Definitivo,
como tudo o que é simples.
Nossa
dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram
sonhadas e não se cumpriram.
Por
que sofremos tanto por amor?
O
certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos
por quê?
Porque
automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas
nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos
os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de
ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por
todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas
livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é
impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar
confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse
interessada em nos compreender.
Sofremos
não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos
não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado
de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas
aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como
aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta
é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!
A
cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da
vida está no amor que não damos, nas forças que não
usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se
do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor
é inevitável. O sofrimento é opcional.
_________
Carlos,
eu lhe peço muitas desculpas,
mas nossas mães não
foram impacientes.
Carlos,
precisamos fazer nossos meas-culpas:
nós é que fomos
pra lá de renitentes.
Carlos,
mil desculpas e perdão.
Mas, será que precisamos
segredar nossas carências?
Carlos,
de Coração para Coração:
nós devemos, isto
sim, transmudar nossas indigências.
Carlos:
não entendi de novo. Duas mil desculpas.
Nossas
mães desinteressadas em nos compreender?
Precisamos
de já hoje fazer nossos meas-culpas
sob pena de se tornar nigérrimo
o nosso vir-a ser.
Carlos,
seja indulgente comigo,
mas o futuro não está
sendo confiscado de nós.
Carlos,
ouça o seu amigo-amigo: