A
crise grega, segundo Ricardo Setti, tem mil explicações,
o olho do furacão começou com uma fraude, uma maracutaia
inacreditável praticada pelo partido conservador Nova Democracia,
que governou a Grécia por seis anos, até 2009. Vencedor
das eleições, o novo Primeiro-ministro do Partido
Socialista (PASOK), Georgios A. Papandreou, constatou em poucos
dias que seus antecessores haviam maquiado escandalosamente as
contas públicas para os parceiros da União Européia
e para o Banco Central Europeu (BCE). O verdadeiro deficit
público do País, de gravíssimos 15,7% do
PIB, era mais do que o dobro do que informara o Governo anterior.
O deficit verdadeiro era a conta que chegava para ser
paga pela gastança do Governo do antecessor de Papandreou,
Kostas Karamanlis (2004 – 2009), que, em vez de atuar dentro
das possibilidades do orçamento e, mais, equacionar o que
restava de deficit devido aos investimentos na preparação
das Olimpíadas de 2004 pelo Governo socialista que o precedeu,
preferiu continuar torrando dinheiro público – e
mentir. A partir daí, a desconfiança dos mercados
com a Grécia, diante do temor de que os empréstimos
ao Governo e às empresas gregas não seriam quitados,
fez rolar uma bola de neve que explodiu nas mãos de Papandreou.
O que aconteceu depois, o mundo todo sabe.
Na
grande Grécia, o quadro atual é o seguinte: para
auxiliar a contornar a grave situação econômica
em que o País está enfiado, Zeus, altruisticamente,
vendeu o seu trono a preço de banana-nanica para uma multinacional
sul-coreana. Medusa, agora, anda fazendo bico na ala dos ofídios
em um zoológico local; às vezes, transforma pessoas
em pedra e vende na Cracolândia. Narciso empenhou todos
os seus espelhos para pagar a sua dívida do cheque especial.
Aquiles, para economizar, foi tratar o seu calcanhar no Sistema
Único de Saúde (SUS). Eros e Pan inauguraram uma
casa de tolerância que toca sempre a mesma música:
Pote
tin Kyriaki.
Hércules suspendeu os seus doze trabalhos por falta de
pagamento. O Minotauro, que virou burro-sem-rabo, está
puxando carroça para ganhar a vida. A Acrópole –
céus! – foi leiloada; em seu lugar foi inaugurada
uma Igreja Transnacional do Reino de Zeus. Afrodite teve que montar
uma banquinha de produtos afrodisíacos para pagar as contas.
Medusa, depois de ser expulsa do zoológico e de quase ser
presa por transformar pessoas em pedra, bem que se esforçou,
mas a Eurozona a rejeitou como negociadora grega, argumentando
que 'ela
tem minhocas na cabeça'. Sócrates resolveu
inaugurar The Cicuta's Bar para tentar ganhar uns caraminguás.
Dionísio anda vendendo seus vinhos na beira da estrada
de Marathónas. Hermes está enviando seu currículo
para os amigos; mas o seu sonho é trabalhar na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos. Caronte anunciou oficialmente
que, a partir da próxima semana, passará a aceitar
o bilhete único e o vale-refeição. Afrodite
topou posar para a Playboy a troco de reza. Sem dinheiro
para pagar os salários, Zeus liberou todas as ninfas para
se virarem como puderem na Eurozona. Na Ilha de Lesbos, foi aberto,
não se sabe por quem, um resort hétero.
Isto é incrível! Para economizar energia, Diógenes
apagou sua lanterna. O Oráculo de Delfos vazou números
do orçamento e provocou pânico nas Bolsas. Vênus
de Milo prometeu dar uma mãozinha aos desempregados. Áries,
o deus da guerra, foi pego em flagrante desviando armamento pesado
para a milícia carioca. Sócrates, Platão,
Aristóteles e Aristófanes negaram manipulação
e envolvimento intelectual na rebelião da USP, e se defenderam
dizendo:
'Estamos na maior pinda, mas ainda não descemos a este
ponto.' A Caverna, do meu amigo Platão, virou
acampamento provisório por tempo indeterminado; está
abrigando um sem-número de sem-teto, sem-[bu]lhufas, sem-terra,
sem-trabalho, sem-ventura, sem-amor, sem-dinheiro, sem-família,
sem-pão, sem-hipoteca e sei-lá-mais-quem-sem.
Recentemente,
afinal, descobriu-se o como e o porquê da crise: os economistas
estão falando grego, os gregos estão falando chinês
e os chineses estão rindo à-toa!
A
República Democrática Popular da Coréia e
a República Islâmica do Irã, seguindo à
risca a regra do caluda, só observam.
Osama
bin Mohammed bin Awad bin Laden mandou um telegrama fonado do
além-túmulo nos seguintes termos: Platão
tinha razão!
Eu
digo o seguinte: a Grécia e o resto mundo se meteram em
um baita fudelhufas
de cagahouse porque, antes crise econômica (de
2008 a 2011), já operavam descarada, desordenada e hipocritamente
na base sacano-canalhocrática do
primeiro eu a fudehouse, depois você de cagalhufas.
Ora – quem não sabe? – não há
fudevu
de caçarolê que estoure da noite para
o dia sem uma causa catalisadora pretérita. Nem aqui nem
na Terra do Nunca!
E
assim, termino por onde comecei: O
gênero humano só ficará livre de seus males
quando os Filósofos ascenderem ao poder ou quando aqueles
que detêm o poder, sob a proteção divina,
se consagrarem à Filosofia.