TUDO DARÁ CERTO?
(Deus Spes mea1)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Tudo dará certo?

Sim, quer para o cativo, quer para o liberto.

Algo poderá dar errado?

Não, nem para o lasso, nem para o Iniciado.2

 

Peregrinando ou fraquejando,

todo ser-no-mundo vai avançando

em seu inexorável educativo viver,

sabendo que um dia haverá de morrer.3

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Nutrido por variadas esperanças,

o ser-no-mundo acaba fabricando intemperanças,

fúnebres maldições4 ou iludidas bendições5

derivadas (geralmente) de enganosas interpolações.

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Indiferença, hipocrisia e sangue

– triângulo demoníaco bumerangue –

transformam spes em maldição

e em obrigatória e educativa compensação.

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Contudo, se a maquete do amanhã

for construída amorosamente, justa e sã,

acabará derrubando a babilônia-babel

e todos os falsos credos e os deuses de papel.

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Entretanto, todo imediatismo,

gerador do caliginoso obscurantismo

– mais do que posto de lado –

desde agora precisa ser transmutado.

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Spes, assim, em certo sentido, é Iniciática;

portanto, dinâmica, não-estática.

É um processo Místico de construção:

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Para consolidar a Vera Esperança

fractal da Cósmica Esperança –

e o Summum Bonum se efetivar...

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Entende-se, assim, que todos os infundados ismos,

espúrios personalismos e retardantes egoísmos

precisam ser imediatamente colapsados

e in Corde transmutados.

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Conciliábulos de conveniências,

intransigências e malévolas restringências

transformam Spes em impeditivas retardações,

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Entretanto, repito: se a maquete do amanhã

for construída com justiça, perfeita e sã,

não há qualquer motivo para receio,

mesmo com alguns estorvos de permeio.

 

Mas, tudo dará certo?

Sim. Tudo sempre dá certo.

Algo poderá dar errado?

Não. Nada pode dar errado.

 

Mas, atenção: Spes não vem de Deus6

ou de qualquer endemoniado antideus.

Para que, in Corde, Spes possa se efetivar:

 

Tudo dará mesmo certo?

Sempre: quer para o cativo, quer para o liberto.7

Algo poderá dar errado?

Jamais: nem para o lasso8, nem para o Iniciado.

 

 

 

 

 

 

 

 

_____

Notas:

1. Deus Spes mea = Deus, minha Esperança. (Nascentes admite que existiu em latim o vocábulo sperantia, neutro plural de sperans, sperantis, particípio presente do verbo speráre, que teria suplantado o latim clássico Spes, ei 'Esperança'; o autor acrescenta, ainda, que o gafanhoto tem esse nome por ser verde.)

2. Tudo sempre dá certo; nada pode dar errado, simplesmente porque a Lei só age em conformidade com Ela própria de forma justa e impessoal. Não pode haver ingerência do que quer que seja e de quem quer que seja no cumprimento parcelar e/ou global da Lei, no sentido de que Ela é o que é, e não o que nós queremos que Ela seja. Substituições alquímico-meritórias ou adiamentos temporários podem acontecer (basta, por exemplo, examinar as vidas de Helena Petrovna Blavatsky e de Chico Xavier); porém, jamais transferências ou anulações. E mais: a Lei é sempre duplamente educativa; nunca vingativa ou punitiva. Nada nem ninguém podem existir à parte ou à revelia da Lei. Mais uma vez cito Mâ Ananda Moyí (1896-1982): Jo ho jâye (Aconteça o que acontecer, tudo é desejado e bom). Mâ Ananda Moyí disse também: Procurai viver sempre na alegria, expressar a alegria em vossos pensamentos e em vossos atos; senti a presença alegre em tudo que vedes ou ouvis; isto vos trará uma real felicidade. A tristeza é fatal para o homem: alijai-a de vossos pensamentos.

3. Viver.

4. Maldição quando a esperança está calcada em desvirtuamentos. Neste caso bestial, a esperança, mais do que hipotética, é maldita.

5. Às vezes, as próprias presumidas bendições não são benditas; basta que, mesmo de boa-fé, estejam alicerçadas em ilusórios imperativos hipotéticos, como, entre tantos exemplos, são os abomináveis negócios com Deus, as irrefletidas e, muitas vezes, injustificadas devoções à pátria e os condescendidos e tidos como lícitos desejos apocópicos de vingança. Daí, ou por isso, as geralmente enganosas interpolações/interjeições (Meu Deus! Oh!, coragem! Oxalá!). Entretanto, a Esperança categórica é lícita, ainda que eu tenha dificuldade de compreender como possa haver uma Esperança absolutamente categórica, pois quem alcança o Estado Místico de não mais querer ou precisar não vive esperando nada, agora ou depois. Portanto, a Spes Iniciática aludida no poema não é propriamente Esperança; é muito mais uma Certeza derivada de um Estado Místico consciente adquirido/conquistado pelo Trabalho e pelo Mérito. Em uma palavra: Um Privilégio. Logo, a Esperança Cósmica – a Vera Esperança – é uma condição ad semper existente que jamais poderá ser realizada apenas por um simples desejar/acreditar ou pela fé/esperança como mero binômio religioso-teologal. Agora, se a fé/esperança forem dinâmico-criativas... Por tudo isso, eu disse: Para que, in Corde, Spes possa se efetivar: Irmanar... Solidarizar... Realizar... Nesta ordem dinâmica. Mérito! Mérito! Mérito! Prêmio? Não. Um pouco mais: somos todos um.

6. A Spes Verdadeira e Autêntica só poderá vir da Voz realizada do nosso Mestre-Deus Interior construído Iniciaticamente em Bem e Beleza em nossos Corações Imortais (Deus Spes mea). É difícil essa construção? Não, não é tão difícil assim; difícil é manter essa construção de pé. O que é certo é que não estamos sós ou desamparados. Se isso for um catalisador para uma Esperança sadia, então, tudo bem. Tudo dará mesmo certo.

7. Ainda que não exista um liberto inteiro.

8. O lasso, por esforço pessoal, poderá se redimir. Nada é impossível; nada é definitivo. Só há uma coisa definitiva: a existência da Existência. O nada não pode gerar porque não existe; e o que existe, de alguma forma sempre existiu, e não pode se reduzir ao que não existe. Criação, não; transformação cíclica, sim. 2034.

 

Fundo musical:

Beati Mundo Corde (Richard Lee)

Fonte:

http://www.schuyesmans.be/
gregoriaans/PT/PTnet.htm#gregoriaans

 

Observação:

Este poema foi inspirado no trabalho recentemente divulgado (30 de março de 2007) pela Illuminates of Kemet, Seção Brasil (IOK-BR), intitulado Discurso Sobre a Esperança. Com 28 páginas e 725 kb, essa monografia examina a Esperança Cósmica e seu fractal esperança na mente e psiquê humanas como leitmotiv da evolução na marcha para o futuro. De autoria do dirigente Frater Velado, 7Ph.D, essa Monografia aborda, ainda, entre outros temas místicos, a interação das mentes individuais com a Mente Cósmica e os métodos para a consecução de objetivos embasados na esperança. A monografia, produzida em Linux, em formato PDF, requer Adobe Reader (é gratuito). O endereço direto para leitura on-line ou download é:
http://svmmvmbonvm.org/spes.pdf