SERGE TOUSSAINT

(Reflexões Místicas Rosacruzes)

 

 

 

 

Serge Toussaint

Serge Toussaint

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Objetivo do Trabalho

 

 

 

Christian Bernard, FRC, nascido em 30 de novembro de 1951, Grande Mestre da Grande Loja da Jurisdição Francesa entre 1977 e 1993, é o atual Imperator da AMORC. Ele foi eleito para o cargo de Imperator pelo Supremo Grande Conselho da AMORC em 12 de abril de 1990. Manteve estas duas funções em conjunto até maio de 1993, quando Serge Toussaint, FRC, o substituiu no cargo de Grande Mestre, tendo sido instalado em Toulouse, em 31 de maio de 1993.

 

Este trabalho – que começa com uma carta aberta aos cidadãos do mundo – pretendeu coligir algumas reflexões de Serge Toussaint, para o qual me socorri de algumas páginas da Internet e de três livros de autoria deste ilustre Rosacruz, publicados pela Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa da AMORC. Quando for o caso, colocarei a sigla correspondente à obra consultada, a saber:

A Ontologia dos Rosacruzes [OR+C]

O Ideal Ético dos Rosacruzes [IER+C]

Questões Místico-filosóficas [QMF]

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Ser Humano é impelido à esperança e ao otimismo por uma injunção de sua natureza divina e por um instinto biológico de sobrevivência. Nisso, a aspiração à Transcendência aparece como uma exigência vital da espécie humana.

 

Positio Fraternitatis Rosæ Crucis
Selada em 20 de março de 2001

 

 

 

 

 

 

Aos Cidadãos do Mundo

(Carta Aberta)

 

Serge Toussaint

 

 


Se decidimos divulgar esta carta aberta, é porque nos pareceu útil e necessário fazê-lo.

 

Naturalmente, estamos plenamente conscientes de que as palavras que se seguem não constituirão unanimidade e gerarão desentendimentos, oposições e até críticas.

 

Com profundo respeito pela liberdade de opinião, damos a todos o direito de fazer seu julgamento à luz de suas próprias convicções. Essas palavras terão, pelo menos, o mérito de alimentar a reflexão de uns e outros.

 

Para resumir o que pensamos, temos a sensação de que a Humanidade foi tomada por uma loucura coletiva e que perdeu toda a referência: a mais aflitiva divulgação de tolices, de vulgaridades e de falta de pudor apresenta recordes de audiência; o 'voyeurismo' atingiu o auge; tudo faz crer que o sentido da vida é ficar cada vez mais rico e famoso, se possível rapidamente e sem qualquer esforço; a violência, já onipresente na vida cotidiana, é exaltada pela televisão e pelo cinema; os meios de comunicação se sentem obrigados a apresentar aquilo que há de mais sombrio na natureza humana; qualificamos de ‘estrelas’ ou de ‘artistas’ as pessoas cuja qualidade primordial é estar sempre na moda ou agradar uma pseudo-elite; a ‘razão da juventude’ causa grandes estragos; confundimos ‘humor’ com ‘escárnio’; o culto à personalidade só se iguala ao culto do corpo; glorifica-se a grosseria e se estigmatiza o refinamento; a desfaçatez, a impertinência e a insolência são elevadas à categoria de virtude. Et cetera.

 

A crise financeira, econômica e social que o mundo enfrenta há muitos anos tem a ver com o que acabamos de dizer, e seria injusto atribuir isto unicamente à deriva de um sistema financeiro e bancário pervertidos.

 

A causa disso tudo está, também, no desregramento generalizado da sociedade, principalmente nos países que chamamos de ‘desenvolvidos’. Através de uma enxurrada de publicidade – muitas vezes enganosa e de todo tipo de crédito as pessoas são levadas a consumir, custe o que custar, e a fazer do ‘ter’ um ideal de vida, em detrimento do ‘ser’. Na mesma linha de pensamento, faz-se do dinheiro, mesmo virtual, a base de um consumismo desenfreado. Embora devesse ser um meio de troca que permitisse a cada um obter aquilo que fosse necessário para viver decentemente no plano material, o dinheiro acabou se tornando um fim em si, deixando de lado qualquer ética. Certamente, nunca houve um agente de aviltamento, um vetor de corrupção e uma fonte de desigualdade social igual ao dinheiro. Agindo como um novo ídolo, não tem adeptos apenas nos meios em que reina a ganância e a avareza.

 

Entre vocês, alguns pensarão que esta constatação é severa demais, e até mesmo negativa demais, e que ela revela uma visão excessivamente pessimista do mundo atual. Outros talvez possam chegar a supor que isto seja obra de ideólogos reacionários em busca de uma nova ordem moral. Todavia, nossa filosofia nos inclina ao otimismo e até mesmo ao utopismo.

 

Quanto à moral, damos a ela a abordagem que toda pessoa inteligente e sensata deveria partilhar, pois vemos nela o respeito por si mesmo, pelos outros e pelo meio ambiente, no que não há nada de moralizador, nem mesmo de moralista. Além disso, achamos que nosso julgamento sobre a condição em que se encontra a Humanidade é simplesmente realista.

 

Vamos, portanto, prosseguir, partindo do princípio que você concorda com isto, mesmo que seja apenas parcialmente. A questão que se coloca é de saber por que o mundo chegou a este ponto. Pensamos que isto se deve ao fato de ele ter afundado gradativamente em um materialismo e em um individualismo excessivos. Atualmente, a maior parte das pessoas se comporta como se o sentido da vida fosse obter o máximo de bens materiais e de desfrutar, na medida do possível, de prazeres sensoriais, às vezes até o paroxismo. Fazendo isso, nutrem os aspectos mais egoístas da natureza humana, como os desejos de possuir, de dominar, de aparecer etc. Da mesma forma, cultivam o individualismo e seu corolário: a exclusão.

 

Por outro lado, o simples fato de crer em Deus ou de se referir a Ele se tornou algo ‘laicamente incorreto’ e considerado ‘fora de moda’. Foi assim que o ‘cada um por si’ se tornou uma cultura, e o ateísmo se tornou um modo de vida. Lamentamos profundamente, pois isto vai de encontro ao bem-estar da Humanidade.

 

Se você partilha deste ponto de vista, vai compreender que só existe uma alternativa para se colocar um fim nesta espiral ‘infernal’ e devolver à Humanidade a esperança de dias melhores: de injetar nela mais humanismo e espiritualidade, a que nos dedicamos através de nossos ensinamentos e de nossa filosofia. Pensamos, de fato, que ambos são pilares sobre os quais a Humanidade deva se apoiar para se livrar dessa condição atual e se elevar a um estado de civilização digno de seu nome. Se isso não for feito, a crise generalizada com a qual nos deparamos vai se intensificar e gerar ainda mais dificuldades, provações e sofrimentos. Este foi o objetivo de lançarmos o 'Positio Fraternitatis Rosae Crucis', manifesto que publicamos em 2001 e divulgamos em nível internacional.

 

Com ‘injetar mais humanismo’, queremos dizer que se torna urgente (re)colocar o ser humano no centro de nossas preocupações e de (re)colocarmos a seu serviço todos os domínios de atividade humana: economia, política, ciência, tecnologia etc. De fato, não se pode aceitar, na aurora do século XXI, que milhões de homens, mulheres e crianças morram de fome, não tenham acesso à água potável, não disponham de uma habitação decente, vivam na indigência, não tenham meios de tratar da saúde, trabalhem em condições indignas, não saibam nem ler nem escrever etc. É preciso parar de confundir ‘viver’ com ‘sobreviver’.

 

Isto tudo é ainda mais triste e lamentável quando lembramos que a Humanidade, como um todo, dispõe atualmente do saber e de meios técnicos que permitem tornar todos os indivíduos felizes. É simplesmente uma questão de vontade.

 

Com o passar do tempo, os homens criaram um mundo do qual eles mesmos foram se excluindo. Nas sociedades modernas, ficaram tão dependentes da informática e das máquinas, que estas coisas acabaram por substituí-los em tarefas que não são nem úteis e nem necessárias. Conseqüentemente, desumanizaram a sociedade e fizeram dela um espaço de sobrevivência, no qual a esperança deu lugar à desesperança. Por horas de Internet, comunicam-se através da telinha, mas não encontram tempo para se falarem. Resultado: poucas pessoas são de fato felizes, e muitas são estressadas, aflitas e deprimidas. Resumindo em uma palavra: infelizes.

 

Certamente, o nível de evolução de uma sociedade não é medido por seu desempenho tecnológico ou por seus conhecimentos científicos, mas pelo bem-estar real de todos os seus membros e pelo prazer que têm de viver juntos. Como efeito da globalização, país algum, por maior ou mais poderoso que seja, vai poder prosperar daqui para frente sem levar em conta o desenvolvimento dos outros, por menores e mais fracos que sejam. Nesse sentido, o mundo se tornou uma só nação – o que deveria nos alegrar muito e o destino de todos os homens está interligado. A noção de ‘cidadãos e cidadãs do mundo' não é mais uma imagem mental, mas uma realidade que precisa ser levada em conta para o bem de todos e de cada um.

 

Além disso, no caso de isso ainda não ter acontecido, nós os incentivamos a transcender o individualismo, a superar o nacionalismo e a assumir o conteúdo do artigo 10 da Declaração Rosacruz dos Deveres do Homem: 'Todo indivíduo tem o dever de considerar a Humanidade toda como sua família e de se comportar em todos os momentos e em todo lugar como um cidadão do mundo, fazendo do humanismo a base de seu comportamento e de sua filosofia'.

 

Mas, ser humanista não é apenas trabalhar para o bem de todos os homens; é também se preocupar com o meio em que vive e ao qual deve sua existência. Mas, você sabe tanto quanto nós, que o Planeta corre o risco de se tornar inviável se não colocarmos um fim nos diversos males que o ameaçam (aquecimento global, poluição de diversos tipos, desmatamento excessivo, desequilíbrio dos ecossistemas etc.).

 

E ainda mais: a Humanidade tem a consciência e a tecnologia necessárias para agir dentro do bom senso, mas não existe vontade tanto no plano individual quanto no coletivo.

 

Com relação às gerações futuras, não temos mais a desculpa de não sabermos ou de não podermos fazer alguma coisa. Nossa inconseqüência é ainda mais grave quando pensamos que a Terra é para os olhos de todos a obra-prima da Criação. Mesmo um ateu tem a tendência a divinizá-la por sua beleza e pelas maravilhas que realiza em seus diversos reinos.

 

Diante de tal consenso, o que estamos esperando para tornar sua preservação uma causa humanitária universal? Com ‘injetar muita espiritualidade’ queremos dizer que é do interesse de todos os homens fazer as pazes com Deus, no sentido místico do termo. Se esclarecemos que é no ‘sentido místico do termo’, é porque sabemos muito bem que a maioria das pessoas não adere ou não adere mais ao que as religiões – que, é preciso ressaltar, respeitamos dizem ou disseram. Há séculos, para não dizer milênios, as religiões O representaram como um Super-homem sediado no céu, de onde decide o nosso destino, inclusive o momento de nossa morte. Por esta abordagem, encorajam os fiéis a se submeterem à Sua vontade e a procurarem salvação nos dogmas a que se prendem. Mas, como demonstra a experiência, este modo de viver a fé não deixa ninguém nem melhor nem mais feliz. Isso explica, em grande parte, porque os crentes se afastam das religiões chegando até a se tornarem ateus. E será que ficam satisfeitos com isso?

 

Mas, concordando ou não, todos os homens têm uma alma e sua essência é espiritual. É por isto que não conseguem encontrar felicidade no ateísmo ou no materialismo. Rejeitar Deus, como muitos fazem atualmente, é, portanto, um contra-senso que leva a um impasse.

 

O que se faz necessário é repensar a idéia que se tem de Deus e agir de forma conseqüente. Do nosso ponto de vista, vemos nEle a inteligência, a consciência, a energia, a força (pouco importa o termo que se use) que está na origem de toda a Criação. Como tal, Ele se manifesta no Universo, em a Natureza e no próprio homem através de leis impessoais, imutáveis e perfeitas.

 

Mas é no estudo e no respeito a essas leis que reside a felicidade a que todos aspiramos. É chegado, então, o momento de passar da ‘religiosidade’ para a ‘espiritualidade’, isto é, de passar da ‘crença em Deus’ para o ‘conhecimento das leis divinas’, no sentido das leis naturais, universais e espirituais. Mas é preciso que fique bem claro: não se trata de transformar os estados em teocracias ou de adaptar suas instituições a uma abordagem religiosa à vida em sociedade. Nisto, a laicidade é necessária para garantir uma independência mútua entre a política e a religião.

 

Pensamos apenas que, se por um lado, é legítimo para o homem querer melhorar sua condição material, por outro, isso não é suficiente para lhe trazer felicidade. Se estamos aqui na Terra, é para responder a uma exigência espiritual que, cedo ou tarde, incita todo ser humano a conduzir uma busca de sentido.

 

Do ponto de vista místico, nossa presença aqui tem por objetivo essencial tomarmos consciência de nossa natureza divina e de expressarmos isto em nossa vida diária, em nossos julgamentos e em nosso comportamento. Em outras palavras e como ensinava Sócrates já na sua época: estamos na Terra para nos aperfeiçoarmos e despertarmos as virtudes da alma que nos anima. Esta é nossa razão de ser; este é o nosso destino comum.

 

Certamente, não podemos provar a existência de Deus. Contudo, os homens fazem parte de um Universo que são capazes de contemplar e estudar. Isto é necessariamente o efeito de uma causa, pois tudo o que existe tem uma origem. E já que o Universo é regido por leis que os próprios cientistas consideram admiráveis, conseqüentemente essa causa original é prodigiosamente e absolutamente inteligente. Logo, porque não chamar esta causa original de ‘Deus’ e ver neste último a inteligência universal e impessoal que está na origem da Criação? Por outro lado, considerando que o próprio homem realizou o que há de mais belo e de mais útil dentro das ciências, das artes, da literatura, da arquitetura e da tecnologia, e considerando que ele é capaz de ter e de expressar os sentimentos mais nobres (amor, amizade, compaixão, admiração etc.), como é possível duvidar que ele tenha algo de divino, ou seja, uma alma?

 

Como dissemos no início desta carta, respeitamos as convicções de cada um, de modo que compreendemos que alguns dentre vocês não manifestam mais o interesse pela espiritualidade, no sentido que à ela demos anteriormente ou pela religiosidade. Por outro lado, a necessidade de instaurar mais humanismo neste mundo deveria ser evidente para a grande maioria das pessoas.

 

Mas existe apenas uma solução para o futuro: é necessário que cada um se empenhe em se tornar humanista em pensamentos, palavras e atos, o que implica em colocar o que há de melhor em você a serviço do bem comum.

 

Finalmente, retornemos à necessidade de despertar e de expressar as virtudes que dão dignidade ao homem, e que atribuímos, no nosso modo de ver, ao que há de mais divino nele. Não estamos aqui na Terra para sofrer nem para expiar um pecado hipotético original, mas para conhecer a felicidade e evoluir gradativamente para um estado de consciência sempre mais elevado. E se o mundo não vai bem, Deus não tem nada a ver com isso, nem o Diabo, que, diga-se de passagem, não existe. São os erros do próprio homem, que em sua maioria ainda está sob o domínio dos aspectos mais negativos do ego, dando passagem para o egoísmo, para a inveja, para a intolerância, para a violência etc.

 

Para tornar o mundo melhor, eles devem transcender e aprender a manifestar sua generosidade, o desapego, a tolerância e a não-violência. Como? Esforçando-se para transmutar cada um de seus defeitos na qualidade oposta, até se tornarem seres humanos realizados. É exatamente a esta Alquimia Espiritual que os Rosacruzes se consagram desde sempre.

 

Independentemente de nossas crenças religiosas, de nossas idéias políticas, de nossas convicções filosóficas ou outras coisas, trata-se de um fato com relação a que vocês podem concordar conosco: o homem está apenas de passagem pela Terra. Um autor disse que 'o túmulo mais belo é o coração dos vivos'. Portanto, que lembrança deseja deixar para os seres que partilharam de sua existência ou que você conheceu? Que herança quer deixar para as crianças de hoje e para as gerações futuras? Que imagem de si mesmo espera levar no momento final de deixar este mundo?

 

Como devem ter compreendido, são respostas dadas a estas perguntas que, na sua consciência assim como em sua alma, determinam o sentido que você dá à vida. São elas também que traduzem sua natureza profunda e a consideração que tem por você e pelos outros.

 

Na nossa maneira de pensar, achamos que nossa existência não termina com o que chamamos de ‘morte’. Para nós, a morte é apenas uma transição para um mundo puramente espiritual. Ainda mais, muitos de nós estamos convencidos de que todos os seres humanos reencarnam na Terra diversas vezes, para dar continuidade à sua evolução e realizar sua busca de aperfeiçoamento. Assim, o significado que damos à nossa vida condiciona o significado que damos à morte, ao pós-vida e às nossas vidas futuras. Seja como for, vamos convir que é aqui e agora que se constrói o mundo futuro. Se quisermos que ele se conforme às nossas esperanças mais caras e se torne para todos um lugar de paz, de harmonia e de fraternidade, unamos nossos esforços para que surja uma Nova Humanidade, prelúdio de uma Nova civilização.

 

É isto que queremos submeter à sua reflexão. Estamos conscientes de que as idéias que partilhamos com você não têm nada de original em si, mas achamos que elas podem corroborar as idéias de alguns, e incitar outros a se interrogarem. Esclarecemos também que elas não são de fato novas. Os Rosacruzes do século XVII, a quem estamos ligados, já usavam a mesma linguagem. Como testemunho disso, e essa será nossa conclusão, eis o que, Comenius, um deles, considerado atualmente o pai espiritual da UNESCO, declarou na época: 'Queremos que os homens, individual e coletivamente, jovens ou velhos, ricos ou pobres, nobres ou plebeus, homens ou mulheres, possam ser plenamente educados e se tornarem seres humanos realizados. Queremos que sejam perfeitamente instruídos e informados, não apenas sobre um ou outro ponto, mas também sobre tudo o que permite ao homem realizar integralmente sua essência, aprender a conhecer a verdade, não ser enganado por falsos pretextos, amar o bem e a não ser seduzido pelo mal, fazer o que deve ser feito e evitar o que precisa ser evitado, falar com sabedoria em tudo e com todos, e nunca se desviar de seu objetivo maior que é a felicidade'.

 

Se você achar que esta carta aberta pode interessar a pessoas de seu conhecimento, sinta-se à vontade para divulgá-la. Se, ao contrário, não partilhar nem do conteúdo nem da forma, desconsidere-a e pratique em relação a nós uma das virtudes que mais apreciamos: a tolerância. Desejando-lhes toda a felicidade possível, enviamos a todos os nossos pensamentos mais fraternos e os nossos melhores votos de Paz Profunda.

 

Sinceramente,
Pela Jurisdição de Língua Francesa da AMORC.
Serge Toussaint
Grande Mestre

 

 

 

 

 

Outros Pensamentos de Serge Toussaint

 

 

 

 

Serge Toussaint

Serge Toussaint

 

 

 

 

A AMORC é uma organização filosófica e iniciática tradicional que perpetua os ensinamentos Rosacruzes que foram transmitidos através dos séculos. Aberta a homens e mulheres, sem distinção de raças e crenças, seu lema é: 'A mais ampla tolerância na mais estrita independência.'

 

A AMORC não é e nunca foi um movimento oculto, não esconde a sua existência e o seu funcionamento está em conformidade com as leis dos países onde ela está ativa. Na verdade, o oculto é uma forma primitiva de esoterismo com base na aquisição de 'poder'... No entanto, o misticismo Rosacruz é de natureza filosófica. Em outras palavras, o misticismo Rosacruz está baseado em uma busca espiritual que, acima de tudo, está voltado para o despertar das virtudes da alma humana, tais como a humildade, a generosidade e a tolerância...

 

A AMORC nunca alegou ter o monopólio da verdade. Qualquer organização – religiosa, filosófica ou de outra natureza – que propale esta afirmação dá a prova da sua intolerância e do seu dogmatismo.

 

A AMORC não tenta mudar os hábitos e os estilos de vida dos seus membros através de medidas autoritárias ou de decretos autocráticos. As lições rosacruzes estão elaboradas no sentido de que, gradualmente, seus membros possam compreender o que cada é bom para a sua saúde, deixando que cada qual determine por si próprio a dieta que deverá seguir. Nesta matéria, nada suplanta o estudo e a experiência pessoais.

 

A AMORC é o início de um caminho, como tantos outros, para alcançar a montanha. Este último entendimento representa o conhecimento ou a sabedoria.

 

É verdade que a Franco-maçonaria e a Ordem Rosacruz têm laços históricos e tradicionais comuns. É também por isto que em algumas obediências maçônicas um dos mais altos graus é o de 'Cavaleiro Rosacruz'. Mas, hoje, a Rosacruz e a Maçonaria operam de maneira diferente e de forma independente. No entanto, existem Rosacruzes Maçons, e, conseqüentemente, Maçons Rosacruzes.

 

A Democracia é a melhor forma de governo.

 

Os personagens célebres do passado não medem e não representam o valor de uma organização. Contudo, sabemos que Leonardo da Vinci, Cornelius Agrippa, Comenius, Giordano Bruno, Descartes, Spinoza, Cagliostro, Newton, Leibniz, Benjamin Franklin, Michael Faraday, Claude Debussy, Erik Satie, Nicholas Roerich, François Jollivet Castelot e, em tempos mais recentes Édith Piaf, foram membros da Ordem Rosacruz ou mantiveram alguma forma de contato com ela. Hoje, a AMORC também tem celebridades entre os seus membros, mas é dever da Ordem manter a confidencialidade da afiliação de seus membros.

 

Penso que o terceiro milênio será um milênio de espiritualidade em vez de um milênio de religiosidade.

 

A Ontologia1 Rosacruz é composta de doze leis, mas poderíamos entender como derivada de uma grnde lei geral, qual seja: Somos todos um. Segundo Serge Toussaint, as doze leis que compõem a Ontologia Rosacruz [OR+C] são:

1ª) Deus é a Inteligência Universal que pensou, manifestou e animou a Criação segundo leis imutáveis e perfeitas.

2ª) Toda a Criação está impregnada de uma Alma Universal que evolui para a perfeição de sua própria natureza.

3ª) A Vida é o suporte da Evolução Cósmica, tal como se manifesta no Universo e na Terra.

4ª) A Matéria deve sua existência a uma energia vibratória que se propaga por todo o Universo e de que todo átomo está impregnado.

 

 

 

 

 

 

5ª) O tempo e o espaço são estados de consciência e não alguma realidade material independente do ser humano.

6ª) O ser humano é dual em sua natureza e trino em sua manifestação.

7ª) A alma encarna no corpo da criança no momento em que ela respira pela primeira vez, tornando-a um ser vivo e consciente.

8ª) O destino de cada ser humano é determinado pela maneira como ele aplica seu livre-arbítrio e pelo carma que disto resulta.

9ª) A morte ocorre no momento em que o ser humano faz sua última exalação e se traduz na separação definitiva entre o corpo e a alma.

10ª) A Matéria deve sua existência a uma energia vibratória que se propaga por todo o Universo e de que todo átomo está impregnado.

11ª) A evolução espiritual do ser humano é regida pela encarnação e tem por objetivo final que ele alcance a perfeição.

12ª) No final de sua evolução espiritual, o ser humano alcança o estado de Mestre Cósmico e se torna um Agente da Divindade.

 

Um Mestre Cósmico é um ser que adquiriu o domínio das Leis Cósmicas, vale dizer, o pleno domínio das Leis Espirituais, Universais e Naturais, tais como se manifestam nos planos visíveis e invisíveis da Criação. [OR+C].

 

Paraíso, inferno e purgatório são destinações puramente alegóricas e não têm nenhuma realidade na existência póstuma. [OR+C].

 

A paciência2 contribui para o nosso bem-estar e facilita nossas relações com os outros. [IER+C].

 

A confiança deve ser aplicada em todas as áreas da vida e se tornar parte integrante da nossa personalidade, a fim de se manifestar plenamente em nosso comportamento... Devemos partir do princípio de que somos uma encarnação de Deus e de que evoluímos gradualmente para a Perfeição que Lhe é própria, Perfeição que todos possuímos em estado latente. [IER+C].

 

 

 

 

A temperança corresponde ao caminho do meio... Por corresponder ao caminho do meio, situa-se entre duas fraquezas extremas: a indolência e a agitação. [IER+C].

 

Dedicar-se exclusivamente à espiritualidade e ao estudo do misticismo, a ponto de negligenciar o corpo e de rejeitar tudo o que diga respeito ao mundo material, não denota nem bom senso nem sabedoria.3 [IER+C].

 

A tolerância á virtude que consiste em aceitarmos que os outros tenham opiniões diferentes das nossas e possam expressá-las em qualquer questão... o que não significa que devamos nos sentir obrigados a compartilhar essas opiniões nem tampouco aboná-las... O melhor meio de nos tornarmos verdadeiramente tolerantes consiste em nos convencermos de que somos uma personalidade-alma em evolução, portanto, todos nós, sendo necessariamente ignorantes no que concerne à Verdade Absoluta. [IER+C].

 

 

 

 

Obviamente, é normal sentirmos certa atração pelas coisas materiais, pois elas são parte integrante da nossa existência e contribuem para o nosso bem-estar.4 Entretanto, é preciso cuidar para que esta atração não se transforme em um apego excessivo aos bens terrenos e não se torne um ideal de vida.... Seja como for, os bens que o ser humano pode adquirir no plano terreno só lhe são úteis se suprem as necessidades legítimas de seu corpo físico, ao mesmo tempo que contribuem para o desabrochar de sua personalidade-alma. [IER+C].

 

 

 

 

 

 

O altruísmo caminha lado a lado com a generosidade, assim como o egoísmo tem seu corolário na avareza. Uma pessoa poderá ser altruísta sem, todavia, crer em Deus ou pertencer a uma religião específica. [IER+C].

 

Definitivamente, aquele que é desprovido de integridade ou de dignidade humana é indigno de si mesmo e da confiança que os outros depositam nele. [IER+C].

 

A base da humildade é o domínio do ego... O ego, segundo a Filosofia Rosacruz, não corresponde tão-somente ao Eu objetivo, não é produto apenas de nossas funções cerebrais e dos processos de consciência que delas resultam. Ele é também o reflexo de nossa personalidade-alma e revela seu grau de evolução... Devemos, portanto, aprender a dominá-lo, não permitindo que ele subjugue nosso comportamento, canalizando-o para objetivos positivos e transmutando cada defeito em sua qualidade oposta. [IER+C].

 

 

 

 

 

 

A ociosidade é a mãe de todos os vícios. Um indivíduo desprovido de coragem não poderá desenvolver plenamente o Plano Interior, pois ele se priva de um grande número de experiências úteis à sua evolução... Em sua aplicação mais nobre, a coragem implica, antes, em perseverança, em constância, em humildade e em senso de responsabilidade. [IER+C].

 

Se é verdade que todas as guerras têm origem nos instintos mais destruidores da natureza humana, a maioria delas, porém, é gerada por ideologias partidárias, que são, geralmente, de ordem econômica, política ou religiosa.5[IER+C].

 

Se não amamos o nosso próximo, pelo menos devemos respeitá-lo, e jamais devemos tentar prejudicá-lo de nenhum modo e por nenhuma razão. [IER+C].

 

O bem é todo pensamento, toda palavra e todo ato que contribui para a felicidade alheia. [IER+C].

 

A sabedoria é a síntese de todas as virtudes. Ser sábio é ser paciente, confiante, moderado, tolerante, desapegado, altruísta, integro, humilde, corajoso, pacífico e benevolente, o que requer grande autodomínio e algum grau de perfeição. [IER+C].

 

A queda do homem, simbolicamente, representa o momento em que uma personalidade-alma (Eva6) encarna no corpo de um recém-nascido (Adão), o que redunda em dizer que ocorre uma 'Queda' toda vez que um bebê vem ao mundo e começa sua vida aqui em baixo. [QMF].

 

Se o sofrimento7 fosse uma necessidade insubstituível para se evoluir no Plano Espiritual, é evidente que Jesus não teria se dedicado, por tanto tempo, a curar doenças e a consolar os aflitos. [QMF].

 

É em nosso próprio âmago que se situa a fonte de nosso bem-estar, conforme ensinaram todos os mestres do passado.8 [QMF].

 

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Ontologia (em grego ontos e logoi, 'conhecimento do ser') é a parte da Filosofia que trata da natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em geral. A Ontologia trata do ser-enquanto-ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres. Costuma ser confundida com Metafísica. Conquanto tenham certa comunhão ou interseção no que concerne ao objeto de estudo, nenhuma das duas áreas é subconjunto lógico da outra. Mais precisamente, a Ontologia diz respeito a quais categorias do ser são fundamentais, e perguntar em que sentido os itens para essas categorias poderem ser ditas que são. Questões ontológicas foram levantadas e debatidas por pensadores da Índia e da China, e, talvez, antes dos pensadores gregos, que se tornaram associados com o conceito.

2. O maior conselho que um velho Alquimista deixou aos interessados na arte-ciência da Alquimia foi: paciência, esperança, trabalho. Outro grande adepto do século XV, em carta a seu filho, recomendou: a paciência é a escada dos filósofos, e a humildade a porta do seu jardim.

3. Aqui vale a pena citar Eduardo de Almeida Farias: A intemperança é o negativo da temperança... Os atos de comer, de beber e de fazer amor podem conviver com a temperança; mas quando se tornam excessivos ou se constituem em obsessão ou compulsão compõem o cerne da intemperança... Hoje, falar em virtude soa aos ouvidos de muitos como algo arcaico, cheiro de ranço ou de bolor. Um exemplo bem ilustrativo é o caso de muitas jovens terem vergonha de dizer que são virgens... Eis aí uma típica inversão de valores, uma verdadeira destemperança... A intemperança, infelizmente, está por toda a parte; nas palavras, nas ações, nos 'outdoors', nas revistas 'especializadas', nas novelas com cenas de sexo explícito, nos noticiários televisivos, que da desgraça fazem o 'top' da notícia, nos filmes que primam pelo sadismo, incitando à violência, quando a violência, entre nós, já é um caso endêmico, e como tal deveria ser tratada pela sociedade e pelas autoridades competentes...

4. Posso dizer que venci meu último apego. Ao longo dos anos, fui comprando tudo que existia no mercado referente ao Frank Sinatra (biografias, discos, CDs, DVDs etc.), para mim, o melhor e o mais importante cantor pop mundial, verdadeiramente e justamente consagrado como The Voice (A Voz). O apego a estas coisas era grande. Hoje, não tenho mais qualquer apego a estes trecos, apesar de continuar admirando The Voice of the Voices.

5. Guerra do Iraque = Petróleo + Poder.

6. Segundo a KaBaLa, Adão teve duas esposas: Lilith e Eva. Enquanto Eva foi fabricada a partir de uma costela de Adão, Lilith foi produzida da mesma substância terrosa com que Deus gerou Adão. E por aí vai até os anjos, os demônios e as representações de toda ordem que povoam o imaginário coletivo.

7. Basicamente, há três etapas (ou três degraus) em nossa Peregrinação rumo à LLuz: dor, amor e Compreensão (ou Illuminação).

8. In Corde loquitur nostro vox Dei. Em nosso Coração fala a Voz de Deus.

 

Bibliografia:

TOUSSAINT, Serge. A ontologia dos rosacruzes. Curitiba, Paraná: Ordem Rosacruz, AMORC, Grande Loja de Língua Portuguesa, 1996.

_____. O ideal ético dos rosacruzes (em doze virtudes). Curitiba, Paraná: Ordem Rosacruz, AMORC, Grande Loja de Língua Portuguesa, 2008.

_____. Questões místico-filosóficas (o que você pensa delas). Curitiba, Paraná: Ordem Rosacruz, AMORC, Grande Loja de Língua Portuguesa, 2008.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://guesshonors.inspiringteachers.com.
istemp.com/photo3.html

http://poorquee.blogspot.com/
2008_02_01_archive.html

http://fr.allafrica.com/
stories/200808250455.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ontologia

http://www.rose-croix.org/
mediatheque/conf_rose-croix_gm.pdf

http://www.rose-croix.org/
mediatheque/entretien_s_toussaint.html

http://www.amorc.org.br/

http://www.rose-croix.org/
questions/question_grand_maitre.html

http://br.groups.yahoo.com/
group/circulodpu/message/405

http://leandroprates.blogspot.com/
2009_01_01_archive.html

 

Fundo musical:

I Will Follow Him

Fonte:

http://www.wtv-zone.com/
gnubee/all_piano_midis/