SONAMBULANDO PELA NOITE
(Compreensão ou Esqueletização)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

Foram zilênios de entorpecimento.

Existência fútil! Sem tento!

Meu Coração indigitava; eu não via.

 

Sonambúlico, em minha Negra Noite,

fustigado pelo açoite,

um Dia, finalmente, pude comemorar

a LLiberdade libertar.

 

Em minha caverna, a LLuz fulgurou!

Comigo, todos os seres do Universo são!

Somos um só Coração!

 

A transitar, os burregos não entendiam!

Chacoteavam e diziam:

É um cachaça! Pensa que virou Deus!

Virá pronto o seu adeus.

 

Consternado, em meus pensamentos,

só vi dolores e afligimentos.

Eu me libertara; eles ainda pesadelavam.

 

Por eles, em silêncio, fiz uma rogação:

Que emudeça o dragão!

Que a Voz Insonora possa ser ouvida!

Morra a vida; nasça a Vida!

 

 

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Sei que alguns ouviram esta Oração.

E se restaurou a União

– União que nunca esteve desunificada;

estava só deslembrada.

 

 

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Quem dorminhocar ou decidir esperar

muito haverá de lastimar.

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

A Tonga da Mironga do Kabuletê
Letra: Vinicius de Moraes
Música: Toquinho

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/a_tonga_da_
mironga_do_kabulet_toquinho_vinicius.html

 

Explicativo histórico:

A Tonga da Mironga do Kabuletê é um poema escrito pelo diplomata, dramaturgo, jornalista, compositor e Poetinha Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 – Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980) e musicado pelo cantor, compositor e violonista Antonio 'Toquinho' Pecci Filho (6 de julho de 1946). A música foi lançada nos idos da década de 70, marcando o início do êxito da dupla. Na composição, os autores informam – sem que seja comprovado – que a expressão seria uma espécie de xingamento em língua nagô (diz-se que, na África, quando um africano manda outro pra tonga da mironga do kabuletê, parece que as tribos entram em guerra, e que a tribo vencedora não faz por menos: come o fígado dos derrotados).

Na época do lançamento da música, o Brasil era governado por uma fedorenta ditadura, e essa era uma oportunidade de ouro para protestar, sem que a truculenta e plúmbica desintelligentsia vigente e doente compreendesse.

De acordo com o Novo Dicionário Banto do Brasil, de Nei Lopes, estas palavras significam o seguinte: (1) Tonga (do quicongo), força, poder; (2) Mironga – (do quimbundo, milonga, plural de mulonga – demanda, queixa, calúnia, injúria e também, mistério, segredo); (3) Kabuletê (cabuleté – de origem incerta), indivíduo desprezível, vagabundo, bisbórria. Já, segundo o Dicionário Aurélio, Tonga pode ser uma palavra angolana para designar campo por lavrar ou lavoura. É, ainda um santomensismo depreciativo para designar descendente de serviçais nascido em São Tomé e Príncipe. Mironga significa desinteligência, briga, altercação, conflito. Cabuleté, no mesmo léxico, é indivíduo reles, desprezível, vagabundo.

Enfim, parece que a tonga da mironga do kabuletê não quer dizer rigorosamente nada, mas, ao mesmo tempo, pode querer dizer tudo, ou seja, qualquer coisa. Seja como for, Vinícius e Toquinho voltavam da Itália, onde haviam acabado de inaugurar a parceria com o disco A Arca de Noé, fruto de um velho livro que o Poetinha fizera para seu filho Pedro, quando este ainda era menino. Encontraram o Brasil em pleno economic miracle fabricado – a censura em alta; a bossa em baixa. Opositor ao regime, o Poetinha era malquisto pela cegueira militar, e, em abril de 1969, acabou sendo expulso do Ministério das Relações Exteriores, com base no Ato Institucional nº 5 (AI-5) – punido por sua vida whiskêmia (whisky + boêmia), que tanto desagradava à linha-dura da caserna, pois ela sempre teve preferência conciliabular por conspirações, punições e canhões, não por liberdade, fraternidade e versejabilidade. Eram os Anos de Chumbo, o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil, estendendo-se basicamente do fim de 1968, com a edição do AI-5 em 13 de dezembro daquele ano, até o final do Governo Médici [Emílio Garrastazu Médici (Bagé, 4 de dezembro de 1905 – Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1985)], em março de 1974.

Ao longo de sua vida, o Poetinha se casou nove vezes: Beatriz Azevedo de Melo (Tati de Moraes)*, Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Nelita de Abreu, Lúcia Proença, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues e Gilda de Queirós Mattoso, mas, na ocasião, Vinícius estava casado com a atriz baiana Gesse Gessy – uma das maiores paixões de sua vida – que o aproximou do Candomblé, apresentando-o à Iyálorixá (mãe-de-santo) brasileira e filha de Oxum Maria Escolástica da Conceição Nazaré (Salvador, Bahia, 10 de fevereiro de 1894 – 13 de agosto de 1986), mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois. Sentindo a angústia do companheiro, Gesse o diverte, ensinando-lhe xingamentos em Nagô, entre eles tonga da mironga do kabuletê, que ela disse que significava o pêlo do cu da mãe. O mote anal e seu sentimento em relação aos homens de verde-oliva inspiram o Poetinha. Com Toquinho, Vinícius compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves. Era a oportunidade de xingar os militares sem que eles compreendessem a ofensa. E o Poetinha ainda se divertia com tudo isso: — Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô.

Bem, o que importa é que a ditadura-desintelligentsia militar, instalada no Brasil em 1964, acabou indo mesmo pra tonga da mironga do kabuletê. Eu, que vi todo esse fedor/horror bem de perto, digo sempre: — Ditadura nunca mais!

* A primeira mulher de Vinicius, Tati de Moraes, lhe deu dois filhos: Suzana e Pedro. O casamento durou onze anos, e foi ela quem o estimulou a fazer o concurso para o Itamaraty, e foi com Tati, também, que Vinícius se tornou, efetivamente, um Poeta. Para sua amada Tati, o Poetinha escreveu um de seus mais conhecidos e mais belos sonetos – o Soneto de Fidelidade:

 

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto,
Que mesmo em face do maior encanto,
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento,
E em seu louvor hei de espalhar meu canto,
E rir meu riso e derramar meu pranto,
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure,
Quem sabe a morte, angústia de quem vive,
Quem sabe a solidão, o fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.

 

Este explicativo foi editado das fontes:

http://www.viniciana.siteonline.com.br/
interna.jsp?lnk=13197

http://br.answers.yahoo.com/question
/index?qid=20060806085414AA9wmlJ

http://planetaportuguesbrasil.blogspot.com/
2009/06/tonga-da-mironga-do-kabulete.html

http://portrasdaletra.blogspot.com/2007/
04/tonga-da-mironga-do-cabulet.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
A_Tonga_da_Mironga_do_Kabulet%C3%AA

 

Páginas da Internet consultadas:

http://media.photobucket.com/image/%22crying
.gif%22+/justmona1957/Funny/crying.gif

http://www.bigfootshoeclinic.com/
html/custom_orthodics.html