Um
escritor é um homem como os outros: sonha.
O Deus da Bíblia não
é de fiar: é vingativo e má pessoa. Sobre o livro sagrado,
eu costumo dizer: lê a Bíblia e perde a fé.
Todos
sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será
o último para outros, e que, para a maioria, é só um
dia mais.
Oculta
consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
Da
literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito estufa,
do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo
se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se
de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza
até à consumação dos séculos, esse não
se discute.
Se
tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no
de carne, e sangra todo dia.
Eu,
no fundo, não invento nada. Sou apenas alguém que se limita
a levantar uma pedra e pôr à vista o que está por baixo.
Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros.
Para temperamentos nostálgicos,
em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é
um duríssimo castigo.
Eu
luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.
O
filho de José e Maria nasceu como todos os filhos
dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades
e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará
por esse mesmo e único motivo.
Estamos
usando nosso cérebro de maneira excessivamente disciplinada, pensando
só o que é preciso pensar, o que se nos permite pensar.
Não
tenhamos pressa, mas não percamos tempo.
Sobre
o novo acordo ortográfico: Não vou me sentar outra
vez no banco da escola primária.
Nossa
maior tragédia é não saber o que fazer com a vida.
O
que as vitórias têm de mau é que não são
definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também
não são definitivas.
Talvez o nosso mundo se convexe
Na matriz positiva doutra esfera.
Talvez
no interspaço que medeia
Se permutem secretas migrações.
Talvez
a cotovia, quando sobe,
Outros ninhos procure, ou outro Sol.
Talvez
a cerva branca do meu sonho
Do côncavo rebanho se perdesse.
Talvez
do eco dum distante canto
Nascesse a poesia que fazemos.
Talvez
só amor seja o que temos,
Talvez a nossa coroa, o nosso manto.
Por
causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo,
principalmente o mais horrendo e cruel.
Dizem-se representantes de Deus na
Terra (nunca O viram e não têm a menor prova da Sua existência)
e passeiam pelo mundo suando hipocrisia por todos os poros.
O espelho e os sonhos são
coisas semelhantes: é como a imagem do homem diante de si próprio.
Por
que, para que e, a mais importante, para quem, são as três
perguntas fundamentais que deveríamos fazer ao primeiro-ministro,
ao professor, ao pai, ao filho, quase a propósito de tudo o que ocorre.
O problema é que isso dá um pouco de trabalho.
De que adianta falar de motivos?
Às vezes basta um só;às vezes nem juntando todos.
Se
começássemos a dizer claramente que a Democracia é
uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez
pudéssemos nos entender melhor.
Escrevo
para tentar entender, e porque não tenho nada melhor para fazer.
Os
lugares-comuns, as frases feitas, os bordões, os narizes-de-cera,
as sentenças de almanaque, os rifões e os provérbios,
tudo pode aparecer como novidade. A questão está só
em saber manejar adequadamente as palavras que estejam antes e depois.
O
Universo não tem notícia da nossa existência.
Mesmo que a rota da minha vida me
conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos
do mundo.
Há
uma pergunta que me parece dever ser formulada e para a qual não
creio que haja resposta: que motivo teria Deus para fazer o Universo? Só
para que num planeta pequeníssimo de uma galáxia pudesse ter
nascido um animal determinado que iria ter um processo evolutivo que chegou
a isto?
Fisicamente,
habitamos um espaço; mas, sentimentalmente, somos habitados por uma
memória.
O trabalho que deixou de ser o que
havia sido, e nós, que só podemos ser o que fomos, de repente
percebemos que já não somos necessários no mundo...
Há
ocasiões que é mil vezes preferível fazer de menos
do que fazer de mais; entrega-se o assunto ao governamento da sensibilidade,
ela, melhor do que a inteligência racional, saberá proceder
segundo o que mais convenha à perfeição dos instantes
seguintes.
Nem
a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe.
Quem
acredita levianamente tem um Coração leviano.
Duas
fraquezas não fazem uma fraqueza maior; fazem uma força nova.
A
vida é assim: faz-se muito de coisas que acabam. Também se
faz coisas que principiam; nunca são as mesmas.
Independência absoluta não
existe. Vivemos em uma sociedade de interdependências que se expandem
em progressão geométrica.
Perder
tempo a explicar porque gosta seria pouco menos que inútil. Há
coisas na vida que se definem por si mesmas; um certo homem, uma certa mulher,
uma certa palavra, um certo momento, bastaria que assim o tivéssemo
as enunciado para que toda a gente percebesse de que se tratava. Mas outras
coisas há, e que até poderão ser o mesmo homem e a
mesma mulher, a mesma palavra e o mesmo momento, que, olhadas de um ângulo
diferente, a uma luz diferente, passam a determinar dúvidas e perplexidades,
sinais inquietos, uma insólita palpitação...
...
enquanto houver vida, haverá esperança.
Sim, é certo. Por mais espessas e negras que estejam as nuvens sobre
nossas cabeças, o céu lá por cima estará permanentemente
azul, mas a chuva, o granizo e os coriscos é sempre para baixo que
vêm. Em verdade, não sabe uma pessoa o que pensar quando tem
de se fazer entender com uma ciência dessas.
Obrigado
por teres posto a tua mão sobre a minha.
As
coisas que parecem ter passado são as que nunca acabam de passar.
Ainda
que te possa parecer estranha a comparação, os gestos, para
mim, são mais do que gestos; são como desenhos feitos pelo
corpo de um no corpo de outro.
Quem tu és não importa,
nem conheces
O sonho em que nasceu a tua face:
Cristal vazio e mudo.
Do sangue de Quixote te alimentas,
Da alma que nele morre é que recebes
A força de seres tudo.
O
momento das carícias voltou a entrar no quarto, pediu desculpa por
se ter demorado tanto lá fora. Não encontrava o caminho, justificou-se,
e, de repente, como aos momentos algumas vezes acontece, tornou-se eterno.
Costuma-se
dizer que as paredes têm ouvidos. Imagine-se o tamanho que terão
as orelhas das estrelas.
A
pena pior, minha filha, não é a que se sente no momento; é
a que se vai sentir depois, quando já não houver remédio,
Diz-se que o tempo tudo cura. Não vivemos bastante para tirar a prova.
A
virtude – quem o ignorará ainda –
sempre encontra escolhos
no duríssimo caminho da perfeição; mas o pecado e o
vício são tão favorecidos da fortuna que foi ela chegar
e abrirem-se-lhe as portas do elevador.
...
assim é que a vida deve ser: quando
um desanima, o outro se agarra às próprias tripas e faz delas
coração.
Não
se pode trabalhar num esgoto sem cheirar a esgoto.
Com
pesos duvidosos me sujeito à balança até hoje recusada
de saber o que mais vale: se julgar, assistir ou ser julgado. Ponho no prato
raso quanto sou.
Foi
trabalhoso abrir a cova. A terra estava dura, calcada, havia raízes
a um palmo do chão. Cavaram à vez o motorista, os dois policiais
e o primeiro cego. Perante a morte, o que se espera da Natureza é
que percam os rancores a força e o veneno. É certo que se
diz que o ódio velho não cansa, e disso não faltam
provas na literatura e na vida, mas isto aqui, a bem dizer, não era
ódio, e de velho nada, pois que vale um roubo de um automóvel
ao lado do morto que o tinha roubado, e menos ainda no mísero estado
em que se encontra, que não são precisos olhos para cavar
mais fundo que três palmos.
Cegueira
também é isto: viver em um mundo onde se tenha acabado a esperança.
O
tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só
a memória é capaz de fazer mover e aproximar.
Se
não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos,
façamos tudo para não viver inteiramente como animais.
Que diabo de Deus é esse que
para enaltecer Abel despreza Caim?
Sem
futuro, o presente não serve para nada, é como se não
existisse. Pode ser que a Humanidade venha a conseguir viver sem olhos,
mas, então, deixará de ser Humanidade.
O
mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou. Agora é o reino
duro, cruel e implacável dos cegos.
A
maior dificuldade para chegar a viver razoavelmente no inferno é
o cheiro que lá há.
Perguntar
de que morreu alguém é estúpido; com o tempo, a causa
esquece, só uma palavra fica – morreu.
Na
morte, a cegueira é igual para todos.
Quando
a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e
angústia, então é que se vê o animalzinho que
somos.
O
costume de cair endurece o corpo. Ter chegado ao chão, só
por si, já é um alívio, Daqui não passarei.
Dentro
de nós há uma coisa que não tem nome; essa coisa somos
nós.
Aqui,
cada um com seu desgosto e todos com a mesma pena.
...
é o que as palavras simples têm
de simpático: não sabem enganar.
O
código genético disso a que, sem pensar muito, nos temos contentado
em chamar natureza humana, não se esgota na hélice orgânica
do ácido desoxirribonucleico ou DNA. Tem muito mais que se lhe diga
e muito mais para nos contar; mas essa, por dizê-lo de maneira figurada,
é a espiral complementar que ainda não conseguimos fazer sair
do jardim de infância, apesar de multidões de psicólogos
e analistas das mais diversas escolas e calibres que têm partido as
unhas a tentar abrir-lhe os ferrolhos.
Código
Genético
(Tabela Circular)
É
ainda possível chorar sobre as páginas de um livro; mas não
se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.
Em
profunda escuridão se procuraram, nus, sôfrego entrou nela,
ela o recebeu ansiosa. Depois a sofreguidão dela, a ânsia dele,
enfim os corpos encontrados, os movimentos, a voz que vem do ser profundo,
aquele que não tem voz, o grito nascido, prolongado, interrompido,
o soluço seco, a lágrima inesperada, e a máquina a
tremer, a vibrar, porventura não está já na Terra,
rasgou a cortina de silvas e enleios, pairou no alto da noite, entre as
nuvens, pesa o corpo dele sobre o dela, e ambos pesam sobre a Terra, afinal
estão aqui, foram e voltaram.
Quando
Baltasar entra em casa, ouve o murmúrio que vem da cozinha, é
a voz da mãe, a voz de Blimunda, ora uma, ora outra, mal se conhecem
e tem tanto pra dizer, é a grande interminável conversa das
mulheres. Parece coisa nenhuma, isto pensam os homens, nem eles imaginam
que esta conversa é que segura o mundo na sua órbita, não
fosse falarem as mulheres umas com as outras, já os homens teriam
perdido o sentido da casa e do Planeta.
Enferrujam-se
os arames e os ferros, cobrem-se os panos de mofo, detrança-se o
vime ressequido, obra que em meio ficou não precisa envelhecer para
ser ruína.
Além
da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua
órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem um coroa
de luas; por isso o céu é o resplendor que há dentro
da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos
homens o próprio e único céu.
Talvez
as lágrimas não sejam mais do que isso: o alívio de
uma ofensa.
Voando
a máquina, todo o céu será música.
Abençoem-se
um ao outro, é quanto basta, pudessem todas as bênçãos
como essa ser.
Não
há nada mais triste que uma ausência (...), só fica
uma pungente melancolia, esta que faz (...) sentar ao cravo e tocar um pouco,
quase nada, apenas passando os dedos pelas teclas como se estivessem olhando
um rosto quando já as palavras foram ditas ou são de menos.
José
Anaiço está ao lado de Joana Carda, mas não lhe toca,
compreende que não deve tocar-lhe, ela compreende-o também.
Há momentos em que mesmo o amor deve conformar-se com a sua insignificância,
perdoai que assim reduzamos o extremo dos afetos a quase nada, ele que,
em outras ocasiões, é quase tudo.
Dificílimo
ato é o de escrever, responsabilidade das maiores...
Basta
pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal
os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou, se tal mais convém
às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio
de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias...
As
religiões, todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não
têm outra justificação para existir que não seja
a morte, precisam dela como do pão para a boca. Tem
razão, senhor filósofo, é para isso mesmo que nós
existimos, para que as pessoas levem toda a vida com o medo pendurado ao
pescoço e, chegada a sua hora, acolham a morte como uma libertação.
Não foi o que nos habituaram a ouvir. Algo teríamos que dizer
para tornar atrativa a mercadoria. Isso quer dizer que em realidade não
acreditam na vida eterna. Fazemos de conta.
Com
as palavras, todo cuidado é pouco; mudam de opinião como as
pessoas. Porque as palavras, se não o sabe, movem-se muito, mudam
de um dia para o outro, são instáveis como sombras, sombras
elas mesmas, que tanto estão como deixaram de estar, bolas de sabão,
conchas de que mal se sente a respiração, troncos cortados.
Aí
está uma palavra que soa bem, cheia de promessas e certezas, dizes
metamorfose e segues adiante, parece que não vês que as palavras
são rótulos que se pegam às cousas, não são
as cousas, nunca saberá como são as cousas, nem sequer que
nomes são na realidade os seus, porque os nomes que lhes deste não
são mais que isso: os nomes que lhes deste.
A
propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si
mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que
o homem.
A
morte conhece tudo a nosso respeito, e, talvez por isso, seja triste.
A
prudência só serve para adiar o inevitável; mais cedo
ou mais tarde acaba por se render.
De
Deus e da morte não se tem contado senão histórias.
O
corpo que sonha é real, portanto, salvo opinião mais autorizada,
também tem de ser real o sonho que ele estiver a sonhar.
...
como se o tempo houvesse encolhido todo,
de trás para diante e de diante para trás, comprimido em um
instante compacto...
O
tempo pusera-se a contar os dias desde o princípio, agora usando
a tábua de multiplicação para tirar o atraso... O tempo,
ainda que os relógios nos queiram convencer do contrário,
não é o mesmo para toda gente.
O
efeito da queda poderia ser acabar-se-lhe a vida, o que, sem dúvida,
teria a sua importância de um ponto de vista estatístico e
pessoal. Mas o que representa isso, perguntamos nós, se, sendo a
vida biologicamente a mesma, quer dizer, o mesmo ser, as mesmas células,
as mesmas feições, a mesma estatura, o mesmo modo aparente
de olhar, ver e reparar, e sem que a estatística se tivesse podido
aperceber da mudança, essa vida passou a ser outra vida, e outra
pessoa essa pessoa.
A
Democracia é uma realidade que não existe. Quem verdadeiramente
manda são instituições que não têm nada
de democráticas, como é o caso do Fundo Monetário Internacional,
as fábricas de armas e as multinacionais farmacêuticas.
Em
rigor, não tomamos decisões; são as decisões
que nos tomam a nós.
O
acaso não escolhe, propõe.
A
estupidez não escolhe entre cegos e não-cegos. É uma
manifestação de mau humor, assente sobre coisa nenhuma e pronto,
acabou. Nada mais.
O
que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca; e que é
preciso andar muito para alcançar o que está perto.
Para
ela, vá lá entender a alma humana, o fato de não ver
as paredes do cárcere, as próximas e as distantes, era o mesmo
que se elas tivessem deixado de estar ali. Era como se o espaço se
tivesse alargado, livre, até ao infinito; como se as pedras não
fossem mais do que o mineral inerte de que são feitas; como se a
água fosse simplesmente a razão da lama; como se o sangue
corresse só dentro das suas veias, e não fora delas.
Homem,
não tenhas medo. A escuridão em que estás metido aqui
não é maior do que a que existe dentro do teu corpo.
O
tempo psicológico não corresponde ao tempo matemático...
A efetiva impossibilidade de medir esse tempo a que chamamos de alma...
Não
creio que haja maior respeito que chorar por alguém que não
se conheceu.
Aproximou-se
duma sepultura e tomou a atitude de alguém que estivesse a meditar
profundamente na irremissível precariedade da existência, na
vacuidade de todos os sonhos e de todas as esperanças, na fragilidade
absoluta das glórias mundanas e divinas.
Gostar
é provavelmente a melhor maneira de ter; ter deve ser a pior maneira
de gostar.
Quero
encontrar a ilha desconhecida; quero saber quem sou quando nela estiver.
Aprender
com a experiência dos outros é menos penoso do que aprender
com a própria.
Não
sou um ateu total. Todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente
não o encontro.
Deus
não cobra juros.
Perguntou-se
a José Saramago: — Como podem homens sem Deus serem
bons?
Sua resposta foi:
— Como
podem homens com Deus serem tão maus?
Insistiu
o entrevistador: —
O senhor ainda sente necessidades de ajustar contas com Deus, mesmo acreditando
que Ele só existe na cabeça das pessoas?
Sua resposta foi:
— Deus não
existe fora da cabeça das pessoas que Nele crêem.
Há uma tendência autoritária
em muitos países. Nada restou dos ideais. A esquerda sofre uma espécie
de tentação maligna que é a fragmentação.
Não vejo nada mais estúpido do que a esquerda. Uns enfrentam
os outros, por grupos, por partidos, por opções.
Se
antes de cada ato nosso, puséssemos prever todas as conseqüências
dele, e pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis,
depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos
sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar.
O
homem deixou de respeitar a si mesmo quando perdeu o respeito por seu semelhante.1
Hoje
em dia, os nomes já não possuem significado. O que importa
são os números: o número da conta, da identidade, do
passaporte. São eles que contam.
De repente, o futuro tornou-se curto.
Nós
estamos todos cegos. Cegos da razão. A razão não se
comporta racionalmente, o que é uma forma de cegueira.
A
lucidez é um luxo que nem todos se podem permitir.
A sabedoria diz que o erro é
inseparável da ação justa, que a mentira é inseparável
da sua verdade, que o homem é inseparável da sua negação.
Vá cada um aonde possa pelos
seus próprios meios: guias e gurus são más companhias.2
Tolerar
a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é
muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e esta não é
uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre
o outro.
Sem
política não se organiza uma sociedade. O problema é
que a sociedade está nas mãos de políticos profissionais.
Tudo o que fiz foi com plena consciência
de um ser humano que busca relatar sua identidade. Preciso indagar que diabos
estou fazendo aqui, na vida, na sociedade e na história.
Os
bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo,
supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por
todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já
cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos
ou para pedir perdão. Aliás, há quem diga que é
isto a imortalidade de que tanto se fala.
O Socialismo não produziu
socialistas.3
Toda
verdade instalada – mesmo aquela a que aderi –
é suspeita.4
No
interior da grande cidade de todos está a cidade pequena em que realmente
vivemos.5
Aqui,
na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos
cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No
jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas
o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.6