Rodolfo
Domenico Pizzinga
INTRODUÇÃO
Objetivos e Justificativa do Trabalho
ste
trabalho está subdividido em três partes. Na primeira é
apresentada uma sucinta biografia de Harvey Spencer Lewis (primeiro Imperator
da Ordem Rosacruz –
AMORC das Américas do Norte e do Sul e fundador de seu segundo
ciclo de atividades no Hemisfério Ocidental) editada do Manual
Rosacruz publicado pela AMORC e ampliada com alguns dados que não
constam daquelas informações; na segunda, com alguns exemplos,
é discutida a importância da ação de Sar Alden
no moderno e no contemporâneo Esoterismo Iniciático; e na última
são apresentados alguns fragmentos (editados, mas sem quaisquer modificações
nos seus conteúdos) do pensamento de Lewis que, maiormente, não
constam de ensaios que elaborei anteriormente. O texto é concluído
com algumas reflexões adicionais.
Um dos pontos mais importantes e examinados
em profundidade por organizações esotéricas e iniciáticas
sérias é a Arte da Criação Mental, da qual o pensador
místico ora estudado foi um especialista reconhecido, capaz não
só de criar ele mesmo o que julgava ser necessário existir para
o bem comum, mas também de transmitir para outras pessoas esse conhecimento
– e mais: o dom da criação. A AMORC, a ARC e a CR+C dão
especial ênfase ao estudo e à aplicação da Arte
da Criação Mental, por serem baseadas nos ensinamentos de Sar
Alden (Sar significa Son of Ra), Mestre da Grande Fraternidade Branca, e que
foi conhecido na Terra, em sua última manifestação física,
como Harvey Spencer Lewis (Frater Profundis XIII). Além da própria
(re)estruturação da AMORC nos EUA, dentre tantos, um outro exemplo
notável de empreendedorismo aplicado e a serviço do Misticismo
foi a criação psíquico-mística do Sanctum
Celestial que Sar Alden projetou e construiu no início do século
XX com o auxílio de alguns membros da AMORC de graus elevados, que
não é de ou para uso exclusivo dos membros da AMORC, mas que
foi e continua a estar disponibilizado para toda a Humanidade.
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Sanctum
Celestial
Animação Simbólica |
Este
estudo se justifica por alguns fatos singulares. Primeiro, a AMORC, hoje,
está espalhada por todo o Planeta e é a maior Organização
Místico-Iniciática da Terra; segundo, Sar Alden é um
dos Mestres da Grande Fraternidade Branca; e terceiro, sua obra escrita –
composta de livros e artigos públicos e de ensaios e monografias privativas
dos membros da AMORC – continua irretocável a educar e a orientar
pessoas mundo afora. A coragem, o poder de liderança e os atributos
intelectuais inusuais de homens como Akhnaton e Sar Alden tornam-nos imortais
em virtude das características distintivas fundamentais de suas ações,
fato que os manterão vivos para sempre no pensamento e na história
da Humanidade. Este trabalho poderia encerrar aqui pela simples compreensão
de que Sar Alden, com sua obra, ensinou aos membros da AMORC que poderiam,
se se esforçassem para isso, deixar de morrer para viver na Eterna
Luz.
Emocionado, mais do que apenas agradecer
o sacrifício e a intimoratibilidade de Sar Alden, dedico este modesto
texto à sua memória e à sua ainda não devida e
inteiramente apreciada obra mística. Personalidades eternas como ele
encarnam neste Plano por um único motivo: amor à Humanidade.
Fazem o que precisa ser feito, não perseguem glória ou reconhecimento
público e não estão preocupados com os resultados. Em
duas palavras: apenas fazem.
PRIMEIRA PARTE
Biografia Sucinta de Sar Alden
arvey
Spencer Lewis nasceu em Frenchtown, New Jersey, em 25 de novembro de 1883,
às 12 horas e 38 minutos (hora astrológica correta). Seus pais
dedicavam-se, na época, ao trabalho educacional e, assim, Sar Alden
recebeu boa instrução, sendo levado mais tarde para New York
com seus dois irmãos. Era de origem gaulesa, descendendo da família
Lewis cujo grande antepassado foi Sir Robert Lewis, e entre outros ascendentes
pode ser citada Merry-Weather Lewis, da famosa expedição Lewis
e Clark. Diversas personalidades historicamente conhecidas da primitiva história
americana também foram membros de sua família.
Educado nas escolas da Cidade de New
York, uniu-se à Igreja Metodista e foi um dos primeiros membros do
bem conhecido Templo Metropolitano Metodista do qual o Dr. S. Parkes Cadman
foi o primeiro clérigo e promotor de grande bem. Portanto, sua primeira
instrução religiosa foi de vertente católico-protestante.
Devotando-se aos estudos científicos
ingressou também no mundo da arte, como profissão, e, em muitas
partes da América, atualmente, há pinturas a óleo, pastel
e aquarela, assim como centenas de desenhos de sua pena. Muitas destas obras
se tornaram nacionalmente conhecidas. Antes de 21 anos assumiu a chefia das
atividades artísticas especiais do New York Herald.
Quase nessa mesma ocasião, foi
eleito Presidente do Instituto de Pesquisas Psíquicas de New York,
e entre os muitos colaboradores leais com quem pôde contar em seu trabalho
estavam Ella Wheeler Wilcox e “Fra” Hubbard, fundador dos Roycrofters.
Estes dois místicos colaboraram, mais tarde, na fundação
da Ordem Rosacruz na América e fizeram parte do primeiro Conselho Americano
da Ordem quando o Sar Alden foi escolhido para o cargo de Supremo Grande Mestre
da América.
Após muitos anos de contínuas
pesquisas científicas e psíquicas, mesmo no campo da telegrafia
sem fio (rádio) quando essa tecnologia era pouco conhecida, ele fez
seu primeiro contato com o trabalho dos Rosacruzes que estabeleceram sua sede
perto de Filadélfia, em 1694. Membro da Divisão Inglesa que
apoiou o primeiro movimento na América, a senhora May Banks-Stacey,
descendente de Oliver Cromwell e dos D'Arcys da França, colocou em
suas mãos os documentos que lhe haviam sido oficialmente transmitidos
pelo último dos primeiros Rosacruzes americanos, bem como a Jóia
e o Signo de Autoridade por ela recebidos do Grande Mestre da Ordem na Índia,
durante o tempo em que foi Oficial do movimento naquele País.
Durante vários anos foi mantida
correspondência com diferentes representantes das Jurisdições
estrangeiras, até que uma investigação acurada pudesse
estar concluída para determinar e atestar o merecimento e a capacidade
de Sar Alden para executar as incumbências a ele destinadas. Finalmente,
em 1909, foi ele instruído a comparecer diante de determinados altos
Oficiais da França. Visitou Toulouse, antigo centro do conclave internacional
Rosacruz, e voltou daquele País em posse de maior autoridade. Esta
autoridade e os documentos que lhe foram entregues pela Soror Stacey
foram apresentados a uma Comissão de mais de cem cidadãos norte-americanos,
sendo, então, lançadas as bases para o reativamento programado
do trabalho na América, ficando a Soror Stacey com o encargo
de ser a Grande Matre e o Frater Sar Alden com a incumbência
de ser o Supremo Grande Mestre da Ordem.
Desde aquela época muitos títulos
honoríficos lhe foram conferidos por sociedades, academias, instituições
científicas e corporações escolásticas do mundo
inteiro.
Como cidadão americano, foi
indicado para receber as honrosas condecorações da Cruz de Honra
e de Cavaleiro da Bandeira pela Associação da Bandeira dos Estados
Unidos. Na Europa, recebeu várias condecorações similares,
inclusive a Cruz de Ouro dos Cavaleiros Templários de Jerusalém.
Era membro do Supremo Conselho Rosacruz do Mundo e Oficial de várias
sociedades educacionais européias e americanas. Foi admitido aos Graus
mais elevados de catorze, ou mais, das mais destacadas sociedades esotéricas,
místicas e filosóficas do mundo, inclusive a Rose+Croix Kabalistique
da França, a Ordem Martinista da França, Bélgica e Suíça,
a Sociedade Alquímica Rose+Croix da França, os Samaritanos Incógnitos
da Europa, a Fraternidade Bramânica e os Ritos Egípcios de Mênfis
e Misraim. Dentre as merecidas distinções que recebeu, estão
incluídas: Legado da Ordem Rosacruz na França, Ministro da Legação
Estrangeira, Sacerdote Ordenado da Ashrama da Índia, Conselheiro Honorário
da Corda-Fratres da Itália, Sri Sobhita, da Grande Loja Branca do Tibet,
Rex Universitatis Illuminati, Membro da Universidade de Andhra da Índia
e Reitor da Universidade Rose-Croix. Foi Sar Alden também um dos poucos
Iniciados a serem recebidos em um templo arcano de Luxor, Egito, em 1929.
Foi distinguido com altas honras no
Congresso Internacional da Fédération Universelle des Ordres
et Sociétés Initiatiques (FUDOSI) realizado em Bruxelas,
Bélgica, em 1934, que foi fundada e instalada pela iniciativa do próprio
Sar Alden e de Émile Dantinne (Sar Hieronymus) e Victor Blanchard (Sar
Yesir) – o primeiro Triângulo Supremo da Federação.
Em setembro de 1939 este Supremo Triângulo passou a ser constituído
pelos Imperatores Emile Dantinne, Agustin Chaboseau e Ralph M. Lewis
(este em substituição a seu pai que havia passado pela Transição).
O símbolo da FUDOSI (em latim Federatio Universalis
Dirigens Ordines Societatesque
Initiationis) foi desenhado por Sar Alden e aprovado
pelos demais congressistas. Ele representa o ovo místico, que, no Egito
Antigo, guardava em seu seio todos os mistérios. Há em seu centro
dois ímãs bipolares representando os dois hemisférios
unidos em uma mesma fraternidade espiritual. A Iniciação é,
em verdade, universal, e todos os homens de boa vontade estão a Ela
habilitados, qualquer que seja o seu país de nascimento. O emblema
inclui em seu centro um triângulo inacabado e um quadrado incompleto,
já que todas as Iniciações Tradicionais, longe de se
combaterem, complementam-se admiravelmente para dar ao neófito uma
luz única. No meio, a Cruz representa a Corrente Cistã da Iniciação,
como o Quadrado simboliza a Iniciação Helênica e o Triângulo
a Iniciação Martinista, tudo harmonicamente estruturado para
representar a Unidade Espriritual. Durante uma Convenção da
FUDOSI realizada em Paris em 1937, foi demonstrado para os membros que, colocando-se
o símbolo da Federação no prato rotativo de um toca-discos
de modo a fazê-lo girar com velocidade gradativa, em um dado momento
surgia um novo símbolo esotérico que continha e dava vida a
todos os outros símbolos do emblema estático: a verdadeira Swástica
da Iniciação Tradicional Hinduísta, cujo movimento rotatório
representa a energia criativa do cosmos em movimento e a Transmutação
Espiritual. (Veja abaixo o Emblema da FUDOSI em sua forma estática,
à esquerda, e em movimento, à direita. Não sei se consegui
reproduzir o Emblema em movimento como Sar Alden o elaborou originariamente.).
A FUDOSI, entretanto, já não mais existe fisicamente desde a
metade do século passado, mais exatamente desde 14 de agosto de 1951.
Contudo, em um certo sentido, ela segue iluminando invisivelmente os ideais
Iniciáticos porque representou um momento iluminado e iluminante na
história do esoterismo mundial, no qual as fraternidades filiadas sempre
gozaram, no respectivo campo de atuação, da mais absoluta e
completa liberdade e da mais perfeita e autônoma independência.
A FUDOSI exemplificou e demonstrou à saciedade a irmandade que sempre
existiu na Terra entre as diversas fraternidades autênticas e comprovou
durante o tempo em que esteve ativa que Omnia Ab Uno.
Emblema
da FUDOSI |
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Estático |
Dinâmico |
Enfim, Sar Alden foi efetivamente o
único Oficial Rosacruz na América do Norte a ser tão
amplamente autorizado a representar os santuários antigos e esotéricos
do mundo. Mas tudo começou, por assim dizer, em 1915. Nesse ano foi
publicamente anunciado o Novo Ciclo da Ordem através do Primeiro Manifesto
Oficial e eleito o Primeiro Conselho Supremo. Desse momento em diante, a Ordem
passou a adotar e a ser reconhecida em todo o mundo pelo seu legítimo
título: Ancient Mystical Order Rosæ Crucis, forma abreviada
do título latino Antiquus Arcanus Ordo Rosæ Rubæ et
Auræ Crucis. Sar Alden foi eleito e devidamente empossado como
o Diretor-executivo da Fraternidade nos Estados Unidos – Imperator para
a América do Norte – que, durante alguns anos, atuou sob os auspícios
e sob a supervisão da Jurisdição Francesa, entretanto,
utilizando a sigla AMORC e seu símbolo primitivo e verdadeiro, que
consiste de uma Cruz de Ouro com uma única Rosa Vermelha no cruzamento
dos braços da Cruz, ou seja, em seu centro.
Rapidamente
a Ordem Rosacruz prosperou, instalando diversas Lojas nos EUA, no Canadá
e no México. Ao longo dos anos disseminou-se por todo o Planeta, inclusive
no Brasil, e, mais recentemente, em Portugal. Posteriormente, em uma Convenção
Internacional da Ordem Rosacruz celebrada na Europa, a Fraternidade passou
a se manifestar e a atuar independentemente da França, sendo autorizada
a estabelecer uma Jurisdição da Organização Internacional,
entretanto, funcionando em rigorosa conformidade com as antigas tradições
e irmanada a todas as outras jurisdições reconhecidas. Depois
de muito sacrifício e de muito trabalho, sob a supervisão direta
de Sar Alden, a Ordem instalou seu Templo Supremo em San José, Califórnia.
Na primavera de 1929, Sar Alden e um grupo especial de fratres e
de sorores (oficiais e membros de graus elevados da Ordem) receberam
no antigo Templo de Amenhotep IV, em Luxor, uma Iniciação Rosacruz
e um Reconhecimento Rosacruz das mãos de Oficiais das antigas Lojas
Rosacruzes existentes no mundo.
|
O
Templo Supremo da AMORC, em San Jose |
Sua esposa, Martha Morphier Lewis,
foi a primeira soror na América a cruzar o Umbral da Ordem
no novo regime, e seus quatro filhos foram instruídos no trabalho.
Seu filho, Ralph Maxwell Lewis, serviu como Supremo Secretário da Ordem
para as Américas do Norte e do Sul durante muitos anos, e, mais tarde,
sucedeu o Fundador.
O Fundador deste Segundo Ciclo Iniciático
da Ordem Rosa+Cruz AMORC inaugurou a sua Grande Iniciação, em
San Jose, Califórnia, às 15:15 horas, hora do Pacífico,
em uma quarta-feira, 2 de agosto de 1939. Centenas de pessoas compareceram
às exéquias e vários milhares de cartas, telegramas e
cabogramas foram recebidos de todos os países civilizados do mundo
manifestando pesar pela perda de sua presença física e personalidade,
regozijando-se, porém, com sua final Realização. Em conformidade
com desejo expresso em seu Último Testamento e Disposições,
suas cinzas foram dispostas no Parque Rosacruz embaixo de um triângulo
simbólico, na magnífica Capela Egípcia, reprodução
de um Templo do Egito no qual havia sido realizada uma Iniciação.
Com o seu falecimento, assumiu o cargo
de Imperator da AMORC seu filho Ralph Maxwell Lewis, 1902-1987, (Sar
Validivar) o qual deu continuidade e ampliou inestimavelmente a obra do fundador.
Atualmente, a Suprema Grande Loja da AMORC é o Corpo Supremo da Ordem
e o Imperator atual é o Frater Christian Bernard.
Para concluir este item, reproduzirei
o ideal de Sar Alden, e que é, sem qualquer restrição
ou contradição, de conhecimento geral: a Ordem Rosacruz, AMORC,
é uma Fraternidade Mística internacional ancorada e fundamentada
em um sistema místico-iniciático multimilenar – formatada
rigorosamente em consonância com princípios não-sectários
e não-dogmáticos, e simultaneamente culturais e fraternais –
constituída de mulheres e de homens dedicados ao estudo e à
aplicação prática das leis naturais que regem o Universo
e, por via de conseqüência, a vida universal. Seu objetivo primordial
é promover a compreensiva e concertada evolução de seus
membros (e, por extensão, da Humanidade) através de estudos
teóricos e de experimentos práticos que catalisam e estimulam
o desenvolvimento das potencialidades individuais. Um segundo objetivo é
o de proporcionar, pelo entendimento racional e pela responsabilidade pessoal,
uma vida harmoniosa para que possam ser alcançadas, prioritária
e preliminarmente, saúde, felicidade e paz. Para colimar estes objetivos,
a Ordem Rosacruz AMORC oferece um sistema efetivo e comprovado de instrução
e orientação pessoais para que sejam obtidas uma eficiente e
uma eficaz autognose e uma consciente compreensão dos processos e das
leis que determinam a mais alta realização humana, qual seja,
a edificação consciente do Mestre-Deus de cada ser-no-mundo.
Essa sabedoria irredutível e universal está gratuitamente à
disposição de toda e qualquer pessoa sincera, de mente aberta
e de motivação construtiva que solicite humildemente afiliação
à Ordem. A AMORC não discrimina quem quer que seja e o que quer
que seja. Sou membro da AMORC desde 1969 e atesto essa afirmação
com todas as letras.
SEGUNDA
PARTE
A Importância da Ação de Sar Alden
no Moderno e no Contemporâneo
Esoterismo Iniciático
o
iniciar esta segunda parte, parafraseio Sar Validivar, pois reconheço
que, em virtude de minhas insuficiências (Sar Validivar reconheceu as
dele) é muito difícil fazer justiça ao esforço
intemerato e intimorato de Sar Alden. Como escreveu Sar Validivar em seu livro
Missão Cósmica Cumprida, existem e continuarão
a existir homens que, pela ousadia, pelo poder de liderança e pelos
atributos intelectuais, impõem sua própria personalidade à
consciência de seus contemporâneos, mantendo-se para sempre vivos
no pensamento das gerações futuras graças à singularidade
das suas ações. E mais do que isso: não se intimidam.
Sabem que têm uma missão a cumprir, e cumprem-na brilhe o Sol
ou faça chuva, com ameaças ou sem ameaças. Sar Validivar
escreveu ainda na introdução da obra citada que provavelmente
poucas pessoas da atualidade [primeira metade do século XX] foram
alvo de tamanha conspiração, intrigas e tentativas deliberadas
para denegrir seu caráter, destruir a reputação de sua
família, arruinar sua vida profissional e, até mesmo, levá-lo
à morte, como foi o nosso Imperator. Mas não havia nada
que mais o irritasse e o transtornasse do que uma injúria ou uma ofensa
à AMORC. Era como se fosse ele o insultado. Trabalhava até altas
horas da madrugada e, em nenhum momento, por maiores que fossem suas aflições,
retrocedeu em seu idealismo ou perdeu sua esperança e sua fé
na Humanidade. Gosto muito de repetir certas coisas que considero importante
e que não devem passar despercebidas. Os membros da AMORC só
compreenderão efetivamente o que Ela é e quem foi Sar Alden
quando perceberem que podem, se se esforçassem para isso, deixar de
morrer para viver na Eterna Luz. Esse é o oculto sentido da frase
Deus de Nossos Corações, que examinarei
a seguir.
Tal foi a importância de Sar
Alden para a difusão do moderno Rosacrucianismo que, em um certo sentido,
torna-se difícil escolher e definir a influência que teve na
estruturação do moderno e do contemporâneo esoterismo
iniciático. A coisa, portanto, não pode ficar apenas no singular,
pois são diversas as importâncias e não se restringem
apenas à AMORC, pois Sar Alden acabou se tornando uma referência
mundial no âmbito do Misticismo Iniciático. Tentarei alinhavar
algumas dessas importâncias com alguns exemplos, segundo meu entendimento,
mas certamente estou cônscio de que estão incompletas. Também,
outra pessoa que decidisse escrever sobre este tema, talvez escolhesse uma
outra abordagem. O assunto, assim, continua em aberto, e penso que outros
membros da AMORC deveriam dar seus testemunhos pessoais sobre esta matéria.
Sem seguir uma ordem preferencial histórica
ou especulativa, o primeiro ponto que considero importante discutir foi a
estruturação da AMORC, que se deu em uma base quase
não-religiosa. Esse quase (em itálico) precisa ficar
bem compreendido para que não pairem quaisquer dúvidas sobre
o que penso do assunto e o que desejo dizer com isso. Em grande medida, o
Rosacrucianismo está ancorado em princípios gnóstico-cristãos,
tal qual o Martinismo e diversas outras fraternidades ou ordens místicas,
bem como o próprio templarismo. Mas há um aspecto de certa forma
inconciliável nessa ancoragem que só é percebido ao longo
dos anos de estudo sincero e desapaixonado, principalmente no que concerne
a este Terceiro Milênio, átrio de uma Nova Era Mental que já
está em curso.
O
poder eclesial incumbiu-se de sistematicamente adulterar as doutrinas secretas
de Jesus e dos primitivos cristãos, e o que era, no começo,
um conjunto de ensinamentos gnósticos, esotéricos e iniciáticos
acabou se transformando em um conjunto multifacetado de dogmas exotéricos
espalhados por múltiplas religiões públicas completamente
desvinculadas desses mesmos princípios. Como (re)instalar o pensamento
místico Rosacruz em um País basicamente protestante como era
(e é) os Estados Unidos da América, e, por via de conseqüência,
em um mundo impregnado de fantasias religiosas a serviço, basicamente,
do poder temporal religioso e secular? Essa, talvez, tenha sido a maior dificuldade
de Sar Alden e o motivo de tantas injúrias e difamações
infundadas das quais foi vítima. Não é fácil descristalizar
uma idéia secular. A imposição religiosa – e, portanto,
autoritária e interesseira – de um Deus criador e transcendente,
premiador e punidor, preconceituso e privilegiador, acreditado pela imensa
maioria das pessoas era a gigantesca muralha que precisava ser vencida. O
que fez Sar Alden? Estabeleceu, como pedra de toque, o conceito de Deus
de Nossos Corações, isto é, o Deus do Coração
de cada estudante Rosacruz. Mas isto, de per si, não resolvia (como,
de fato, não resolve) o problema, porque tanto faz crer em um Deus
transcendente e criador, premiador e punidor, preconceituso e privilegiador,
como crer em um Deus pessoal e interior que não seja nada disso. É
mais ou menos como trocar seis por meia dúzia. Vou explicar isso minuciosamente.
A mudança para uma nova compreensão é muito lenta, e
é por isso que os estudos da AMORC, pelo sistema antigo, encerram sua
primeira fase após vinte e cinco anos de reflexões sobre os
diversos pontos apresentados para exame. É por isso também que
Sar Alden, nas linhas, manteve formulações do tipo a personalidade
é a expressão de alguém na vida... não como uma
individualidade isolada ou separada, mas, como um lampejo divino – uma
luminosa radiação da Mente de Deus ou, também,
a alma tem o direito de, como parte da Consciência de Deus, comungar
com Deus; e isto é o que a prece realmente é. A prece é
uma comunhão do Eu Interior com o Criador. É por isso que
tenho insistido no fato de que quem apenas lê ou presumidamente entende
o que está escrito nas linhas das monografias aprende só meia
lição. Nas entrelinhas desses discursos é que está
oculto o verdadeiro Rosacrucianismo esposado e divulgado por Sar Alden. Mas,
realmente, ele não poderia, de chofre, romper com a fé e impor
a razão para que fosse alcançada a transrazão. A própria
ciência da época acreditava no átomo como se fosse uma
bolinha bipolar, e a imensa maioria dos membros que se afiliavam à
Ordem desconhecia (como continuam a desconhecer) os princípios elementares
de física, de química, de biologia e da própria estrutura
atômica. Era (e continua sendo) muito mais confortável e fácil
acreditar em um Deus criador, providencial, transcendente e onipotente, do
que em um Deus in potentia projetável e construível
pelo próprio estudante. Inteligentemente e amorosamente Sar Alden manteve
algumas idéias religiosas correntes, e, lentamente, foi insistindo
no fato de que tudo depende do próprio estudante. Max Heindel (pseudônimo
de Carl Louis von Grasshoff, 1865 – 1919) fez a mesma coisa, ampliando
os ensinamentos teosóficos que aprendeu na Sociedade fundada por Madame
Blavatsky (1831 – 1891), mas insistindo que o Cristianismo era a religião
do futuro. A disposição de compreender e de aceitar que tudo
depende exclusivamente do indivíduo, que não há punição
ou prêmio pelos maus ou pelos bons atos cometidos, que não há
qualquer escolha ou preferência cósmica por este ou por aquele
ente ou por isto ou por aquilo, que a Unidade Cósmica não se
concilia com individualismos, que o lucro e o acúmulo desmedido de
bens materiais são abominações, que as diversas formas
de preconceito são retrogressivas, que o vero Batismo e as autênticas
Iniciações só podem acontecer no Coração
do estudante, que o inferno e o céu somos nós que construímos
com os nossos desconcertos e com os nossos concertos, que as nossas misérias
somos nós que fabricamos etc. não poderiam e não podem
ser apresentados nos graus preliminares de nenhuma organização
que pretenda ser uma alternativa ao in statu quo ante. Quem lesse
essas coisas nos graus preliminares desistiria imediatamente, ainda que muitos
desistam por outros motivos. Alguma religiosidade, ainda que moderada, mas
atualizada, precisava e precisa ser mantida nos graus preambulares de qualquer
Ordem fraternal sincera. Conciliar essa religiosidade moderada e atualizada
com princípios científicos e esotéricos foi mesmo um
trabalho digno de nota executado pela sabedoria inspirada de Sar Alden. Éliphas
Lèvy augurou: A ciência e a religião... estão
em vésperas de se unirem e de se abraçarem para sempre. Não
sei realmente se estão em vésperas como previu Éliphas,
mas que no futuro uma não prevalecerá sobre a outra, isso eu
tenho certeza. Quem não puder acompanhar esse novo tempo continuará
sua Peregrinação em outro Plano, até que esteja em condições
de recusar, pela compreensão e pela Iniciação, todas
as formas de transcendência, de imanência, de panteísmo,
de fideísmos religiosos impedientes e retrógrados e de racionalismos
preconceituosos e limitadores. Quanto a isso, escreveu Sar Alden: Ontem
predominava a idéia de que Religião e Ciência eram antagônicas.
Hoje se considera que são essencialmente dissociadas. Amanhã
elas serão reconhecidas como uma única. Logo, a coisa não
pode permanecer tão-só no nível do Deus de Nossos Corações.
Isso é pouco. Esse Deus precisa ser misticamente forjado e passar efetivamente
a ser o Mestre-Deus interior de cada um de nós. Somos responsáveis
por tudo, inclusive e principalmente por essa Sagrada Construção.
Em outras palavras, é mesmo como ensinou Sar Alden em uma de suas notáveis
entrelinhas: Aquilo que o homem escolher deverá suportar. A responsabilidade
é sua. Conforme semear, assim haverá de colher. Conforme exigir,
assim deverá pagar. E, certamente, conforme progredir, assim se
libertará. Mas, reconheço: anos se passarão até
que possa ser inteiramente purgada a idéia de um Deus transcendente,
criador, onipotente, providente etc. Coisas que são enfiadas nas cabeças
das crianças levam anos para ser extirpadas. E, às vezes, não
são. Eu conheço membros de fraternidades esotéricas que
lá estão há anos e não se libertaram dessas idéias.
Pior é quando acendem uma vela para Deus e outra para o diabo, isto
é, se dizem iniciados mas freqüentam uma, duas e até três
religiões diferentes, misturando Budismo com Espiritismo, Catolicismo
com Teosofia e Antroposofia, e por aí vai, tendo como pano de fundo
uma ou mais escolas de esoterismo ou fraternidades. E quanto maior for a pirotecnia,
mais são atraídos, ou seja, o que era para ser uma via libertadora
acaba se transformando em hobby. Por isso, vou insistir: conciliar
essa religiosidade moderada e atualizada com princípios científicos
e esotéricos foi mesmo um trabalho necessário e digno de nota
executado pela sabedoria inspirada de Sar Alden. Criticar essa orientação
necessária é desconhecer os princípios básicos
de Psicologia e de Pedagogia.
Antes de prosseguir, gostaria de fazer
um comentário ligeira e circunstancialmente. Muitos pensam que as Iniciações
que são oferecidas ao longo dos graus das ordens fraternais vão
se tornando mais importantes e mais marcantes ou substitutivas. Mas não
é assim mesmo. Nada substitui nada e nada é mais importante
do que nada, da mesma forma que a homeopatia não substitui a alopatia
ou a isopatia, e como também não se resolve uma integral sem
se saber somar, subtrair, dividir e multiplicar. Não se equilibra uma
equação química sem se conhecer os símbolos dos
elementos. E a primeira coisa que se aprende em Biologia é que uma
célula é uma unidade microscópica estrutural e funcional
dos seres vivos, constituída fundamentalmente de material genético,
citoplasma e membrana plasmática. Acredito, portanto, inapelavelmente,
que se alguma Iniciação for mais importante do que outra (o
que é um contra-senso) a mais importante de todas as Iniciações
é exatamente a primeira, pois se o coração não
estiver entregue e a razão ou a fé prevalecerem nesse sagrado
momento, o Coração não poderá começar a
ser ouvido, ainda que Ele fale ininterruptamente. Ainda me lembro, com emoção
e com detalhes, da minha primeira Iniciação ao Sanctum,
em 1969. Foi um inesquecível divisor de águas, e eu, a partir
de então, não fui mais o mesmo, ainda que tenha caído
muitas vezes e continue a cair eventualmente. Três vezes obrigado a
Sar Alden e a Sar Validivar, e um obrigado extra a Sar Validivar por ter instituído
a filiação de Sanctum. Não fosse a filiação
de Sanctum alguém que morasse distante de uma Loja Rosacruz
não poderia ter acesso aos ensinamentos rosacruzes.
Um outro aspecto que considero fundamental
é que nada na AMORC é ensinado sem uma contraparte prática,
experiencial. Tudo que Sar Alden foi autorizado a ensinar ele ensinou e tudo
que foi autorizado a demonstrar ele demonstrou. Não escondeu nada e
nem se fez de rogado. Dentre muitos, um exemplo digno de nota foi a demonstração
pública do antigo processo pelo qual se realiza a transmutação
alquímica de metais levada a efeito em uma noite de quinta-feira, em
22 de julho de 1916, na Suprema Grande Loja, no Templo de New York. Ao que
se sabe, esta foi a primeira vez que um evento desta magnitude aconteceu no
mundo ocidental, e também, ao que se sabe, não houve repetição
da demonstração. Na ocasião, com a presença de
um representante do New York World, Sar Alden transmutou alquimicamente um
pequeno pedaço de zinco – de aproximadamente uma polegada quadrada
pesando 446 miligramas – em puro ouro. Uma pequena fração
do ouro alquímico obtido por transmutação foi enviada
ao Conselho Supremo da Ordem, na França, juntamente com um relatório
oficial. Os membros da AMORC, através dos experimentos propostos nas
monografias, estão em condições de comprovar todos os
ensinamentos e conceitos teóricos ali discutidos e apresentados. Não
estou sugerindo com isso que possam chegar a fazer uma transmutação
alquímica, até porque isso é um privilégio exclusivo
dos Imperatores e dos Grandes Mestres Gerais, que durante as suas
vidas e tempo de função têm permissão de proporcionar
uma demonstração da operação alquímica
de transmutação. Mas, a Alquimia Interior todos estão
aptos a realizar, pois Ela independe de cadinhos, atanores, bicos de gás
etc. O artigo que relata o episódio que resumi acima se denomina Uma
Demonstração de Alquimia: Zinco em Ouro, e foi divulgado
na revista O Rosacruz, de abril de 1984.
Um terceiro ponto que desejo ressaltar
é que a Lei é a Lei e é para todos. Sar Alden jamais
propôs qualquer exceção. Escreveu nosso Imperator:
Exemplo de perfeito desenvolvimento da personalidade-alma: Jesus, o Cristo,
que havendo tido muitas encarnações prévias... afinal
veio a nascer puro e com uma personalidade ou um Ego exigindo apenas mais
um grupo de experiências. Ao atingir o Estado Crístico, mediante
a mais alta perfeição e pureza de consciência, Ele...
Este fragmento ensina duas importantes Leis, quais sejam: primeira, Jesus
não nasceu neste mundo pronto, acabado e divinizado como obra de um
Deus onipotente, ou como se fora a encarnação desse próprio
Deus como Filho de Si próprio. Sua personalidade-alma vinha de muito
longe em um processo contínuo de aperfeiçoamento e aprendizado.
Logo, o Estado Crístico não é um direito e muito
menos é um privilégio, mas, sim e definitivamente, um Privilégio.
Privilégio conquistado exclusivamente pelo Trabalho e pelo Mérito.
Jesus (e outros Mestres e Avatares) não foi e não poderia ser
uma exceção. Segunda: Todos nós, pelo mesmo Trabalho
e por Mérito semelhante estamos aptos a alcançar esse mesmo
Estado Crístico. As verdadeiras Ordens Iniciáticas,
e a AMORC é uma delas, cumprem o insubstituível dever de dessacralizar
o que não é sagrado, ao mesmo tempo em que oferecem as ferramentas
necessárias para que cada um descubra e reconheça o que é
efetivamente sagrado em seu próprio interior. Ora, não estou
querendo dizer ou propor com isso que haja níveis de sacralização
no Universo, ainda que em um sentido profundamente místico haja sim.
O útero que gera um Santo não pode ser igual ao útero
que gera um macabro. Porém, por mais paradoxal que possa parecer, uma
ameba é tão importante na ordem cósmica quanto um hipopótamo
ou uma galáxia. Mas, o fato inconteste é que tudo está
ao alcance todos. E mais: o estado de pureza que Jesus alcançou não
é o limite da experiência cósmica. Eu não posso
imaginar qual seja esse limite, até porque não consigo imaginar
um limite, pois, se limite houvesse, isso significaria ausência de movimento,
ausência de desenvolvimento e ausência de evolução/reintegração,
coisas que, para mim, são impossibilidades metafísicas. A Lei
Cósmica é: vir-a-ser. Sar Alden, portanto,
foi um incentivador do esforço pessoal, coisa que naquela época
ficava muito a desejar, mesmo no âmbito das irmandades esotéricas
que encorajavam e dependiam do concurso dos Mestres Ascensionados e de outras
entidades, muitas vezes criadas pelos próprios indivíduos que
delas eram membros. E também, por exemplo, eu não vejo qualquer
diferença em depender da multidão de Santos católicos
ou em depender exclusivamente de Jesus, como fazem os protestantes e os evangélicos.
Submissão à vontade de outrem é submissão à
vontade de outrem, qualquer que seja essa submissão e qualquer que
seja esse outrem. É perfeitamente sabido que um Deus ou uma entidade
suprafísica depois de criados passam a ter existência, vida e
vontade próprias. Agora, tão certo quanto dois e dois são
quatro, muitas coisas atribuídas ao próprio Mestre Jesus são
invencionices ardilosas, religiosas e seculares que nunca ocorreram. A AMORC
e Sar Alden nunca propuseram nada disso. Mas, no passado essas vinculações
e essas subordinações existiam, tanto quanto hoje continuam
a existir. As pessoas ainda preferem teurgia e magia à alforria. Preferem
prisões à liberdade. Preferem vinculações e subordinações
à desvinculações e independência. Preferem, enfim,
não-serem à serem. Bem, não sei exatamente se preferem
vinculações e subordinações ou se não conseguem
delas se livrar. Mas, no fundo, dá na mesma e na mesma dá.
Digna de relevância, também,
é a afirmação de Sar Alden que não é
pela revolução e sim pela evolução que todas as
coisas são realizadas com caráter permanente. Os Martinistas
– Servidores Incógnitos – sabem e concordam com Victor
Hugo (1802-1885) quando sentenciou: A revolução muda tudo,
menos o Coração do homem. Por isso, como preconizou Louis-Claude
de Saint-Martin (1743-1803), não é no exterior que se deve
produzir a mudança, mas sim no Coração de cada homem.
É esse conceito que os Martinistas denominaram (e denominam) de Senda
Cardíaca. Um Místico não pode apoiar a violência
nem considerar útil algo que tenha tido como origem um ato violento.
Mohandas Karamchand Ghandhi – conhecido popularmente como Mahatma
Ghandhi (Maha-AThMa, do sânscrito grande alma) – foi
um dos idealizadores e fundadores do moderno estado indiano e um influente
defensor do satyagraha (princípio da não-agressão,
forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução.
O princípio do satyagraha – freqüentemente traduzido
como o caminho da verdade ou a busca da verdade – inspirou gerações
de ativistas democráticos e anti-racistas, incluindo Martin Luther
King, Jr. e Nelson Mandela. Freqüentemente Ghandhi afirmava
a simplicidade de seus valores derivados da crença tradicional hindu:
verdade (satya) e não-violência ou amor (ahimsa).
Revisitados esses conceitos, eu pergunto: como pode um estudante de misticismo
aprovar, aplaudir ou patrocinar mentalmente uma guerra? Que isso seja um convencimento
religioso já é um absurdo, mas em se tratando de um místico
isso é inconcebível. Concedendo que Deus exista da forma como
muitos acreditam, como poderia um Deus ser chamado a proteger um exército
e a desproteger outro? Como Ele poderia preferir que alguém ganhe o
que quer que seja? Se preferisse que alguém venha a ganhar é
porque, concomitantemente, preferiu que alguém viesse a perder, o que
é, na origem de qualquer raciocínio, um absurdo. Como poderia
favorecer um estado beligerante contra outro? Ora, tanto quanto a verdade,
a justiça também é relativa, principalmente quando estão
em jogo interesses econômicos. Isso, obviamente, não inclui,
por exemplo, atos como seqüestro, estupro ou assassinato, que são
inteiramente abomináveis e injustificáveis e devem ser tratados
no âmbito da Justiça. Esses três exemplos, mais o terrorismo,
a corrupção, o comércio de escravos, o lenocínio
etc. nada têm de relativos; são ilicitudes detestáveis
e injustificáveis. Querer, por outro lado, que Deus interfira nessas
mesquinharias horrendas (para um lado ou para o outro), é admitir estupidamente
que Deus tenha conceitos e vontades humanas. Nós é que temos
que lutar para que essas coisas sejam arrancadas pela raiz da face da Terra.
É nossa responsabilidade; não de Deus. Como disse Sar Alden:
A cada dia nos tornamos mental, espiritual e fisicamente aquilo que criamos
para nós mesmos. Se apoiamos uma guerra, mesmo em silêncio,
é porque nosso interior é belicoso e tem inclinação
para a guerra, para o combate. Não podemos esperar da vida harmonia
e paz, pois o que atraímos é tão-somente discórdia,
beligerância e desarmonia. Nada justifica a morte, nada justifica uma
guerra. Como disse o escritor inglês Samuel Butler (1835-1902), precisamos
aprender a aceitar o fato de que an injust peace is to be prefer'd to
a just War. Uma paz injusta é preferível a uma guerra justa.
Logo, a doutrina da legítima defesa preventiva é mais uma abominação,
e nem sequer é reconhecida pelo direito internacional. O inferno em
que se transformou o Iraque pode ser invocado como exemplo. Deixarei Ignacio
Ramonet comentar: Se o Governo dos Estados Unidos mencionou, em algum
momento, a “legítima defesa” para atacar o Iraque, citou-o
exclusivamente para seu público interno, tentando vincular os atentados
de 11 de setembro de 2001 ao regime de Bagdá (o que jamais foi provado),
mas nunca perante o Conselho de Segurança. Este último avaliou,
na véspera do dia 20 de março, que o Iraque não representava
uma ameaça imediata que justificasse uma guerra imediata. No entanto,
a ‘legítima defesa’ pressupõe a existência
de uma agressão armada prévia, que o Iraque não cometeu.
Bush também explicou a invasão do Iraque através da necessidade
de mudar o regime daquele País e expulsar Saddam Hussein. Por mais
louváveis que sejam, esses argumentos não justificam... uma
decisão unilateral do recurso à força. Quanto ao pretexto
– igualmente citado por Washington – de instaurar uma democracia
no Iraque, também não pode ser considerado uma justificativa
legal para a agressão. Já no século XVII, o jurista Grotius,
fundador dos direitos humanos, afirmava, em seu célebre livro ‘De
Jure Belli Ac Pacis’, que ‘querer governar os outros contra sua
vontade, sob o pretexto de que será bom para eles’ constitui
o argumento mais freqüente das ‘guerras injustas’. Guerra
é guerra. Não há guerra justa; todas as guerras são
injustas. São injustas com os seres humanos, com os animais, com os
vegetais, com os minerais, com os microorganismos, com o ar, com a água...
Com a Terra! Não me recordo de ter visto, ouvido ou sabido de nenhum
oficial da AMORC apoiando qualquer guerra. O contrário, sim, sempre
vi. Sar Validivar escreveu inclusive o seu conhecido e aplaudido Credo
da Paz, que, entre outras reflexões, ensina: Se estou em paz,
eu promovo a paz dos que me cercam. Por sua vez, eles promovem a paz daqueles
que estão à sua volta e que também farão o mesmo.
Então, a paz começa por mim! E sem ela não pode haver
a necessária transformação social. Um Rosacruz é
fundamentalmente um pacifista; se for um belicista, não é um
Rosacruz. Um Rosacruz tem o legítimo direito de se indignar e de altercar;
mas dessa indignação/altercação só poderão
nascer flores, jamais um motivo para violência, em qualquer nível
e qualquer que seja ela.1
Sar Alden também contribuiu
muito para uma mais concertada compreensão da Lei do Carma. Disse:
O Carma não é de natureza vingativa. Ele é construtivo
e regenerativo. O seu único propósito consiste na evolução
e no aperfeiçoamento progressivos da personalidade. Muitos espiritualistas
ainda nutrem a idéia equivocada de que a Lei do Carma faz escolhas
para premiar ou para punir. Mas, quem escolhe o quê? Deus? Os Anjos?
Os Arcanjos? Os Mestres Ascensionados? Agora, se uma personalidade alcançou
a compreensão de que deve passar por determinadas experiências
para que possa aprender e evoluir (ou algo equivalente), então isto
é uma opção pessoal, anímica, não cármica
no sentido que geralmente lhe é emprestado. Mas, imaginar que haja
alguém de plantão determinando que alguém nasça
cego porque em uma vida anterior deu uma pedrada na cabeça de alguém
é mesmo muito infantil. Mas há e permanece no imaginário
coletivo os resquícios milenares dos preceitos do Código
de Hamurabi e da Lei de Talião. Khammu-rabi, rei da Babilônia
do 18º século a. C., estabeleceu em seu Código
282 artigos, cuja base era a lex talionis (antiga pena proveniente
do chamado direito vindicativo, que constituía em infligir ao condenado
um mal completamente idêntico ao praticado). Naqueles tempos, na Babilônia,
a pena de morte era largamente aplicada, fosse na fogueira, na forca, por
afogamento ou por empalação. A mutilação era uma
opção mais branda infligida de acordo com a natureza da ofensa.
Então, se aqui embaixo é olho por olho, dente por dente, braço
por braço, vida por vida, se deve haver inflicção a uma
pessoa do mesmo dano que haja causado a outrem, se a doce vingança
deverá se dar em proporção igual ou equivalente ao mal
sofrido, lá em cima deve haver alguém muito importante anotando
essas coisas para embutir nas purinas (compostos nitrogenados heterocíclicos
encontrados nos nucleotídios e ácidos nucléicos) e pirimidinas
(moléculas orgânicas das quais são metabolicamente derivadas
algumas das bases nitrogenadas presentes nos ácidos nucléicos)
do DNA do futuro feto esses ressarcimentos. Esse é o raciocínio
trivial para justificar as punições cármicas que muitos
admitem estar passando. Se o carma for alguma coisa, ele só pode ser
educativo; jamais poderá ser castigador ou vingador. Ora bem, eu pergunto:
se fosse castigador ou vingador, como muitos pensam que é, estariam
justificadas a teratogênese, a anencefalia e a Síndrome de Down?
Mais uma vez, Sar Alden: Não temos o direito nem o privilégio
de praticar a vingança ou o revide... É nosso dever manter o
amor e a tolerância em nosso coração — dirigido
a todas as criaturas — e não permitir que pensamentos de ódio
ou de inimizade se expressem em nossa mente. Vou deixar para o leitor
concluir esse tema dizendo apenas duas palavras: faixa vibratória.
Eu poderia ficar aqui discutindo dias,
semanas e meses a fio o pensamento de Sar Alden, mas penso que os exemplos
que dei são suficientes para dar uma idéia da profunda transformação
que este insigne Místico trouxe para o esoterismo do século
XX, com repercussões que ainda não podem ser bem avaliadas.
O que é certo é que ele não fez o que fez sozinho. A
Grande Loja Branca esteve permanentemente ao seu lado, fosse por contatos
diretos, fosse por inspiração assuntiva. Nos seus 56 anos incompletos
serviu com todas as suas forças à Beleza e ao Bem Universais.
No bom sentido, a dívida de gratidão que os membros da AMORC
têm com Sar Alden é impagável. Não tem preço.
TERCEIRA PARTE
Fragmentos Escolhidos
do Pensamento de Sar Alden
poder criador da mente humana pode atravessar oceanos em um piscar de olhos...
Pode prever e criar previamente as coisas do amanhã e de séculos
no futuro... Pode criar beleza onde não exista beleza... Pode pintar
com as mais belas cores mesmo onde não existam cores...
A mente humana pode transmutar metais
e transformar uma forma em outra... Pode restaurar ossos quebrados, restituir
membros perdidos e ressuscitar os mortos... Pode transformar ódio em
amor, rancor em amizade, ciúme em confiança e mal em bem...
[Ressuscitação daqueles que estão mortos em vida,
daqueles a quem Helena P. Blavatsky denominou de homens e mulheres sem alma.]
Se as pessoas tiverem a crença
de que suas criações mentais não podem ser transformadas
em realidade, poderão empregar o poder criativo da mente para superar
essa falsa crença, e também para provar a si mesmas que aquilo
que 'determinarem' que aconteça irá
se tornar manifesto. (Grifo meu). [Quando um místico
dá um comando e determina está feito
ou está selado, a coisa passa a tomar forma.
Só que uma coisa precisa ficar assente: ele passa a ser o único
responsável por esse comando.]
Não podemos viver, pensar e
agir sem exercer alguma influência ou efeito sobre outras pessoas. A
liberdade de um é a liberdade de todos; o poder de um é o poder
unificado de todos os seres.
Todas as Leis Cósmicas e Espirituais
levam em consideração o bem absoluto e o benefício absoluto
de todos os seres vivos. Enquanto não nos colocarmos em harmonia com
este pensamento e por ele nos orientarmos estaremos desarmonizados com as
Leis Universais.
Qualquer ação será
egoísta – e portanto perigosa – a menos que venha a exercer
uma influência benéfica sobre os outros. Ninguém pode
esperar ser feliz, bem sucedido e próspero se os esforços e
realizações representarem sacrifícios ou perdas por parte
de outras pessoas. [Portanto, a mais-valia é outra abominação].
O jogo é apenas uma questão
de contabilidade – de débito e crédito. O que uns ganham,
outros têm [obrigatoriamente] que perder. As duas importâncias
devem se equilibrar. E há intermediários que retiram uma porcentagem
das mesmas!
Ninguém poderá continuar
a desfrutar o que por direito é seu se estiver irradiando ou produzindo
algo que seja destrutivo, prejudicial e desarmônico em relação
ao Universo.
Nada pode ser tão contrário
ao progresso e tão destrutivo em relação à elevação
do homem – individual e coletivamente – do que uma atitude de
completa satisfação. Observar pessoas que julgam que tudo que
adquiriram e tudo que sabem é plenamente satisfatório e não
precisa ser aperfeiçoado, é o mesmo que observar pessoas em
vias de desaparecimento por auto-aniquilação. Somente os ignorantes
e os preconceituosos afirmam ter suficiente conhecimento, afirmam não
querer uma vida melhor do que a que já têm, e afirmam que possuem
tudo aquilo que a vida tem a oferecer. Pessoas assim são extremamente
retrógradas.
A aura que emana do corpo humano pode
se estender a uma distância que vai de um metro e meio até cerca
de três metros.
O mistério inerente a todas
as formas de manifestação é a diferença de seus
graus de vibração. Todas as vibrações do espaço
podem ser facilmente controladas pelas vibrações da mente. Tudo
que existe foi, em determinado momento, concebido no pensamento, tornando-se
manifesto no mundo físico quando as vibrações de pensamento
criaram todas as coisas. [Por isso eu afirmei um pouco mais acima que
deixaria para o leitor concluir aquele tema que fora discutido dizendo apenas
duas palavras: faixa vibratória. O carma está associado apenas
e tão-somente a esse conceito. Se cruzarmos a ponte mudaremos de faixa.]
Cada um de nós, todos os dias,
se defronta com uma ponte inesperada. Pode ser, mesmo, que a nossa entrada
em um teatro, em um trem, em um automóvel, em uma rua movimentada ou
em outro lugar público signifique a entrada em nossa última
ponte. Tudo que acontece e atinge determinado número de pessoas constitui,
pela Lei Cósmica, o carma [educativo] de nossas vidas.
A Doutrina do Rosacrucianismo afirma
que a 'individualidade', como condição de existência humana,
é impossível. A personalidade é a expressão de
alguém na vida... não como uma individualidade isolada ou separada,
mas, como um lampejo divino – uma luminosa radiação da
Mente de Deus. [Não custa repetir: a mais-valia é mesmo
uma execradora abominação.]
A Consciência Cósmica
(ou Mente Cósmica) é uma substância ou energia uniforme
e imutável, de alta freqüência vibratória, que impregna
todo o espaço e está em contato real e permanente com a consciência
de todas as criaturas vivas. Não é intangível —
no sentido de que sua existência não possa ser objetivamente
comprovada ou percebida pelas faculdades do homem — mas é invisível
e superior a todas as limitações dos elementos físicos
constituídos de vibrações inferiores... Todas as consciências
existentes na Terra, de algum modo ou em certo grau, estão em contato
com a Mente Cósmica, pois a Consciência Cósmica é
simplesmente a soma total das consciências de todas as criaturas vivas.
[E tudo vive...]
Conhecer
a si mesmo é conhecer a própria linhagem e o próprio
poder.
O destino absoluto é determinado
pelo caráter, e 'o caráter é formado pela vontade'. [Não
pretendo corrigir Sar Alden ou quem traduziu os originais, mas essa vontade
não é apenas vontade, mas VONTADE.]
Individualismo significa separação,
distinção, isolamento determinado e liberdade ilimitada. É
a própria antítese da Unidade.
É a unidade dos átomos
que forma a molécula e é a unidade das moléculas que
forma a matéria. Por trás de tudo isso está a unidade
de Energia Divina que forma o átomo.
A grande energia criativa em nosso
interior, à qual devemos nossa existência, é indivisível...
Cada átomo, molécula, célula ou porção
não é mais do que parte de um Todo.
Não podemos modelar a alma,
porém podemos modelar os canais através dos quais a alma se
expressa. Podemos desenvolver os atributos da alma e liderar esses atributos
— treiná-los — para que façam aquilo que faz reinar
o bem, o amor [e a beleza].
Em nenhum lugar encontramos Jesus assumindo
a atitude de usurpar a posição de Deus e, não obstante,
isto é o que observamos na maioria das preces. Não se trata,
contudo, de algo feito de maneira deliberada, mas inadvertidamente.
Não posso entender como dois
deuses poderiam estar de acordo para governar o Universo e trabalhar em harmonia.
[O significado místico desta sentença é: ou servimos
ao Deus de Nossos Corações ou servimos ao Demônio de nossas
ilusões.]
Pedirmos a Deus que faça uma
exceção ou que modifique uma Lei Natural é pueril. Seria
o mesmo que uma criança, sentada no chão com o Sol brilhando
em seus olhos, pedir à mãe que colocasse um cobertor sobre o
Sol!
A alma tem o direito de, como parte
da Consciência de Deus, comungar com Deus; e isto é o que a prece
realmente é. A prece é uma comunhão do Eu Interior com
o Criador [com o Mestre-Deus de nossos Corações]. Se
considerarmos a prece como uma comunhão, todo o sentido da prece se
modificará... Portanto, a primeira atitude é de reconhecimento
e compreensão de que nada pode ser exigido.
(Grifo meu).
Na tradução Oração
do Pai Nosso encontramos: Não nos deixeis cair em tentação.
No entanto, Deus jamais leva o homem à tentação. O original,
todavia, diz: Guia-nos, quando em tentação, mas livra-nos
do mal. Não há ira ou ciúme em Deus [nem
punição ou recompensa] porque o Deus único é,
acima de tudo, o Deus do Amor e da Misericórdia. (Grifo meu).
Ó Deus, por onde vagava eu à
Tua procura? Ó Infinita Beleza, eu Te buscava fora de mim, e estavas
no âmago do meu Coração. (Oração de
Santo Agostinho, apud Sar Alden). [Quando se lê uma
Oração como essa citada por Sar Alden, adiciona-se mais uma
certeza ao fato de que existe uma Igreja Oculta e Gnóstica desconhecida
da maior parte da confraria católica, e que nem os próprios
padres, em sua imensa maioria, têm acesso.]
A rosa foi comparada à alma
do homem por causa do seu desabrochar gradativo, do seu doce perfume e da
sua exuberante coloração e manifestação de maturidade.
A cruz e a rosa se transformaram no
emblema da expressão da alma através da experiência humana.
Mesmo nossos sofrimentos, se corretamente
compreendidos, são lições valiosas... Começai
agora mesmo fazendo de cada dia um dia de reconhecimento pelo que tendes,
em vez de um dia de lamentações pelo que não tendes...
Dai graças todos os dias. (Grifo meu).
Só existe uma chave cósmica
que possa fazer acontecer a harmonização com o Cósmico
em nossa vida mais rapidamente do que qualquer outra; ela é, sem dúvida,
a atitude de alegria... Porém, a atitude de alegria deve ocorrer como
resultado da compreensão e da eliminação de todas as
falsas crenças e de todos os pontos de vista errôneos.
Não temos o direito nem o privilégio
de praticar a vingança ou o revide... É nosso dever manter o
amor e a tolerância em nosso coração — dirigido
a todas as criaturas — e não permitir que pensamentos de ódio
ou de inimizade se expressem em nossa mente.
Não há meio algum pelo
qual possa ser anulada uma Lei Cósmica... Somente quando o homem compreende
que a vida [e a Vida] nada lhe deve e que ele é quem tudo
deve à vida [e a Vida], é que está preparado
para dar o primeiro passo na direção certa.
Se desejarmos [e exigirmos!]
quaisquer outras bênçãos além das que decorrem
da vida [e da Vida] e da consciência [e da Consciência]
— como sejam, saúde permanente, proteção contra
desastres, doenças, má fortuna, pobreza, preocupações
e luta — estaremos desejando coisas que nos colocarão em obrigação
muito maior do que a inerente ao nosso divino nascimento.
A grande necessidade do homem é
desenvolver e amadurecer a parte espiritual de si mesmo. Até que ele
tenha tornado pura essa parte do seu ser – e tão perfeita quanto
possível ao se expressar – não terá o direito nem
o privilégio de exigir bênçãos e posses materiais.
É isto que significa a injunção: Buscai primeiramente
o Reino de Deus! (Grifo meu).
Um Místico nunca se dirige a
Deus com um pedido para que Ele intervenha nas questões humanas consoante
uma conclusão a que tenha chegado... Em outras palavras: um místico
jamais tenta analisar as situações humanas ou fazer julgamentos
sobre elas para, com base nesses julgamentos, pedir a Deus que intervenha
de maneira que ajuste as condições à sua concepção.
Mesmo o 'se isto ou aquilo for da Tua Vontade que seja feito’ é
uma presunção. [Particularmente, o máximo que eu
consigo admitir é: Seja feita a Tua Vontade e não a minha, e
mesmo assim isso é simbólico]. Um Místico, enfim,
não pediria qualquer coisa que compreendesse ser algo que, se a ele
concedido, privaria outros de a receberem, nem pediria também aquilo
que pudesse criar para si mesmo ou conseguir com o suor do seu rosto. [Avançando
um pouco nessa especulação místico-metafísica,
eu diria que, em última análise, um Místico jamais pede
o que quer que seja. Jamais! A experiência vital lhe é suficiente.]
Em nenhum sentido Deus está
interessado em nós como seres humanos. Não atenderá as
preces que formularmos como seres humanos. E não intervirá em
nossas experiências puramente humanas. Deus está, sim, exclusivamente
e permanentemente atento à evolução espiritual que se
processa em nosso interior... [Isso é muito difícil de
ser compreendido e mais difícil ainda de ser admitido. Porém,
é assim que é. É exatamente assim, como teve a grande
coragem de ensinar Sar Alden.]
Deus está tão próximo
de nós, tão intimamente ligado a nós, que pode ser facilmente
compreendido... Tão próximo que podemos ouvir a Voz Divina,
sentir a Divina Presença e perceber a Mente Divina em qualquer momento
de nossa vida. Mas, o homem costuma exigir que, para ser ouvido e ser compreendido,
Deus fale em sua linguagem limitada, inventada, finita, e, por isso, não
ouve a Voz [Insonora] de Deus. Mas, Deus espera para poder falar
conosco... Contudo, se não Lhe dermos oportunidade nesta vida, chegará
um tempo em que, através de dores, tristezas e lições
do passado, nossa alma sentirá, nosso coração saberá
e nossa mente ouvirá... Saberemos, então, que Deus finalmente
falou... Falou como um Pai fala a seu filho...
Para o místico, o Reino dos
Céus significa um contato com todos os Corações e com
todas as Mentes do Universo, e com todas as alegrias e com todas as tristezas
da experiência humana. O Céu não pode ser um lugar de
alegria contínua [permanente], pois devem existir tristezas
e melancolias como resultado dos pecados e dos erros – das dores e das
penas – das multidões que vivem nas trevas ou que estão
evoluindo lentamente para a perfeição espiritual.
A Senda da Vida Espiritual e da Vida
Mística é a Senda da Vida Abundante — uma certa realização
da vida que traz à consciência de cada indivíduo uma aguda
apreciação das dores, bem como das alegrias e das ambições,
dos desapontamentos e das tristezas de todas as criaturas vivas.
Um Místico vê em cada
ser humano um verdadeiro irmão e uma verdadeira irmã —
um parente próximo com todas as associações humanas e
espirituais. Os interesses dos seus consangüíneos e os de toda
a Humanidade são seus interesses. Todos nós estamos unidos e
constituímos uma grande experiência para a evolução
da alma. A Vida Mística abre amplamente os portais da compreensão,
da compaixão e da sintonia humanas e, por seu intermédio, vem
um amalgamamento mais íntimo com a Consciência Espiritual que
inunda todos os seres.
O pecador, ou seja, aquele que prefere
permanecer nas trevas e que se abstém de caminhar na estreita Senda
que conduz ao poder espiritual, está constantemente separado do coração
humano de todos os seres, e é como um prisioneiro que é mantido
em uma prisão pela sua própria escolha e determinação.
Ele não repudia a sociedade, mas exclui-se a si mesmo. Ele não
afasta as demais pessoas de si mesmo, mas separa-se delas de modo que no seu
pecado e no seu remorso possa viver em segredo e evitar a amedrontadora Luz
da condenação.
A Vida Eterna é recusada àquele
que se afasta de qualquer contato com Ela. [Nas conclusões deste
ensaio abordarei este tema de outra forma.]
As Leis Cósmicas
rezam que os assuntos pessoais e particulares de um homem devem permanecer
assim enquanto ele quiser. Qualquer tentativa da parte de quem
quer que seja de usar qualquer meio oculto ou místico para interferir
nesses assuntos constitui uma violação da Ética
do Misticismo... Cada pessoa é investida pelo Cósmico
do poder de tomar suas próprias decisões (quando em mente e
corpo sãos) e de levar a efeito tais decisões, sejam estas certas
ou erradas... O HOMEM É, COM TODA A CERTEZA, LIVRE PARA ESCOLHER. (Grifos
meus).
O verdadeiro Místico não
é pessoa que baseie suas investigações do mundo espiritual
na falsa premissa da negação das condições terrenas
e materiais. O verdadeiro Místico é, em todas as ocasiões,
um buscador do domínio, e esse domínio
inclui a conquista dos problemas terrenos, assim como a compreensão
exata das verdades espirituais. Ele compreende, portanto, que o desenvolvimento
espiritual e as glórias mais sublimes da vida devem ser conseguidas
pela elevação, passo a passo, do plano terrenal para os planos
que à sua frente possam existir, e que essa consecução
deve ser promovida pelo domínio dos obstáculos ou limitações
naturais que o circundam. (Grifo meu).
Dentro de uma estimativa conservadora,
podemos admitir que 90% de todas as indisposições que nos levam
a buscar alívio são autocuráveis. Também podemos
admitir sem medo que o fator predominante em mais de 90% de todas as moléstias
humanas é o fator psíquico. (Joseph Byrne, apud
Sar Alden). [Daí, admito eu, o sucesso de certas religiões
nas quais, em suas reuniões regulares, uma multidão de pessoas
normalmente encontra alívio para dores, mal-estares, articulações
e membros enrijecidos etc. Contudo, se o fator psíquico não
é efetivamente removido (compreendido) todos esses achaques tendem
a recidivar, e normalmente reincidem com mais impetuosidade e violência.
Um presumido milagre é tão-só uma triste ignorância
do funcionamento das Leis Naturais. Uma pessoa que, há anos, por exemplo
esteja entrevada, poderá, em uma elevação emocional e
fideísta, até conseguir se levantar; mas, muito provavelmente,
passado o surto emocional poderá cair e acabar quebrando um osso. Ou
coisa pior. Mas, se as restrições e as causas das desarmonias
são compreendidas as curas psíquicas são possíveis!
O Reino (Buddhi) está em nosso interior e independe de descargas
de adrenalina. De qualquer forma, temos que compreender, minimamente, que
ninguém ficará para semente.]
Na maioria dos trabalhos terapêuticos
feitos por qualquer metafísico, o maior problema não está
em ministrar o tratamento correto para a cura, nem em diagnosticar o que está
errado e nem em recomendar alguma prática construtiva. Mas, sim, em
retirar da mente do paciente as idéias que restringem os processos
criativos que atrapalham o trabalho da própria Natureza... É
mais ou menos como se o médico penetrasse no cérebro do paciente
com vassoura, aspirador de pó, pás e picaretas para limpar as
teias de aranha e a poeira, e destruir toda sorte de caixotes velhos e outros
materiais semelhantes, colocando em ordem o referido local.
Não pode haver nenhuma indisposição
no Corpo Físico a menos que haja uma indisposição no
Corpo Psíquico do nosso Ser. A parte psíquica não é
a alma. Sua constituição é mental, psicológica
e neurológica. Está associada com a alma – o divino no
homem – mas não é a própria alma... Por conseguinte,
a parte psíquica poderá ficar obcecada por idéias erradas
ou tornar-se anormal em face de condições errôneas. Ansiedade,
ódio, inveja, ciúme, fraude, injustiça, intolerância
e similares emoções destrutivas desarmonizam nosso Ser Psíquico
nele provocando uma condição tóxica que é tão
desastrosa quanto o veneno material o é para o corpo físico.
Da mesma maneira, a parte emocional pode nos ajudar a purificar a natureza
psíquica existente em nosso interior. Pensamentos de amor, bondade,
compaixão, justiça, tolerância, boa vontade, fraternidade
universal, paz, harmonia e emoções semelhantes agem como estimulante,
como perfume para o Ser Interior, e tornam a parte psíquica de nosso
corpo feliz, forte e pura em todos os sentidos.
A grande necessidade do homem é
desenvolver e amadurecer a parte espiritual de si mesmo. Até que ele
tenha tornado pura essa parte do seu ser – e tão perfeita quanto
possível ao se expressar – não terá o direito nem
o privilégio de exigir bênçãos e posses materiais.
É isto que significa a injunção: Buscai primeiramente
o Reino de Deus! (Grifo meu).
Tentar remover ou afetar a causa e
as condições de doenças do corpo apenas pela medicação
orientada no sentido de produzir uma alteração química
do organismo, é simplesmente tentar modificar a manifestação
externa da anormalidade sem tocar na causa — seja ela qual for.
Três Verdades Eternas: Deus persiste!
O homem persiste! As relações entre Deus e o homem persistem!
A espiritualidade em nós é
Deus em nós e nada seríamos sem ela. [Ainda que Deus esteja
em nosso interior, poderemos imaginar que Ele esteja fora, mas persiste o
fato de que sem Ele seríamos absolutamente nada. E também persiste
o fato de que Deus e o homem são UM, e que o único Deus Verdadeiro
é aquele que o homem constrói em seu Coração.]
A montanha da iluminação
(da paz, da harmonia, do amor e da compreensão) pode ser encontrada
em toda parte e em qualquer ocasião.
O triângulo de três dimensões
é um conceito separado e independente; o quarto ponto – constituindo
o quadrado – é a quarta dimensão... Da mesma forma que
podemos ter um corpo de três dimensões sem alma, poderemos ter
uma alma como uma quarta dimensão sem corpo... O verdadeiro conceito
místico das coisas é ignorar as três primeiras dimensões
e examinar tudo somente do ponto de vista da quarta dimensão... No
mundo Cósmico, tudo existe devido à quarta dimensão.
No Plano Terrestre, a quarta dimensão é a responsável
pela natureza das coisas, enquanto as outras três dimensões (comprimento,
largura e profundidade) são responsáveis apenas pela nossa visão
objetiva das coisas... O homem, todavia, deve se tornar capaz de desenvolver
seus sentidos e qualidades psíquicas a um grau em que possa sentir
a manifestação da quarta dimensão independentemente das
outras três dimensões.
A salvação da espécie
humana ou da Humanidade não é uma realização de
massa, mas, sim, um processo que depende da exemplificação de
princípios pelos indivíduos que compõem essa massa. Qualquer
espécie de reforma deve começar com o indivíduo e depois
passar para a coletividade. Cada pessoa deve ser encarada como um ser humano,
não necessariamente de todo independente dos demais seres humanos,
mas, certamente, distinto da massa coletiva. [Os marxistas não
aceitam isso de jeito nenhum, pelo menos os marxistas ortodoxos. Há
poucos anos, um membro da AMORC meu conhecido, que entrou e saiu da Ordem
não sei quantas vezes, acabou saindo definitivamente depois de ler
a Positio Fraternitatis Rosæ Crucis (Manifesto promanado do
Supremo Conselho da Fraternidade Rosacruz e selado em 20 de Março de
2001), pois me disse que a Positio estava frontalmente em desacordo
com os princípios apresentados por Karl Marx. Esses são os caixotes
velhos e os outros cacarecos que existem nos cérebros de muita gente
e de que falou Sar Alden. Mas, que me desculpe o Mestre Alden, pois não
há vassoura, não há aspirador de pó, não
há pá e não há picareta que remova esse entulho
assim com tanta facilidade. Nem milagre dá resultado. Esses
entulhamentos, particularmente os ideológicos, quando entram no crânio
de alguém parece que ficam colados com Super Bonder.]
Há uma certa 'Chave' específica
que, uma vez obtida, haverá de nos abrir a Porta para a Felicidade.
Tendo-A conseguido, possuímo-La para sempre! Ainda que A emprestemos
a outrem ou tentemos jogá-La fora, jamais poderemos perdê-La!
Mas, para recebermos essa maravilhosa 'Chave' é necessário que
alcancemos a compreensão de nossa verdadeira relação
com Deus e com toda a Humanidade!
Deus não poderia criar coisa
alguma que fosse menos perfeita do que Ele próprio! Quando nos tornamos
cônscios desta grande verdade e sabemos que somos parte de Deus, a chamada
individualidade humana perde todo o seu significado; então, nos apercebemos
de nós mesmos ou nos reconhecemos tão-somente como humildes
almas intimamente ligadas a todas as outras almas, como partes necessárias
a integrar e compor a UNIDADE DO TODO.
O homem não é hoje e
nunca foi inteiramente independente... Sem os outros ele próprio não
poderia ser o que é nem estar onde está! [Vou dar um exemplo
infantil ao qual já me referi em outra ocasião. Passamos, em
média, um terço de nossas vidas dormindo. Se não existissem
os marceneiros que constroem as camas, como descansaríamos confortavelmente?
Isso faz lembrar outra coisa: só temos úteis dois terços
de nossas vidas para implementarmos conscientemente as mudanças que
devem ou que precisam ser implementadas.]
Se as pessoas se detivessem por um
instante e pensassem um pouco mais, logo perceberiam que algumas das coisas
que consideram tão necessárias à sua felicidade são
exatamente aquelas que lhes causariam muita infelicidade, se as conseguissem.
[E quando lutam para conseguir essas coisas, e conseguem, geralmente
acabam infelizes! O dia em que realizarmos consciente e (trans)racionalmente
de que a vida é suficiente, não precisaremos mais de nada e
não lutaremos por mais nada que seja produto da ilusão dos sentidos.
Não estou, com isso, querendo dizer, por exemplo, que se deva deixar
de lutar e de trabalhar para, um dia, poder ter uma residência própria.
O que se deve ter muito claro é a diferença entre necessidade
e ilusão. E nem sei se ter uma casa própria seja uma necessidade
assim tão necessária.]
QUARTA
PARTE
Conclusões
omo
concluir este trabalho? Bem, como prometi mais acima em um dos excertos transcritos,
examinarei sob a minha ótica a afirmação corajosa de
Sar Alden de que a Vida Eterna é recusada àquele que
se afasta de qualquer contato com Ela. Penso que, para começar,
talvez seja adequado repisar que o que está nas entrelinhas de todas
as monografias da Ordem, e que, para os desatentos, poderá passar despercebido,
seja a melhor escolha como gancho. Logo no início dos estudos monográficos
do Rosacrucianismo da vertente sob a responsabilidade da AMORC (só
posso especular sobre essa vertente, pois só sou membro da Ordem Rosacruz,
AMORC) é ensinado ao membro a expressão Deus de Nossos
Corações. Isto não significa, apenas, que
devamos respeitar as crenças dos outros ou que, em verdade, deva ser
reconhecido que cada um tem um entendimento pessoal Daquilo que pode ser entendido
como Deus. É isso, sim, mas, como já expliquei, é um
pouco mais do que apenas isso. E é esse um pouco mais que
faz a diferença. Uma enorme diferença, por sinal. Portanto,
compreender as linhas é apenas uma parte do esforço que o Membro
da AMORC tem que despender para alcançar a Illuminação.
O outro tanto está no entendimento mesmo das entrelinhas, e esse entendimento
está diretamente vinculado à compreensão Místico-Ateísta
de que devemos aprender a projetar e a construir nós próprios,
com o nosso esforço exclusivo, o Deus de Nossos Corações.
Esse, salvo melhor juízo, foi o grande diferencial que a AMORC emprestou
à Humanidade. Temos que nos libertar dos deuses de papel e dos deuses
egregóricos para sermos livres. Não poderemos jamais alcançar
qualquer tipo de liberdade enquanto estivermos agrilhoados a deuses coletivos
ou dependentes de canalizações e quetais. Isso vale tanto quanto
perder tempo em bolar uma máquina para enxugar gelo. Já tive
a oportunidade de, em ensaio anterior, expressar a convicção
de que se há um único Deus no Universo, paradoxalmente apenas
na aparência, Ele é um e é múltiplo, multiplicidade
essa que está relacionada e é manifestada nas personalidades
de todas as coisas que vivem. E tudo vive... No Plano Terra, a diferença
sensível entre uma pedra, uma planta, um animal e o homem é
que a pedra tem consciência de pedra, a planta tem consciência
de planta, o animal tem consciência de animal e o homem tem consciência
de homem, e este, o homem, já se manifesta independente de um Espírito-grupo.
Isso, ainda que muito mal compreendido também, é denominado
de livre-arbítrio. Por isso a AMORC refere-se à alma humana
como personalidade-alma. Por isso Sar Alden disse que não podemos
modelar a alma, porém podemos modelar os canais através dos
quais a alma se expressa. Isso não significa independência
e livre-arbítrio com quebra de Unidade ou egoísmo, mas independência
e responsabilidade com consciência consciente
fraterna dessa mesma Unidade. Mas, a mais sublime independência e a
mais augusta liberdade que um místico pode almejar é a alforria
de todas as obrigações compulsórias, e isso só
será conseguido quando o Mestre-Deus interior prevalecer sobre as ilusões
astrais deformantes e retrogressivas. Mas Ele – esse Mestre-Deus interior
– não nasce por si (como que em uma espécie de autogênese
ou geração espontânea) e nem poderá se manifestar
se não for edificado. A faina é nossa e só nossa. Não
posso deixar de citar Sar Alden mais uma vez: Os Rosacruzes sabem que
o [único] Mestre que virá a cada ser será o
seu Mestre Interior, e não um personagem estrangeiro.
Enfim, ou construímos esse Deus
Interno aqui e agora ou de duas uma: reencarnaremos de maneira estagnante
(ou mesmo descensional) até aprendermos, ou seremos reciclados, pois
quando não há possibilidade de reaproveitamento de um ser-no-mundo,
só a sua imperdível essência é utilizável.
Isso não é doloroso ou punitivo; é a Lei. E dura
Lex, sed Lex. A Lei é dura, mas é a Lei. Não é
como alguns querem que seja dura lex, sed latex. A lei é dura,
mas estica, como disse ironicamente Fernando Sabino. Ela – a Lei Cósmica
– não estica. O exemplo a seguir talvez não seja o melhor
e nem o mais adequado, mas não me eximirei em apresentá-lo.
A difteria, conhecida popularmente como crupe, é causada pelo bacilo
Corynebacterium diphtheriæ ou bacilo de Klebs-Löeffler.
Essa doença infectocontagiosa – que provoca inflamação
com formação de exsudato fibrinoso da mucosa da garganta, do
nariz e, às vezes, da traquéia e dos brônquios –
só poderá ser debelada com aplicação do soro antidiftérico
combinado com um antibiótico (penicilina ou eritromicina). Mas, se
o exemplo não foi o melhor e nem o mais adequado, é totalmente
adequado e inquestionavelmente pertinente se se admitir que há criaturas
neste mudo muito mais malévolas, perniciosas e infectantes do que o
bacilo de Klebs-Löeffler. Logo...
Se eu tivesse, enfim, que escolher
o maior legado de Sar Alden diria que foi exatamente esse: suas místicas
entrelinhas. Poderão questionar: mas essas coisas não estão
explicitadas nas monografias. Respondo: estão sim, ainda que entrelinhas
não devam ou precisem ser explícitas, senão não
seriam entrelinhas! Seriam linhas. O que se deve ter em mente é que
Sar Alden escreveu os ensinamentos Rosacruzes para a AMORC (ampliados por
Sar Validivar) no início do século passado. Ele teve que ter
muito cuidado para dizer as coisas que precisava dizer e escrever, sem dizê-las
ou escrevê-las, na maioria das vezes, diretamente, pois se dissesse
ou escrevesse tudo com todos os esses e erres, a AMORC hoje teria meia dúzia
de membros. Isso se a Ordem conseguisse se estabelecer, o que seria, se assim
fosse, um desastre total e uma inutilidade absoluta. Uma das maiores coragens
de Sar Alden foi a elaboração da Iniciação ao
4º Grau de Templo. Os membros que já passaram por ela sabem a
que estou me referindo. Maldito seja e pobre daquele que profanar o que ali
está ensinado. Ocupará milênios de sua peregrinação
para se redimir.
A Idade Média não acabou
com a queda de Constantinopla em 1453. Em muitos sentidos continua fermentando
e manifesta, e o inferno, o limbo (criado pela teologia católica no
século XIII) e o purgatório ainda têm seus timoratos crentes.
Por outro lado, a Inquisição – que começou no século
XII no sul da França, e que foi consagrada solenemente em Portugal
pela instalação sangrenta de um Tribunal do Santo Ofício
em Lisboa em 1536, com a nomeação de três inquisidores
pelo Papa e um pelo rei – só viria a ser extinta da Terra de
Cunha Seixas e de Fernando Pessoa em 31 de março de 1821 por uma sessão
das Cortes Gerais da Nação portuguesa! Então, no imaginário
popular, coisas como essas, e como o Código de Hamurabi e
a Lei de Talião, demoram séculos, milênios, para serem
diluídas. Muita gente ainda tem medo de ser excomungada ou interditada.
Por isso, o Rosacrucianismo renasceu no século XX muito entranhado
do espiritualismo cristão de base protestante, e ainda permanece, o
que, em certa medida, é necessário e inevitável. Por
outro lado, é impossível se arrancar alguém que viva
mentalmente na Idade Média para o século XXI, muito menos em
cinco minutos ou com cinco monografias. Portanto, estão justificadas
a sabedoria pedagógica de Sar Alden e a conseqüente afirmação
de que ou se lê as entrelinhas ou se aprenderá só a metade
da lição. Mas, não teria dito Jesus que o Reino está
dentro? Buddha, séculos antes, disse a mesma coisa de outra forma:
Por mais que na batalha se vença um ou mais inimigos, a vitória
sobre si mesmo é a maior de todas as vitórias. Não
se pode esquecer de que o Budismo Esotérico não leva em conta
a idéia de Deus, seja esse Deus transcendente, imanente ou pessoal.
O Reino está dentro!
Uma
palavra final: peço desculpas pelos equívocos involuntariamente
cometidos.
Rio
de Janeiro, 7 de junho de 2006.
_____
Nota:
1.
Para
concluir este item, penso que a recente morte de Abu Musab al-Zarqawi (cujo
nome verdadeiro é Ahmad Fadil al-Khalayleh), líder da Al Qaeda
no Iraque, nesta quarta-feira, 7 de junho de 2006, na província de
Diala, ao nordeste de Bagdá, não irá trazer paz imediata
nem mediata àquela região. A razão do meu convencimento
quanto a essa matéria é muito simples: os motivos que ainda
alimentam o terrorismo internacional não foram removidos um milímetro.
E mais: nenhuma célula terrorista foi desbaratada (o que também
não adiantaria nada), e Zarqawi de revolucionário foi promovido
a mártir do Islã. Pode, sim, haver um recrudescimento das ações
terroristas naquela área e no resto do mundo como forma de vingança
pela morte do líder jordaniano e como estratégia de
demonstração de força e de unidade. Minimamente, o que
precisa acontecer é a saída das forças de coalização
do Iraque e do Afeganistão e as artérias do Terceiro e Quarto
Mundos precisam parar de sangrar. A própria euforia das bolsas de valores,
alimentada pelos dólares-turistas, um dia terá que acabar, porque
uma parte do mundo não pode enriquecer para sempre enquanto a outra
parte empobrece e morre à míngua. Os Estados Unidos da América,
particularmente, precisam também parar de pressionar o Irã;
deveriam, sim, dar o exemplo e desativar todos os seus artefatos nucleares.
Utopia? Pensamento romântico? No fundo, todo Rosacruz é um utópico
e um romântico, sem ser, pejorativamente, um sonhador ou um quimérico.
Temos que aguardar e orar. Orar, não para que o terrorismo e as desgraças
planetárias acabem assim de uma hora para a outra. Isso é tolice
e não existe milagre. Somos todos responsáveis. Mas, isto sim,
mentalizar para que se faça a compreensão, para que as pessoas
se questionem e para que os governos e os líderes mundiais se respeitem
e se entendam. Por outro lado, fico pensando em como deve ser triste e terrível
a vida de um terrorista carregando o peso da morte de milhares de inocentes
decretada pelo assustador conceito de que os fins justificam os meios.
Este conceito é enfaticamente invertido por todas as Organizações
R+Cs, conceituação essa usada, particularmente, pela CR+C como
seu lema oficial, ou seja: OS
FINS NÃO JUSTIFICAM OS MEIOS. Com relação
a tudo isso, vou dar apenas um exemplo: nós brasileiros haveremos de
responder pelas armas que são comercializadas pela IMBEL (Indústria
de Material Bélico do Brasil). Exportar a morte para aumentar as disponibilidades
cambiais? Estamos caminhando para um beco sem saída mundial e em todos
os sentidos. Ou a Humanidade toma a decisão de mudar já, ou
quando quiser mudar será tarde demais. Quando há morte e putrefação
dos tecidos de uma parte de um organismo vivo a solução é
amputar o pedaço que ficou podre. Isto não é 'boriskarloffismo',
não é pessimismo, não é catastrofismo e, muito
menos, é aviso canalizado; é o óbvio.
Bibliografia
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_______. Mil anos passados. Traduzido da 20ª edição
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_______. As doutrinas secretas de Jesus. Traduzido da 16ª edição
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_______. Ensaios de um místico moderno. Traduzido da 4ª
edição norte-americana. Coordenação de Maria A.
Moura. Rio de Janeiro: Editora Renes, s. d.
_______. Envenenamento mental. Traduzido da 12ª edição
norte-americana. Coordenação de Maria A. Moura. Rio de Janeiro:
Editora Renes, s. d.
_______. Preguntas y respuestas rosacruces (con la historia completa de
la Orden Rosacruz). 5ª edição. Traduzido da 18ª
edição inglesa. Biblioteca Rosacruz. Gran Logia Suprema de AMORC.
Tokio, Japón: AMORC, 1966.
LEWIS, Ralph M. Missão cósmica cumprida. Coordenação
de Maria A. Moura. Rio de Janeiro: Editora Renes, s. d.
LUZ. VIDA. AMOR. Mensagens de H. Spencer Lewis. 1ª edição.
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ORDEM
ROSACRUZ - AMORC. Fatos acerca da FUDOSI. Discursos série F. Ordem
Rosacruz AMORC, Grande Loja do Brasil, Curitiba, Paraná, s. d.
O ROSACRUZ. Curitiba, Paraná, Ordem Rosacruz, AMORC, abril, 1984.
Websites
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http://www.quadriphonie.info/rendez-vous/
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http://diplo.uol.com.br/2003-04,a597
http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm
http://www.mantra.com.ar/miv/kirliangrafia.html
http://fratreslucis.netfirms.com/Fudosi01.html
Música
de fundo: Cântico Rosacruz
Fonte:
Ordo
Svmmvm Bonvm