Já
Louis-Claude de Saint-Martin renunciou à Teurgia - senda externa
segundo seu entendimento - em proveito da senda interna. Considerava a Teurgia
perigosa e temerária. Reputava, outrossim, arriscada a invocação
angelical quando operada pela via externa. O caminho era o interior. Saint-Martin
desejava: entrar no Coração da Divindade e fazer a Divindade
entrar em seu Coração.
A
Iniciação transmitida por Saint-Martin perpetuou-se até
o final do século XIX. Mas não foi ele próprio o fundador
de uma associação com o nome de Ordem Martinista. Havia, entretanto,
uma Sociedade dos Íntimos (Círculo Íntimo) formada
de discípulos que recebiam a Iniciação diretamente
de Saint-Martin. No final do século XIX, dois homens eram os depositários
desse conhecimento e dessa Iniciação: Gérard Encausse
e Pierre-Augustin Chaboseau. Foram esses dois homens, Gérard Encausse,
mais conhecido como Papus, e Augustin Chaboseau que, em 1888, decidiram
transmitir a Iniciação de que eram depositários a alguns
buscadores da verdade e fundaram a Ordem Martinista. É a partir dessa
época que se pode efetivamente falar em uma Confraternidade Martinista.
Em
1891 a Ordem Martinista foi dotada de um Conselho Supremo, e Papus foi escolhido
Grande Mestre da Ordem. O Coração do Martinismo fixou-se em
Paris, e, imediatamente, foram criadas quatro Lojas: Esfinge, Hermanubis,
Velleda e Sphinge. Cada uma com características específicas,
mas todas fiéis ao pensamento de seu inspirador Louis-Claude de Saint-Martin.
A
Ordem, com o tempo, expandiu-se também no estrangeiro, e foram instaladas
diversas heptadas na Bélgica, na Alemanha, na Inglaterra, na Espanha,
na Itália, no Egito, na Tunísia, nos Estados Unidos, na Argentina,
na Guatemala e na Colômbia. Não há registros, s.m.j.,
do funcionamento da Ordem, naquela época, nem em Portugal, nem no
Brasil.
Com
o advento da Primeira Guerra Mundial, a Ordem Martinista entrou em dormência.
Papus transferiu-se voluntariamente para o front (para servir como
médico), vindo a falecer antes do fim do conflito, em 25 de Outubro
de 1916. Com a transição de Papus, a Ordem passou por dificuldades
e quase desapareceu. Foi exatamente em 24 de Julho de 1931 que os martinistas
autênticos, no intuito de distinguir a Ordem de movimentos pseudomartinistas
(inautênticos), reuniram-se em torno de Augustin Chaboseau e acrescentam
à denominação da Ordem o qualificativo Tradicional.
Nova
prova para os martinistas: a Segunda Grande Guerra. A Ordem entra praticamente
em nova dormência, pois no dia 14 de Agosto de 1940 o jornal oficial
publicou um Decreto do Governo de Vichy proibindo na França o funcionamento
de todas as organizações secretas. Todavia, duas Lojas continuavam
a operar incógnita e silentemente: Athanor e Brocéliande.
A Gestapo não dava sossego às organizações iniciáticas.
E alguns iniciados, não apenas da TOM, foram martirizados e mortos
nos porões do nacional-socialismo pelos títeres nazistas.
1945:
término das hostilidades. Augustin Chaboseau (Sâr Augustus),
incansavelmente, reativou a Ordem pela última vez, pois veio a falecer
em 2 de Janeiro de 1946. Na Europa, com a morte de Chaboseau, o movimento
martinista passou mais uma vez por grandes dificuldades. Sua sustentação
deveu-se a Ralph M. Lewis (Sâr Validivar), então Imperator
da Ordem Rosacruz e Grande Mestre Regional da Tradicional Ordem Martinista
que, com seu incansável trabalho e acurado senso de organização,
sedimentou a agremiação na Europa. Foi eleito Soberano Grande
Mestre da Ordem e dirigiu-a por 48 anos até o momento de sua Grande
Iniciação, em 12 de Janeiro de 1987. Hoje, a Tradicional Ordem
Martinista é dirigida universalmente por Christian Bernard, também
Imperator da Ordem
Rosacruz - AMORC.
Presentemente, a TOM está instalada também no Brasil.
Apesar
de todas as adversidades, a Tradicional Ordem Martinista sempre conseguiu
manter e transmitir sua Luz ao longo do tempo. Os martinistas - Servidores
Incógnitos - sabem e concordam com Victor Hugo quando afirmou: A
revolução muda tudo, menos o Coração do homem.
Por isso, como preconizou Saint-Martin, não é no exterior
que se deve produzir a mudança, mas sim no Coração
de cada homem. É esse conceito que os martinistas denominaram
(e denominam) de SENDA CARDÍACA.
Conforme
afirmei anteriormente, Martinès de Pasqually entendia que a ascensão
do homem só poderia se operar pela Teurgia, ou seja, por um conjunto
complexo de práticas ritualísticas, visando obter sua reintegração
com a Divindade com intermediação angélica. Saint-Martin
desaprovava essas práticas. Achava-as perigosas e ultrapassadas.
Acreditava que com o advento do Cristo o homem poderia ter acesso ao Reino
Divino sem intermediários. Evocar ao invés de invocar. Dentro
e não fora. Interior e não exterior. A ascese interior é
o caminho, e, nesse sentido, é no Coração do homem
que tudo deve acontecer. Para os martinistas, o Universo e o homem formam
um todo, e como ensinava Saint-Martin: não podemos ler senão
no próprio Deus, nem nos compreender senão em seu próprio
esplendor. Se o homem não é mais capaz dessa harmonia
é porque se tornou vazio de Deus. Ficou adormecido para a espiritualidade.
Escolheu que assim sucedesse. Lutar pela reintegração é
preciso. É sobre essa questão primordial que repousa todo
o trabalho martinista: a Reintegração do Homem. O poder original
perdeu-se. Mas não se perdeu, certamente, o germe desse poder. Só
depende - e depende exclusivamente - do homem cultivá-lo, trabalhá-lo,
e fazê-lo crescer e frutificar. Mas há aqueles que têm
consciência dessa nostalgia. Há os que sentem um impulso interior
de reencontrar a pureza original. São os Homens do Desejo. É
o desejo de Deus. É a fome de Deus. É a saudade metafísica
insatisfazível do reencontro interno e insubstituível com
a Divindade Interior. No âmbito do Rosacrucianismo isto corresponde
à construção in corde do Mestre-Deus pessoal
de cada Iniciado.
Assim,
a senda martinista é a senda da Vontade, voltada para a reconstrução
do Templo Interior. Para edificar e reconstruir esse Templo, o Iniciado
Martinista apoia-se em três pilares: a Iniciação,
os Ensinamentos Martinistas e a Beleza. Pelos dois primeiros
adquire (ou readquire) Força e Sabedoria.
Alcançadas ou (re)alcançadas essas instâncias do ser,
nascerá (ou renascerá) a Beleza que marcará
com seu selo a reconstrução de seu Templo Interior. Portanto,
a edificação do Templo Interior, como tudo, apóia-se
na Lei do Triângulo.
Sobre
a questão da iniciação, vale a pena recordar o que
ensinou Saint-Martin a Kirchberger: Pela iniciação podemos
entrar no CORAÇÃO DE DEUS e fazer
o CORAÇÃO DE DEUS entrar em nós,
para aí fazer um casamento indissolúvel. (Maiúsculas
e grifos meus). Pela Iniciação o homem lentamente tornar-se-á
seu próprio Rei e seu próprio Mestre.
Um dia poderá também dizer: Eu meu Pai somos Um.
Os
ensinamentos de Saint-Martin são, sem exceção, aplicáveis
a toda a Hhumanidade. Considerava a fraternidade (e não a igualdade)
a base de toda a vida social e propugnava a união de todos os seres
humanos em nome do amor. Justiça e caridade, força e fraqueza,
só podem encontrar seu ponto de equilíbrio pela e na fraternidade.
Assim, a Tradicional Ordem Martinista - que é uma das Fraternidades
Martinistas que preserva os ensinamentos de Louis-Claude de Saint-Martin
- propugna que a felicidade dos homens é dependente e proporcional
à felicidade de cada um de seus membros e na união de todos
pela fraternidade, que propicia uma verdadeira igualdade pelo equilíbrio
estável de direitos e de deveres. A resultante desses dois lados
do triângulo conduz ao terceiro - a liberdade - que determina a segurança
e a preservação de todos. Mas, nada poderá acontecer
efetivamente sem Humildade e Caridade.
Em
seu trabalho os martinistas não empregam nem Magia nem Teurgia, nem
se preocupam com a acumulação de um saber puramente intelectual,
pois entendem que para progredir na Senda da Reintegração
não é a cabeça que é preciso empenhar e sim
o Coração. É no Coração - o templo sagrado
e alquímico de transmutação do homem antigo no homem
perpétuo - que serão encontradas as Sete Fontes Sacramentais,
as Sete Colunas, que harmonizarão e fertilizarão todas as
regiões do ser do homem. Dessa Alquimia Transcendental e perene manifestar-se-ão,
para sempre, a Sabedoria, a Força e a Magnificência.
Segundo
Saint-Martin na obra O Novo Homem, essas possibilidades estão
à disposição do ser humano, porque nunca dele lhe foram
subtraídas, e tais maravilhas encontram-se perpetuamente no seu Coração,
eis que aí têm existido desde a origem.
No
discipulado, o martinista utiliza dois livros simbólicos (díade
martinista): o Livro da Natureza - imenso repositório
de conhecimentos - e o Livro do Homem - a ser lido por
introspecção, pelo retorno ao centro do ser, pelo retorno
ao Coração. Aí é o lugar para e de contemplação
interior, de transmutação divina, e que se constitui na via
Esotérica, Alquímica e Secreta de e para todos os seres, martinistas
ou não. Nesse processo, o homem velho acaba por ceder lugar ao Homem
Novo. Essa regeneração foi definida por Saint-Martin como
uma imitação interior do Cristo; e, tendo se tornado
Homem-Espírito, poderá cumprir seu ministério: ser
o intermediário ativo entre o Absoluto e o Universo. Este é
o significado oculto da sentença: Lázaro, levanta-te.
Todo Martinista (e todo místico sincero) é potencialmente
um Lázaro. Um dia o homem se levantará e não haverá
mais em cima ou embaixo, exterior ou interior, dentro ou fora. A comunicação
será permanente e consciente, e o homem terá alquimicamente
se transmutado no templo de seu Deus interior. A Jerusalém Celestial
terá sido restabelecida, pois o homem foi, então, batizado
pelo Fogo Sagrado do Santo Espírito. I-NRI. I-Na-Ra. I-Na-Ra-Ya.
YN-RI. A Doutrina Martinista veio (re)anunciar, portanto, a Era
do Cristo Cósmico, que já começa a se revelar na alma
de todos os seres, que, ainda que vacilantemente, estão começando
a perceber que a insistência em chafurdar em valores transitórios,
subalternos e ilusórios só pode conduzir a sofrimentos e a
desastres, qualquer que seja a dimensão dessas transigências,
qualquer que seja a dimensão de cada tentativa. Ambas (e todas) serão
sempre frustras e, muitas vezes, dolorosas.
E
assim, se se puder simplificar ao limite máximo para a mínima
compreensão do que possa ser Esoterismo ou Iniciação
no sentido martinista, talvez um resumo do que deixou escrito Saint-Martin,
possa desarmar as consciências, de um modo geral, e estimular o início
de uma pesquisa e de um estudo mais sistemático e mais aprofundado
sobre essa possibilidade de acesso a um conhecimento, que está a
todos disponível, aberto e sem reservas: A única Iniciação...
é aquela pela qual podemos penetrar o Coração de Deus
e induzir este Coração divino a penetrar o nosso. Kirchberger,
como se viu, teve o privilégio de receber esse inspirador pensamento
do próprio Formulador. A vereda martinista é, portanto, CARDÍACA.
Interna. Não-teúrgica. Cabalística e ao mesmo tempo
Iniciática e Gnóstico-Cristã. Assim, contrariamente
à tagarelice profana e vulgar, Iniciação (no sentido
esotérico) é experiência pessoal, aprendizado pessoal,
compromisso com o Bem, com a Beleza, com a Justiça, com a Fraternidade
e com a Liberdade; é o propósito de servir e de atuar neste
Plano de existência com firmeza e tolerância, mas também
com bondade e compreensão, respeitando a multiplicidade de credos
e de opiniões, sempre colaborando para a ascensão social e
espiritual da Humanidade. É, em suma, a prática plena pela
compreensão plena do PRIMEIRO MANDAMENTO: Amai-vos.
Sobre a Verdade, Saint-Martin deixou escrito: A opressiva desventura
do homem não é ignorar a existência da verdade, mas
interpretar erroneamente sua natureza. Este conceito é equivalente
ao entendimento pitagórico a respeito da anarquia.
O
Martinismo é, portanto e minimamente, como admite um espiritualista
contemporâneo, o caminho do equilíbrio entre a ciência
e a religião. É, assim, um método desenvolvido
e destinado a facilitar a compreensão da existência da harmonia
entre todas as coisas e o empenho da prática cristã do Amor
Universal.
Segundo
Papus: A Magia, considerada como uma ciência de aplicação,
limita quase unicamente sua ação ao desenvolvimento das relações
que existem entre o homem e a natureza. O estudo das relações
que existem entre o homem e o Pano Superior ou Divino, em todas as suas
modalidades, pertence à Teurgia. (É sabido que Papus,
no final da vida, abandonou in pectore tanto a Teurgia como a Magia
para seguir a Senda do Coração, o que lhe causou certos constrangimentos
por parte de seus confrades.)
Enfim,
o Martinismo pratica Magia ou Teurgia? A Teurgia ou a prática teúrgica
se apresenta, necessariamente, com um caráter absolutamente secreto,
impossível de ser violado, sendo, desta forma, inteiramente desconhecida
da grande maioria dos estudantes de misticismo, pois exige do operador aptidões
excepcionais, que, dificilmente, são encontradas hoje em um único
indivíduo. Para um exercício teúrgico realmente eficaz
e eficiente é sabido que é necessária uma instrução
adequada e uma amplidão de conhecimentos que consiste, no mínimo
e inclusive, do domínio de uma língua antiga (hebraico, grego
ou latim), de conhecimentos consistentes de Astronomia e de Astrologia,
e de substanciosa sapiência de Alquimia e de Ritualismo Cerimonial.
Como pode ser facilmente observado, torna-se a enfatizar, é muito
difícil que, contemporaneamente, alguém possa deter todos
esses conhecimentos. Também, são imperativas uma conduta
pura, uma vida pura e uma consciência
pura. Analisando de maneira realista o que é denominado
de Teurgia, pode-se dizer que é, no máximo, uma forma de Magia,
ou melhor, de Alta Magia, através da qual é provável
(mas não aconselhável), com determinação e com
muito estudo, que sejam conquistados alguns resultados de natureza psíquica.
Mas, o que poderia ser considerado um resultado teúrgico satisfatório?
Talvez, um nível de harmonização, de paz interior e
de conhecimentos não acessíveis à grande maioria dos
estudantes. Sob este entendimento o Martinista é um praticante de
Magia, ou melhor, de Alta Magia. Mas o que realmente deve ser importante
para o Buscador? A prática Teúrgica? Alta Magia? Os resultados
oriundos de uma presumida comunicação com os seres angelicais,
ou melhor, com as Hierarquias Celestes? Ou, o importante é a Transmutação
Interior? É a Alquimia Interior – cujos instrumentos
são a devoção, a dedicação e o estudo
– que é proporcionada ao operador, ao Buscador, ou, ainda,
ao estudante para poder servir altruisticamente. O Martinismo, primordialmente,
como já foi dito, tenta conciliar a Ciência com a Religião,
e isto é Conhecimento que suplanta a Fé cega, que, no inexistente
tempo, também será transmutado em Santa Sabedoria
–› ShOPhIa.
Parafraseando,
colando e recortando palavras de Monte Cristo SI, o intuito desta compilação-revisitação
foi o de fornecer informações históricas sobre o Martinismo
através dos séculos e de oferecer alguns fragmentos do pensamento
saintmartiniano para reflexão. Como todo Martinista sabe (qualquer
que seja a Ordem Martinista a que pertença), não se julga
um Irmão pela riqueza ou pela pobreza do berço que o embalou,
e sim pela fraternidade que une os seres que possuem gravados em seus íntimos
a mesma Iniciação e a mesma paternidade
espiritual. Este é o elo iniciático, místico,
fraterno, histórico e tradicional que une todos os Martinistas de
todas as Fraternidades.
De
qualquer forma, repito: Louis-Claude de Saint-Martin renunciou à
Teurgia - senda externa - em proveito da SENDA INTERNA.
Considerava a Teurgia perigosa e temerária. Reputava, outrossim,
arriscada a invocação angelical quando operada pela via externa.
O caminho era o interior. Saint-Martin desejava: entrar no Coração
da Divindade e fazer a Divindade entrar em seu Coração.
Acreditava - e eu também acredito - que, com o advento do Cristo
Cósmico, o homem pode ter acesso ao Reino Divino sem
intermediários. Evocar ao invés de invocar. Dentro e
não fora. Interior e não exterior. A ascese interior é
o caminho, e, nesse sentido, é no Coração do
homem que tudo deve acontecer. A este processo Místico-Alquímico-Iniciático
os Martinistas, particularmente os membros da TOM, denominam,
como já foi dito e deve ser repetido, de SENDA CARDÍACA.
Antes
de concluir esta já longa Introdução reproduzirei a
reflexão do Irmão Saryh SI, retirada de:
http://www.hermanubis.com.br
Nos faz meditar, profundamente,
o brado de alerta de uma das maiores inteligências contemporâneas,
a do filósofo francês Jean François Revel, que no discurso
intitulado Elogio da Virtude, proferido na Academia Francesa de Letras,
na sessão de encerramento do ano de 1998, perante as mais destacadas
figuras representativas do mundo cultural e científico da Europa,
finalizou-o, assustadoramente, com as seguintes palavras: ... 'Para além
de todos os limites até agora conhecidos, o século 20 foi
o século do vício. Nossa civilização democrática
não se perpetuará e não se estenderá, se no
século 21 não for o século da VIRTUDE.' (Maiúsculas
minhas).
Mas, o que é virtude...
Platão a chama
de 'Ciência do Bem'. Aristóteles, 'o hábito de dirigir
a nossa conduta pela inteligência'; os estóicos, 'a disposição
da alma que, durante todo o decurso da vida, está de acordo consigo
mesma'; Malebranche (1638-1715), 'o amor da ordem'; Kant (1724-1804), 'a
força moral pela qual obedecemos às ordens da razão'.
Comparando todas estas
definições, vê-se que a virtude implica essencialmente
em duas condições: o conhecimento do dever e uma disposição
firme e constante de praticá-lo.
Os antigos reuniam toda
a Moral em quatro virtudes, que denominaram de virtudes cardeais, isto é,
preeminentes ou principais, em torno das quais giram todas as outras ou
das quais dependem as outras. Estas qualidades 'virtus, virtutis' eram:
Sabedoria, Coragem, Justiça e Temperança. Foram posteriormente
classificadas como: Temperança, Fortaleza, Prudência e Justiça.
Após esses esclarecimentos iniciais, os Martinistas, em razão
de sua condição de Buscadores da Verdade no caminho ascendente
em direção ao Grande Arquiteto do Universo, praticam e cultuam
a Virtude, combatendo, como se fossem inimigos mortais, a hipocrisia e a
traição, defendendo a Virtude e a Inocência contra a
violência, o engano e a calúnia.
Lutam ardorosamente,
e sem desfalecer jamais nesta empresa, em favor da Liberdade, do Direito
e da Livre Manifestação do Pensamento e da Palavra; defendem
a Sabedoria contra a superstição; têm por princípio
o Amor aos semelhantes, por base a Ordem e por fim o Progresso.
As sete virtudes que
devem praticar: SINCERIDADE, PACIÊNCIA, CORAGEM, PRUDÊNCIA,
JUSTIÇA, TOLERÂNCIA e DEVOTAMENTO.
O Martinista tem como
premissa de vida, o Amor ao Grande Arquiteto do Universo e o Amor ao seu
próximo. O Amor Martinista é, com efeito, muito mais do que
uma virtude de ordem moral; é o Amor no sentido cristão, como
dele falam São João e São Paulo, realização
do conhecimento, participação direta no Absoluto.
A fé e a Caridade,
unindo-se a todos os homens na comunhão do Amor, procuram tudo o
que pode contribuir para a reabilitação da Humanidade.
O mal desaparecerá
sobre a Terra, uma vez que a Humanidade seja remunerada pela Lei do Amor,
uma vez que todos os homens se amem a si mesmos, graças à
propagação pelo Martinismo das doutrinas da Fé, da
Esperança, da Caridade e do Amor fraternais que constituem a Verdade.
O Martinista tem a mais
ampla visão relativamente aos seus deveres para com seus semelhantes.
O seu Amor por eles aumenta, porque sabe que é somente pelo Amor
que a Humanidade poderá aniquilar as tiranias, destruir as intolerâncias
e fazer desaparecer os fanáticos, sejam eles de ordem política
ou de ordem religiosa.
A Lei do Dever induz
a prática do Bem; fazer o Bem é dever do Martinista, e ele
deve ser praticado sem visar recompensa, nem futura, nem imediata.
Para o Martinista o dever
deve ser cumprido porque é o DEVER. Ele não se limita aos
bens materiais, auxílio em forma de bens perecíveis; mas ao
apoio que todo irmão deve a seu irmão, que é um imperativo
absoluto; não se pode fazer parcialmente um bem; ele é completo
e total.
Esse, também,
foi o espírito da Cavalaria. E, se no passado, tantos nobres como
plebeus, leigos quanto religiosos, deram a sua própria vida pelo
ideal da prática do BEM, merecem seguimento. Finalmente, os Martinistas
são os Cavaleiros do Século 21 que devem praticar e difundir
as virtudes morais, para que todos tenham a oportUnidade de, seguindo o
caminho do meio, talvez, neste novo Milênio, se aproximar do ABSOLUTO.
Por
último, informo que para a produção desta revisitação
do pensamento saintmartiniano tive que fazer pequeníssimas edições
sem, contudo, alterar em nada as reflexões originais de Saint-Martin.
Ora, isso seria, no mínimo, uma falsidade. E
também não há nenhum mérito no que fiz: ou colei
o que escreveu Saint-Marin, ou colei o que outros escreveram sobre ele.
Pouco pus de mim. O único propósito deste ensaio é
distribuir com o meu Coração o que recebi do Coração
de meus Irmãos. Apenas isso. Também furtei fraternalmente
uma animação sobre a Seção Dourada (ou Áurea)
de um Website (citado) que será apresentada um pouco mais
abaixo. Obviamente os detentores dos direitos autorais permanecem os legítimos
donos dessa espetacular animação em flash.
FRAGMENTOS SAINTMARTINIANOS