SOBRE O AMOR

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Harvey Spencer Lewis

Harvey Spencer Lewis
(Retrato de autoria do Frater Velado, 2002CE)

 

 

 

 

Introdução

 

 

 

Harvey Spencer Lewis (25 de novembro de 1883 – 2 de agosto de 1939) fundou, nos Estados Unidos, a Ordem Rosacruz – AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosæ Crucis), sendo, de 1915 à 1939, seu primeiro Imperator para este segundo Ciclo Iniciático.

 

Harvey era um homem de múltiplos talentos e de diversas facilidades. Uma destas facilidades era escrever, e seu estilo é mesmo fácil, direto e agradável, ainda que, considerando a época em que divulgou seu pensamento, tenha tido que fazer algumas conciliações periféricas, pois dialetizar com quem desconhece as regras básicas da fidedigna argumentação é mesmo uma missão (quase) impossível, quando não é inútil. Mas, escreveu muito este homem, e, particularmente, no que concerne às monografias oficiais da AMORC ditadas por ele (nas quais não há qualquer conciliação ou subterfúgio), as desistências de alguns membros não são por incompreensão do texto, mas porque, basicamente, foram em busca de algo que a Ordem não pode dar, e, claro, não encontraram. Mas, pensando melhor, a Ordem não pode dar nada porque nada pode ser dado. Ou cada um conquista o que está ao seu alcance conquistar ou fica na mesma, esperando a banda passar.

 

 

 

 

Amor e Reconhecimento

 

 

 

Um dos escritos de Harvey denomina-se Amor e Reconhecimento. A seguir, vou reproduzi-lo, para depois apresentar uns breves comentários.

 

O amor é, sem dúvida, uma emoção divina, embora seja humanamente expressado e concentrado. É a mais sublime de todas as emoções que passam pela consciência humana.

 

O amor, em sua plenitude, é a suprema dádiva de Deus ao homem. Ele se constitui na bênção final e característica concedida à última e maior criação de Deus – o homem. Foi o amor que fez do homem uma imagem do seu Criador, e o tornou ímpar no Universo. O amor constitui a ligação eterna, indestrutível, do homem com Deus.

 

Nas espécies inferiores do reino animal, percebemos sentimentos de afeição ou estima compreensiva. Mas estes sentimentos não se assemelham, em essência ou efeito, ao sentimento de amor de que a consciência humana é capaz.

 

O cão, o cavalo e outros animais domésticos desenvolvidos podem expressar simpatia, estima, lealdade e companheirismo em alto grau. São emoções que provêm do raciocínio elementar ou de impulsos finitos.

 

 

 

 

O amor, entretanto, provém da intuição cósmica, da inspiração infinita, e raramente está em concordância com o raciocínio finito, do qual jamais se origina.

 

O amor é criativo. Aumenta como decorrência de sua expressão. Não se gasta nem se consome. Amor gera amor. Busca seu próprio poder em todas as partes e sublima-se em sua devoção.

 

O amor cria reações. Aperfeiçoa a pessoa que ama à proporção que sublima o ideal de seu amor. O amor do belo e pelo belo promove maior percepção de tudo aquilo que é belo. O amor pela nobreza da vida transforma esta nobreza em sensação. O amor pelos valores espirituais, nas realizações humanas e universais, imprime o valor espiritual em nossa compreensão.

 

O amor é o poder ilimitado pelo qual o homem pode governar sua vida. É o mesmo poder pelo qual Deus governa o Universo.

 

Temos muito porque expressar gratidão todas as horas e todos os dias de nossa vida. A vida, em si, já é uma rica bênção, herança que é do amor.

 

A saúde precária e a doença do corpo são afastadas pelo poder que nasce do amor infinito, quando permitimos que ele predomine na mente e na consciência. A doença se acentua quando o amor é reprimido. O pecado, a tristeza e o infortúnio manifestam-se como conseqüência do amor reprimido, não-expressado.

 

O que é verdadeiro para o corpo físico também se aplica ao corpo psíquico. O que acontece aos homens acontece às nações. O amor jamais é neutro; é sempre positivo. A ausência do amor permite que se manifestem o ódio, a inveja, o ciúme e o egoísmo.1

 

As calamidades se abatem sobre as nações na proporção em que o amor é reprimido.2 O amor não pode ser restringido e continuar verdadeiro. Auto-suficiência e auto-satisfação são concepções pessoais que expressam um falso amor e geram egoísmo. A falta de consideração é uma negação da expressão do amor. Não agradecer, não mostrar gratidão, é uma retração do poder do amor.

 

A expressão de reconhecimento amplia o horizonte da receptividade. Esta é a Lei da Reciprocidade ou Lei da Compensação.3 A gratidão verdadeira é um impulso de amor. Uma prece de agradecimento revela a expansão da consciência, coloca a alma do homem mais perto de Deus e desperta o amor no Coração dos outros.

 

A maneira mais segura de transmitir paz e felicidade à consciência de uma nação é estimular a ação de graças pelas bênçãos recebidas. O meio mais rápido de promover prosperidade e satisfação nas questões de um povo é enviar ondas de amor para todas as criaturas de Deus.

 

 

 

 

Expressemos nossa gratidão todos os dias, não apenas em determinado dia do ano. Façamos com que o nosso amor se manifeste ilimitadamente e seja dirigido aos povos de todas as nações. Sintamo-nos seguros no Amor Universal Daquele que criou os oceanos e as inúmeras e distantes terras.

 

O mundo está enfermo; seu corpo físico e seu corpo político estão em desarmonia. A dor a tristeza e a adversidade manifestam-se em toda parte. Mas o amor pode vencer estas dissonâncias – o amor verdadeiro, universal, sem preconceitos e livre das distinções raciais.

 

Expressemos reconhecimento pelas dádivas de Luz, de Vida e de Amor. Permitamos que o amor ilumine nossa vida e a vida de nosso semelhante. Envolvamo-nos com uma aura crescente de amor, e dissipemos as sombras da melancolia e da depressão.

 

Uma Lei Universal propiciará a todos os seres a concretização dos seus mais acalentados desejos.

 

Esta lei está em nosso interior.

 

O amor é a Lei.

 

 

 

 

 

 

 

 

Breves Comentários

 

 

 

O que vou comentar a seguir, de forma alguma, pretende corrigir, enfraquecer, acrescentar ou transfigurar o texto de Harvey, ainda que eu não concorde integralmente com algumas passagens do texto, apesar de compreender o porquê de terem sido escritas. Mas não posso deixar de concordar que o amor constitui a ligação eterna, indestrutível, do homem com Deus – com o Deus Interior, ainda em potência ou já em ato, no Coração de cada um de nós. Seja como for, os comentários que farei são uma tentativa, apenas, de, sucintamente, oferecer uma visão mais concernente com o século XXI, coisa que não poderia ter sido feita abertamente no início do século passado. Apenas isto.

 

Talvez, para começar, eu diria que o amor só tem sentido se for categórico, impessoal e isento de qualquer parcialidade. Isto é difícil? Sim, é, Mas, se o amor estiver colorido de qualquer uma destas coisas (e de outras que não citei), poderá ser tudo, menos amor.

 

O mais comum é querermos que o objeto do nosso amor nos ame também, quando este é o caso. É por isto que não conseguimos amar uma pedra. Esta necessidade de reciprocação acaba fazendo do amor um hipotético instrumento de troca. Se você... Então eu... Toma lá... Dá pra cá... Eu faço... Mas você... Todavia, o que é hipotético é efêmero! E há uma diferença fundamental entre amor e paixão, emoções que, usualmente, são tidas como uma só e a mesma. Simplificadamente, eu diria que a paixão opera no âmbito do Corpo Astral, enquanto o amor se manifesta na esfera do Eu Interior.

 

Um outro aspecto, quando acreditamos na existência de um deus, é que queremos que este mesmo deus nos ame e nos proteja, assim como nós, aqui na Terra, o amamos (à nossa maneira) e protegemos aquilo que consideramos sagrado. Outro dia, assistindo a uma reportagem sobre os recentes desastres ambientais que estão assolando o Brasil, ouvi uma pessoa dizendo que foi salva da catástrofe por milagre e pelo amor de Deus. Fiquei a pensar: e os que morreram? Será que este mesmo Deus é ambivalentemente capaz de amar uns e de odiar outros, a ponto, inclusive, de permitir que os malqueridos se afoguem ou sejam soterrados? Como isto pode ser explicado à luz de uma presumida omnipaternidade e de uma desejada omnibenevolência de Deus?

 

E, finalmente, para não ir longe demais, quem ama, no sentido usual do conceito, deixa a gaiola aberta. O amor é incoadunável com qualquer tipo de restrição. Amor que impõe, que ameaça, que delimita, não é amor, é tirania.

 

O objetivo último das nossas peregrinações e das nossas encarnações não é propriamente evolução ou reintegração. É, acima de tudo, a realização consciente e Iniciática, in Corde, da Beleza Universal, do Bem Universal e do Amor Universal. Se isto for sendo paulatinamente realizado, quando finalmente isto for realizado, então, a reboque, mas por mérito, a evolução total e a reintegração completa se manifestarão, tanto quanto a compreensão efetiva e a liberdade absoluta. Ora, isto nada mais é do que o alcançamento irreversível da Paz Profunda. Mas, que se compreenda uma coisa: isto funciona mais ou menos como meta [in]atingível, como ideal utópico a ser perseguido, pois a completude e a perfeição – ou seja, o término desta construção – impõem uma fusão necessária com o Todo-Sempre-Um. Aí, então, seremos o que sempre fomos: Deuses com os Deuses. A questão pendente é: seremos Deuses conscientes ou inconscientes? Como já discuti este tema anteriormente, terminarei aqui este estudo. Paz Profunda!

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. O que acontece aos homens acontece às nações. Nenhuma guerra nasceu do amor; todas, sem exceção, foram engendradas e geradas da desafeição, do desprezo e da indiferença.

2. As calamidades se abatem sobre as nações na proporção em que o amor é reprimido. Mais do que isto: as calamidades e as desarmonias são o resultado retributivo-educativo de egoísmos sucessivos, de abusos generalizados e de imoderações absurdas. Na verdade, tudo isto é cobiça[falta de amor] e falta de amor[cobiça].

 

 

 

 

3. Ou Lei da Retribuição.

 

Bibliografia:

LEWIS, Harvey Spencer. Luz, vida amor. (Mensagens de Harvey Spencer Lewis). 1ª edição. Biblioteca Rosacruz. Ordem Rosacruz, AMORC. Curitiba/Paraná: Grande Loja do Brasil, 1983, pp 307 - 10.

 

Música de fundo:

Love Is A Many Splendored Thing
Música: Sammy Fain
Letra: Paul Francis Webster

Fonte:

http://jackhallmidi.com/thecorner.html

 

Página da Internet consultada:

http://missharleyquinn.wordpress.com
/2007/10/07/266/