SAVOIR-VIVRE

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Por que a multidão acredita ser profundo tudo aquilo de que não pode ver o fundo? Tem tanto medo! Gosta tão pouco de se meter na água!

Friedrich Wilhelm Nietzsche

 

A meio caminho entre a fé e a crítica está a estalagem da razão. A razão é a fé no que se pode compreender sem fé; mas, é uma fé ainda, porque compreender envolve pressupor que há qualquer coisa compreensível.

Fernando Pessoa

 

Se compreendêssemos, nunca mais poderíamos julgar.

André Malraux

 

Cansamo-nos de tudo menos de compreender.

Virgílio

 

O homem está sempre disposto a negar aquilo que não entende.

Luigi Pirandello

 

Compreender tudo é tudo perdoar

Liev Tolstói

 

Nunca devemos admitir como causa daquilo que não compreendemos algo que ainda entendemos menos

Doantien Sade

 

Mais vale compreender pouco do que compreender mal.1

Anatole France

 

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Nota:

1. Penso que, a depender do caso, seja melhor não compreender porra nenhuma de xongas do que compreender mal ou porcamente, e fazer desta compreensão suína (intencionalmente ou não) um instrumento de dor, desespero, destruição e morte. Ou será que, por exemplo, os pais da bomba nuclear achavam, romanticamente, que os donos do poder para quem trabalhavam iriam usá-la para fazer festinhas e afagos naqueles que consideravam seus inimigos?

O que muita gente não leva em conta é que, quando uma bomba nuclear é explodida, não vaporizam e morrem apenas seres humanos. São riscados do mapa vegetais e animais – inclusive microorganismos – e a área da explosão fica nuclearmente comprometida por décadas. Quando os testes nucleares são feitos no mar, vai tudo para a casa do cacete: plâncton, bento, nécton, microrganismos, fitoplâncton, diatomáceas, cianofíceas, macroalgas, ervas marinhas, zooplâncton, invertebrados marinhos, invertebrados bentônicos, invertebrados nectônicos, mamíferos marinhos, sereias, peixes, peixinhos, peixões e por aí vai. O acidente nuclear de Chernobyl, que ocorreu no dia 26 de abril de 1986, na Usina Nuclear de Chernobil, transformou Chernobyl – localizada no norte da Ucrânia, perto da fronteira com a Bielorrússia – em uma cidade-fantasma.

 

 

Chernobyl Hoje

 

Um pouco de História: 1º) o físico norte-americano Julius Robert Oppenheimer (Nova Iorque, 22 de abril de 1904 – Princeton, 18 de fevereiro de 1967) foi o primeiro diretor do Projeto Manhattan para o desenvolvimento da bomba nuclear, durante a Segunda Guerra Mundial, no Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México; 2º) no dia 6 de agosto de 1945, a primeira bomba nuclear (nome de código: Little Boy) foi lançada sobre Hiroshima: 140 mil pessoas morreram naquele ano e 200 mil nos cinco anos seguintes em conseqüência da radiação causadora de mutações genéticas e da radiação de fundo residual (naquela época, os efeitos das radiações ionizantes eram pouco conhecidos); hoje, as medições mais recentes indicam níveis de radiação compatíveis com os de outras cidades, e já não há mais riscos à saúde em Hiroshima; 3º) três dias depois, em 9 de agosto de 1945, uma segunda bomba nuclear (nome de código: Fat Man) foi lançada, sobre Nagazaki: 70 mil habitantes foram mortos naquele dia ou até o fim do ano, e mais de 70 mil pessoas morreram nos cinco anos seguintes em decorrência dos altíssimos níveis de radiação a que foram expostos; hoje, também já não há mais riscos à saúde em Nagazaki, ainda que restem muitas dúvidas sobre os efeitos da radiação a longo prazo e o real número total de vítimas mortais nas duas Cidades; 4º) anos depois de toda esta desgraceira, perguntaram a Oppenheimer se ele havia sentido remorso pelo fato de que tantos civis haviam sido mortos ou feridos com a explosão da bomba, e ele comentou: — Remorsos terríveis! Os físicos têm uma responsabilidade particular, pelo fato de terem minuciosamente sugerido, apoiado e, por fim, tornado possível a fabricação das armas nucleares. Falando sem meios-termos: sem nenhum exagero, os físicos conheceram o pecado, e este é um conhecimento que ficará em suas consciências para sempre.

Eu fico me perguntando: Remorso terrível de quê? Por quê? Ora, depois que explodiram a primeira bomba nuclear (nome de código: Trinity), em 16 de julho de 1945, equivalente à explosão de cerca de mais ou menos 15 quilotons de TNT (trinitrotolueno), e viram o seu poder devastador, por que não abortaram a merda toda? Por que não largaram tudo e não vieram tomar banhos de mar em Copacabana e ver o que a Natureza oferece de melhor? Por que não se tornaram opositores declarados ao desenvolvimento das armas nucleares? Opor-se depois de Hiroshima e Nagazaki, e não antes, é a mesma coisa que não se opor a coisa alguma. Não; a grana era alta, as mordomias sem-fim e os paparicos sem conta. Caviar com é muito melhor do que pão-com-meleca e mijo-de-padre. E mais: quem tem o poder de apertar o botão não abre mão deste poder de jeito maneira, nem aqui nem no raio que o parta. A regra é simples: ou dança a música que eu toco ou fica sentado no mocho e não dança. O fato é que nos anos que se seguiram à década de 1940, Los Alamos foi responsável pelo desenvolvimento da bomba de hidrogênio e muitas outras variantes de armas nucleares. Hoje, o mundo tem uma quantidade de armas nucleares capaz de destruir o Planeta inteiro sei lá quantas vezes. Então, pergunto de novo: Remorso de quê? Por quê? Bem, se remorso realmente houve, será que incluiu a vaidade? Essa bosta fedorenta de servir à pátria matando os outros não é servir à pátria coisíssima nenhuma; é ser um acólito-vassalo da Grande Loja Negra, pois, quanto maior for o fudelhufas de cagahouse ou o fudehouse de cagalhufas mais funesto será o fudevu de cassarolê! Os Irmãos das Sombras nunca se satisfazem com a quantidade de sangue derramado; estão sempre querendo mais! E mais... E mais... E mais...

Para concluir esta revisitação horrípila, o brigadeiro-general da Força Aérea dos Estados Unidos Paul Warfield Tibbets, Jr. (Quincy, 23 de fevereiro de 1915 – Columbus, 1º de novembro de 2007), comandante do avião B-29, denominado Enola Gay em homenagem à sua mãe, que lançou a bomba de urânio-235 sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, até o fim de sua vida, acreditou ter feito o necessário para acabar com a guerra, e não demonstrou arrependimento pela bomba por ele lançada ser responsável pela morte de centenas de milhares de pessoas, no primeiro ataque nuclear contra seres humanos na História, que, talvez, não tenha sido o primeiro! O Presidente Harry S. Truman (Lamar, 8 de maio de 1884 – Kansas City, 26 de dezembro de 1972), que ordenou o ataque, teria dito à tripulação, depois do retorno aos Estados Unidos: Não percam o sono por terem cumprido esta missão; a decisão foi minha; vocês não podiam escolher. Remorso? Arrependimento? Ora, remorso e arrependimento não pagam o leite das crianças!

Enfim, que me perdoe o escritor francês Anatole France, mas, em certos casos, é melhor compreender mal (muito melhor é não se compreender bulhufas) do que compreender pouco, porque quem compreende pouco pode parir um monstrengo, e quem compreende mal ou não compreende bulhufas não vai lá das pernas. Se aqueles caras de guarda-pó branco, lá do Projeto Manhattan, tivessem compreendido mal, talvez, a bomba tivesse explodido na cara deles, e, se não tivessem compreendido bulhufas, a bomba não teria sido fabricada. Mas, como compreenderam o suficiente, milhares de formiguinhas foram cruelmente assassinadas instantaneamente. Mas, quem está ligando para formigas? O Senhor Truman nunca deu a menor bola para elas!

 

 

O que fiz eu para esses cruéis
me sublimarem desta maneira?

 

 

 

 

 

 

 

Somos o que compreendemos;

seremos o que hoje benfizermos.

Somos o que incompreendemos;

seremos o que hoje malfizermos.

 

Estas são cósmicas legislações,

das quais nenhum ente está livre.

Não existem outras proposições:

a boa é mudançar o savoir-vivre.

 

Mas, será isto difícil de entender

ou depreendemos e não ligamos?

Não dando bola, manda o não-ser,

que nos agrilhoa com acabramos.

 

É muito triste, entretanto, é assim

que findará o viver no vai-da-valsa.

Lá um dia – já dentro do camucim –

rebolará a múmia do mala-sem-alça!

 

Acautelemo-nos! Nosso vir-a-ser

é dependente apenasmente de nós!

Se não ligarmos, atuará o não-ser,

enfileirando moléstias, dores e nós.

 

E assim, vai indo a Humanidade

– ora tartaruga-legítima, ora lebre,

ora tardonha, ora com celeridade,

ora dona de si, ora fofa e selebre!

 

Ora no mar a buscar sardinhas,

ora a testemunhar e a genuflectir,

ora a acender velas vermelhinhas,

entretanto, sem variação, a pedir!

 

Só mudançando e transmutando

a porra-louquice do mau-caratismos

e ao Sumum Bonum nos consagrando,

nos livraremos dos nossos cousismos.

 

Cousismos da hora-que-não-é-Hora...

Cousismos de zil quimeras fabricadas...

Cousismos da Bocetinha de Pandora...

Cousismos de vidas destrambelhadas...

 

Cousismos de quereres descomedidos...

Cousismos de paixões descontroladas...

Cousismos de sentimentos distorcidos...

Cousismos de esquisofrenices maniadas...

 

Cousismos filhotes de outros cousismos...

Cousismos netos de agros desconceitos...

Cousismos bisnetos de velhos atavismos...

Cousismos tataranetos de preconceitos...

 

Só trocando cousismo por compreensão

nós poderemos ver a LLuz no Horizonte.

Tão-somente mutando cada contrafação,

o que está lá longe pintará bem defronte.

 

E aí, sejam cousismos, sejam sardinhas,

deixarão de nos cousismar ou sardinhar.

E também não as intrincadas adivinhas

haverão de nossos bestuntos aferventar!

 

Preciso epilogar, mas, ainda devo dizer:

areia não entra onde não deveria entrar,

e bosta não fede se não tiver que feder,

 

Mas, precisamos aprender a bem rimar,

e – no Coração – saber ver o Sol nascer,

pois, o Sol – no céu – não ensina a trovar.

Só o Verbum Internum nos fará Renascer!

 

 

 

 

Música de fundo:

Fui ao Mar Buscar Sardinhas
Composição: Amália Rodrigues & Carlos dos Santos Gonçalves
Interpretação: Amália Rodrigues

Fonte:

http://www.belita.org/BELITAS%20MUSIC/

Fui ao mar buscar sardinhas,
Para dar ao meu amor,
Perdi-me nas janelinhas,
Que espreitavam do vapor.

A espreitar lá do vapor,
Vi a cara dum francês,
E sejá lá como for,
Eu vou ao mar outra vez.

Eu fui ao mar outra vez,
Lá o vapor de abalada,
Já lá não vi o francês,
Vim de lá toda molhada.

Saltou-me de mim toda a esperança,
Saltou do mar a sardinha,
Salta a pulga da balança,
Não faz mal, não era minha.

Vou ao mar buscar sardinha,
Já me esqueci do francês,
A idéia não é minha
Nem minha nem de vocês.

Coisas que eu tenho na idéia,
Depois de ter ido ao mar,
Será que me entrou areia
Onde não devia entrar?

Pode não fazer sentido,
Pode o verso não caber,
Mas o que eu me tenho rido,
Nem vocês queiram saber.

Não é para adivinhar,
Que eu não gosto de adivinhas.
Já sabem que eu fui ao mar,
E fui lá buscar sardinhas.

Sardinha que anda no mar
Deve andar consoladinha.
Tem água, sabe nadar,
Quem me dera ser sardinha!

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.teckler.com/pt/jukaa/CHERNOBYL
-LITTLE-BOY-E-FAT-MAN--158666

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Tibbets_Jr.

http://mundoestranho.abril.com.br/materia/a-radiacao-das-bom
bas-de-hiroshima-e-nagasaki-ainda-prejudica-a-vida-no-japao

http://pt.wikipedia.org/wiki/Biologia_marinha

http://www.animated-gifs.eu/
insects-ants/index.php?page=5

http://www.animationlibrary.com/
sc/199/Explosives/?page=3

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Robert_Oppenheimer

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/t/compreensao/30

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/t/compreensao/20

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/t/compreensao/10

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/t/compreensao

http://2011cann.marryatvilleps.wikispaces.net/
Reading+...+Comprehension

 

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