mais espaço para distinções
como “mundano” e “espiritual”: tudo é sagrado
e deve ser vivido de forma consagrada.
O
supraconsciente, não o subconsciente, é a verdadeira fundação
das coisas. O significado do lótus não será descoberto
pela análise dos segredos da lama na qual ele cresce; seu segredo
deve ser encontrado no arquétipo celeste do lótus que floresce
para sempre na Luz.
Na
prática, há uma Centelha Divina, uma Realidade Luminosa no
âmago de todo e cada ser, e cabe a cada um buscar, descobrir e manifestar
isto, apesar e contra todas as dificuldades e limitações que
possa haver em sua natureza.
Nada
pode ser ensinado à inteligência que já não seja
conhecimento oculto em potência na [personalidade-]alma
que desabrocha.
Cada
um tem em si algo Divino, algo bem seu, uma chance de perfeição
e de força em uma esfera por menor que seja, que Deus oferece ao
ser-aí-no-mundo, para que ele pegue ou recuse. A tarefa é
encontrar isto e desenvolvê-lo e usá-lo. O objetivo principal
da educação deveria ser ajudar a [personalidade-]alma
em crescimento a extrair de si o que é o melhor e torná-lo
perfeito para um uso nobre.
O
passado é nossa fundação, o presente nosso material
e o futuro nosso objetivo e cume.
O
conjunto de música, artes plásticas e poesia é uma
perfeita educação para a [personalidade-]alma;
elas tornam e mantêm seus movimentos purificados, autocontrolados,
fundos e harmoniosos. As artes são, quando adequadamente usadas,
grandes forças educadoras e civilizadoras.
A
Beleza é um aspecto do Ser Divino, tão importante quanto o
Poder, o Conhecimento e o Amor.
O
caminho de Ioga não é apenas emergir da ordinária e
ignorante consciência-de-mundo para dentro da Consciência Divina,
mas, trazer o poder supramental da Consciência Divina para baixo,
para a ignorância da mente, da vida e do corpo e transformá-los,
ou seja, manifestar o Divino aqui e criar uma Vida Divina na matéria.
Toda
união entre criaturas é, essencialmente, um reencontro consigo
mesmo – uma fusão com Aquele do qual nos separamos. É
uma descoberta de si-mesmo nos outros.
Devemos
fazer do erro uma porta por onde a verdade possa entrar.
Tudo
o que resiste desaparecerá no tempo certo com o progressivo desabrochar
da natureza espiritual.
De
sua câmara misteriosa, nossa [personalidade-]alma
age. Sua influência faz pressão sobre o nosso Coração
e o nosso mental, e os impele a ultrapassar o ser mortal. Ela procura o
Bem, a Beleza e Deus. Vemos o nosso Eu sem limites para além das
muralhas do ego, e contemplamos, através do espelho do nosso mundo,
as vastidões entrevistas, e perseguimos a Verdade através
da aparência das coisas.
Auxiliar
o crescimento espiritual dos outros é a maior ajuda que alguém
pode ofertar.
Por
meio da dor e da tristeza, a Natureza recorda a [personalidade-]alma
que o prazer que goza não é mais do que uma débil indicação
da verdadeira alegria da existência. Cada sofrimento e cada tortura
de nosso ser contêm o segredo da chama de um êxtase, em comparação
ao qual nossos maiores gozos não são mais do que brilhos vacilantes.
Este é o segredo que produz a atração da [personalidade-]alma
pelas grandes provas, pelos sofrimentos e pelas experiências terríveis
da vida, dos quais nossa mente nervosa abomina e foge.2
Quando
a mente fica quieta, então, a Verdade tem a chance de ser ouvida
na pureza do Silêncio.
O
corpo parece pequeno, mas, ele é a imagem do Universo
inteiro. No corpo, existe um Sol mil vezes mais brilhante do que o Sol externo.
Dentro
do coração existe um centro de Consciência, e dentro
dele você pode enxergar o mundo inteiro.
Quanto
mais ampla sua consciência se tornar, mais você poderá
receber do Alto.
A
maioria das pessoas vive em sua personalidade exterior comum e ignorante
que não se abre facilmente ao Divino; mas, há um Ser Interior
dentro delas, do qual elas não sabem, que pode se abrir facilmente
à Verdade e à Luz. No entanto, há uma parede que as
separa dele, uma parede de obscuridade e de não-consciência.
Quando ela desmorona, então, há uma libertação.
Nossa
vida visível e as ações desta vida não são
mais do que uma série de expressões significativas, mas, aquilo
que ela tenta expressar não está na superfície; nossa
existência é algo bem maior que este ser frontal aparente que
nós mesmos supomos ser e que oferecemos ao mundo em volta de nós.
Quando
se mergulha na consciência interior, ela é sentida como uma
pura e calma existência sem movimento algum, antes, eternamente tranqüila,
não-movida e separada da natureza exterior.
No
Silêncio, pensamentos podem ceder por um tempo, nada pode haver, a
não ser uma grande liberdade e amplidão sem limites, mas,
para dentro deste Silêncio, desta amplidão vazia, desce a vasta
paz de cima, luz, alegria, conhecimento – a Consciência mais
alta na qual se sente a unicidade do Divino. É o começo da
transformação.
A
verdadeira Alma Secreta em nós é uma Chama nascida de dentro
do Divino e, habitante luminoso da Ignorância, cresce nela até
que seja capaz de voltá-la em direção ao Conhecimento.
Esta velada entidade psíquica é o testemunho e o controle
encobertos, o Guia escondido, o 'Daimon' de Sócrates, a Luz Interior
e a Voz Interior do Místico. É ela que persiste e é
imperecível em nós, de nascimento a nascimento, não
tocada por morte, pela decadência ou pela corrupção
– uma fagulha indestrutível do Divino.
Diz-se
que a fadiga vem do excesso de trabalho. Conseqüentemente, a cura da
fadiga é o descanso, quer dizer, não fazer nada. Mas, a verdade
é que, mais freqüentemente, a fadiga é devida não
ao excesso de trabalho, mas, à falta dele, ou melhor, à preguiça
ou tédio. A fadiga não deveria ocorrer tão depressa
ou tão facilmente se você soubesse como fazer o trabalho. Se
estiver interessado no seu trabalho, você pode continuá-lo
por muito tempo sem sentir fadiga. E, precisamente, um dos meios para se
recuperar da fadiga, é não se sentar e cair em apatia e tamas
(desmotivação e depressão), mas, assumir um trabalho
que desperte seu interesse. Trabalho feito com alegria e entusiasmo calmo
é tônico. É descanso dinâmico. Trabalho feito
sem interesse, como uma espécie de dever ou obrigação,
naturalmente o cansará logo. Assim, o remédio para a fadiga
é manter o interesse desperto. Todavia, há um outro mistério.
O interesse não depende do trabalho: qualquer trabalho pode se tornar
interessante, até mesmo a um grau extremo. Não há trabalho
que, por si só, seja monótono, insípido e desinteressante.
Tudo depende do valor que você lhe dá, e compete-lhe torná-lo
tão atraente como um romance e tão significante quanto um
símbolo. O
homem, geralmente, escolhe seu trabalho ou é obrigado a escolhê-lo
por uma preferência vital, um preconceito ou uma idéia de que
seja a espécie de trabalho no qual possa brilhar ou ter sucesso.
Esta vaidade egoísta ou este oportunismo podem ser necessários
ou inevitáveis na vida comum. Entretanto, quando se deseja ir além
da vida comum e aspirar a Vida Verdadeira, este apego e esta escolha pessoal
se tornam mais um impedimento do que um auxílio para progredir em
direção ao caminho da Vida Verdadeira. A atitude ióguica
em relação ao trabalho é, pois, aquela de desapego
absoluto, de não fazer nenhuma escolha, mas, de aceitar e fazer qualquer
coisa que lhe seja dada, qualquer coisa que venha no curso normal de sua
vida, e de fazê-la com a máxima perfeição possível.
É desta maneira, e apenas assim, que todo trabalho se torna extremamente
interessante e toda vida um milagre de deleite.
Por
que você quer servir à Humanidade? Qual o seu propósito?
Qual o seu motivo? Você sabe em que consiste o bem da Humanidade?
E você sabe melhor do que a própria Humanidade o que é
bom para ela? Ou você sabe melhor do que o Divino? Você diz
que o Divino está em todo lugar, assim, se servir à Humanidade,
é ao Divino que você serve. Bem, se o Divino está em
todo lugar, ele também está em você; portanto, a coisa
melhor e mais lógica seria começar servindo a si mesmo. Não
há, então, nenhuma necessidade de serviço à
Humanidade? Hospitais, organizações assistenciais, instituições
de caridade não têm sido úteis à Humanidade?
O espírito de filantropia não consertou e melhorou as condições
da vida humana? Foi
assim, pergunto eu? Você tentou ajudar algumas pessoas aqui e ali.
Mas, o que isto vale comparado ao que precisa ser feito? A proverbial gota
no oceano ou até menos do que isto! Você se lembra da história
de São Vicente de Paulo? Ele começou dando esmolas aos pobres.
No primeiro dia havia dez, no segundo mais ou menos vinte, no terceiro mais
do que cinqüenta e o número continuou aumentando mais do que
uma progressão geométrica. E então, Colbert, o Ministro
do Rei observou, vendo a situação do santo: — 'Nosso
irmão parece que está gerando continuamente seus pobres'.
Não
penso que o espírito de caridade tenha, de modo algum, melhorado
as condições humanas. Não acho que o homem tenha se
tornado mais ou menos sujeito a doenças e indigências do que
antes. A caridade esteve sempre presente e a miséria sempre coexistiu
com ela. Não penso que a proporção entre as duas tenha
diminuído de modo algum. Você se lembra da observação
irônica, mas, pertinente, de alguém que disse, em vista das
tentativas da Ciência de curar e erradicar a miséria: “Os
pobres filantropos estariam em triste situação, suas ocupações
acabariam”. A verdadeira razão pela qual alguém deseja
fazer caridade está alhures: é para se deleitar, é
para sua própria satisfação. Fazer coisas o diverte,
lhe dá a sensação de que está fazendo algo,
de que é um membro valioso da Humanidade, não como os outros,
de que você é alguém. Que outra coisa poderia ser, senão
que você é vaidoso, cheio de auto-importância, cheio
de si mesmo? Isto é o que tenho em mente quando digo que é
a presunção ou o egoísmo que faz de você humanitário.
É claro, se lhe agrada fazer o trabalho, se você se sente feliz
fazendo-o, tem toda a liberdade de fazê-lo e de continuar assim. Mas,
não imagine que está fazendo algum serviço real e efetivo
para a Humanidade, especialmente não imagine que com isto você
está servindo a Deus, levando uma vida espiritual ou praticando Ioga.
Apenas
uma ilustração da qualidade do espírito que anima o
humanitarismo: um homem caridoso dá generosamente a uma causa conhecida,
reconhecida, apreciada; será liberal, se seu nome for vinculado ao
trabalho, anunciado e apregoado, se isso lhe der fama. Mas, peça-lhe
uma doação para algo genuíno, comparativamente modesto
ou fora do comum, algo que seja verdadeiramente espiritual e divino, e você
verá os cordões de sua bolsa se estreitarem, seu Coração
se fechar. Uma dádiva que não traz importância para
o doador, não tenta o humanitário comum. Existe, é
verdade, uma outra categoria diferente de doadores, de uma espécie
oposta, daqueles que querem precisamente se conservar anônimos, dos
que ficariam descontentes se seus nomes fossem anunciados. Mas, o motivo
aqui também não é muito diferente; é, de fato,
o mesmo motivo agindo ao contrário, como se fosse para trás.
Aí existe um elemento adicional de autoglorificação:
dá-se e não se sabe quem deu. É algo a mais para se
ficar orgulhoso. Você deve se olhar dentro, questionar-se, antes de
empreender qualquer coisa, e não fazê-lo simplesmente porque
é a coisa normalmente feita. Você pode fazer bem aos outros,
se souber qual é este bem e se possuí-lo dentro de si mesmo.
Se quiser ajudar os outros, você deve estar em um nível superior
ao deles. Se estiver em pé de igualdade com eles, no mesmo plano,
em natureza e consciência, que pode você fazer, a não
ser partilhar sua ignorância e seus movimentos cegos e perpetuá-los?
Assim, acontece que, realmente, a primeira coisa a fazer, é servir
a si mesmo. Você fará uma descoberta notável quando
começar a saber o que você é e quem você é.
É assim que deveria principiar: “Quero servir à Humanidade.
Como posso eu servi-la? Quem é este “Eu” que quer servir?”
Você diz: “Eu sou esta pessoa, esta forma e este nome”.
Mas, a forma que você é agora, não é aquela que
você tinha quando era um bebê. Ela está mudando constantemente.
Todos os elementos de seu corpo estão sendo completamente renovados.
Nem as suas impressões e sentimentos são aqueles que você
tinha há poucos anos. Seus pensamentos e idéias sofreram revoluções.
O “Eu” cobre uma soma de fatores sempre mutáveis. Não
há nada especialmente para ser chamado de “Eu”; tudo
é apenas um círculo de mudanças. Um nome vazio parece
ser a única coisa constante. Um elemento, em um certo momento, vem
à frente – uma idéia, um sentimento, um impulso –
e isso é seu “Eu” por um momento. Em um outro momento,
um outro elemento surge e se torna seu “Eu”. Você não
é um “Eu” único, mas, uma multidão de muitos
“Eus”. Portanto, que valor tem a afirmação de
que um destes “Eus” encontrou o alvo, a verdade, o dever que
você tem que seguir? E se você prosseguir mais além,
questionando-se e analisando-se completa e sinceramente, tropeçará
na realidade. Você descobrirá que o “Eu” não
existe de modo algum. O que existe é alguma coisa mais: é
a realidade indivisível, o Divino apenas. É esta autodescoberta
que lhe dará o conhecimento básico, a fundação
de sua vida, a descoberta de que seu “Eu”, como você mesmo,
não existe; na verdade você não é nada. Este
sentido de nulidade deve permear seu ser, encher todos os elementos de seu
ser, antes que a verdade possa raiar em você e a Presença Divina
possa ser sentida. E o que você tem feito todo o tempo é exatamente
o contrário, afirmando seu egoísmo, sua vaidade, pretendendo
que você seja alguém que possa fazer algo, que o mundo precisa
de sua ajuda e que você tem a possibilidade de dar esta ajuda. Nada
disso. Quando você descobre esta verdade e a aceita, quando é
humilde e, em verdadeira humildade, se acercar da Vida e da Realidade, você
encontrará sua verdadeira carreira e vocação. Em um
sentido mais profundo é, na verdade, servindo a si mesmo que você
serve melhor aos outros. Quando você descobre um ponto escuro em si,
um grão de egoísmo, de ambição, de amor-próprio,
quando você não cede a seu impulso, mas o supera, quando conquista
em si um movimento que o levaria a se extraviar, nesse mesmo gesto, você
faz a conquista em benefício dos outros também, cria a mesma
possibilidade nos outros. Não pode haver nada mais dinâmico
do que esta colocação do exemplo pessoal. Não é
para que os outros o observem e o imitem; a influência é mais
sutil e mais poderosa. Você cria a oportunidade, faz a abertura, traz
a força de sua realização para o jogo ativo, mesmo
sem o conhecimento dos outros. E eles são beneficiados unicamente
pela ajuda invisível que lhes é prestada. Mas, você
deve também tomar cuidado aí. Não deve dizer: “Devo
melhorar-me para ajudar aos outros”. Não deve haver o mais
leve vestígio deste espírito de intercâmbio ou de barganha.
Limite-se à sua própria vida; como os outros são ou
não afetados não é da sua conta. Se você abrigar
esta espécie de idéia, estará convidando a mesma vaidade
e egoísmo pela porta traseira. Sua vida deveria ser como o desabrochar
de uma flor que floresce pela própria alegria da auto-realização.
No processo, pelo simples fato de existir, espalha seu perfume à
volta, enche os arredores com sua vibração alegre. Mas, isto
simplesmente acontece, não se faz com um propósito ou intencionalmente.
Do mesmo modo, procede a [personalidade-]alma
que se aperfeiçoa: a vitória que ela ganha para si é
contagiosa, e se expande automaticamente. Disse que seu ego é uma
ilusão. Seu “Eu” não existe em absoluto. Não
há nada como individualidades distintas e separadas e realização
individual. Somente o Divino existe e a Vontade Divina. Ele é a realidade
solitária e única e omniabarcante. O que é, então,
a fonte desta variedade e diversidade de existências? Qual é
a significação, se existe alguma, das várias individualidades
e personalidades, seu aparecimento e desempenho no palco do mundo? Esta
é uma outra história. Deixo-a para uma outra ocasião.
Destino,
no sentido rígido, se aplica apenas ao ser exterior, enquanto ele
vive na Ignorância. O que chamamos de destino é, na verdade,
apenas o resultado da condição presente do ser e da natureza
e das energias que foram acumuladas no passado, agindo umas nas outras e
determinando o esforço presente e os resultados futuros. Mas, assim
que se entra no caminho da Vida Espiritual, este velho e predeterminado
destino começa a regredir. Aí aparece um novo fator, a Graça
Divina, a ajuda de uma Força Divina mais alta que a força
do Karma, que pode elevar o buscador para além das possibilidades
presentes da sua natureza. O próprio destino espiritual é,
então, a eleição divina que sedimenta o futuro. A única
dúvida está sobre as vicissitudes do caminho e o tempo que
leva na passagem. É aqui que as forças hostis, agindo sobre
as fraquezas da natureza passada, lutam para evitar a rapidez do progresso
e postergam a realização. Aqueles que caem, caem não
por causa dos ataques das forças vitais, mas, porque eles mesmos
se alinham com as forças hostis e preferem a ambição
ou o desejo vital (cobiça, vaidade, luxúria etc.) ao avanço
espiritual.
Para
a Filosofia Ocidental, uma crença intelectual fixa é a parte
mais importante de um culto; é a essência de seu significado
e o que a distingue dos outras. Assim são que as crenças formuladas
fazem verdadeira ou falsa uma religião [uma teoria, uma filosofia,
uma ciência], de acordo com sua concordância ou não com
o credo de seus críticos.
Uma
mente silenciosa é um pré-requisito para uma experiência
mais elevada.
A
Verdadeira Sabedoria [ShOPhIa]
não é alcançada pelo pensamento. É o que você
é; é o que você se torna.
Não
há nada que a mente possa fazer que não possa ser mais bem
feito no Silêncio e na Quietude. A Verdade só poderá
ser ouvida na pureza do Silêncio.
O
desconhecido não precisa permanecer incognoscível para nós,
a menos que escolhamos a ignorância ou persistamos em nossas arraigadas
limitações.
Mesmo
que eu tropece, o mundo é perfeito. Mesmo que você tropece,
o mundo é perfeito.
O
que a [personalidade-]alma
vê e experimenta ela sabe. O resto é aparência –
da opinião ao preconceito.
A
existência da pobreza é a prova de uma sociedade injusta e
mal organizada, e as nossas instituições de caridade pública
nada mais são do que o despertar tardio na consciência de um
ladrão.3
A
vida espiritual, a vida religiosa e a vida humana comum são três
coisas completamente diferentes. A vida comum é a da consciência
humana média separada de seu próprio Eu Verdadeiro e do Divino,
e liderada pelos hábitos comuns da mente, da vida e do corpo, hábitos
estes regidos pelas leis da ignorância. A vida religiosa é
um movimento da mesma consciência humana ignorante, que tenta se afastar
da Terra em direção ao Divino, mas, ainda sem o conhecimento
e liderada pelos princípios dogmáticos e pelas regras de alguma
seita ou credo. A vida espiritual, ao contrário, procede de uma mudança
de consciência, uma mudança em direção ao seu
Verdadeiro Eu e no sentido de uma maior consciência com o Divino.
O
Bhagavad Gita [Canção
de Deus] é o maior evangelho de trabalhos espirituais
já oferecido à Humanidade.4
Quando
se ouve algumas pessoas devotas, seria de imaginar que Deus nunca ri!
A
Natureza oculta é Deus em segredo.
A
evolução não está concluída, a razão
não é a última palavra, nem o homem raciocinante é
a figura suprema da Natureza. Da mesma forma que o homem surgiu do animal,
o Super-homem emergirá do homem.
O
encontro do homem com Deus deve sempre significar a penetração
do Divino no humano e a auto-imersão do homem na Divindade.
A
partir da crucificação de Cristo, a Europa foi humanizada.
A
força da [personalidade-]alma,
quando é efetiva, poderá destruir. Somente aqueles que a têm
usado com os olhos abertos sabem que ela poderá ser mais destrutiva
do que a espada e o canhão.
Nosso
inimigo real não é nenhuma força exterior a nós
mesmos, mas, as nossas próprias fraquezas: o choro [o
medo], a covardia, o egoísmo, a hipocrisia e o sentimentalismo
obtuso [emoção
superficial e débil].
Eu
olhei para a prisão que havia me afastado dos homens, e não
era mais entre seus altos muros que eu me encontrava preso; era Vasudeva
que me cercava.
Se
uma religião não for universal, não poderá ser
eterna.5
Só
quando a razão morrer a Sabedoria poderá nascer.
O
perdão é elogiado pelo católico e pelo Vaishnava, mas,
eu pergunto: o que eu tenho de perdoar e a quem?
Viva
dentro. Não se deixe abalar por acontecimentos exteriores.
Uma
derrota não é o fim; é apenas uma porta ou um começo.
Eu
me perguntava se não havia limite para o aumento da bem-aventurança,
e, assim, eu cresci quase com medo do abraço de Deus.
Se
o inferno fosse possível, seria o atalho mais curto para o céu,
porque, em verdade, Deus ama.
A
impossibilidade é apenas a soma de possíveis não realizados.
Girar
sobre seu próprio eixo não é o movimento adequado para
a [personalidade-]alma
humana. Há, também, a rotação em torno do Sol
[Interior] –
que proporciona uma Illuminação inesgotável.
O
pensamento não é essencial para a existência nem é
a sua causa, mas, é um instrumento para tornar-se; eu devo me tornar
o que vejo em mim mesmo. Tudo o que o pensamento me sugere eu posso fazer;
tudo o que pensamento me revela eu posso me tornar. Esta deve ser a fé
inabalável do homem em si mesmo, porque Deus habita nele.
O
que é Deus, afinal? Uma eterna criança jogando
um jogo eterno em um eterno jardim.
O
jogo [da vida]
nunca teria sido iniciado, se isto viesse a se tornar o seu fim.
O
Prazer está no Segredo.
Em
toda parte há, no máximo, apenas um começo dos começos.
A
Verdadeira Espiritualidade se move em um ar livre e amplo, muito acima do
estágio inferior que é governado pelas formas religiosas e
pelos dogmas.
As
Verdades Supremas não são nem as conclusões rígidas
do raciocínio lógico nem as afirmações declaradas
em um credo, mas, frutos da experiência interior da alma.6
A
[persomalidade-]alma,
a Natureza e a vida são apenas manifestações ou fenômenos
parciais da Eternidade.
O
Ser – desde-sempre auto-existente – é a única
Realidade Suprema. Todas as outras coisas são apenas aparências
ou verdades relativas derivadas desta Realidade Suprema e dela dependentes.
Toda vida e todo pensamento são, no final, um meio de progresso em
direção à auto-realização-compreensão
desta Realidade Suprema.
É
da natureza das instituições humanas se degenerarem, perderem
a sua vitalidade e decaírem, e, ao primeiro sinal de decadência,
perdem a flexibilidade e esquecem o espírito essencial para o qual
foram concebidas.7
O
Espírito se expressa de várias maneiras, enquanto, em Si-mesmo,
se mantém essencialmente o mesmo.
Todo
fanatismo é falso, porque é uma contradição
relativamente à natureza de Deus e da Verdade. A Verdade não
pode ser trancafiada em um único livro – seja a Bíblia,
sejam os Vedas, seja o Alcorão – ou em uma única religião.
Todas
as religiões contêm alguma verdade, mas, nenhuma possui toda
a verdade. Todas são filhas do tempo, e, por isto, finalmente, se
degradam e perecem.
Será
verdade que a Existência consiste apenas na ação da
energia? Ou será que a energia é uma manifestação
da Existência?
Importantizar
exageradamente os complexos sexuais reprimidos é um equívoco
perigoso.
Não
pertencem às madrugadas passadas, mas, aos meios-dias do futuro.
Poucos
são os que trilham o Caminho Illuminado pelo Sol. Só os puros
de [personalidade-]alma
podem andar na LLuz.
O
grande é mais forte quando está sozinho.
O
impossível é apenas o começo de todas as possibilidades.
Há
um sentido em cada curva e em cada linha.
Aspirar
intensamente, mas, sem impaciência.
Meu
Deus é o Amor.
Tudo
é Caminho e Sentir
Inexistem
o correto e o errado;
só
ShOPhIa
e inconseqüência.
Um Triângulo
e um Quadrado
desenham
uma circunferência.
Inexistem
o pecado e o perdão,
a
martirização
ou a recompensa.
Tudo
é entendimento ou violação,
afastamento
ou Santa Presença.
Inexistem
o cabal e o restrito;
tudo
é um fragmento do Todo.
O que
hoje é tido como maldito
acabará
se tornando acômodo.
Inexistem
o chegar e o partir;
há,
sim, ad æternum
Existência.
Tudo
é caminho; tudo é sentir
em direção
à Hiperconsciência.