Este
estudo teve por objetivo garimpar alguns fragmentos (vários foram
comentados) da obra Ética
ou Ética
Demonstrada à Maneira dos Geômetras (em latim:
Ethica, Ordine Geometrico
Demonstrata), considerada a principal obra do filósofo
racionalista holandês de origem portuguesa Baruch Espinoza (Amsterdam,
24 de novembro de 1632 – Haia, 21 de fevereiro de 1677). Desde a sua
publicação, em 1677, a Ética
de Espinoza tem influenciado o pensamento e a obra de inúmeros grandes
filósofos posteriores até ao presente, tendo inspirado, por
exemplo, Hegel, Johann Fichte, Friedrich von Schelling, os empiristas John
Locke e David Hume, e pensadores do século XIX e XX como Ernst Mach,
William James e Bertrand Russell.
Uma
advertência: se os fragmentos que se seguem forem lidos fideística,
religiosa ou teologicamente, apenas reforçarão dogmas absurdos,
e não servirão para nada. Mas, se, por exemplo, você
interpretar o Deus de Espinoza como sendo o Deus do seu Coração,
aí, as sentenças farão sentido.
Fragmentos
da Ética
de Espinoza
Dada
uma causa determinada, segue-se, necessariamente, um efeito, e, ao contrário,
se não houver nenhuma causa determinada, é impossível
que se siga um efeito.
Segunda
Guerra Mundial (1939 a 1945)
[Judeus —› Nazismo —› Aliados]
Coisas
que não têm nada em comum entre si não podem ser causa
uma da outra.
Em
a Natureza, não podem existir duas ou mais substâncias com
a mesma natureza ou o mesmo atributo.
Quanto
mais uma coisa tem de realidade ou de ser, mais atributos lhe competem.
Deus,
ou, dito de outro modo, uma substância composta de ilimitados atributos,
cada um deles exprimindo uma essência eterna e infinita, existe necessariamente.
Uma
substância absolutamente ilimitada
é indivisível.
Tudo
o que é, é em Deus, e sem Deus nada pode ser nem ser concebido.
Da
necessidade na Natureza Divina devem se seguir ilimitadas
coisas de ilimitados
modos...
Deus
é causa eficiente, Deus é causa por si e não por acidente,
Deus é absolutamente causa primeira.
Deus
age apenas pelas Leis da Sua Natureza, e não é compelido por
ninguém [nem
por nada]. Não há causa, extrínseca
ou intrínseca a
Deus, que O incite a agir além a perfeição
da Sua Natureza. Deus existe somente pela necessidade de Sua Natureza, e
somente Ele é causa livre. [Isto
significa que o nosso ego ignorante não pode macular, infamar ou
desonrar o nosso Deus Interior.]
—
Eu agia apenas
segundo as leis
da minha natureza egolátrica.
(Fiat
voluntas mea.)
E padecia sem parar!
Passei a agir
segundo as Leis
do meu Deus Interior.
(Fiat
Voluntas Tua.)
E consegui me Libertar!
—
Consegui me Libertar!
Deus
é causa imanente de todas as coisas, e não causa transitiva.
Deus
é eterno, ou, dito de outro modo, todos os atributos de Deus são
eternos. [Isto
significa que não existe morte. Se, por um lado, as destruições
são efeitos derivados de construções desajustadas e
desarmônicas, por outro, são causas efetivas de reconstruções
mais concertadas e mais harmoniosas. Deixo esta pergunta para reflexão:
haverá uma perfeição última, que, por ser absolutamente
perfeita, não admita mais nenhum ajuste perfeccional?]
Dialética1
A
existência de Deus e Sua Essência são uma só e
mesma coisa.
Deus,
ao mesmo tempo, é a Essência
e a Causa Eficiente da existência das coisas. [Nosso
ego é temporário-ilusório, e tende a ser desfuncionalizado;
já o nosso Lumen-Deus-Interior
– no Tempo que não é tempo –
é eterno e incorruptível.]
Uma
coisa que é determinada por Deus a operar algo não pode se
tornar indeterminada por si mesma.
Toda
coisa singular, isto é, toda coisa que é limitada e tem uma
existência determinada, só pode existir e ser determinada a
operar se for determinada a existir e a operar outra causa, que, por sua
vez, também deve ser limitada
e ter uma existência determinada. E esta causa, a seu turno, só
pode existir e ser determinada a operar se for determinada por outra, também
ela limitada
e com existência determinada, e assim ao infinito.
Em
a Natureza, não há nada contingente, mas, tudo é determinado
pela necessidade da Natureza Divina a existir e a operar de certo modo.
Um
intelecto em ato, seja ele limitado ou ilimitado,
assim como a vontade, o desejo, o amor etc., deve ser referido à
Natureza Naturada (tudo aquilo que resulta da necessidade da natureza de
Deus) e não à Natureza Naturante (Deus, enquanto se considera
como causa livre).
A
vontade não pode ser chamada de causa livre, mas, apenas [causa]
necessária.
As
coisas não poderiam ter sido produzidas por Deus de outro modo ou
em outra ordem, senão na em que foram produzidas.
Nada
existe de cuja natureza não se siga algum efeito. [Se
o Uni(multi)verso é movimento e mudança permanentes, sempre
haverá causas que geram efeitos, mesmo durante os prâlâyas
cósmicos.]
O
ser-humano-aí-no-mundo pensa.
—
Eu pensei,
mas, não PENSEI,
e continuei
em estado de não-sei.
—
Eu não pensei,
mas, PENSEI,
e, então, transmutei
o
não-sei em
Eu-Sei!
A
Idéia de Deus, donde se seguem infinitas coisas de infinitos modos,
só pode ser única.
A
ordem e a conexão das idéias é a mesma que a ordem
e a conexão das coisas.
A
idéia de uma coisa singular existente em ato tem como causa Deus...
Todos
os corpos ou se movem ou estão em repouso. [Na
realidade, o repouso é uma ilusão; no Uni(multi)verso tudo,
sem exceção, está em permanente movimento.]
Todos
os modos que um corpo é afetado por outro se seguem, ao mesmo tempo,
da natureza do copo afetado e da natureza do corpo que o afeta...
A
mente humana é capaz de perceber um grande número de coisas,
e é mais capaz quanto mais numerosos são os modos que o seu
corpo pode ser disposto.
A
mente só conhece a si mesma na medida em que percebe as idéias
das afecções do corpo.
Enquanto
a mente humana imagina corpos externos, ela não tem idéias
adequadas.
Todas
as coisas particulares são contingentes e corruptíveis.
Todas
as idéias são verdadeiras na medida em que se referem a Deus.
Toda
idéia que, em nós, é concertada, adequada e perfeita
é [por
nós considerada] verdadeira. [Até
que uma outra idéia mais adequada e mais perfeita substitua a idéia
anterior considerada verdadeira por outra mais concertada,
mais adequada
e mais
perfeita.
Isto se denomina Dialética.]
Idéia
a —›
Idéia b
—› Idéia
c —› Idéia
d —› Idéia
e ---› Idéia
n ---›
A
falsidade consiste na privação de conhecimento que as idéias
inadequadas, mutiladas e confusas envolvem.
Todas
as idéias adequadas
que se seguem na mente nela são também são
adequadas.
Quem
tem uma idéia verdadeira sabe, simultaneamente, que tem uma idéia
verdadeira, e não pode duvidar de sua verdade. [Aqui
há um busílis complicadíssimo: o que é uma idéia
verdadeira? Lembro que todos aqueles que têm idéias particulares
de Deus, do paraíso e da salvação consideram-nas verdadeiras.
Todos aqueles que matam em nome de Deus acreditam que seus atos são
justificáveis, e, portanto, verdadeiros. E por aí vai... Bem,
penso que a coisa seja exatamente o contrário, isto é: devemos
sempre questionar e controverter as nossas presunidas idéias verdadeiras,
porque, na maioria das vezes, são inteiramente falsas.]
Nossa
Mente, às vezes, age, e, às vezes, padece, a saber: enquanto
tem idéias adequadas ela necessariamente age; enquanto tem idéias
inadequadas necessariamente padece.
Os
bons pensamentos se originam somente das idéias adequadas e as paixões,
[os desejos
e as cobiças] frutificam somente das idéias
inadequadas.
O
esforço pelo qual cada coisa se esforça por perseverar em
seu ser é a essência atual desta própria coisa.
Qualquer
coisa [pensada]
pode ser, por acidente, causa de alegria, de tristeza
ou de desejo.
Do
simples fato de imaginarmos que uma coisa tem semelhança com um objeto
que habitualmente afeta a mente de alegria ou tristeza, nós –
[por pura ignorância] –
amamos ou odiamos esta coisa, e isto mesmo que aquilo
em que a coisa é semelhante ao objeto não seja a causa eficiente
deste afeto. [Por
pura ignorância, repito.]
Quem
imaginar destruído aquilo que ama se entristecerá, e se alegrará
ao imaginá-lo conservado. [A
isto eu denomino delírio.]
—
Imaginei que o meu
Leontopithecus
chrysomelas bafuntara.
Desesperado, eu chorei.
Imaginei que o meu
Leontopithecus
chrysomelas perdurara.
Radiante, eu festejei.
Quem
imaginar destruído aquilo que odeia se alegrará. [Este
é o problema: como somos todos um, quando imaginamos destruído
aquilo que odiamos, seja lá quem for ou o que for, estamos destruindo
a nós mesmos. Espinoza percebeu isto, porque afirmou: Pelo
simples fato de imaginarmos uma coisa semelhante a nós, mas, por
quem não temos afeto algum, ser afetada de um afeto qualquer, nós
também seremos afetados por um afeto semelhante.]
Chamo
de benevolência [benevolentia]
a vontade ou o apetite de fazer o bem, que se origina em querermos fazer
o bem a uma coisa de que nos compadecemos, ou seja, é o desejo originado
da compaixão.
Quando
amamos uma coisa semelhante a nós mesmos, nos esforçamos,
na medida em que podemos, por fazer com que ela nos ame também.
Quem
recorda algo com que se deleitou uma vez deseja possuí-lo nas mesmas
circunstâncias em que com ele se deleitou na primeira vez.
O
desejo –
seja ele originado da tristeza ou da alegria, do ódio ou do amor
–
é maior quanto maior for o afeto.
O
ódio
aumenta com o ódio recíproco, mas, pode ser destruído
pelo Amor.
O
ódio
que é vencido plenamente pelo Amor se transforma em Amor, e este
Amor será maior do que se não fosse precedido pelo ódio.
Qualquer
coisa pode ser, por acidente, causa de esperança e de medo.
—
Com medo do Coronavírus,
não viajarei mais à China.
A minha poupança pequenina
está grata ao Coronavírus.
—
Espero que esse Coronavírus
dure um século mais 6 meses.
Oh! Bem-afortunados chineses!
Oh! Bem-aventurado Coronavírus!
A
mente se entristece quando imagina sua impotência.
O
desejo [cupiditas]
é a própria essência do homem, enquanto ela é
concebida como determinada, por uma afecção qualquer dela
mesma, a fazer algo.
A
compaixão [commiseratio]
é a tristeza concomitante à idéia de um mal ocorrido
a outrem que imaginamos ser semelhante a nós. Entre a compaixão
e a piedade [misericordiam]
não parece existir diferença alguma, senão, talvez,
que a compaixão diga respeito a um afeto singular e a piedade a seu
hábito.
A
soberba [superbia]
é pensar de si mais do que é justo.
A
ira
[ira]
é o desejo, incitado pelo ódio,
de infligir o mal a quem odiamos.
A
ambição [ambitio]
é o desejo imoderado de glória.
Costuma
se chamar de lubricidade o
desejo de união sexual, quer
ele seja moderado ou não.
O
afeto
ou a paixão são idéias confusas.
Chamo
de servidão a impotência humana em moderar ou limitar os afetos,
pois, o ser-humano-aí-no-mundo que está submetido aos afetos
não depende de si, mas, está sob o poder da fortuna, a ponto
de, freqüentemente, ser coagido a fazer o pior para si, mesmo vendo
o melhor.
No
que diz respeito ao bem e ao mal, eles não indicam algo de positivo
nas coisas consideradas em si, e são apenas modos de pensar ou noções
que formamos ao compararmos as coisas entre si.
Em
a Natureza, não há nenhuma coisa singular que não exista
outra mais potente ou mais forte do que ela. Ao contrário, para qualquer
coisa, há outra mais potente, pela qual ela pode ser destruída.
Nós
padecemos na medida em que somos uma parte da Natureza que não pode
ser concebida por si e sem as outras.
A
força com que o ser-humano-aí-no-mundo
persevera na existência é limitada e é infinitamente
superada pela potência das causas externas.
Não
pode ocorrer que o ser-humano-aí-no-mundo
não seja parte da Natureza. Ele não pode sofrer apenas as
mudanças que possam ser entendidas apenas de sua natureza e das quais
ele é causa adequada.
A
força, o crescimento e a perseverança no ser de qualquer paixão,
não se definem pela potência pela qual nós nos esforçamos
por perseverar no existir, mas, pela potência das causas externas
comparadas à nossa.
A
força de uma paixão ou um afeto pode superar as outras ações
do homem ou sua potência, de modo que o afeto permaneça firmemente
aderido ao homem.
Um
afeto só pode ser limitado ou destruído por um afeto contrário
e mais forte do que o afeto a ser limitado.
O
conhecimento do bem e do mal é apenas o afeto de alegria ou de tristeza,
enquanto temos consciência dele.
Um
afeto cuja causa imaginamos presente é mais forte do que um afeto
cuja causa imaginamos não estar presente.
Somos
afetados mais intensamente com relação a uma coisa futura
que imaginamos que acontecerá em breve, do que se imaginássemos
que o tempo de sua existência ainda está longe do presente.
E a memória de uma coisa que imaginamos ter ocorrido há pouco
nos afeta mais intensamente do que se imaginássemos que ela ocorreu
há muito. [Isto
explica o medo que temos do fim do mundo, que poderá ser amanhã,
e o mal-estar que a lembrança da 2ª Grande Guerra ainda causa
em todos nós.]
Um
afeto com relação a uma coisa que imaginamos como necessária
é mais intenso do que com relação a uma coisa possível,
ou contingente, ou não necessária.
Um
afeto com relação a uma coisa que sabemos não existir
no presente, mas, que imaginamos como possível, é mais intenso
do que com relação a uma coisa contingente.
Um
afeto com relação a uma coisa contingente, que sabemos não
existir no presente, é mais fraco do que um afeto com relação
a uma coisa passada.
O
conhecimento verdadeiro do bem e do mal, enquanto verdadeiro, não
pode limitar nenhum afeto, mas, apenas enquanto for considerado só
como um afeto.
Epílogo
Precisamos
nos desvencilhar
das idéias
de um éden lá,
de um
Deus onipotente lá,
de um
inferno fedorento lá
e de
um pedro-botelho lá.
Precisamos
sentir e efetivar
que est
cælum in nobis,
que est
Deus in nobis,
que est
infernum in nobis
e que
est diabolus in
nobis.
_____
Nota:
1. Os
três momentos da Dialética Hegeliana [Georg Wilhelm Friedrich
Hegel (Stuttgart, 27 de agosto de 1770 – Berlim, 14 de novembro de
1831)] são, por um lado, um modo de descrever o método axiomático,
que foi usado na Filosofia por Espinoza, e, por outro, um uso particular
deste método. O primeiro momento – a tese
– corresponde ao axioma. O segundo momento – a antítese
– corresponde à definição (que Espinoza notava
conter também uma negação). O terceiro momento –
a síntese
– corresponde ao teorema, um resultado necessário, porém,
novo, não estando simplesmente contido nos momentos anteriores, mas,
eventualmente, tese
de um novo movimento triangular.
Música
de fundo:
Living
Together, Growing Together
Composição: Burt Bacharach & Hal David
Interpretação: The 5th Dimension
Fonte:
https://mp3-lyr.xyz/download/the-fifth-dimension
-living-together-growing-together.html
Páginas
da Internet consultadas:
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Baruch_Espinoza#Traços_físicos
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