O
quanto de tua existência não foi retirado pelos sofrimentos
desnecessários, pelos tolos contentamentos, pelas paixões
ávidas e pelas conversas inúteis? E quão pouco te restou
do que era teu?1
Não
se encontra ninguém que queira dividir sua riqueza, mas a vida é
distribuída entre muitos! Alguns são econômicos na preservação
de seu patrimônio, mas desperdiçam o tempo – a única
coisa que justificaria a avareza.
Para
a nossa avareza, o muito é pouco; para a nossa necessidade, o pouco
é muito.
Alguns,
sem terem dado rumo às suas vidas, são flagrados pelo destino
esgotados e sonolentos.
A
vida, se bem empregada, é suficientemente longa, e nos foi dada com
muita generosidade para a realização de importantes tarefas.
Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença,
se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita
nenhum valor, não realizaremos aquilo que deveríamos realizar,
e sentimos que ela realmente se esvai.
Tal
como abundantes e régios recursos, quando caem nas mãos de
um mau senhor, dissipam-se num momento, enquanto que, por pequenos que sejam,
se são confiados a um bom guarda, crescem pelo uso, assim também
nossa vida se estende por muito tempo, para aquele que sabe dela bem dispor.
Foges
em companhia de ti próprio; é tua alma que precisa ser mudada,
não o clima.
Deixarás
de temer quando deixares de ter esperança.2
Esperança
suscita esperança; ambição fazer nascer ambição.
A
virtude é difícil de se manifestar, precisa de alguém
para orientá-la e dirigi-la. Mas os vícios são aprendidos
sem mestre.
Os
vícios sufocam os homens e andam à sua volta, não lhes
permitindo levantar nem erguer os olhos para distinguir a verdade. Permanecem
imersos, presos às paixões, não favorecendo um voltar-se
para si próprio. Mesmo encontrando alguma paz, os homens continuam
sendo levados por suas ambições, não encontrando tranqüilidade,
tal como o fundo do mar que, depois da tempestade, ainda continua agitado.
Longo
é o caminho ensinado pela teoria; curto e eficaz o do exemplo.
Os
males de que foges estão em ti.3
Algumas
doenças devem ser curadas sem que os pacientes as conheçam:
a muitos, o conhecimento de sua doença foi a causa da morte.
É parte da cura o desejo de
ser curado.
Sentir
solidão não é estar só, é estar vazio.
É
necessário procurarmos conhecer a que má e penosa servidão
nos sujeitamos quando nos abandonamos ao poder alternado dos prazeres e
das dores – esses dois amos tão caprichosos quanto tirânicos.
O
homem vive preocupado em viver muito e não em viver bem, quando,
na realidade, não depende dele o viver muito, mas, sim, o viver bem.
Muitas
coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; entretanto,
são difíceis porque não ousamos empreendê-las.
Se
vives de acordo com as Leis da Natureza, nunca serás pobre; se vives
de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico.
Pobre não é aquele
que tem pouco, mas, antes, aquele que muito deseja.
Vive
de tal maneira que não faças nada que não possas dizer
aos teus inimigos.
Onde
quer que haja um ser humano, há uma oportunidade para que se manifeste
o bem.
Há
pessoas que não param de se atormentar com a lembrança de
coisas passadas; outras se afligem pelos males que virão. É
tudo absurdo, pois o que já aconteceu não nos afeta mais e
o futuro ainda não nos tocou... Devemos contar cada dia como uma
vida separada.
Devem
ser evitados os tristes de que tudo se queixam.
Perguntas-me qual foi o meu progresso?
Comecei a ser amigo de mim mesmo.
Quem é temido, teme. Ora,
não pode ficar tranqüilo quem é objeto do medo alheio.
Morremos a cada dia; a cada dia falta
uma parte da vida.
A educação exige os
maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida.
Conviva
com os homens como se Deus o visse. Fale com Deus como se os homens ouvissem.
Uma mulher bonita não é
aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja
inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades
para admirar as partes isoladas.
A lei deve ser breve para que os
indoutos possam compreendê-la facilmente.
A
maldade bebe a maior parte do veneno que produz.
Os
homens que se tornam arrogantes com o sucesso têm o mau hábito
de odiar aqueles a quem ofenderam.
A
companhia da multidão é nociva: há sempre alguém
que nos ensina a gostar de um vício, ou que, sem que percebamos,
transmite-nos este vício por completo ou em parte. Quanto mais numerosas
forem as pessoas com as quais convivemos, maior é o perigo.
Para atingir a felicidade é
necessário evitar a multidão e abandonar a idéia de
que o melhor está ligado ao maior número. A multidão
toma posição contra a razão; a opinião da multidão
é indício do pior. Devemos procurar aquilo que é melhor,
não o que é mais comum.
As
virtudes sempre estão onde reinam a harmonia e a unidade; já
os vícios onde imperam as dissensões.
Exige,
de mim, não que eu seja igual aos melhores; mas; que seja superior
aos maus.
Ao
avarento falta-lhe tanto o que tem quanto o que não tem; ao luxo
faltam muitas coisas; à avareza, todas.
Uma
grande riqueza é uma grande escravidão.
Vou
ensinar-te agora o modo de entenderes que não és ainda um
sábio. O sábio autêntico vive em plena alegria, contente,
tranqüilo, imperturbável; vive em pé de igualdade com
os deuses. Analisa-te, então, a ti próprio: se nunca te sentes
triste, se nenhuma esperança te aflige o ânimo na expectativa
do futuro, se dia e noite a tua alma se mantém igual a si mesma,
isto é, plena de elevação e contente de si própria,
então conseguiste atingir o máximo bem possível ao
homem! Mas se, em toda a parte e sob todas as formas, não buscas
senão o prazer, fica sabendo que tão longe estás da
Sabedoria como da alegria verdadeira. Pretendes obter a alegria, mas falharás
o alvo se pensas vir a alcançá-la por meio das riquezas ou
das honras, pois isto será o mesmo que tentar encontrar a alegria
no meio da angústia; riquezas e honras, que buscas como se fossem
fontes de satisfação e prazer, são apenas motivos para
futuras dores.
Se um grande homem cair, mesmo depois
da queda, ele continua grande.
Diz
todas as coisas aos outros, mas de modo que, ao dizê-las, tu também
possas ouvi-las.
Os
progressos obtidos por meio do ensino são lentos; já os obtidos
por meio de exemplos são mais imediatos e eficazes.
Não
é da morte que temos medo, mas de pensar nela.
Para
muitos, é assim: uma parte da vida passam fazendo mal o que fazem;
a outra, não fazendo coisa alguma; e o resto da vida fazendo o que
não deveriam fazer.
Existem
três maneiras de combater a injustiça: o silêncio, o
trabalho e a paciência.
É
melhor ser desprezado por viver com simplicidade do que ser torturado por
viver em permanente simulação.
O
prêmio de uma boa ação é tê-la praticado.
Nossa
vida é como uma comédia: ninguém repara se foi longa,
e, sim, se foi bem representada.
Você
se tornará avarento se conviver com homens mesquinhos e avarentos.
Se tornará vaidoso, se conviver com homens arrogantes. Jamais se
livrará da crueldade se compartilhar sua casa com torturadores. Alimentará
sua luxúria confraternizando-se com adúlteros. Se quer se
livrar de seus vícios, mantenha-se afastado do exemplo e do convívio
com os viciados.
Toda crueldade resulta da fraqueza.
Admito que é inata em nós
a estima pelo próprio corpo; admito, portanto, que temos o dever
de cuidar dele. Não nego que devamos lhe dar atenção,
mas nego que devamos ser seus escravos. Será escravo de muitos quem
for escravo do próprio corpo, quem temer por ele em demasia, quem
tudo fizer em função dele. Devemos proceder não como
quem vive no interesse do corpo, mas, simplesmente, como quem pode viver
sem ele. Um excessivo interesse pelo corpo inquieta-nos com temores, carrega-nos
de apreensões, expõe-nos aos insultos; o bem moral torna-se
desprezível para aqueles que amam em excesso o corpo. Tenhamos com
ele o maior cuidado, mas na disposição de o atirar às
chamas quando a razão, a dignidade e a lealdade assim o exigirem.
O sábio considera como indiferente
se a sua morte é natural ou voluntária, se ocorre mais tarde
ou mais cedo. Morrer mais cedo ou morrer mais tarde é irrelevante.
Relevante, sim, é saber se se morre com dignidade ou sem ela, pois
morrer com dignidade significa escapar ao perigo de viver sem ela.
Morrer para evitar a dor é
uma atitude de fraqueza e de covardia; viver só para suportar a dor
é pura estupidez.
Nunca é agradável aos
grandes espíritos uma prolongada permanência no corpo: eles
anseiam por se lançar para fora. Suportam, a custo, as angústias,
acostumados que estão a vaguear soltos por todo o Universo e, do
alto, a desprezar as coisas humanas. Donde resulta que Platão exclama:
'a alma do sábio se inclina inteira para a morte, deseja isto, sobre
isto medita, é sempre arrebatada por este anseio, buscando outro
mundo.'
Só
há uma coisa que sabemos: não sabemos nada.4
Se
o que tens te parece insuficiente, então, mesmo que possuas o mundo,
ainda assim te sentirás na miséria.
Uma
vez principiada, a vida segue seu curso, e não reverterá nem
o interromperá, não se elevará, não te avisará
de sua velocidade. Transcorrerá silenciosamente, não se prolongará
por ordem de um rei, nem pelo apoio do povo. Correrá tal como foi
impulsionada no primeiro dia; nunca desviará seu curso, nem o retardará.
Que sucederá? Tu estás ocupado, e a vida se apressa; por sua
vez virá a morte, à qual deverás te entregar, queiras
ou não.
Quem decide um caso sem ouvir a outra
parte não pode ser considerado justo, ainda que decida com justiça.
A
morte é uma libertação de todas as dores e o término
além do qual os nossos males não ultrapassam; ela nos leva
de volta àquela tranqüilidade na qual jazíamos antes
de nascer. Os ignorantes dos próprios males são aqueles pelos
quais a morte não é louvada e esperada como o melhor invento
da Natureza, quer inclua a felicidade, quer afaste a calamidade, quer ponha
fim à saciedade e ao cansaço do velho, quer arrebate a idade
juvenil em flor, quando se espera o melhor, quer também chame a infância
antes que cheguem os estágios mais duros. A morte é o fim
para todos. A morte liberta do sofrimento; a morte liberta de todos os males.
Se vês o último dia
não como castigo mas como que uma lei da Natureza, nenhum temor ousará
penetrar nessa alma de onde tiveres expulsado o medo da morte.
A
religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira; pelos
inteligentes, como falsa; e pelos governantes, como útil.
Depois
de nos precavermos contra o frio, a fome e a sede, tudo mais não
passa de vaidade e de excesso.
Leve, uma carga faz do outro devedor;
pesada, faz dele um inimigo.
A
parte mais importante do progresso é o desejo de progredir.
Nossos
vícios atacam-nos e rodeiam-nos de todos os lados, e não permitem
que nos reergamos, nem que nossos olhos se voltem para discernir a verdade,
mantendo-nos submersos e acorrentados às paixões.
Cada
um é tão infeliz quanto acredita sê-lo.
Quem vive na tranqüilidade,
que seja mais ativo; quem vive na atividade deve encontrar tempo para descansar.
Observa a Natureza: ela te lembrará que fez o dia e a noite.
A
vantagem é recíproca, pois os homens, enquanto ensinam, aprendem.
A
quantos as riquezas não são um peso! Quantos não verteram
seu sangue por causa de sua eloqüência e da presteza diária
com que exibem seus talentos! Quantos não estão pálidos
por causa de seus contínuos prazeres! A quantos a vasta multidão
de clientes não dá nenhuma liberdade! Passa os olhos por todos,
desde os mais pequenos até os mais poderosos: este advoga, aquele
assiste, um é acusado, outro defende, e um outro ainda julga –
ninguém reivindica nada para si; todos consomem mutuamente suas vidas.
Pergunta por aqueles cujos nomes se aprendem de cor e verás que eles
são identificados pelas características seguintes: este é
servidor daquele, que o é de um outro – ninguém pertence
a si próprio. E, portanto, é o cúmulo da insensatez
a indignação de alguns: queixam-se do desdém de seus
superiores porque estes não tiveram tempo de ir ter com eles quando
o desejavam. Quem ousará se queixar da soberba de um outro, quando
ele mesmo não tem um momento livre para si próprio? E aquele,
contudo, apesar de seu aspecto insolente, olhou-te uma vez com consideração,
sem saber quem eras, prestou atenção às tuas palavras
e mesmo te recebeu junto de si; tu não te dignaste a considerar nem
a ti mesmo. Portanto, não há razão para pedires contas
de teus favores a quem quer que seja, uma vez que, quando os fizeste, não
desejavas estar com um outro, mas não podias estar contigo.
Liberdade
é colocar a alma acima das injúrias e conseguir transformar-se
a si mesmo, de tal maneira que seja possível extrair unicamente de
si mesmo as próprias satisfações.
Ácido
Desoxirribonucleico - ADN
Nunca
a fortuna põe um homem em tal altura que não precise de um
amigo.
Todos
os espíritos que alguma vez brilharam consentirão neste único
ponto: jamais se cansarão de se espantar com a cegueira das mentes
humanas. Não se suporta que as propriedades sejam invadidas por ninguém,
e, se houver uma pequena discórdia quanto à medida de seus
limites, os homens recorrem a pedras e armas; no entanto, permitem que outros
se intrometam em suas vidas, a ponto de eles próprios induzirem seus
futuros possessores; não se encontra ninguém que queira dividir
seu dinheiro, mas a vida, entre quantos cada um a distribui! São
avaros em preservar seu patrimônio, enquanto, quando se trata de desperdiçar
o tempo, são muito pródigos com relação à
única coisa em que a avareza é justificada. Por isto, agrada-me
interrogar um qualquer, dentre a multidão dos mais velhos: —
Vemos que chegaste ao fim da vida, contas já cem ou mais anos. Vamos!
Faz o cômputo de tua existência. Calcula quanto deste tempo
credor, amante, superior ou cliente te subtraiu e quanto ainda as querelas
conjugais, as reprimendas aos escravos, as atarefadas perambulações
pela cidade; acrescenta as doenças que nós próprios
nos causamos e também todo o tempo perdido: verás que tens
menos anos de vida do que contas. Faz um esforço de memória:
quando tiveste uma resolução seguida? Quão poucas vezes
um dia qualquer decorreu como planejaras! Quando empregaste teu tempo contigo
mesmo? Quando mantiveste a aparência imperturbável, o ânimo
intrépido? Quantas obras fizeste para ti próprio? Quantos
não terão esbanjado tua vida, sem que percebesses o que estavas
perdendo; o quanto de tua vida não subtraíram sofrimentos
desnecessários, tolos contentamentos, ávidas paixões,
inúteis conversações, e quão pouco não
te restou do que era teu! Compreendes que morres prematuramente?
Como mortais, vos aterrorizais de
tudo; mas desejais tudo como se fôsseis imortais... Que negligência
tão louca a dos mortais, de adiar para o qüinquagésimo
ou sexagésimo ano os prudentes juízos, e a partir deste ponto,
ao qual poucos chegaram, querer começar a viver!
Conto
entre os piores os que nunca estão disponíveis para nada,
senão para o vinho e os prazeres sensuais, pois não há
ocupação mais vergonhosa.
Não
há porque pensar que alguém tenha vivido muito, por causa
de suas rugas ou cabelos brancos: ele não Viveu por muito tempo,
simplesmente foi por muito tempo. Pensarias ter navegado muito, aquele que,
tendo se afastado do porto, foi apanhado por violenta tempestade, errou
para cá e para lá e ficou a dar voltas, conforme a mudança
dos ventos e o capricho dos furacões, sem, contudo, sair do lugar?
Ele não navegou muito; ao contrário, foi muito acossado.
O
que emprega todo o tempo consigo próprio, que ordena
cada dia como se fosse uma vida, nem deseja o amanhã, nem o teme.5
Apressa-te
a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.
A
fome não é exigente; basta contentá-la. Como? Não
importa.
As
coisas que nos assustam são em maior número do que as que
efetivamente fazem mal, e afligimo-nos mais pelas aparências do que
pelos fatos reais.
A deformidade do corpo não
afeia uma bela alma, mas a formosura da alma se reflete no corpo.
Desventurado
é aquele que por tal se julga.
Na
vida pública, ninguém olha para os que estão pior,
mas apenas para os que estão melhor.
O
fogo é a prova do ouro; a miséria, a do homem forte.
Procura a satisfação
de veres morrer os teus vícios antes de ti.
Sou
muito grande e muito superior é o destino para o qual nasci, para
que eu possa permanecer escravo do meu corpo.
Nisto erramos: em ver a morte à
nossa frente, como um acontecimento futuro, enquanto grande parte dela já
ficou para trás. Cada hora do nosso passado pertence à morte.
Se
fosse possível apresentar a cada um a conta dos anos futuros, da
mesma forma que podemos fazer com os passados, como tremeriam aqueles que
vissem lhes restar poucos anos e como os poupariam! Pois, se é fácil
administrar o que, embora curto, é certo, deve-se conservar com muito
cuidado o que não se pode saber quando haverá de acabar.
Protelar
é o maior prejuízo para a vida.
Tudo
que está por vir se assenta na incerteza: desde já, Vive!
Contra
as paixões deve-se lutar com arrojo, não com sutilezas; e
deve-se romper a linha de batalha com um grande assalto, não com
tímidas tentativas. Devemos vencer as paixões, não
espicaçá-las.6
A
vida divide-se em três períodos: o que foi,
o que é, e o que haverá de ser. Destes, o que vivemos é
breve; o que haveremos de viver, duvidoso; o que já vivemos, certo...
Ninguém se voltará de bom grado ao passado, exceto aquele
cujas ações estão todas submetidas à censura
de sua consciência, que nunca se engana.
O
tempo presente é brevíssimo, tanto que a alguns parece não
existir, pois está sempre em movimento; flui e precipita-se; deixa
de ser antes de vir-a-ser; é tão incapaz de se deter quanto
o mundo ou as estrelas, cujo infatigável movimento não lhes
permite permanecer no mesmo lugar. Pertence, pois, aos ocupados, apenas
o tempo presente, que é tão breve que não pode ser
abarcado; e este mesmo lhes escapa, ocupados que estão em muitas
coisas. Enfim, queres saber quão pouco vivem os ocupados? Vê
como desejam viver longamente. Velhos decrépitos mendigam em suas
orações um acréscimo de uns poucos anos; procuram parecer
menos idosos e lisonjeiam-se com mentiras e encontram tanto prazer em enganar
a si próprios, que é como se enganassem junto o destino. Mas,
quando uma enfermidade qualquer os adverte de que são mortais, morrem
tomados de pavor, não como se deixassem a vida, mas como se ela lhes
fosse arrancada. Ficam gritando que foram tolos em não viver e que,
se por acaso escaparem da doença, haverão de viver no ócio;
então, tomam consciência de quão inútil foi adquirir
o que não desfrutaram, e de como todos os seus esforços resultaram
em vão.
Dentre todos os homens, somente são
verdadeiramente ociosos os que estão disponíveis para a Sabedoria;
eles são os únicos a viver, pois, não apenas administram
bem sua vida, mas lhe acrescentam toda a eternidade.7
... frívola
paixão de aprender inutilidades...
Deve-se
aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes,
a vida toda é um aprender a morrer.
Quando lhe vier o último dia,
o sábio não hesitará em caminhar para a morte com passo
firme.
Nenhuma meditação é
tão imprescindível como a meditação da morte.
Aquilo
que pode fazer de ti um homem de bem já existe dentro de ti. Para
seres um homem de bem só precisas de uma coisa: a vontade.
A
virtude não se conquista por procuração.
Um
homem será bom se a sua razão for desenvolvida e justa, e
se estiver adequada à plena realização da natureza
humana.
Já
que a Natureza nos permite entrar em comunhão com toda a eternidade,
por que não nos desviarmos dessa estreita e curta passagem do tempo
e nos entregarmos com todo nosso espírito àquilo que é
ilimitado, eterno e partilhado com os melhores?
Toda arte é imitação
da Natureza.
A
vida do Filósofo estende-se por muito tempo, e ele não está
confinado nos mesmos limites que os outros. É o único a não
depender das leis do gênero humano: todos os séculos o servem...
Algo se distancia no passado? Ele recupera-o com a memória. Está
no presente? Ele o desfruta. Há de vir no futuro? Ele o antecipa.
A reunião de todos os momentos em um só torna sua longa a
vida.
O
benefício que a todos se faz, a nenhum se faz.8
As
idéias belas e verdadeiras pertencem a todos.
As
riquezas não são um bem, pois, se o fossem, tornariam bons
os ricos. No caso do sábio, as riquezas estão ao seu serviço;
ao insensato; dirigem-no.
O
sábio adverte os outros não por sentimento de raiva, mas tendo
em vista a sua cura.
Nunca um general confia na paz a
ponto de não se preparar para a guerra.
Um timoneiro que se preze continua
a navegar mesmo com a vela despedaçada.
No
seio do homem virtuoso existe um Deus.
Os
deuses põem à prova a virtude e exercitam a força de
espírito dos bons, que devem seguir seu destino preestabelecido9:
o sábio, por isto, nunca será infeliz.
De fato, este nosso corpo é
para o espírito uma carga e um tormento. Sob o seu peso, o espírito
tortura-se, está aprisionado, a menos que dele se aproxime a Filosofia
para o incitar a alçar-se à contemplação da
Natureza, a trocar o mundo terreno pelo mundo divino. Esta é a liberdade
do espírito, estes são os seus vôos: subtrair-se ocasionalmente
à prisão e ir refazer as forças no firmamento.
Não há Filosofia sem
virtude, nem virtude sem Filosofia. O fim da atividade filosófica
é uma vida sábia, e é próprio do sábio
realizar uma vida no bem.