Não
posso ver mérito algum em se ter vergonha da sexualidade.
Um
fortalecimento do intelecto tende a dominar a nossa vida instintiva.
Os
sonhos são absolutamente egoístas.
As
pessoas não querem que se lhes dêem lições. É
por isto que não compreendem as coisas mais simples. No dia em que
o quiserem, verificar-se-á que são capazes de compreender
também as coisas mais complicadas. Até lá, as instruções
são: continuar a trabalhar, discutir o menos possível. Com
efeito, só poderíamos dizer a um indivíduo: você
é um imbecil. A outro: você é um patife. E há
boas razões que excluem a realização expressiva de
tais convicções. Sabemos, de resto, que estamos diante de
pobres diabos, que receiam por um lado chocar, prejudicar as suas carreiras
e que, por outro lado, se encontram acorrentados pelo medo do que está
recalcado neles próprios. Teremos de esperar que todos eles morram
ou se tornem lentamente minoritários. De qualquer maneira, o que
acontece de fresco e de novo é a nós que pertence.
Quando
a criança cresceu e abandonou os seus jogos, quando durante anos
se esforçou psiquicamente por agarrar as realidades da vida com a
seriedade desejada, pode acontecer que, um dia, se encontre de novo em uma
disposição psíquica que volta a apagar esta oposição
entre o jogo e a realidade. O homem adulto lembra-se da grande seriedade
com que se entregava aos jogos infantis, e acaba por comparar as suas graves
ocupações, por assim dizer,
com estes jogos dos tempos da infância: liberta-se, então,
da opressão demasiado pesada da vida, e conquista a fruição
superior do humor.
Não,
nossa ciência não é uma ilusão. Ilusão
seria imaginar que aquilo que a ciência não nos pode dar podemos
conseguir em outro lugar.
Na verdade, não sou de forma
alguma um homem de ciência, nem um observador, nem um experimentador,
nem um pensador. Sou, por temperamento, nada mais do que um conquistador
– um aventureiro, em outras palavras
– com toda a curiosidade,
ousadia e tenacidade características desse tipo de homem.
Religião seria assim a neurose
obsessiva universal da Humanidade, tal como a neurose obsessiva das crianças,
que decorre do Complexo de Édipo,1
na relação com o pai.
Nunca
fui capaz de responder à grande pergunta: o que uma mulher quer?
Privamo-nos
para mantermos a nossa integridade, poupamos a nossa saúde, a nossa
capacidade de gozar a vida, as nossas emoções, guardamo-nos
para alguma coisa sem sequer sabermos o que essa coisa é. E este
hábito de reprimirmos constantemente as nossas pulsões naturais
é que faz de nós seres tão refinados. Porque não
nos embriagamos? Porque a vergonha e os transtornos das dores de cabeça
fazem nascer um desprazer mais importante que o prazer da embriaguez. Porque
não nos apaixonamos todos os meses de novo? Porque, por altura de
cada separação, uma parte dos nossos corações
fica desfeita. Assim, esforçamo-nos mais por evitar o sofrimento
do que na busca do prazer.
Nós
poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser
tão bons.2
Somos
feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro.
Penso que um excesso de decretos
e de interditos prejudica a autoridade da lei. Podemos observá-lo:
onde existem poucas proibições, estas são obedecidas;
onde a cada passo se tropeça em coisas proibidas, sente-se rapidamente
a tentação de as infringir. Além disto, não
é preciso se ser anarquista para se ver que as leis e os decretos,
do ponto de vista da sua origem, não gozam de qualquer caráter
sagrado ou invulnerável. Por vezes são pobres de conteúdo,
insuficientes, ofensivas ao nosso sentido de justiça, ou nisso se
tornam com o tempo, e, então, dada à inércia geral
dos dirigentes, não resta outro meio de corrigir estas leis caducas
senão infringi-las de boa vontade! Para mais, é prudente,
quando se pretende manter o respeito por leis e decretos, não promulgar
senão aqueles cuja observação ou infração
possam ser facilmente controladas.
A
Humanidade progride. Hoje, queimam meus livros; séculos atrás,
teriam queimado a mim.
O
sonho é a satisfação de que o desejo se realize.
Pense-se,
por exemplo, na relação que existe entre o bebedor e o vinho.
Não é verdade que o vinho oferece sempre ao bebedor a mesma
satisfação tóxica, que a poesia tem comparado com freqüência
à satisfação erótica – comparação,
de resto, aceitável do ponto de vista científico? Já
alguma vez se ouviu dizer que o bebedor fosse obrigado a mudar sem descanso
de bebida porque se cansaria rapidamente de uma bebida que permanecesse
a mesma? Pelo contrário, a habituação estreita cada
vez mais o laço entre o homem e a espécie de vinho que ele
bebe. Existirá no bebedor uma necessidade de partir para um país
onde o vinho seja mais caro ou o seu consumo proibido, a fim de estimular
por meio de semelhantes obstáculos a sua satisfação
decrescente? De modo nenhum. Basta escutarmos o que dizem os nossos grandes
alcoólicos, como Bócklin, da sua relação com
o vinho: evocam a harmonia mais pura como que um modelo de casamento feliz.
Porque a relação do amante com o seu objeto sexual será
tão diferente?
Qualquer
coisa que encoraje o crescimento de laços emocionais tem que servir
contra as guerras.
Um homem que está livre da
religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal
e completa.
Diz-se
que quem modifica de tempos a tempos as suas idéias não merece
qualquer confiança, porque faz supor que as suas últimas afirmações
são tão errôneas como as anteriores. E, por outro lado,
quem mantém as suas primeiras idéias
e não as abandona facilmente, passa por teimoso e iludido. Perante
estes dois juízos opostos da crítica, há só
uma opção a fazer: permanecer aquilo que se é e seguir
apenas o próprio juízo.
A
religião é comparável a uma neurose da infância.
É
inútil alongar-me demoradamente sobre a importância da autoridade.
São muito poucas as pessoas civilizadas capazes de uma existência
perfeitamente autônoma ou tão-só de juízo independente.
Não nos é possível representar, em toda a sua amplitude,
a necessidade de autoridade e a fraqueza interior dos seres humanos.
A
inteligência é o único meio que possuímos para
dominar os nossos instintos.
A renúncia progressiva dos
instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização
humana.
Sejam quais forem os sentimentos
e os interesses humanos, o intelecto é, também ele, uma força.
Esta não consegue prevalecer imediatamente, mas, por fim, os seus
efeitos se revelam ainda mais peremptórios. A verdade que mais fere
acaba sempre por ser notada e por se impor, assim que os interesses que
lesa e as emoções que suscita tenham esgotado a sua virulência.
É
escusado sonhar que se bebe; quando a sede aperta, é preciso acordar
para beber.
Os
poetas e os romancistas são aliados preciosos, e o seu testemunho
merece a mais alta consideração, porque eles conhecem, entre
o céu e a Terra, muitas coisas que a nossa sabedoria escolar nem
sequer sonha ainda. São, no conhecimento da alma, nossos mestres,
que somos homens vulgares, pois bebem de fontes que não se tornaram
ainda acessíveis à ciência.
Sob
a máscara do esquecimento e do equívoco, invocando como justificação
a ausência de más intenções, os homens expressam
sentimentos e paixões cuja realidade seria bem melhor, tanto para
eles próprios como para os outros, que confessassem a partir do momento
em que não estão à altura de os dominar.
Os
judeus admiram mais o espírito do que o corpo. A escolher entre os
dois, eu colocaria em primeiro lugar a inteligência.
O
pensamento é o ensaio da ação.
Não
posso conceber uma vida sem trabalho como verdadeiramente aprazível;
para mim, viver através da imaginação e trabalhar significam
a mesma coisa; nada mais me contenta. Seria a receita da felicidade, se
não fosse o pensamento horrível de que a produtividade depende
por completo de uma disposição aleatória; que poderemos,
com efeito, empreender no decurso de um dia ou de um período em que
as idéias se recusam e as palavras não querem se alinhar?
Todo
o trabalho sistemático é incompatível com os meus dons
e as minhas tendências. Todos os meus estímulos resultam das
impressões que recebo em contato com os meus doentes.
Em
grande parte, a
nossa civilização é responsável
pelas nossas desgraças. Seríamos muito mais felizes se a abandonássemos
e retornássemos às condições primitivas.3
É
quase impossível conciliar as exigências do instinto sexual
com as da civilização.
As pessoas estarão sempre
prontamente inclinadas a incluir entre os predicados psíquicos de
uma cultura os seus ideais, ou seja, as suas estimativas a respeito de que
realizações são mais elevadas e em relação
às quais se devem fazer esforços por atingir. Parece, a princípio,
que estes ideais determinam as realizações da unidade cultural;
contudo, o curso real dos acontecimentos parece indicar que os ideais se
baseiam nas primeiras realizações que foram tornadas possíveis
por uma combinação entre os dotes internos da cultura e as
circunstâncias externas, e que estas primeiras realizações
são então erigidas pelo ideal como algo a ser levado avante.
A satisfação que o ideal oferece aos participantes da cultura
é, portanto, de natureza narcisística; repousa no seu orgulho
pelo que já foi alcançado com êxito. Tornar esta satisfação
completa exige uma comparação com outras culturas que visaram
realizações diferentes e desenvolveram ideais distintos. É
a partir da intensidade destas diferenças que toda a cultura reivindica
o direito de olhar com desdém para o resto. Deste modo, os ideais
culturais se tornam fonte de discórdia e de inimizades entre unidades
culturais diferentes, tal como se pode constatar claramente no caso das
nações.
Se
o desenvolvimento da civilização é tão semelhante
ao do indivíduo, e se usa os mesmos meios, não teríamos
o direito de diagnosticar que muitas civilizações ou épocas
culturais – talvez até a Humanidade inteira –
se tornaram neuróticas sob a influência
do seu esforço de civilização?
O
Estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores,
não porque deseje aboli-los, mas, sim, porque quer monopolizá-los.
A
felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é
válido. Cada um deve procurar, por si, se tornar feliz.
Não
posso imaginar que uma vida sem trabalho seja capaz de trazer qualquer espécie
de conforto. Para
mim, a imaginação criadora e o trabalho andam
de mãos dadas; não retiro prazer de nenhuma outra coisa.
O
homem enérgico e que é bem sucedido é o que consegue
transformar em realidades as fantasias do desejo.
A
sede de conhecimento parece ser inseparável da curiosidade sexual.
Se
quiseres poder suportar a vida, deves te preparar para aceitar a morte.
Nenhum ser humano é capaz
de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos.
O
objetivo para o qual o princípio do prazer nos impele – o de
nos tornarmos felizes –
não é atingível;
contudo, não podemos, ou melhor, não temos o direito de desistir
do esforço da sua realização de uma maneira ou de outra.
Caminhos muito diferentes podem ser seguidos para isto. Alguns se dedicam
ao aspecto positivo do objetivo, o atingir do prazer; outros o negativo,
o evitar da dor. Por nenhum destes caminhos conseguimos atingir tudo o que
desejamos. Naquele sentido modificado em que vimos que era atingível,
a felicidade é um problema de gestão da libido em cada indivíduo.
Não há uma receita soberana nesta matéria que sirva
para todos; cada um deve descobrir por si qual o método através
do qual poderá alcançar a felicidade. Toda a espécie
de fatores irá influenciar a escolha. Depende da quantidade de satisfação
real que ele irá encontrar no mundo externo, e até onde acha
necessário se tornar independente dele. Por fim, na confiança
que tem em si próprio do seu poder de modificar conforme os seus
desejos. Mesmo nesta fase, a constituição mental do indivíduo
tem um papel decisivo, para além de quaisquer considerações
externas. O homem que é predominantemente erótico irá
escolher em primeiro lugar relações emocionais com os outros;
o tipo narcisista, que é mais auto-suficiente, procurará a
sua satisfação essencial no trabalho interior da sua alma;
o homem de ação nunca abandonará o mundo externo no
qual pode experimentar o seu poder.
Podemos
nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio.
Não somos apenas o que pensamos
ser. Somos mais. Somos também o que lembramos e aquilo de que nos
esquecemos. Somos
as palavras que trocamos, os enganos que cometemos e os
impulsos a que cedemos sem querer.
O
eremita volta as costas a este mundo; não quer ter nada a ver com
ele. Mas podemos fazer mais do que isto; podemos tentar recriá-lo,
tentar construir um outro em vez dele, no qual os componentes mais insuportáveis
são eliminados e substituídos por outros que correspondam
aos nossos desejos. Quem, por desespero ou desafio, parte por este caminho,
por norma, não chegará muito longe; a realidade será
demasiado forte para ele. Torna-se louco, e normalmente não encontra
ninguém que o ajude a levar a cabo o seu delírio. Diz-se,
contudo, que todos nós nos comportamos em alguns aspectos como paranóicos,
substituindo pela satisfação de um desejo alguns aspectos
do mundo que nos são insuportáveis, transportando o nosso
delírio para a realidade. Quando um grande número de pessoas
faz esta tentativa em conjunto e tenta obter a garantia de felicidade e
de proteção do sofrimento através de uma transformação
ilusória da realidade, adquire um significado especial. Também
as religiões devem ser classificadas como delírios em massa
deste gênero. Escusado será dizer que ninguém que participa
em um delírio o reconhece como tal.
A
popularização leva à aceitação superficial
sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem
no teatro ou na imprensa. Por exemplo: pensam compreender algo da Psicanálise
porque brincam com seu jargão...
Onde
abundam as dores brotam os licores.
De
erro em erro, vai-se descobrindo toda a verdade.
O
intelecto nunca descansa até conseguir audiência.
É simplesmente o princípio
do prazer que traça o programa do objetivo da vida. Este princípio
domina a operação do aparelho mental desde o princípio;
não pode haver dúvida quanto à sua eficiência,
e, no entanto, o seu programa está em conflito com o mundo inteiro,
tanto com o macrocosmo como com o microcosmo. Não pode simplesmente
ser executado porque toda a constituição das coisas está
contra ele; poderíamos dizer que a intenção de que
o homem fosse feliz não estava incluída no esquema da Criação.
Aquilo a que se chama felicidade, no seu sentido mais restrito, vem da satisfação
– freqüentemente instantânea –
de necessidades reprimidas que atingiram
uma grande intensidade, e que pela sua natureza só podem ser uma
experiência transitória. Quando uma condição
desejada pelo princípio do prazer é protelada, tem como resultado
uma sensação de consolo moderado; somos constituídos
de tal forma que conseguimos ter prazer intenso em contrastes e muito menos
nos próprios estados intensos. As nossas possibilidades de felicidade
são assim limitadas desde o princípio pela nossa formação.
É muito mais fácil ser infeliz. O
sofrimento tem três procedências: o nosso corpo, que está
destinado à decadência e dissolução e nem sequer
pode passar sem a ansiedade e a dor como sinais de perigo; o mundo externo,
que pode se enfurecer contra nós com as mais poderosas e implacáveis
forças de destruição; e, por fim, a relação
com os outros homens. A infelicidade que esta última origina é
talvez a mais dolorosa de todas; temos tendência para a considerar
mais ou menos um suplemento gratuito, embora não possa ser uma fatalidade
menos inevitável do que o sofrimento que provém das outras
fontes. Não é de admirar que, debaixo da pressão destas
possibilidades de sofrimento, a Humanidade esteja habituada a reduzir as
suas exigências de felicidade, nem que o próprio princípio
do prazer se modifique para um princípio da realidade mais acomodado
sob a influência do ambiente externo. Se um
homem se julga feliz, fugiu simplesmente à infelicidade ou
a dificuldades. Em geral, a tarefa de evitar o sofrimento atira para segundo
plano a de obter a felicidade. A reflexão mostra que há várias
formas de tentar cumprir esta tarefa; e todas estas formas foram recomendadas
por várias escolas de sabedoria na arte da vida e postas em prática
pelos homens. A satisfação desenfreada de todos os desejos
impõe-se em primeiro plano como o mais atrativo princípio
orientador da vida, mas implica preferir o gozo à prudência
e penaliza-se depois de uma curta satisfação. Os outros métodos,
nos quais o evitar do sofrimento é o principal motivo, distinguem-se
segundo a fonte de sofrimento contra a qual estão dirigidos. Algumas
destas medidas são extremas e outras moderadas, algumas são
unilaterais e outras tratam vários aspectos do assunto ao mesmo tempo.
A solidão voluntária – o isolamento dos outros –
é a salvaguarda mais rápida contra a infelicidade que possa
surgir das relações humanas. Sabemos o que isto significa:
a felicidade encontrada neste caminho é a da paz. Podemos defender-nos
contra o temido mundo externo, voltando-nos simplesmente para uma outra
direção, se a dificuldade tiver que ser resolvida sem ajuda.
Há, na realidade, um outro caminho melhor: o de cooperar com o resto
da comunidade humana e aceitar o ataque à Natureza, forçando-a
a obedecer à vontade humana. Trabalha-se, então, com todos
para o bem de todos.
Às
vezes, o falso
é a verdade
de cabeça para baixo.
O
instinto de amar um objeto demanda a destreza em obtê-lo. Se uma pessoa
pensa que não consegue controlar o objeto e se sente ameaçada
por ele, ela age contra ele.
Em última análise,
precisamos amar para não adoecer.
Um
dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos
foram aqueles em que mais lutaste.
As criações, obras
de arte, são imaginárias satisfações de desejos
inconscientes, do mesmo modo que os sonhos, e, tanto como eles, são,
no fundo, compromissos, dado que se vêem forçadas a evitar
um conflito aberto com as forças de repressão. Todavia, diferem
dos conteúdos narcisistas, associais, dos sonhos, na medida em que
são destinadas a despertar o interesse em outras pessoas, e são
capazes de evocar e satisfazer os mesmos desejos que nelas se encontram
inconscientes. À parte isto, fazem uso do prazer perceptivo da beleza
formal, aquilo a que chamei prêmio-estímulo. Aquilo que a Psicanálise
foi capaz de fazer consistiu em captar as relações entre as
impressões da vida do artista, as suas experiências causais
e as suas obras e, a partir delas, reconstruir a sua constituição
e os impulsos que se movem dentro dele. Não se deve julgar que o
salaz que procura uma obra de arte se anule pelo conhecimento obtido pela
análise. A este respeito é possível que o profano espere
acaso demasiado da análise, mas deve ser advertido que ela não
esclarece os dois problemas que são, provavelmente, os mais interessantes
para ele: não esclarece quanto à natureza dos dotes do artista
nem pode explicar os meios de que o artista se serve para trabalhar a técnica
artística.
Não
me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância
de uma pessoa do que a necessidade de se sentir protegida por um pai.
A
crença em Deus subsiste devido ao desejo de um pai protetor e aspiração
à imortalidade ou como um ópio contra a miséria e o
sofrimento da existência humana.
Aonde
quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de
mim.
O
caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para
conviver.
A religião é um sistema
de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste
mundo com perfeição invejável, e que, por outro lado,
lhe garantem que uma providência cuidadosa velará por sua vida
e o compensará, em uma existência futura, de quaisquer frustrações
que tenha experimentado aqui. O homem comum só pode imaginar esta
providência sob a figura de um pai ilimitadamente engrandecido. Apenas
um ser deste tipo pode compreender as necessidades dos homens, enternecer-se
com suas preces e apaziguar os sinais de seu remorso. Tudo é
tão patentemente infantil, tão estranho à realidade,
que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação
à Humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais
nunca será capaz de superar esta visão da vida. Mais humilhante
ainda é descobrir como é vasto o número de pessoas
de hoje que não podem deixar de perceber que as religiões
são insustentáveis e, não obstante isso, tentam defendê-las,
item por item, em uma série de lamentáveis atos retrógrados.