Este
estudo é uma coletânea de alguns pensamentos budistas de
Sogyal Rinpoche.
Sogyal
Rinpoche
Breve
Biografia
Com
um extraordinário dom de apresentar a essência do Budismo Tibetano
de uma forma autêntica e relevante para a mente moderna, Sogyal Rinpoche
é um dos mais célebres professores de nosso tempo. Conhecido
como um fantástico comunicador, a atmosfera criada por Sogyal Rinpoche
é extraordinariamente terna e amorosa, repleta de um discernimento
penetrante, como se ele falasse diretamente ao Coração de
cada um dos presentes. Pessoas do mundo todo aludem ao poder que seus ensinamentos
têm de revelar em um relance o âmago da natureza da mente, e
assim causar transformação duradoura, bem como confiança
em encarar os desafios da vida cotidiana.
Nascido
em Kham, no Tibete Oriental, Sogyal Rinpoche foi reconhecido em tenra idade
como a encarnação de um grande mestre e santo visionário
do século XIX, Tertön Sogyal Lerab Lingpa (1856 – 1926),
um dos professores do XIII Dalai Lama. Recebeu o treinamento tradicional
oferecido a lamas tibetanos sob a tutela próxima de Jamyang Khyentse
Chökyi Lodrö, um dos mais excepcionais mestres espirituais do
século XX, que criou Rinpoche como seu próprio filho.
Sogyal
Rinpoche estudou com muitos outros grandes professores de todas as escolas
do Budismo Tibetano, entre os quais Kyabje Dudjom Rinpoche e Kyabje Dilgo
Khyentse Rinpoche. Em 1971, Rinpoche viajou à Inglaterra para estudar
Religião Comparada na Universidade de Cambridge, na condição
de erudito convidado.
Primeiro,
como tradutor e assistente de seus reverenciados mestres, depois, como professor,
Rinpoche viajou por muitos países. Observando a realidade da vida
das pessoas, pesquisou como traduzir os ensinamentos do Budismo Tibetano
de forma a torná-los relevantes a homens e mulheres modernos de todas
as crenças. Sogyal Rinpoche extrai a mensagem universal desses ensinamentos
e mantém toda a autenticidade, pureza e poder.
Assim,
nasceu seu estilo próprio de ensinar e sua capacidade de afinar os
ensinamentos com a vida moderna, demonstrada tão nitidamente em seu
inovador Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Mais de dois milhões
de cópias já foram impressas em 56 países e em 31 línguas.
Sogyal
Rinpoche também é o fundador e diretor espiritual de Rigpa,
uma rede internacional de mais de 130 centros e grupos budistas em 41 países
ao redor do mundo. Ensinando há mais de trinta anos, continua a viajar
muito pela Europa, EUA, Austrália e Ásia.
Pensamentos
de Sogyal Rinpoche
Sogyal
Rinpoche
Estamos
tão habituados a olhar apenas para fora de nós, que perdemos
o acesso ao nosso interior quase completamente. Estamos aterrorizados em
relação a olharmos para dentro, porque a nossa cultura não
nos deu qualquer idéia sobre o que iremos encontrar. Poderemos até
pensar que, se olharmos para o nosso interior, estaremos em perigo de encontrarmos
a loucura. Este é um dos últimos e mais engenhosos recursos
que o nosso ego utiliza para nos impedir de descobrirmos a nossa real natureza.
Portanto,
nós tornamos a nossa vida de tal forma agitada, que eliminamos o
mais pequeno risco de olharmos para nós próprios. Mesmo a
simples idéia de meditarmos parece assustar as pessoas. Quando elas
ouvem a expressão sem ego ou vazio, pensam que experimentar esses
estados vai ser como ser atirado porta fora de uma nave espacial, para um
frio e escuro vazio. Nada podia estar mais longe da verdade. Mas, em um
mundo dedicado à distração, o silêncio e a quietude
nos assustam; por isto, nos protegemos com barulho e uma atividade constante.
Olhar para a natureza da nossa mente é a última coisa que
nos lembraríamos de fazer.
A
nossa felicidade cabe apenas a nós.
Homer
Jay Simpson
Temos
tanto medo da morte porque por trás do medo da morte está
o medo de encarar a si mesmo. O instante da morte é o momento da
verdade. Ela é como um espelho, no qual o verdadeiro sentido da vida
está refletido. Na tradição monástica cristã
há uma expressão em latim, 'memento mori', que significa lembre-se
da morte, ou, mais especificamente, lembre-se de que vai morrer. Se você
se lembrar da morte, vai entender o que é a vida. A morte é
a fundação e o verdadeiro Coração do Caminho
Espiritual. Se você se recordar de que vai morrer, vai se lembrar
da preciosidade da vida – e essa verdade está presente em todas
as grandes tradições: Budismo, Cristianismo, Hinduísmo…
Pensar na morte é o cerne do Caminho Espiritual. Milarepa, o grande
santo e poeta que inspirou milhões de seres, disse: Aterrorizado
pela morte, refugiei-me nas montanhas, meditei muitas e muitas vezes sobre
a incerteza da hora da morte. Mas ao conquistar a fortaleza da natureza
da mente infinita e imortal, todo o medo acabou para sempre. É
por isto que o meu livro fala tanto dessa contemplação da
hora da morte. Existe também uma citação de Maomé.
Quando perguntaram a Maomé como ele fazia para polir o Coração,
como ele se livrava da ferrugem e das aparas do coração, Maomé
respondeu: Pela lembrança
de Deus e por muito pensar na morte. De fato, pensar na
morte é muito próximo de se pensar em Deus, porque a morte
traz para você o que Deus é. Mas, infelizmente, na vida contemporânea,
as pessoas não vêem a vida e a morte como um todo. E assim,
ficam muito apegadas à vida, e rejeitam e renegam a morte. Hoje em
dia, as pessoas também pensam na morte como um tipo de derrota ou
de perda. Mas, do ponto de vista espiritual, a morte não é
uma tragédia a ser temida, mas uma oportunidade preciosa para a transformação.
Mais
importante do que encontrar um professor, é encontrar e seguir a
verdade do ensinamento.
Esquecemos
de lembrar da morte durante a vida porque estamos ocupados demais para isso.
Nos mantemos muito atarefados o tempo todo: é uma preguiça
ativa. A morte, por sua vez, nos diz que precisamos parar de nos enganar
– quando você acertar as contas com a morte você acerta
as contas com sua vida. A morte é sinônimo da vida, o seu prolongamento;
na verdade, ela é a parte mais importante da existência, por
isto é que ela acontece no final! É a morte que vai nos apresentar
a conta. Tem uma expressão em francês que diz: Agora, a dolorosa,
por favor! Mas, com freqüência, só começamos a
pensar na morte quando estamos para morrer. Não é um pouco
tarde demais? Os ensinamentos nos mostram que deveríamos nos preparar
para morrer agora, quando estamos bem, com estado mental feliz, principalmente
nos momentos em que você está inspirado, predisposto à
introspecção, quando começamos a ver a vida e a morte
de uma maneira mais profunda.
Se
tivermos o hábito de pensar seguindo um padrão característico,
positivo ou negativo, então, estas tendências serão
acionadas e provocadas muito facilmente, repetindo-se de maneira continua
e recorrente.
Sempre que você estiver com
uma pessoa que está morrendo, enfatize o que ela realizou de bom
durante a vida, o que ela fez bem. Ajude-a a se sentir tão construtiva
e feliz quanto possível com relação à existência
dela. Concentre-se nas suas virtudes e não nos seus defeitos. A pessoa
que está morrendo fica muito vulnerável à culpa, ao
remorso e à depressão. Permita que ela expresse isso livremente,
ouça-a e escute o que ela diz. Mas, ao mesmo tempo, se o momento
for apropriado, não deixe de lembrá-la da sua natureza búdica
e encorajá-la a repousar na natureza da mente. Em especial, lembre
à pessoa que a dor e o sofrimento não são tudo o que
ela é. Encontre a maneira mais hábil e sensível de
a inspirar e de lhe dar esperança, ao invés de enfatizar seus
erros. Assim, ela poderá morrer em um estado mental mais pacífico.
Quando
você ajudar alguém nessa condição [no
momento da morte], o mais importante não é o que
você diz, mas o que você é, a sua presença. E
a sua presença é especialmente importante, se você for
um praticante que tem a realização da natureza da mente e
puder permanecer nesse estado de realização na presença
daquele que está morrendo. Isto é extremamente poderoso. Vejo
isto por mim mesmo: nessa presença, o amor que é sustentado
pela natureza da mente é o amor apoiado pelos Buddhas. Você se
torna como um embaixador deles. O amor inspirado pela natureza da mente
é tão poderoso que pode eliminar o medo do desconhecido. Se
você puder introduzir essa paz – sentindo muita paz, vendo a
natureza da mente se manifestando de uma forma muito poderosa, como uma
radiação quente – se você conseguir isso, será
extraordinariamente poderoso e benéfico.
A pessoa que está morrendo
precisa ter a coragem de perceber que este é o tempo da reconciliação
com amigos e parentes, e, assim, eliminar do Coração todo
ódio e ressentimento. Nem todos têm em uma religião
formal, mas, acho que quase todos acreditam no perdão, e você
pode ser de incomensurável utilidade para a pessoa que vai morrer
ajudando-a a ver a aproximação da morte como o tempo perfeito
para reconciliação e a avaliação de uma vida.
Todas as religiões dão ênfase ao poder do perdão,
que nunca é tão necessário e tão profundamente
sentido como no momento da morte. Por meio do perdoar e do ser perdoado,
nos purificamos da escuridão gerada por aquilo que fizemos, e nos
preparamos para a jornada através da morte. Com base na sua prática
espiritual, você pode transformar o ambiente e inspirar sentimentos
sagrados como amor, compaixão e devoção na mente da
pessoa que está morrendo, no momento da sua morte.
No
momento da morte, para ajudar uma pessoa assustada, que não tem nenhuma
crença espiritual, olhe nos seus olhos com amor e confiança,
seja claro, invoque a presença dos Buddhas ou de Cristo, e dê
a ela o ensinamento essencial, porque, no momento da morte, ela estará
aberta a isto, particularmente se você for genuíno e autêntico,
e não estiver pregando. Outra coisa importante quando formos ajudar
alguém que está morrendo é dar o nosso amor, com todo
o Coração, sem quaisquer condições, tão
livre quanto possível de apego, sem medo. Destemidamente devemos
amar.
Se
a pessoa não quiser falar sobre a morte ou se não aceitar
que está morrendo, você ainda poderá amá-la,
dizer coisas amorosas sem mencionar a morte. Se entrarmos em contato com
a natureza da nossa mente e se a estabilizarmos através da prática
espiritual integrando-a às nossas vidas, então, o amor que
teremos para dar só poderá ser intenso, porque vem de uma
fonte mais profunda, do nosso Ser Interno, que é o Coração
da nossa Natureza Illuminada. Este Coração tem um poder especial
de libertar a nós mesmos ou a alguém que esteja morrendo.
Este tipo de amor, que é o amor além de todo apego, é
como o Amor Divino de que se fala tanto no Cristianismo quanto no Hinduísmo;
é o amor de todos os Buddhas. Neste estado sem fabricação,
mesmo sem pensar, podemos sentir a presença de Buddha sem esforço.
É como se tivéssemos nos tornado o representante Dele, com
nosso amor apoiado pelo Seu amor e infundido com a Sua bênção
e compaixão. O amor que brota verdadeiramente da natureza da mente
é tão abençoado que tem o poder de dissipar o medo
do desconhecido, de dar refúgio à ansiedade e de dar serenidade,
paz e, além disso, trazer inspiração na morte e além
dela. E descobriremos por nós mesmos, que quanto mais conseguirmos
purificar nossa prática espiritual, mais natural e mais eficaz será
a ajuda espiritual que daremos para os que estão necessitados, porque
o modo como nós somos, o nosso ser e a nossa presença são
muito mais importantes do que o que dizemos ou fazemos. E quando você
ajuda desta forma, é extraordinário, não só
para a pessoa que está morrendo, mas, também, para a família.
Nós
mesmos poderemos nos preparar para morrer, e a maneira mais simples de se
realizar o 'Phowa'1
é tentar unir a nossa mente com a Mente Illuminada dos Buddhas. 'Phowa',
em tibetano, quer dizer transferência da consciência. A prática
do 'Phowa', de todas que eu já encontrei, é a mais poderosa
e valiosa no momento da morte. Eu vejo um grande número de pessoas
praticando-a com entusiasmo durante a vida. E gostaria de enfatizar que
qualquer um pode fazer esta prática. Ela é simples, mas, é
a prática mais essencial que podemos fazer para nos prepararmos para
nossa própria morte, e é também a prática principal
que eu ensino aos meus alunos para ajudarem os seus amigos e parentes que
estejam morrendo.
Prática
do 'Phowa': No céu à sua frente, você invoca
a corporificação de qualquer verdade em que você crê
sob a forma de uma Luz Radiante. Escolha qualquer ser divino ou santo de
quem você se sinta próximo: para os cristãos pode ser
Deus ou Cristo, para os budistas pode ser Amitaba, que é o Buddha
de Luz Ilimitada e a deidade mais associada com o momento da morte. Se você
não se sente conectado com nenhuma figura em especial, simplesmente
imagine uma forma em pura Luz Dourada no céu diante de você.
O ponto importante é que considere que o ser que você está
visualizando ou que sente presente, seja a corporificação
da Verdade, da Sabedoria e da Compaixão de todos os Buddhas, Mestres,
Santos e Seres Illuminados. Não se preocupe se você não
conseguir visualizá-Los claramente; apenas sinta-Os em seu Coração,
preencha o Coração com a sua presença e tenha confiança
de que Eles estão ali. Na segunda parte desta prática, foque
sua mente, seu Coração e sua alma nessa presença que
você invocou. Reze a ela que, por meio de suas bênçãos,
graça e orientação, por meio do poder da Luz que flui
Dela para você, que todo o carma negativo dos seus pecados, emoções
destrutivas e bloqueios sejam purificados e removidos.2
Peça para ser perdoado por todo o dano que
possa ter pensado ou causado. E que possa realizar essa prática
profunda de 'Phowa', da transferência de consciência, e que
possa morrer de uma forma boa e pacífica. E, por meio do triunfo
de sua morte, que você seja capaz de beneficiar todos os seres, vivos
ou mortos. Esta é a oração. Na terceira parte, você
imagina que a presença da Luz que você invocou ficou tão
comovida com a sua oração sincera que responderá com
um sorriso amoroso e emanará compaixão e amor na forma de
raios de Luz que saem do seu Coração. À medida que
esses raios de Luz tocam e penetram você, eles eliminam todo o seu
carma negativo, as suas emoções negativas que são a
causa do seu sofrimento. Você vê e sente que está completamente
imerso em Luz e Amor. Em quarto lugar, nesse momento, você sente que
está completamente purificado e curado pela Luz que fluiu daquela
presença. Considere agora que seu próprio corpo, criado pelo
carma, se dissolve em Luz. Este corpo de Luz, que você agora é,
voa até o céu e se funde inseparavelmente com a presença
bem-aventurada daquela Luz. Permaneça neste estado de união
com a presença pelo maior tempo possível.
Duas
pessoas têm vivido em você por toda a sua vida. Uma é
o ego tagarela, exigente, histérico, calculista; a outra é
o Ser Espiritual escondido, cuja silenciosa voz de Sabedoria você
somente ouviu ou reparou raramente. Só você poderá revelar,
em si mesmo, o seu próprio Guia Sábio.
O
princípio e a seqüência da prática do 'Phowa' para
ajudar alguém que morre são exatamente os mesmos. A única
diferença é que você visualiza o Buddha ou o Ser Espiritual
acima da cabeça de quem está morrendo. Você imagina
que raios de Luz emanam em direção a essa pessoa, e que purificam
todo o ser dela. Aí a pessoa se dissolve em Luz e se funde nessa
presença espiritual. Você pode fazer essa prática durante
a doença de um ente querido e, particularmente mais importante, quando
a pessoa estiver dando o seu último suspiro, no momento exato da
morte ou imediatamente após a respiração ter parado,
antes que alguém toque o corpo, antes dele ser tocado ou perturbado
de qualquer forma. Se a pessoa que está morrendo sabe que você
está fazendo essa prática para ela e sabe qual é a
prática. Isto é uma grande fonte de inspiração
e de conforto.
A
verdadeira devoção é uma receptividade ininterrupta
da Verdade. A verdadeira devoção está enraizada em
uma gratidão reverente, mas, é lúcida, fundamentada
e inteligente.
Quanto
ao que não deve ser feito quando nos preparamos para a morte, o Grande
Mestre Dzogchen Dodrubchen Jigme Tenpe Nyima, que foi Mestre do meu Mestre,
deu o seguinte ensinamento: Não
se sinta nervoso ou apreensivo a respeito da morte. Ao contrário,
tente elevar o seu espírito e cultivar um sentimento de clara alegria,
trazendo à mente todas as coisas positivas e virtuosas que você
fez no passado. E sem sentir qualquer traço de orgulho ou de arrogância,
celebre as suas realizações uma por uma. O
principal é o seguinte: no momento da morte, abra mão do apego
e da aversão.3
Mantenha coração e mente puros.
E se você é um praticante espiritual, se reconheceu a natureza
da mente e praticou em sua vida, no momento da morte, lembre-se da luminosidade
básica e da clara luz surgindo. Na verdade, quando um grande praticante
morre é isso que se diz a ele. Para os meus alunos, que estão
no momento da morte, é esse o conselho que eu dou: lembrem-se da
natureza da mente, da clara Luz.
Há
um famoso ditado: Se a mente
não é artificial, é espontaneamente feliz, assim como
a água, quando não está agitada, que, por natureza,
é transparente e clara.
Quanto
tempo vivemos? No máximo 100 anos, e depois há toda a eternidade.
Muitas pessoas dizem: Não
acredito na vida após a morte. Ótimo. Na verdade,
quando morremos, a crença não tem nada a ver com isso. Sempre
pergunto: E se vocês morrerem e descobrirem que há uma vida
após a morte? O que vão fazer? Veja, precisamos um pouquinho
do benefício da dúvida. Pode haver uma vida após a
morte. Pois, do contrário, se não houver uma vida após
a morte, nada tem muito sentido. Especialmente, quando crianças morrem,
ou quando morremos no meio do nosso trabalho, realmente não faz sentido.
Se tivéssemos que morrer, se for só isso, não faria
sentido. A vida não é só uma TV velha que é
desligada. Não é isso. Há uma certa continuidade. A
maneira como vivemos esta vida determina o futuro. Como disse Buddha: Você
é o que foi, e você será o que faz agora.
Quando,
finalmente, temos consciência que estamos morrendo, começamos
a sentir uma queimação, começamos a ter uma sensação
quase dolorosa da fragilidade e da preciosidade de cada momento e de cada
ser, e, a partir deste momento, poderá crescer em nós uma
profunda compaixão, sem limites, com todos os seres.
Talvez,
a maior razão pela qual temos medo da morte é porque não
sabemos quem somos. Acreditamos em uma identidade pessoal, única
e separada, mas, se nos atrevermos a examiná-la, descobriremos que
esta identidade depende totalmente de uma coleção interminável
de coisas para se sustentar: nosso nome, nossa biografia, nossos parceiros,
família, casa, trabalho, amigos, cartões de crédito…
É com a ajuda frágil e transitória delas que nós
baseamos nossa segurança. Então, quando tudo isto é
subtraído, teremos alguma idéia de quem realmente somos? Sem
nossos acessórios familiares, temos que encarar a somente nós
mesmos, uma pessoa que não conhecemos, um incômodo estranho
com que estivemos vivendo todo o tempo, mas, nunca realmente quisemos conhecê-lo.
Não é por isso que temos tentado preencher cada momento do
tempo com barulho e atividade, não importa o quão trivial
ou monótono, para garantir que nunca fiquemos em silêncio sozinhos
com esse estranho?
Livro
Tibetano do Viver e do Morrer: O futuro está em nossas mãos
e nas mãos de nosso Coração.
A
impermanência já nos revelou muitas verdades, mas, há
um tesouro final sob sua guarda, que fica profundamente escondido de nós,
cuja existência não suspeitamos e não reconhecemos,
embora seja nosso do modo mais íntimo. O
poeta ocidental Rainer Maria Rilke disse que nossos
temores mais profundos são como dragões guardando nosso tesouro
mais profundo. O medo que a impermanência desperta
em nós, de que nada seja real e que nada tenha duração
é, como chegamos a descobrir, nosso maior amigo porque nos leva a
perguntar: se tudo morre e se transforma, então o que é realmente
verdadeiro? Há alguma coisa por trás das aparências,
alguma coisa sem limite e infinitamente vasta, alguma coisa em que a dança
da impermanência e das mutações tem lugar? Há
na realidade alguma coisa com que possamos contar, que sobrevive ao que
chamamos morte? Permitindo que essas perguntas nos ocupem com urgência
e refletindo sobre elas, lentamente passamos a fazer uma profunda mudança
no modo como vemos toda a vida. Com contemplação constante
e praticando o desprendimento, descobrimos em nós mesmos alguma coisa
que não podemos nomear, descrever ou conceituar, alguma coisa que
começamos a perceber que está além de todas as mudanças
e mortes do mundo. Os desejos mesquinhos e as distrações a
que nos condena nosso apego obsessivo à permanência começam
a se dissolver e depois desaparecem. Enquanto isso ocorre, temos repetidos
e vívidos lampejos de algumas das vastas implicações
subjacentes à verdade da impermanência. É como se tivéssemos
vivido toda nossa vida em um avião atravessando negras nuvens, em
meio à turbulência, e, agora, ele, subitamente, se alça
acima delas, em um céu tranqüilo e ilimitado. Inspirados e estimulados
por essa chegada a uma nova dimensão de liberdade, descobrimos a
profundeza da paz, da alegria, da confiança em nós mesmos,
que nos enchem de encantamento e geram, gradualmente, a certeza de que há
em nós aquela alguma coisa que nada destrói, que nada altera
e que não pode morrer.
Impermanência
Quando
as pessoas começam a meditar, sempre dizem que seus pensamentos estão
desenfreados e se tornam mais agitados do que nunca. Mas, eu as tranqüilizo
dizendo que esse é um bom sinal. Longe de significar que seus pensamentos
estão muito agitados, isto mostra que você ficou mais tranqüilo,
e está finalmente cônscio do quão ruidosos seus pensamentos
sempre foram. Não se desencoraje ou desista. O que quer que surja,
apenas se mantenha presente e continue se voltando para a sua respiração,
mesmo no meio da maior confusão. Tal
como o oceano tem ondas e o Sol tem raios, a radiância própria
da mente são seus pensamentos e emoções. O oceano tem
ondas, mas, não é particularmente perturbado por elas. As
ondas são da mesma natureza que o oceano. As ondas aparecem, mas,
para onde vão? De volta ao oceano. E de onde vêm? Do oceano.
Do mesmo modo, pensamentos e emoções são a radiância
e a expressão da verdadeira natureza da mente. Eles surgem na mente,
mas onde se dissolvem? Na própria mente. O que quer que apareça,
não encare como um problema particular; se você não
reage de maneira impulsiva, se sabe ser apenas consciente, isto assentará
novamente em sua natureza essencial. Assim,
não importa que pensamentos e emoções apareçam,
permita que eles venham e assentem, como as ondas do oceano. Não
importa o que se perceba pensando; deixe este pensamento surgir e se assentar,
sem interferência. Não se apegue a ele, não o alimente,
não lhe preste demasiada atenção. Não se agarre
a ele e não tente lhe dar solidez. Nem siga ou convide os pensamentos;
seja como o oceano olhando para suas próprias ondas ou o céu,
do alto, observando as nuvens que passam. Quando
você tem essa compreensão, então, os pensamentos que
aparecem apenas engrandecem a sua prática. Mas, quando você
não entende o que eles intrinsecamente são – a radiação
da natureza da sua mente – então, seus pensamentos se tornam
a semente da confusão. Por isto, tenha uma atitude espaçosa,
aberta e compassiva sobre seus pensamentos e suas emoções,
porque, na verdade, seus pensamentos são sua família, a família
da sua mente. Perante eles, como Dudjom Rinpoche dizia: Seja
como um velho sábio, observando uma criança brincar.
Na
atualidade, nosso corpo é, indubitavelmente, o centro de todo o nosso
universo. Nós o associamos, de maneira insensata, com nosso ser,
e esta irrefletida e falsa associação reforça continuamente
nossa ilusão de sua existência inseparável, concreta...
Quando morremos, todo este complexo estrutural se desmorona dramaticamente
em pedaços. O que ocorre, dito de maneira extremamente simples, é
que aquela consciência continua sem o corpo.
Nos
ensinamentos de Buddha, está dito que nós todos somos naturalmente
dotados de sabedoria ilimitada, compaixão incomensurável e
força ou capacidades infinitas. Ainda assim, porque nós perdemos
contato com essas qualidades interiores, raramente vamos além da
superfície do potencial que temos. Quando entramos em contato com
nossa verdadeira natureza, entretanto, podemos ser verdadeiramente úteis
e benéficos — não somente para nós mesmos e para
os nossos melhores interesses, mas, também, para os outros e suas
necessidades. Por isto, primeiro, para ajudar verdadeiramente os outros,
devemos ajudar a nós mesmos. Como diz a tradição Cristã:
A caridade começa
em casa. Podemos começar, antes de tudo, conhecendo
nossa mente. Na verdade, o ensinamento inteiro do Buddha pode ser resumido
e uma única linha: domar, transformar e conquistar nossa mente. A
mente é a raiz de tudo: o criador da felicidade e o criador do sofrimento;
o criador do que chamamos de 'Nirvana', e do que chamamos de 'samsara'.
O 'samsara' é o ciclo da existência, de nascimentos e mortes,
caracterizado pelo sofrimento e determinado por nossas emoções
destrutivas e nossas ações prejudiciais. O 'Nirvana' é,
literalmente, o estado além do sofrimento e do infortúnio;
pode ser dito que é o estado de Buddha ou a própria Illuminação.
Como um Grande Mestre diz: 'Samsara'
é a mente voltada para fora, perdida em suas projeções;
'Nirvana' é a mente voltada para dentro, reconhecendo sua verdadeira
natureza. A mente voltada pra dentro não significa
se tornar introvertido; significa entender realmente a mente, em sua verdadeira
natureza. Quando falamos sobre a mente, há dois aspectos: a aparição
da mente e a essência ou natureza da mente. Sua Santidade, o Dalai
Lama, descreve freqüentemente estes dois aspetos como aparição
e realidade. Muitos de nós pensamos que os pensamos
e as emoções são a mente. Mas, pensamentos e emoções
são meramente uma aparição da mente, como os raios
de Sol, enquanto a natureza da mente é o próprio Sol. Quando
estamos perdidos nas aparições da mente, não temos
a menor idéia do que a essência da mente é de verdade.
Por isto, o ponto crucial é a direção que nossa mente
toma: seja olhando para fora, perdida em pensamentos e emoções,
seja para dentro, reconhecendo sua verdadeira natureza. Se você domar,
transformar e conquistar sua mente, então, você transformará
suas próprias percepções e sua experiência. Assim,
mesmo as circunstâncias e as aparências externas começarão
a mudar e a aparecer diferentemente.
Quando ensino a meditação,
freqüentemente começo dizendo: 'Traga sua mente para casa. E
solte. E relaxe'.
Uma
das melhores maneiras de domar sua mente é através da abordagem
única e profunda da meditação na Tradição
Budista do Tibete. A primeira e mais básica prática da meditação
é permitir à mente repousar em um estado de calma permanência,
onde ela encontrará paz e estabilidade, e pode descansar no estado
de não-distração – que é o que a meditação
realmente é. Quando você começa a meditar pela primeira
vez, você pode usar um suporte: por exemplo, olhar um objeto ou uma
imagem de Buddha ou Cristo, se você for um praticante cristão;
ou, suavemente, prestar atenção à respiração,
que é comum à muitas tradições espirituais.
O que é muito importante, e os grandes professores budistas sempre
aconselham, é não fixar enquanto pratica a concentração
da permanência calma. É por isto que eles recomendam colocar
apenas 25% da sua atenção na consciência da respiração.
Mas, então, como você deve ter notado, a consciência
sozinha não é suficiente. Enquanto você deveria supostamente
estar observando a respiração, depois de alguns minutos você
pode se ver jogando um jogo de futebol ou estrelando seu próprio
filme. Por isto, outros 25% deveriam ser devotados à vigilância
contínua ou atenção observadora, uma que supervisione
e cheque se você está prestando atenção na respiração.
Os 50% restantes da sua atenção devem ser deixadas permanecendo
espaçosamente. Claro, estes percentuais exatos não são
tão importantes quando o fato de ter todos esses três elementos
– consciência, vigilância e espaço. Gradualmente,
conforme você for descansando sua mente naturalmente em um estado
de não-distração, você não precisará
da ajuda de uma imagem ou da respiração. Mesmo que você
não esteja focando em nada em particular, ainda há alguma
presença da mente, que pode ser razoavelmente chamada de um centro
de consciência. Esta presença sem distrações
da mente é a melhor maneira de integrar sua meditação
na vida diária, enquanto você está andando, comendo
ou cuidando dos outros – qualquer que seja a situação.
Quando você traz a atenção consciente para suas atividades,
as distrações e as ansiedades vão gradualmente desaparecer,
e sua mente se tornará mais pacífica. Também trará
uma certa estabilidade dentro de você, mesmo uma certa confiança
com a qual você pode encarar a vida e a complexidade do mundo com
compostura, facilidade e humor.4
Aprender
a meditar é o maior presente que você pode se dar nesta vida.
Aprendi
que as pessoas, hoje, são ensinadas a negar a morte e a crer que
ela nada significa, a não ser aniquilação e perda.
Isto quer dizer que a maior parte do mundo vive negando a morte ou aterrorizado
por ela. Até falar da morte é considerado mórbido,
e muitos acham que fazer uma simples menção à ela pode
atraí-la sobre si. Outros olham a morte de modo ingênuo, com
uma jovialidade irrefletida, achando que por alguma razão desconhecida
vão se sair bem ao passar por ela, não havendo motivo para
preocupação. Quando penso neles, lembro-me do que diz um Mestre
Tibetano: As pessoas, freqüentemente,
cometem o erro de ser frívolas em relação à
morte e pensam: ‘Ora, a morte chega para todo mundo. Não é
nada demais, é apenas natural. Tudo irá bem para mim’.
Essa é uma bela teoria, até que se esteja morrendo.
Dessas
duas atitudes diante da morte, uma a vê como algo de que se deve fugir
correndo, outra como um fato que simplesmente irá cuidar de si próprio.
Como ambas estão distantes da compreensão de seu verdadeiro
significado! Todas as grandes tradições espirituais do mundo,
inclusive, é claro, o Cristianismo, dizem explicitamente que a morte
não é o fim. Todas falam em algum tipo de vida futura, o que
infunde em nossa vida atual um sentido sagrado. Mas, não obstante
estes ensinamentos, a sociedade moderna, em larga escala, é um deserto
espiritual, em que a maioria imagina que esta vida é tudo o que existe.
Sem qualquer fé autêntica5
em uma vida futura, a maioria das pessoas vive toda
a sua existência destituída de um sentido supremo. Cheguei
à conclusão de que os efeitos desastrosos da negação
da morte vão muito além da esfera individual: eles afetam
o Planeta inteiro. Crendo basicamente que esta vida é a única,
as pessoas do mundo moderno não desenvolveram uma visão a
longo prazo. Assim, nada as refreia de saquear o Planeta em que vivem para
atingir suas metas imediatas, e agem com um egoísmo que poderá
se tornar fatal no futuro. De quantas novas advertências ainda precisamos?
O medo da morte e a ignorância sobre a vida após a morte estão
alimentando essa destruição do meio ambiente, que está
ameaçando tudo em nossas vidas. O mais perturbador nisso tudo não
é o fato de que as pessoas não recebam instrução
sobre o que é a morte, ou como morrer, ou que não tenham esperança
alguma no que vem após a morte, no que está por trás
da vida. Pode alguma coisa ser mais irônica do que a existência
de jovens altamente educados em todos os campos do conhecimento, exceto
naquele que detém a chave do sentido global da vida, e, talvez, até
da nossa sobrevivência?
Não
permita que a sua impaciência o afaste do compromisso com a Verdade.
O
que, então, devemos fazer com a mente em meditação?
Absolutamente nada. Deixá-la como está. Um Mestre descreveu
a meditação como a
mente suspensa no espaço, em lugar nenhum. O ditado
é famoso: Se a mente
não é fabricada, aparece espontaneamente imbuída de
uma felicidade sublime, assim como a água que se mostra naturalmente
transparente e límpida quando não é agitada.
Com freqüência, comparo a mente em meditação com
um jarro de água barrenta: quanto menos interferência ou agitação
tiver, mais as partículas de terra se depositam no fundo, permitindo
que a claridade natural da água transpareça. A própria
natureza da mente é tal que, se você a deixa em seu estado
inalterado e natural, ela encontrará sua verdadeira natureza, que
é bem-aventurança e claridade. Tome
cuidado, portanto, para não impor nem cobrar nada à mente.
Ao meditar, não deve haver qualquer esforço na direção
do controle, nem empenho em ser pacífico. Não seja solene
demais nem se sinta como se estivesse tomando parte em um ritual especial;
deixe de lado até a idéia de que está meditando. Seu
corpo e a sua respiração devem ser entregues a si mesmos.
Ando
pela rua. Há um buraco fundo na calçada. Eu caio... Estou
perdido... Sem esperança. Não é culpa minha. Leva uma
eternidade para encontrar a saída.
Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Mas, finjo
não vê-lo. Caio nele de novo. Não posso acreditar que
estou no mesmo lugar. Mas, não é culpa minha. Ainda assim,
leva um tempão para sair.
Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Vejo que
ele ali está. Ainda assim, caio... É um hábito. Meus
olhos se abrem. Sei onde estou. É minha culpa. Saio imediatamente.
Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Dou a
volta.
Ando por outra rua.
Q
mundo, tal como o vemos, é em grande parte uma interpretação
subjetiva baseada em nossas projeções. Os mantras nos preenchem
de energia positiva e, por isto, nos sentimos melhor quando os recitamos,
e percebemos nos outros bondade, gentileza e simpatia.
Você
já percebeu que há determinados momentos em que é naturalmente
inspirado à introspecção? Trabalhe com eles suavemente,
pois, estes são momentos em que você poderá passar por
uma experiência poderosa, e toda a sua visão de mundo poderá
mudar rapidamente.
Estamos
fragmentados em tantos aspectos diferentes! Nós não sabemos
quem realmente somos ou em quais aspectos de nós mesmos devemos identificar
ou acreditar. São tantas vozes contraditórias, tantos ditames
e tantos sentimentos lutando pelo controle de nossas vidas interiores, que
nos encontramos espalhados por toda parte, em todas as direções,
não deixando ninguém em casa.
Se
dedicarmos nossa mente à confusão, nós nos tornaremos
mestres negros do equívoco, adeptos de nossas dependências
sutis e perversamente flexíveis em nossas escravidões. Se
dedicarmos nossa mente à meditação, nos libertaremos
da ilusão, e descobriremos que – com o tempo, com paciência,
com disciplina e com o treinamento correto – a nossa mente começará
a se desatar e a conhecer a felicidade essencial e a clareza.
Viver
consciente do imediatismo da morte ajuda a resolver as prioridades na vida.
Ele ajuda a viver uma vida menos trivial.
Vemos
a vida de maneira distorcida. Esta visão é basicamente fruto
de nossa ignorância, e a má compreensão do que ela é
na realidade é o resultado desta falta de visão. Nós
nos apegamos à vida porque não reconhecemos que a impermanência
faz parte dela. Se acreditarmos que a existência e as coisas inerentes
à ela são imortais, perenes e imutáveis, nos agarraremos
à ilusão de que podemos prendê-las e deixá-las
sob nosso controle. Mas, se assumirmos profundamente que tudo muda, e que
a mudança é o que exatamente caracteriza a própria
vida, não mais nos apegaremos à ela com tanta força.
Se
você soubesse que um banco está falido, você colocaria
seu dinheiro lá? Apegar-se à vida é colocar dinheiro
em um banco falido e com os dias contados. Com o desprendimento, podemos
desenvolver uma tranqüilidade inabalável diante das transformações
que se apresentam. Nossa autoconfiança se expande incrivelmente,
e não temos mais medo das mudanças.
Em
um Coração sereno, florescem naturalmente o amor e a compaixão
por todos os seres.
Baixa
auto-estima, desprezo e raiva de si mesmo são sentimentos quase nunca
encontrados nas pessoas do meu país. Sua Santidade, o Dalai Lama,
estava em uma conferência onde ouviu pela primeira vez comentários
sobre esse problema, e, apesar de entender inglês muito bem, pediu
ao tradutor que repetisse o que fora dito. Ele pensou que não havia
compreendido bem.
Nos
ensinamentos budistas, é posta grande ênfase na preciosidade
do nascimento humano e no potencial de cada ser. A natureza de Buddha existe
em todos nós juntamente com a Sabedoria. O extraordinário
é que Buddha foi um ser humano como nós. Ele não reverenciou
nenhuma divindade, mas, defendeu o direito de viver de cada ser. A natureza
de Buddha que existe em cada pessoa é tão boa quanto qualquer
outra natureza de Buddha. Em nossa cultura, é enfatizada a natureza
divina de cada pessoa. A mente humana possui dois aspectos: o relativo,
onde existe confusão, e o absoluto, que é igual ao céu,
e os ensinamentos nos conduzem a esta natureza igual ao céu. Isto
nos faz mais generosos, nos faz perceber que a confusão não
é o fim do mundo. No Ocidente, há uma falta de conhecimento
sobre o que é self realmente, e sobre a natureza essencial da mente.
Quando os ocidentais se sentem confusos e deprimidos, acreditam que estão
presos a essas emoções para sempre. Além disto, os
ocidentais parecem estar sempre muito sozinhos, vivendo competitivamente
em uma sociedade que exige muito deles. Apesar de nesta sociedade viverem
muitos intelectuais de peso, muitos deles estão emocionalmente feridos.
Apesar
de os psicólogos e psicoterapeutas estarem fazendo um trabalho lindo
e de serem capazes de curar certos sintomas do desespero humano, eles são
incapazes de dar aos indivíduos a confiança fundamental neles
mesmos. Esta contribuição somente um treinamento espiritual
pode dar.
É
difícil para as pessoas terem a convicção de que há
vida após a morte ou reencarnação, mas, eu penso que
existe um instinto, uma abertura intuitiva em muitas pessoas. Qualquer aspiração
espiritual vem desta intuição. Mais do que a crença
em reencarnação, é importante entender que existe justiça
(carma). Mesmo em mortes de jovens, como estamos vendo com a AIDS, há
uma oportunidade de passar por esta experiência com graça e
envolvimento com os futuros renascimentos. O pensamento de que esta vida
é tudo não faz sentido. Como Buddha disse,
você é o que você foi, e o que você virá
a ser é o que faz agora. É mais importante
viver uma vida digna do que acreditar em reencarnação.
A
abertura do Coração e da mente permitirá que a visão
correta possa surgir, ajudando a preparar as pessoas para a vida e para
a morte.
Quando
as pessoas estão morrendo, a pergunta principal é se suas
vidas tiveram sentido. Portanto, estudar a morte é uma forma de se
preparar para a vida. Quando você analisa a realidade de perto, descobre
que a vida é uma série de pequenas mortes, cada uma delas
oferecendo a oportunidade de aprender o deixar ir, o desapego. Por negligenciarmos
isto, o assunto morte adquiriu tons mórbidos. Sua Santidade, o Dalai
Lama, disse que, para ele, a
morte parece tão natural como trocar uma roupa velha.
Mas, precisamos ser realistas. Somente dizer que aceitamos a morte não
é suficiente, precisamos aceitá-la em nosso Coração
e nos libertarmos do apego a esta vida. Algumas pessoas percebem este processo
de modo muito superficial.
A
destruição do ambiente ocorre porque nós não
percebemos a preciosidade de todas as vidas. Muito poucas pessoas vivem
com a constante consciência de que suas ações têm
conseqüências. Se não levarmos a morte a sério,
nós nos tornaremos irresponsáveis e egoístas com relação
à vida. Nós precisamos cuidar de nós mesmos e, se não
o fizermos, também não seremos atenciosos com o Planeta. Padmasambava
dizia que não são
os tempos que são ruins, são as pessoas.
Não
importa o quanto vivamos, mas o quão bem possamos viver. O que formos
nesta vida é o que seremos na próxima.
Carma
é simplesmente a justiça natural.
Horror
de Mudar
Não
gostamos de meditar
porque
nos aterrora mudar.
—
O pé-de-alferes 'est très bon'.
E quando o motel dá 'bonbon'...
Dorme
o dia, surge a noite...
E é
sempre o mesmo açoite.
Nasce
a vida, vem a morte...
E contamos
com dona sorte.
Não
há sorte nem há azar;
a indiferença
precisa mudar.
Os construtores
somos nós.
Medo
de se olhar de frente?
Cagaço
de pegar no batente?
Sentado,
expectativar o após?
O
após poderá ser de lascar!
______
Notas:
1. Phowa
é um método Budista Vajrayana por meio do qual a consciência
de uma pessoa é intencionalmente transferida para um reino puro no
momento da morte. O treinamento de Phowa
transforma a aproximação da morte em uma oportunidade única
para se obter liberação da existência cíclica,
em vez de uma experiência de medo e incerteza. Em
resumo, Phowa
é a meditação
do morrer consciente.
2. Respeitosamente,
discordo de Sogyal Rinpoche. O carma dos nossos pecados,
das nossas emoções destrutivas e dos nossos bloqueios não
pode ser purificado e, muito menos, removido. Isto não é um
arquivo de computador que possa ser deletado. Ninguém poderá
ser
perdoado por todo o dano que possa ter pensado ou causado. Nem
por mágica nem pela fé. Se fosse assim, a coisa seria muito
fácil. Ao contrário: tudo deverá ser devidamente compensado,
e só nos libertaremos do samsara
(perambulação: fluxo incessante de renascimentos educativos
através dos mundos) pela compreensão auto-educativa. Não
há outro caminho. No Catolicismo, existe a confissão, a reconciliação,
o sacramento da penitência ou o sacramento do perdão, que é
um sacramento que envolve a remissão de pecados perante um padre
(presbítero) ou bispo, que, atuando em nome de Cristo, perdoa as
faltas confessadas e dá uma penitência (reparação
de danos causados pelo pecado). É praticado na Igreja Católica,
na Igreja Ortodoxa e em algumas comunidades religiosas da Igreja Anglicana.
Em trabalho anterior, já comentei a origem deste sacramento, mas,
insisto que tanto nas Doutrinas Secretas de Jesus quanto no Pistis
ShOPhIa (que relata os ensinamentos Gnósticos de Jesus)
nada há que ampare esta esdruxulice. Como o limbo, o sacramento do
perdão foi inventado a
posteriori, o que aumentou tremendamente o poder eclesial, mas
não tem o menor valor espiritual. Poderá doer, mas, tudo deverá
ser devidamente compensado.
3. Ora,
convenhamos: abrir
mão do apego e da aversão não
é uma coisa para ser feita na hora morte. Isto deve acontecer em
vida, durante a vida. Deixar isto para a última hora, praticamente,
não adianta nada.
4. Aqui,
torno a lembrar o Triângulo da Saúde: bons pensamentos, muita
água e alegria (bom humor).
5. Nesta
matéria, como em qualquer outra, não se trata de fé
autêntica.
Fé, autêntica
ou não, nunca resolveu nada, não resolve e não resolverá;
só ilude e retarda. Ou se compreende como as coisas são ou
teremos a maior surpresa do lado de lá. Mas, pior do que surpresa
são certas impossibilidades que poderão acontecer, já
que, por exemplo, a reencarnação – já disse isto
muitas vezes – não é uma coisa automática, que
aconteça de qualquer jeito, queiramos ou não. A coisa não
é assim. Até para reencarnar precisamos merecer, porque reencarnar
para ficar na mesma não é possível. Aqui, abro um parêntesis,
não para me escusar da franqueza com que trato estes temas, mas,
para dizer que se eu repetisse a lengalenga teológica, seria melhor
que o Website Pax Profundis não existisse. Penso que as
pessoas estejam saturadas de oratórias enfadonhas e monótonas,
e desejem, de alguma forma, um esclarecimento mais concertado sobre estes
assuntos. Para isto, só dizendo como a coisa é, sem usar de
artifícios e sem dourar a pílula.
Mantra
de fundo:
Om
Mani Padme Hum
Interpretação: Deva Premal
Fonte:
http://mp3class.com/mp3-
Aum+mani+padme+hum.html
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.ideafixa.com/hora-de
-massagear-seu-cerebro-mat-lucas
http://www.flickr.com/photos/
thesarahshow/8715901549/
http://pandawhale.com/post/
6670/homer-simpson-gifs
http://dharmanet.no.sapo.pt/
excertos_entrevista_sogyal_rinpoche.html
http://ingridsfreedom.blogspot.com.br/
2011/12/sogyal-rinpoche.html
http://ingridsfreedom.blogspot.com.br/
2011/12/sogyal-rinpoche.html
http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/s/sogyal_rinpoche.html
http://www.quotesdaddy.com/
author/Sogyal+Rinpoche
http://www.goodreads.com/author/
quotes/60281.Sogyal_Rinpoche
http://aulux.webnode.com.br/
news/os-mantras-budistas/
http://cronicasdofrank.blogspot.com.br/
2011_02_01_archive.html
http://www.bugei.com.br/
news/index.asp?id=10571
http://www.encontroespiritual.org/
bleitura/bleitura_vidaconsciencia.html
http://www1.folha.uol.com.br/folha/
publifolha/ult10037u343282.shtml
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http://www.frazz.com.br/
escritor/sogyal_rinpoche/18760
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http://paraserzen.blogspirit.com/
tag/Sogyal+Rinpoche
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http://pt.wikipedia.org/wiki/
Confiss%C3%A3o_(sacramento)
http://www.mandala.com.br/mandala/
produtos_descricao.asp?codigo_produto=82
http://br.answers.yahoo.com/question/
index?qid=20110401164610AAE60fq
http://bodisatva.com.br/sogyal-rinpoche-o-mestre
-que-nos-ensina-a-viver-e-a-morrer-2/
http://umcaminhoparaatransformacaodamente.
wordpress.com/tag/sogyal-rinpoche/
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