Introdução
Harvey
Spencer Lewis (25 de novembro de 1883 – 2 de agosto de 1939) fundou,
nos Estados Unidos, a Ordem Rosacruz – AMORC (Antiga e Mística
Ordem Rosæ Crucis), sendo, de 1915 à 1939, seu primeiro Imperator
para este segundo Ciclo Iniciático.
Harvey
era um homem de múltiplos talentos e de diversas facilidades. Uma
destas facilidades era escrever, e seu estilo é mesmo fácil,
direto e agradável, ainda que, considerando a época em que
divulgou seu pensamento, tenha tido que fazer algumas conciliações
periféricas, pois dialetizar com quem desconhece as regras básicas
da fidedigna argumentação é mesmo uma missão
(quase) impossível, quando não é inútil. Mas,
escreveu muito este homem, e, particularmente, no que concerne às
monografias oficiais da AMORC ditadas por ele (nas quais não há
qualquer conciliação ou subterfúgio), as desistências
de alguns membros não são por incompreensão do texto,
mas porque, basicamente, foram em busca de algo que a Ordem não pode
dar, e, claro, não encontraram. Mas, pensando melhor, a Ordem não
pode dar nada porque nada pode ser dado. Ou cada um conquista o que está
ao seu alcance conquistar ou fica na mesma, esperando a banda passar.
Amor
e Reconhecimento
Um
dos escritos de Harvey denomina-se Amor e Reconhecimento. A seguir,
vou reproduzi-lo, para depois apresentar uns breves comentários.
O
amor é, sem dúvida, uma emoção divina, embora
seja humanamente expressado e concentrado. É a mais sublime de todas
as emoções que passam pela consciência humana.
O
amor, em sua plenitude, é a suprema dádiva de Deus ao homem.
Ele se constitui na bênção final e característica
concedida à última e maior criação de Deus –
o homem. Foi o amor que fez do homem uma imagem do seu Criador, e o tornou
ímpar no Universo. O amor constitui a ligação eterna,
indestrutível, do homem com Deus.
Nas
espécies inferiores do reino animal, percebemos sentimentos de afeição
ou estima compreensiva. Mas estes sentimentos não se assemelham,
em essência ou efeito, ao sentimento de amor de que a consciência
humana é capaz.
O
cão, o cavalo e outros animais domésticos desenvolvidos podem
expressar simpatia, estima, lealdade e companheirismo em alto grau. São
emoções que provêm do raciocínio elementar ou
de impulsos finitos.
O amor, entretanto, provém
da intuição cósmica, da inspiração infinita,
e raramente está em concordância com o raciocínio finito,
do qual jamais se origina.
O amor é criativo. Aumenta
como decorrência de sua expressão. Não se gasta nem
se consome. Amor gera amor. Busca seu próprio poder em todas as partes
e sublima-se em sua devoção.
O
amor cria reações. Aperfeiçoa a pessoa que ama à
proporção que sublima o ideal de seu amor. O amor do belo
e pelo belo promove maior percepção de tudo aquilo que é
belo. O amor pela nobreza da vida transforma esta nobreza em sensação.
O amor pelos valores espirituais, nas realizações humanas
e universais, imprime o valor espiritual em nossa compreensão.
O
amor é o poder ilimitado pelo qual o homem pode governar sua vida.
É o mesmo poder pelo qual Deus governa o Universo.
Temos
muito porque expressar gratidão todas as horas e todos os dias de
nossa vida. A vida, em si, já é uma rica bênção,
herança que é do amor.
A
saúde precária e a doença do corpo são afastadas
pelo poder que nasce do amor infinito, quando permitimos que ele predomine
na mente e na consciência. A doença se acentua quando o amor
é reprimido. O pecado, a tristeza e o infortúnio manifestam-se
como conseqüência do amor reprimido, não-expressado.
O
que é verdadeiro para o corpo físico também se aplica
ao corpo psíquico. O que acontece aos homens acontece às nações.
O amor jamais é neutro; é sempre positivo. A ausência
do amor permite que se manifestem o ódio, a inveja, o ciúme
e o egoísmo.1
As
calamidades se abatem sobre as nações na proporção
em que o amor é reprimido.2
O amor não pode ser restringido e continuar verdadeiro. Auto-suficiência
e auto-satisfação são concepções pessoais
que expressam um falso amor e geram egoísmo. A falta de consideração
é uma negação da expressão do amor. Não
agradecer, não mostrar gratidão, é uma retração
do poder do amor.
A
expressão de reconhecimento amplia o horizonte da receptividade.
Esta é a Lei da Reciprocidade ou Lei da Compensação.3
A gratidão verdadeira é um impulso de amor. Uma prece de agradecimento
revela a expansão da consciência, coloca a alma do homem mais
perto de Deus e desperta o amor no Coração dos outros.
A
maneira mais segura de transmitir paz e felicidade à consciência
de uma nação é estimular a ação de graças
pelas bênçãos recebidas. O meio mais rápido de
promover prosperidade e satisfação nas questões de
um povo é enviar ondas de amor para todas as criaturas de Deus.
Expressemos
nossa gratidão todos os dias, não apenas em determinado dia
do ano. Façamos com que o nosso amor se manifeste ilimitadamente
e seja dirigido aos povos de todas as nações. Sintamo-nos
seguros no Amor Universal Daquele que criou os oceanos e as inúmeras
e distantes terras.
O
mundo está enfermo; seu corpo físico e seu corpo político
estão em desarmonia. A dor a tristeza e a adversidade manifestam-se
em toda parte. Mas o amor pode vencer estas dissonâncias – o
amor verdadeiro, universal, sem preconceitos e livre das distinções
raciais.
Expressemos
reconhecimento pelas dádivas de Luz, de Vida e de Amor. Permitamos
que o amor ilumine nossa vida e a vida de nosso semelhante. Envolvamo-nos
com uma aura crescente de amor, e dissipemos as sombras da melancolia e
da depressão.
Uma
Lei Universal propiciará a todos os seres a concretização
dos seus mais acalentados desejos.
Esta
lei está em nosso interior.
O
amor é a Lei.
Breves
Comentários
O
que vou comentar a seguir, de forma alguma, pretende corrigir, enfraquecer,
acrescentar ou transfigurar o texto de Harvey, ainda que eu não concorde
integralmente com algumas passagens do texto, apesar de compreender o porquê
de terem sido escritas. Mas não posso deixar de concordar que o
amor constitui a ligação eterna, indestrutível, do
homem com Deus – com o Deus Interior, ainda em potência
ou já em ato, no Coração de cada um de nós.
Seja como for, os comentários que farei são uma tentativa,
apenas, de, sucintamente, oferecer uma visão mais concernente com
o século XXI, coisa que não poderia ter sido feita abertamente
no início do século passado. Apenas isto.
Talvez,
para começar, eu diria que o amor só tem sentido se for categórico,
impessoal e isento de qualquer parcialidade. Isto é difícil?
Sim, é, Mas, se o amor estiver colorido de qualquer uma destas coisas
(e de outras que não citei), poderá ser tudo, menos amor.
O mais comum é querermos que
o objeto do nosso amor nos ame também, quando este é o caso.
É por isto que não conseguimos amar uma pedra. Esta necessidade
de reciprocação acaba fazendo do amor um hipotético
instrumento de troca. Se você... Então eu... Toma lá...
Dá pra cá... Eu faço... Mas você... Todavia,
o que é hipotético é efêmero! E há uma
diferença fundamental entre amor e paixão, emoções
que, usualmente, são tidas como uma só e a mesma. Simplificadamente,
eu diria que a paixão opera no âmbito do Corpo Astral, enquanto
o amor se manifesta na esfera do Eu Interior.
Um
outro aspecto, quando acreditamos na existência de um deus, é
que queremos que este mesmo deus nos ame e nos proteja, assim como nós,
aqui na Terra, o amamos (à nossa maneira) e protegemos aquilo que
consideramos sagrado. Outro dia, assistindo a uma reportagem sobre os recentes
desastres ambientais que estão assolando o Brasil, ouvi uma pessoa
dizendo que foi salva da catástrofe por milagre e pelo amor de Deus.
Fiquei a pensar: e os que morreram? Será que este mesmo Deus é
ambivalentemente capaz de amar uns e de odiar outros, a ponto, inclusive,
de permitir que os malqueridos se afoguem ou sejam soterrados? Como isto
pode ser explicado à luz de uma presumida omnipaternidade e de uma
desejada omnibenevolência de Deus?
E,
finalmente, para não ir longe demais, quem ama, no sentido usual
do conceito, deixa a gaiola aberta. O amor é incoadunável
com qualquer tipo de restrição. Amor que impõe, que
ameaça, que delimita, não é amor, é tirania.
O
objetivo último das nossas peregrinações e das nossas
encarnações não é propriamente evolução
ou reintegração. É, acima de tudo, a realização
consciente e Iniciática, in
Corde,
da Beleza Universal, do Bem Universal e do Amor Universal. Se isto for sendo
paulatinamente realizado, quando finalmente isto for realizado, então,
a reboque, mas por mérito, a evolução total e a reintegração
completa se manifestarão, tanto quanto a compreensão efetiva
e a liberdade absoluta. Ora, isto nada mais é do que o alcançamento
irreversível da Paz Profunda. Mas, que se compreenda uma coisa: isto
funciona mais ou menos como meta [in]atingível, como ideal utópico
a ser perseguido, pois a completude e a perfeição –
ou seja, o término desta construção – impõem
uma fusão necessária com o Todo-Sempre-Um. Aí, então,
seremos o que sempre fomos: Deuses com os Deuses. A questão pendente
é: seremos Deuses conscientes ou inconscientes? Como já discuti
este tema anteriormente, terminarei aqui este estudo. Paz Profunda!
______
Notas:
1.
O
que acontece aos homens acontece às nações.
Nenhuma guerra nasceu do amor; todas, sem exceção, foram engendradas
e geradas da desafeição, do desprezo e da indiferença.
2. As
calamidades se abatem sobre as nações na proporção
em que o amor é reprimido. Mais do que isto: as calamidades
e as desarmonias são o resultado retributivo-educativo de egoísmos
sucessivos, de abusos generalizados e de imoderações absurdas.
Na verdade, tudo isto é cobiça[falta
de amor] e falta de amor[cobiça].
3.
Ou Lei da Retribuição.
Bibliografia:
LEWIS,
Harvey Spencer.
Luz, vida amor. (Mensagens de Harvey Spencer Lewis). 1ª
edição. Biblioteca Rosacruz. Ordem Rosacruz, AMORC. Curitiba/Paraná:
Grande Loja do Brasil, 1983, pp 307 - 10.
Música
de fundo:
Love
Is A Many Splendored Thing
Música: Sammy Fain
Letra: Paul Francis Webster
Fonte:
http://jackhallmidi.com/thecorner.html
Página
da Internet consultada:
http://missharleyquinn.wordpress.com
/2007/10/07/266/