Introdução
e Breve Biografia de
Siddhartha Gautama
Em
sânscrito e pali, antigas línguas indianas, a palavra Buddha
significa Illuminado ou Desperto. Em geral, esta palavra se refere
a Siddhartha Gautama –
em sânscrito,
–
também conhecido por Sâkyamuni
ou Buddha (que vem do radical Budh e
que significa Desperto
ou Illuminado).
Em chinês, o equivalente é Fo; em coreano, Bul;
em japonês, Butsu; e em tibetano, Sangye.
O
Budismo é uma religião/filosofia baseado nas escrituras e
na tradição leiga e monástica iniciadas na Índia
por Siddhartha Gautama, o Buddha
histórico, que
viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. Da Índia,
o Budismo se espalhou através
da Ásia, Ásia Central, Tibete, Sri Lanka (antigo Ceilão)
e Sudeste Asiático, como também para países do Leste
Asiático, incluindo China, Myanmar,
Coréia, Vietname e Japão. Hoje, o Budismo encontra-se em quase
todos os países do mundo, amplamente divulgado pelas diferentes escolas
budistas, e conta com cerca de 376 milhões de seguidores.
Na
filosofia budista, Buddhas são todos aqueles que despertaram
plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos e se puseram a
divulgar tal (re)descoberta aos demais seres. A verdadeira-(relativa) natureza
dos fenômenos, aqui, quer dizer o entendimento de que todos os fenômenos
são impermanentes, insatisfatórios e impessoais, ainda que
prevaleça o fato de o Cósmico ser inconsciente de si (existência),
de sua natureza (qualidades) e de sua funcionalidade (leis que o regulam).
O ser-no-mundo, ao se tornar consciente destas características
da atualidade-realidade cósmica, poderá, presumidamente, viver
de maneira relativamente plena e relativamente
livre dos condicionamentos mentais
que causam a insatisfação, o descontentamento e o sofrimento.
Assim sendo, do ponto de vista da doutrina budista clássica, a palavra
Buddha denota não apenas um mestre religioso que viveu em
uma época em particular, mas toda uma categoria de seres illuminados
que alcançaram (e que continuam a alcançar) tal realização
espiritual.
O
Budismo reconhece três tipos de Buddha, dentre os quais o
termo Buddha é normalmente reservado para o primeiro tipo,
o Samyaksam-Buddha (em pali, Samma-Sambuddha).
A realização do Nirvana é exatamente a mesma,
mas um Samyaksam-Buddha
expressa mais qualidades e capacidades do que as outras duas. Atualmente,
as referências ao Buddha
referem-se, em geral, a Siddhartha Gautama, mestre
religioso e fundador do Budismo, no século VI antes de Cristo. Ele
seria, portanto, o último Buddha
de uma linhagem de antecessores, cuja história praticamente se perdeu
no tempo. Conta a história, que Ele atingiu a Illuminação
durante uma meditação sob a árvore Bodhi,
quando mudou seu nome para Buddha,
que, como já foi visto, quer dizer Illuminado
ou Desperto. Ao se dar esta Illuminação,
o Senhor Buddha compreendeu: Em miríades de nascimentos
vaguei na existência cíclica, antes de descobrir o verdadeiro
conhecimento. À procura do construtor desta casa, cada novo nascimento
trazendo mais sofrimento. Agora conheço você, construtor desta
casa! Você não mais me aprisionará. Demoli o seu topo
e destruí a sua estrutura até o chão. A consciência
entrou naquele estado incondicionado, o final definitivo da sede do desejo...
As coisas a serem entendidas foram entendidas, as coisas a serem cultivadas
foram cultivadas, as coisas a serem erradicadas foram erradicadas –
portanto, brâmane, eu sou o Buddha.
Ele
é chamado Senhor Abençoado (sânscrito: Bhagavan;
pali Bhagava) por ter derrotado os quatro demônios e por
ter sido (e ser) contemplado com as maiores venturas.
Ele
é chamado Aquele Que Foi Assim (sânscrito e pali: Tathagata)
porque alcançou a compreensão da realidade das coisas ou porque
tudo é exatamente como ele disse e não de outra forma.
Ele
é chamado Vencedor do Inimigo (sânscrito: Arhat; pali:
Arahant) porque derrotou o inimigo das aflições mentais
ou porque é digno de ser homenageado por meio de oferendas e de veneração.
Ele
é chamado Plenamente Illuminado (sânscrito: Samyaksambuddha;
pali: Sammasambuddha) porque compreendeu todas as coisas de forma
verdadeira e infalível.
Ele
é chamado Dotado de Conhecimento e de seu Fundamento (sânscrito:
Vidyacaranasampanna; pali: Vijjacaranasampanna) porque
possui Sabedoria acompanhada de seu fundamento, pois Ele possui moralidade
e concentração mental, nas quais se baseia a Sabedoria.
Ele
é chamado Bem-sucedido (sânscrito e pali: Sugata)
porque alcançou o Estado Sublime, e, ainda, porque Dele não
decairá.
Ele
é chamado Conhecedor do Mundo (sânscrito e pali: Lokavidu)
porque, ao compreender a natureza dos doze elos do surgimento interdependente,
conhece, com exatidão, o mundo dos seres sencientes e, ao entender
a origem da Terra, das montanhas e assim por diante – ao conhecer
todas as regiões, suas dimensões e assim por diante –
Ele conhece com exatidão o mundo físico externo.
Ele
é chamado Líder Insuperável dos Disciplináveis
(sânscrito: Anuttarapurusadamyasarathi; pali: Anuttaropurisadamasarathi)
por estas razões.
Ele
é
chamado Mestre dos Deuses e dos Homens (sânscrito: Sastadevamanusyanam;
pali: Sattadevamanussanam) porque o contingente principal de discípulos
é composto por deuses e por homens, ambos recipientes adequados para
o Caminho da Liberação, e porque o Buddha lhes ensina
o Dharma de acordo com as aspirações deles.
Ele
é chamado Desperto (sânscrito e pali: Buddha) porque
acordou do sono da ignorância, e também porque sua mente se
expandiu até o ponto em que abarca todos os objetos de conhecimento.
...............................................
Conta-se
que, logo após Sua Illuminação, o Senhor Buddha
passou por um homem em um caminho que estava perplexo pelo extraordinário
esplendor e pela calma de Sua Santa Presença.
O homem
parou e perguntou:
—
Meu amigo, quem é você? Você é um ser celestial
ou um deus?
—
Não; não sou um ser celestial nem um deus —
disse o Senhor Buddha.
—
Bem, então, será que você é algum tipo de
mágico ou mago?
Novamente,
o Buddha respondeu: — Não sou nem mágico
nem mago.
—
Você é um homem?
—
Também não sou um homem.
—
Bem, meu amigo, então, afinal, quem você é?
O Buddha
respondeu: — Eu sou um Desperto.
...............................................
Os
relatos tradicionais sobre Sâkyamuni, o Buddha histórico,
geralmente dividem sua vida em oito ou doze grandes atos. Estes atos teriam
sido realizados não apenas por ele, mas por todos os seres Illuminados
do passado. Da mesma forma, diz-se que estes atos serão realizados
por todos os seres Illuminados do futuro. São eles:
1º
- existir no paraíso divino de Tusita, sua penúltima
morada;
2º
- descer de Tusita para o continente de Jambudvipa (pali
Jambuvipa), em nosso mundo;
3º
- durante um sonho, entrar no ventre de sua mãe como um elefante;
4º
- nascer como um guerreiro ou um brâmane, dando sete passos em cada
direção;
5º
- ter proficiência nas artes mundanas como escrita, matemática
e arco-e-flecha;
6º
- engajar-se nos esportes, desfrutar de consortes, casar-se e viver em palácios;
7º
- abandonar a vida de príncipe, deixar o lar e se auto-ordenar como
um monge errante;
8º
- praticar as austeridades do ascetismo;
9º
- à noite, derrotar as hostes de Mâra1,
o demônio da ignorância;
10º
- pela manhã, atingir a Illuminação ou despertar;
11º
- girar a roda do Dharma (em pali, Dhamma), isto é,
dar ensinamentos;
12º
- alcançar a liberação final.
Os
três ensinamentos básicos do Budismo são: evitar o mal,
fazer o bem e cultivar a própria mente. O objetivo-mor é o
fim do ciclo de sofrimento, samsara, despertando no praticante
o entendimento da realidade última – o Nirvana. A
moral budista é baseada nos princípios de preservação
da vida e moderação. O treino mental está focado na
disciplina moral, na concentração meditativa e na sabedoria.
No
Budismo, Nirvana – literalmente extinção
–
é o culminar da busca budista
pela libertação. De acordo com a concepção budista,
o Nirvana é, triplamente, a superação do apego
aos sentidos, a derrota
da ignorância
e a ultrapassagem da existência física, que é pura ilusão.
Siddhartha descreveu o Budismo como uma jangada que, após
atravessar um rio, permite ao passageiro alcançar o Nirvana.
O Hinduísmo também usa a palavra Nirvana como um
sinônimo para sua compreensão de moksha (libertação
do ciclo do renascimento e da morte). Aparece, também, em vários
textos hindus tântricos, bem como na Bhagavad Gita. Os conceitos
hindus e budistas de Nirvana não devem ser considerados
equivalentes. Nirvana, no Budismo, é o ápice, o auge,
ou seja, é o ponto mais alto de meditação, no qual
o Eu Interno se liberta temporariamente do corpo físico,
sem perda de consciência e sem, entretanto, abandoná-lo, o
que só ocorre na morte ou transição.
Objetivo do Texto
Este
estudo pretendeu revisitar e listar alguns ensinamentos budistas divulgados
há mais ou menos 2.500 anos pelo Senhor Buddha. A importância
deste estudo – e de outros semelhantes que têm sido divulgados
tanto na Ordo
Illuminati Ægyptorum
quanto no Website
Pax Profundis
– é ancorada, principalmente, no fato de que, geralmente, religiosos
e místicos desconhecem ou têm pouco interesse pelo que é
ensinado fora de suas religiões ou fraternidades. Também penso
que seja interessante cotejar princípios religiosos e místicos,
não só no sentido de estabelecer uma comparação
entre estes mesmos princípios, mas também para conhecer o
que disseram e pensaram os seres illuminados do passado. Isto é
relevante por dois motivos: 1º) a verdade, por ser relativa, pode (e
deve) ser atualizada; e 2º) não há dois illuminados
que tenham dito a mesma coisa ou, em outras palavras, cada um trouxe sua
visão-interpretação do Todo-Um de uma maneira educativa
particular, provocando, com isso, uma espécie de complementaridade
religiosa ou mística, entretanto, sempre dialética. Basta
que sejam comparados três momentos do espargimento da Santa LLuz
– Budismo, Cristianismo e Islamismo – que embutem mensagens
distintas, mas tendentes à incriada Unidade cósmica, desde
sempre idêntica a si mesma.
Mas,
como não poderia deixar de ser, devo fazer duas advertências:
1ª) este trabalho está incompletíssimo; mais teve o objetivo
de apresentar alguns princípios budistas para quem nada leu sobre
o assunto; e 2ª) como não sou budista, é possível
que um ou outro erro (ou equívoco) apareçam (involuntariamente)
neste estudo. Por isto, humildemente peço perdão. E assim,
obviamente, o objetivo maior do trabalho é o de estimular uma pesquisa
pessoal sobre o tema.
Os
Ensinamentos do Senhor Buddha
As
Quatro Nobres Verdades Budistas são:
1ª
- A Nobre Verdade do Sofrimento (Dukha Satya)
Nascimento
é sofrimento; doença é sofrimento; morte é sofrimento.
Tristeza, lamentação, dor, pesar e desespero são sofrimentos.
Não ter o que se deseja é sofrimento; separação
do que se deseja é sofrimento; união com o que não
se deseja é sofrimento. Saudade é sofrimento; ser escravo
de um passado já morto e de um futuro inexistente é sofrimento.
Ser presa fácil de estímulos exteriores de toda ordem é
sofrimento. Quando sopram os ventos da sensibilidade, nós vamos cegamente
à sensualidade; quando sopram os ventos da raiva nós vamos
cegamente à violência; quando sopram os ventos da agitação
e da preocupação nós vamos cegamente em direção
à ansiedade e à angústia; quando sopram os ventos da
dúvida nós vamos cegamente ao ceticismo. Todo sofrimento –
assim como toda a nossa felicidade – está na própria
mente, pois nenhum inimigo nos poderá fazer tão infelizes
quanto nossa mente mal dirigida. Também nenhum parente – seja
pai, seja mãe, seja irmão – nos tornará tão
felizes quanto nossa própria mente bem dirigida.
Em resumo: os cinco agregados da existência quando objetos de apego,
isto é, quando tomados como 'eu' e 'meu' são sofrimentos.
Os cinco agregados da existência são: corpo, sensações,
percepções, consciência e formações mentais.
2ª - A Nobre
Verdade da Causa do Sofrimento (Mamudaya Satya)
Qual é a causa do sofrimento?
É a ignorância, o desejo, o apego, a cobiça, o ódio
e a ilusão. Mas, onde o desejo e a ignorância surgem? Onde
estão suas raízes? Exatamente onde houver coisas deliciosas
e agradáveis, lá o desejo e ignorância surgem, lá
eles têm as suas raízes. Visão,
audição, olfato, paladar, tato e a mente são deliciosos
e agradáveis; lá o desejo e a ignorância surgem, lá
eles fincam raízes. Quando percebemos um objeto pela visão,
se o objeto é agradável, a pessoa é atraída;
e se é desagradável, a pessoa o repele. Então,
seja qual for a sensação que experimente, se a pessoa o aprova
e acha agradável; então, a sensação condiciona
o desejo, e desejando a pessoa se apega ao objeto desejado. Assim, o desejo
condiciona o apego. Quando a pessoa se apega, ela irá agir pela palavra
ou pelo o corpo para possuir o objeto desejado. Deste
modo, então, o apego condiciona a ação (Karma) ou processo
de vir-a-ser. O processo de vir-a-ser (ou existência) condiciona o
nascimento. Dependendo
do nascimento, haverá decadência e morte, tristeza e lamentação,
dor e pesar, ressentimento e desespero. Assim
surge essa imensa massa de sofrimento.
3ª - A Nobre
Verdade da Extinção da Causa do Sofrimento (Mirodha Satya)
O que é a extinção
do sofrimento? É a completa erradicação e desaparecimento
da ignorância, do desejo, do apego, da cobiça, do ódio
e da ilusão, e, em conseqüência, o abandono e a libertação
da ilusão do eu e do meu. Com
a extinção da ignorância o desejo é extinguido.
Pela
cessação do desejo, cessa o apego. Pela
cessação do apego o processo de vir a ser ou as ações
(Karma) é extinguido. Pela
cessação de vir-a-ser, o nascimento é extinguido. Pela
cessação do nascimento, decadência e morte, tristeza
e lamentação, dor e pesar, ressentimento e desespero serão
extinguidos. Assim,
se dá a extinção de toda esta massa se sofrimento.
4ª - Nobre Verdade
da Senda que Leva à Extinção do Sofrimento (Magga
Satya)
Os dois extremos e a Senda do meio.
Os prazeres sensuais, o comum, o vulgar, o mundano, sem qualquer sentido
para o progresso na Senda espiritual. Ou: a
mortificação do corpo que é dolorosa e também
sem vantagem qualquer para a vida santa. Ambos estes extremos, o iluminado
evitou e descobriu a Senda Média, a qual propícia qualquer
um ver e compreender, que leva à paz, ao discernimento, à
iluminação e ao Nirvana.
A
Senda Óctupla (Senda do Meio): 1)
Linguagem Correta; 2) Ação Correta; 3) Modo de Vida
Correto; 4) Esforço Correto; 5) Atenção Plena
e Correta; 6) Concentração
Correta;7) Compreensão Correta;
8) Pensamento Correto.
E
o que é a Linguagem Correta? Abster-se da linguagem
mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira e da linguagem
frívola. A isto se chama linguagem correta.
E
o que é a Ação Correta? Abster-se de destruir a vida,
abster-se de tomar aquilo que não for dado, abster-se da conduta
sexual imprópria. A isto se chama de ação correta.
E
o que é o Modo de Vida Correto? Aqui um nobre discípulo,
tendo abandonado o modo de vida incorreto, obtém o seu sustento através
do modo de vida correto. A isto se chama modo de vida correto.
E
o que é o Esforço Correto? (i)
Aqui, bhikkhus, um bhikkhu gera desejo para que não surjam
estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram e ele se aplica,
estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (ii)
Ele gera desejo em abandonar estados ruins e prejudiciais que já
surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e
se esforça. (iii)
Ele gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não
surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e
se esforça. (iv)
Ele gera desejo para a continuidade, o não-desaparecimento, o fortalecimento,
o incremento e a realização através do desenvolvimento
de estados benéficos que já surgiram e ele se aplica, estimula
a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. A isto se denomina
esforço correto.
E
o que é a Atenção Plena e Correta? (i)
Aqui, bhikkhus, um bhikkhu permanece focado no corpo como um corpo ardente,
plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado
de lado a cobiça e o prazer pelo mundo. (ii)
Ele permanece focado nas sensações como sensações
ardentes, plenamente consciente e com atenção plena, tendo
colocado de lado a cobiça e o prazer pelo mundo. (iii)
Ele permanece focado na mente como mente ardente, plenamente consciente
e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça
e o prazer pelo mundo. (iv)
Ele permanece focado nos objetos mentais como objetos mentais
ardentes, plenamente consciente e com atenção plena, tendo
colocado de lado a cobiça e o prazer pelo mundo. A isto se denomina
atenção plena e correta.
E
o que é a Concentração Correta? (i)
Aqui, bhikkhus, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das
qualidades não-hábeis, entra e permanece no primeiro jhana,
que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o
êxtase e a felicidade nascidos do afastamento. (ii)
Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece
no segundo jhana, que é caracterizado pela segurança interna
e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento aplicado e sustentado, com
o êxtase e felicidade nascidos da concentração. (iii)
Abandonando o êxtase, um bhikkhu entra e permanece no terceiro jhana
que é caracterizado pela felicidade sem o êxtase, acompanhada
pela atenção plena, plena consciência e equanimidade,
acerca do qual os nobres declaram: ‘Ele permanece em uma estada feliz,
equânime e plenamente atento.' (iv)
Com o completo desaparecimento da felicidade, um bhikkhu entra e permanece
no quarto jhana, que não possui nem felicidade nem sofrimento, com
a atenção plena e a equanimidade purificadas. A isto se denomina
concentração correta.
E
o que é a Compreensão Correta? Compreensão do sofrimento,
compreensão da origem do sofrimento, compreensão da cessação
do sofrimento, compreensão do caminho da prática que conduz
à cessação do sofrimento. A isto se chama entendimento
correto.
E
o que é o Pensamento Correto? O pensamento de renúncia, o
pensamento de não má vontade, o pensamento de não crueldade.
A isto se chama pensamento correto. [O
homem comum é, geralmente, desprovido de correta compreensão.
Não sendo treinado na Nobre Doutrina, seu Coração é
possuído e dominado pela ilusão da existência de um
eu individual, pela dúvida, pelo apego a meras regras religiosas
e a rituais, pelo desejo sensual insaciável e pela raiva. E assim,
pratica, basicamente, três tipos de ações demeritórias:
1) Pelo corpo: destrói os seres vivos, rouba, explora, adultera,
ingere tóxicos e bebidas alcoólicas; 2) Pela palavra:
mente, calunia, age como leva-e-traz, profere palavras pesadas, duras e
ofensivas, tagarela levianamente e suas conversas são frívolas;
e 3) Pela mente: é cobiçoso, egoísta, vaidoso,
tem má vontade, ódio e raiva e possui, usualmente, errôneos
pontos de vista. Tudo isto pode ser resumido em um quadrado monstruoso e
retrocessivo: cobiça, ódio, ignorância e egoísmo.]
Cinco
regras fundamentais: 1ª) ninguém
deve matar uma criatura; 2ª) ninguém
deve se apoderar daquilo que não lhe é dado; 3ª)
ninguém deve mentir; 4ª)
ninguém deve se embriagar;
e 5ª) cada
qual que pratique a castidade.
A
criação é eterna; logo, não é necessário
aceitar um criador.
Queridos
amigos: tendo por testemunhas seres humanos, deuses, brâmanes, monges
e maras, eu vos digo que se não tivesse experienciado diretamente
tudo o que afirmo aqui, jamais proclamaria ser uma pessoa iluminada e liberta
do sofrimento. Devido ao fato de eu mesmo ter identificado o sofrimento,
compreendido o sofrimento, identificado as causas do sofrimento, removido
as causas do sofrimento, confirmado a existência do bem-estar, obtido
o bem-estar, identificado o caminho para o bem-estar, ido até o final
do bem-estar e realizado a liberação total, eu agora proclamo
a vocês que eu sou uma pessoa livre.
Livre
sou, ó monges, de todos os grilhões, sejam divinos ou humanos.
Vocês também, ó monges, são livres de todos os
grilhões, sejam divinos ou humanos. Vão, ó monges,
para o bem de muitos, para a felicidade de muitos, por compaixão
pelo mundo, pelo bem, pelo benefício e pela felicidade de deuses
e homens. Não deixem dois irem por um caminho. Ensinem, ó
monges, o 'Dharma', excelente no início, excelente no meio, excelente
no fim, tanto no significado quanto na palavra. Proclamem a Vida Santa,
Perfeita e Pura. [e Una].
Quando
perguntavam ao Senhor Buddha como havia sido criado o Universo, Ele respondia:
— O átomo não pode compreender o Cosmos.
De
que material se compõe o Universo? O Universo é eterno? Existem
limites para o Universo? De que maneira se agrega a sociedade humana? Qual
a organização ideal da sociedade humana? Se um homem postergar
sua busca e prática da Illuminação até que tais
questões sejam solucionadas, ele morrerá antes de encontrar
o Caminho.
A
mente de um homem pode fazê-lo um Buddha ou uma fera. Corrompido pelo
erro, torna-se um demônio; illuminado, torna-se um Buddha. Controlai,
portanto, vossa própria mente; e não a deixeis se afastar
do Caminho correto.
Buddha
não é um corpo físico; é a Illuminação.
O corpo físico perece, mas a Illuminação subsistirá
para sempre na verdade do Dharma2
e na prática do Dharma.
Feliz
seria a Terra se todos os seres estivessem unidos pelos laços da
benevolência e só se alimentassem de alimentos puros, sem derrame
de sangue. Os dourados grãos que nascem para todos dariam para alimentar
e dar fartura ao mundo. [O
ápice da compreensão dos ensinamentos budistas é a
realização interior e consciente de que tudo é Um –
não há o Outro. O Outro é uma ilusão derivada
do culto quimérico da individualidade.]
Eu sou o resultado de meus próprios
atos, herdeiro de meus próprios atos. Os atos são meu parentesco
e recaem sobre mim; qualquer ato que eu realize, bom ou mau, eu dele herdarei.
Eis em que deve refletir todo homem e toda mulher. [Somos
responsáveis por tudo; não há transferência possível.]
O
ódio não desaparecerá enquanto pensamentos de mágoas
forem alimentados na mente. Ele desaparecerá, sim, tão logo
esses pensamentos de mágoa forem esquecidos.
[Não sei se
o Senhor Buddha disse literalmente esquecidos;
mas, eu prefiro compreendidos.]
Tudo o que nasceu irá morrer;
tudo o que foi reunido será espalhado; tudo o que foi acumulado terá
fim; tudo o que foi construído será derrubado; e tudo o que
esteve nas alturas será rebaixado. [Para
compreender é necessário descompreender.]
Se
o telhado for mal construído ou estiver em mau estado, a chuva irá
entrar na casa. Da mesma forma, a cobiça facilmente entra na mente,
se ela é mal treinada ou está fora de controle.
Nossa existência é transitória
como as nuvens do outono. Observar o nascimento e a morte dos seres é
como olhar os momentos da dança. A duração da vida
é como o brilho de um relâmpago, no céu, tal como uma
torrente que se precipita montanha abaixo. [Bem
disse o Mestre
Apis,
Hierofante da Ordo
Svmmvm Bonvm:
A Vida é eterna. As criaturas são transitórias.]
Se o desejo, que se aloja na raiz
de toda a paixão humana, puder ser removido, aí, então,
morrerá esta paixão e desaparecerá, conseqüentemente,
todo o sofrimento humano.
Praticar o bem, abster-se do mal
e purificar os pensamentos são os mandamentos de todo Illuminado.
Uma mente perturbada está
sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar;
mas a mente disciplinada é tranqüila. Portanto, é bom
ter sempre a mente sob controle. [Sim.
Só controlando a mente será possível evitar ou minimizar
possíveis erros de avaliação, como, por exemplo, o
prejulgamento, coisa inaceitável que está acontecendo em muitas
cabeças atualmente no Brasil, relativamente àquela monstruosidade
que está sendo diariamente divulgada pela mídia como o Caso
Isabella. Como escreveu Christiano Fragoso no texto Prejulgamento Induz
Suspeição, o
prejulgamento em que incorra um Magistrado transforma o processo em um jogo
de cartas marcadas conspurcando a obra de realização da Justiça,
de que somos todos operários. Decididamente, não
devemos e não podemos dar vazão aos nossos instintos não
satisfeitos, pois, todos são inocentes perante a lei, até
que se prove o contrário. Por outro lado, também não
devemos e não podemos nos esquecer jamais de que aos acusadores cabe
o ônus da prova. Agora, o óbvio: se haveremos de compensar
todos os nossos equívocos, haveremos
de compensar também,
oportunamente, todos os prejulgamentos que
fizermos.]
Aquele
que protege sua mente da cobiça e da ira desfruta da verdadeira e
duradoura paz.
O leite fresco demora a coalhar.
Assim, os maus atos nem sempre trazem resultados imediatos. Esses atos são
como brasas ocultas nas cinzas e que, latentes, continuam a arder até
causar grandes labaredas.
Um amigo insincero e mau é
mais temível que um animal selvagem; a fera pode ferir o corpo, mas
o mau amigo pode ferir a mente.
O homem que busca a fama, a riqueza
e casos amorosos é como uma criança que lambe o mel na lâmina
de uma faca... É como um tolo que carrega uma tocha contra um vento
forte correndo o risco de ter as mãos e o rosto queimados.
Viver apenas um dia e ouvir um bom
ensinamento é melhor do que viver um século sem conhecer tal
ensinamento.
Um homem será tolo se alimentar
desejos pelos privilégios, pela promoção, pelos lucros
ou pela honra, pois tais desejos nunca trazem felicidade; pelo contrário,
apenas trazem sofrimentos.
Um
bom amigo, que nos aponta os erros e as imperfeições e reprova
o mal, deve ser respeitado como se nos tivesse revelado o segredo de um
oculto tesouro.
As
Escrituras Védicas foram escritas por homens. Por isto, também
contêm falhas.
Um
rochedo não é abalado pelo vento; a mente de um sábio
não é perturbada pela honra ou pelo abuso.
Dominar-se
a si próprio é uma vitória maior do que vencer a milhares
em uma batalha.
Aqueles
que se respeitam e se amam a si mesmos devem estar sempre alertas para que
não sejam vencidos pelos maus desejos. [Não
esqueçamos de que, tanto o omisso quanto o comisso, cometem um delito.
Não existem essas coisas de que não é problema
meu e de que eu não tenho nada com isso. Somos todos
UM. Tudo é problema de todos e todos têm tudo com tudo.]
Não
viva no passado, não sonhe com o futuro; concentre a mente no momento
presente.
Não
acrediteis em uma coisa apenas por ouvir dizer. Não acrediteis na
fé das tradições só porque foram transmitidas
por longas gerações. Não acrediteis em algo só
porque é dito e repetido por muita gente. Não acrediteis em
uma coisa só pelo testemunho de um sábio antigo. Não
acrediteis em uma coisa só porque as probabilidades a favorecem ou
porque um longo hábito vos leva a tê-la por verdadeira. Não
acrediteis no que imaginastes pensando que um ser superior a revelou. Não
acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos mais velhos ou dos
vossos instrutores. Mas, aquilo que vós mesmos experimentastes, aquilo
que vós mesmos provastes e aquilo que vós mesmos reconhecestes
como verdadeiro, aquilo que corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros,
isto, sim, deveis aceitar, e, por isso, moldar a vossa conduta.
Meditação
traz sabedoria; a falta de meditação deixa a ignorância.
Saiba bem o que lhe conduz para frente e o que lhe prende atrás,
e escolha o caminho que o guiará à sabedoria.
Tudo
o que nasceu está sujeito à morte. Portanto, dediquem-se com
energia ao trabalho de emancipação final.
Tudo
que é composto se decompõe.
Antes
de dar, o Coração se alegra; durante o ato de dar, ele se
purifica; e, depois de dar, ele se sente satisfeito.
Somos
aquilo que pensamos ser.
Aquele
que inveja os outros não tem paz.
Todas
as coisas são precedidas, guiadas e criadas pela mente. Tudo o que
somos hoje é o resultado do que temos pensado. O que hoje pensamos
determina o que seremos amanhã. Nossa vida é a criação
de nossa mente.
Um
homem no campo de batalha conquista um exército de mil homens...
Um outro conquista a si mesmo, e este é o maior.
Veja aquele rio. Sua correnteza corre
em ritmo normal. Ela nunca se adianta e nem se atrasa. Ela apenas corre.
Nós temos que ser como aquele rio.
Ao
decidir sair em peregrinação em busca da Illuminação
o Senhor Buddha disse: Enquanto
as pessoas não são afetadas pela doença, pela velhice
ou pela morte, elas não pensam sobre essas coisas. Eu preciso, agora,
encontrar o Caminho para acabar com a fonte desse sofrimento. Todos aqueles
que nascem nesse mundo devem experimentar o pesar da separação.
Estou deixando minha casa para descobrir a Senda pela qual o ser humano
pode escapar desse sofrimento. Ao se aproximar o momento de
Sua Grande Iniciação, suas últimas palavras foram:
Ó, monges! Estas são minhas últimas palavras.
Tudo o que foi criado está sujeito à decadência e à
morte. Tudo é impermanente. Trabalhem duro pela própria salvação
com atenção plena, esforço e disciplina. Sejam ilhas
em si mesmos, sejam um refúgio para si mesmos; não tomem para
si mesmos nenhum outro refúgio. Vejam a verdade como uma ilha, vejam
a verdade como um refúgio. Não procurem refúgio em
ninguém a não ser em si próprios. [Se
o Senhor Buddha não disse, talvez tenha pensado: Não
procurem refúgio nem em Deus. Logo, possivelmente, a
maior prisão que o ser-no-mundo enfrenta é a imposição-aceitação
de um Deus egregórico, coletivo. Ao nascer, lhe é imposto
um Deus; depois, por não conseguir se livrar desta idéia cultural
imposta, morre com ela. Todavia, se vencer gaiola e muro... A Claridade-Vida
substituirá o escuro!]