O Saci: — Diga aí, ó minha boa Mula-sem-cabeça: o que aconteceu com a sua cabeça?

A Mula-sem-cabeça: — Pois é, Saci, lamentavelmente, eu a perdi. A triste e inopinada apócope da minha cabeça se deu na Batalha de Itararé (em 29 de fevereiro de 1.666 d. C.) – a mais sangrenta da América do Sul, e na qual Getúlio Dornelles Vargas perdeu a vida, ganhou a morte e entrou na História, e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, traído por Joaquim Silvério dos Reis, acabou sendo fuzilado. Quem a decepou foi um tal de Tommaso Buscetta – primo-irmão do Charlie “Lucky” Luciano e cunhado do Al Capone – um reco baixinho e mirolho (sem pai conhecido) da Aliança Liberal, que diziam que também era roncolho e quiquiqui, que queria dar um fim definitivo no Júlio Prestes, mas, errou o golpe e me descabeçou. Quem testemunhou o episódio e pode confirmar foi o Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly, que estava presente, e, depois, foi nomeado Barão de Itararé por Dom Pedro I, por ter comandado um esquadrão da SWAT (e auxiliado por um batalhão sem gancho do Capitão Gancho), e, na tríplice fronteira Brasil-Suriname-Guiana Francesa, ter derrotado e mandado para a cucuia o famoso cangaceiro internacional Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lamparina, e que, depois, acabou se casando com Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Feiosa. Consta que quem casou o Apporelly com a Feiosa foi o Padim Chico, lá em Quixeramanguape. O que aconteceu depois eu não sei, mas, dizem, à boca pequena, lá no Marrocos, que Dom Sebastião, antes de partir para a Jornada de África, tirou umas férias no Brasil e aceitou ser padrinho do primeiro filho do casal, que foi batizado com o nome de Michelangelo Antonioni Pavarotti Benedetto Cosentino Dominick De-Cinatra Dimenico De-Pizzunga, e que acabou se tornando reverendo da Igreja Interversal do Reino da Apocatástase, tendo ficado podríssimo de rico – mais rico que o ex-governador da Cidade Maravilhosa, o senhor Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho, e que o ex-ministro da Integração Nacional do Governo Lula, o senhor Geddel Vieira Lima.

 

 

Apporelly	Lamparina	Feiosa

 

O Saci: — Isso foi uma sacanagem. Esse Tommaso Buscetta deveria ter sido castrado, só pra ver o que é bom, quando se perde uma cabeça. Tenho certeza que o Tomás de Torquemada toparia fazer a capadura. Mas, mudando de conversa, boa Mula, isso não dói? Não incomoda? Não faz falta?

A Mula-sem-cabeça: — Agora, nem um pouquinho; eu já me acostumei.

O Saci: — E como é que, por exemplo, você come, bebe água, cheira, tira meleca, coça a cabeça e bota chapéu?

A Mula-sem-cabeça: — Eu não faço nada disso; eu apenas, paciente e devagar, vou levando.

O Saci: — Como assim? Levando como?

A Mula-sem-cabeça: — Para mim, ainda há pouca mudança. É quase sempre a mesma coisa. Sem cabeça, é tudo é muito devagar. Mas, resignada, estou me esforçando e lutando o Bom Combate.

O Saci: — Mas... Isso é muito triste. Todo mundo, para poder compreender as coisas e avançar, precisa ter uma cabecinha. Sem cabeça, eu acho que não dá!

A Mula-sem-cabeça: — Por enquanto, eu não posso; é a minha sina temporária. Plantei vento, colhi tempestade! O nome disto é Lei da Causa e do Efeito, e ninguém escapa desta Lei. E eu, com dignidade, estou compensando muitos erros do passado.

O Saci: — Deixe de papo, Mula. Enfim, como é que você pensa? Sem cabeça, não é possível.

A Mula-sem-cabeça: — Estou aprendendo a pensar com o meu Coração. É melhor, e não há erro. No Silêncio, eu ouço e vejo tudo.

O Saci: — Mesmo assim, eu pediria a Deus, Nosso Senhor, que me desse uma cabeça!

A Mula-sem-cabeça: — Ora Saci, você sabe muito bem que não existe milagre. Deus não dá nada a ninguém, muito menos cabeça. As Leis Universais não podem ser contrariadas. Ninguém pode mudar o-que-sempre-foi, o-que-é e o-que-continuará-sendo. Se quisermos, só pode(re)mos mudar a nós mesmos. E, enquanto não mudarmos...

O Saci: — E tudo isso que a gente vê na televisão? Gente curada... Gente salva... Gente que desmaia... Demônio que sai do corpo... E o pastor Valdemiro Santiago? E a Virgem do Pilar? E Santa Teresa de Lisieux? E René Mey? E o Zé Arigó? E o Santo Cura D'Ars? E José de Cupertino? E Bernadette Soubirous? E a Virgem de Guadalupe? E a Santa Muerte? E São Longuinho? E Santo António? E o Bispo Edir Macedo? E Joseph Smith Jr.? E o Pastor Jayme de Amorim Campos que, por ser abençoado, de repente, dá de falar numa língua esquisita que ninguém entende? Isso tudo é milagre ou não é?

A Mula-sem-cabeça: — Tudo isso, apesar da sinceridade e da boa vontade das pessoas, é uma mistura heterogênea e heterodoxa de credulidade ilógica, de fideísmo pisciano fanático e irracional, de fantasia (miragem + ilusão), de desconhecimento de como funciona a Lei e, o que é muitíssimo pior, de plexo-solarização magnetizante e escravizante. No Multiverso, finito, porém, ilimitado, por exemplo, em qualquer triângulo retângulo, a área do quadrado, cujo lado é a hipotenusa, é igual à soma das áreas dos quadrados, cujos lados são os catetos. A coisa é assim, e não há milagre que mude isto. Até os ETs e os ITs sabem que é assim! Enfim, cada um crê no que quer e no que gosta, e, de fato, como escreveu o escritor americano Stuart Chase (8 de março de 1888 – 16 de novembro de 1985): Para aqueles que acreditam, nenhuma prova é necessária. Para aqueles que não acreditam, nenhuma prova é possível. Todavia, a Era de Piscis acabou, e, ao longo desta Era de Aquarius, a Compreensão chegará, e a maioria da Humanidade se Libertará. E você, se se esforçar e for digno, acabará arrumando a perna que está faltando!

O Saci: — Isso é uma baita heresia, Mula. Você vai acabar indo pro inferno! E a pé, sem anestesia, sem ar-condicionado e sem máscara contra fedor!

A Mula-sem-cabeça: — Saci, aprenda uma coisa: da mesma forma que o céu, o inferno está em nós. Na verdade, tudo está em nosso interior. Somos os construtores do nosso presente e do nosso futuro. E é impossível que algo que não se harmonize conosco, de alguma forma, nos afete. Não há esse treco de bala perdida, de estar na hora errada, no lugar errado. Para o ajuste ou o cumprimento, a hora sempre será propícia, adequada e necessária.

O Saci: — O céu e o inferno estão em nós? Não entendo. Explique isso melhor.

A Mula-sem-cabeça: — Pois é, Saci. Mastigando, palrando e orquestrando, sonhando, querendo e desquerendo, fazendo, acumpliciando e negligenciando, delirando, retrocedendo e esquerdeando, construímos o céu das nossas ilusões, engendramos o inferno dos nossos padecimentos, parimos os nossos demônios ou, contrariando tudo isto, inteligentemente, permitimos que o nosso Deus Interior fale em nossos Corações. Um exemplo disto é a chuva ácida – sistemática e ininterruptamente produzida pelo desconcerto/desregramento/desordem das nossas comodidades e pela produção industrial ainda mal ajustada.¹ Um outro exemplo é o aquecimento global, fenômeno que o Ex^mo. Sr. Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não acredita que exista, pois, inclusive afirmou que o conceito de aquecimento global foi criado pelos chineses e para os chineses com o objetivo de tornar a indústria dos EUA menos competitiva. Ora, o fato é que, se poluirmos e aquecermos o Planeta, inexoravelmente, pagaremos o preço da poluição e do esquentamento que causarmos. Simples assim! E não há reza, promessa ou milagre que mudem isto! Sujou, acidificou, adoentou; esquentou, degelou, dançou. Causou,'efeitou'.

 

 

 

 

O Saci: — Sabe de uma coisa, Mula? Eu estou com o Donald, e não acredito em nada disso. Deus ajuda quem toma banho de arruda!

A Mula-sem-cabeça: — Saci, você é um cabeça-dura! É por isso que você continua encarnando e desencarnando sempre sem uma perna!

O Saci: — E você, que nem cabeça tem?

A Mula-sem-cabeça: — E quem precisa de cabeça, se tem um Coração?

Um Corpo-seco, que estava ouvindo esse papo, pediu licença, e deu este pitaco: — A Mula tá certíssima; eu to com a Mula e não abro. Somos responsáveis por tudo. Sem exceção. Veja só, Saci: eu fui muito cruel e surrava minha própria mãe. Quando morri, fui rejeitado por Deus e pelo Diabo e não fui enterrado, porque a própria Terra, enojada, vomitou o meu corpo. Hoje, ando perambulando por aí, com o corpo todo podre, fedendo, ainda cheio de ódio no Coração, fazendo mal a todos os que cruzam o meu caminho. Sei que preciso mudar, mas, mudar demora. É longa a caminhada, e é dificultosa a Compreensão. Mas, milagre, de fato, é balela mole pra rato-de-sacristia engolir; quem tem que se esforçar para mudar somos nós: eu, você e todo mundo. Quanto a mim, eu sei que enquanto eu não mudar, continuarei secozinho, podrezinho e fedentinho. E você continuará sem uma perna. E o Cabral e o Geddel continuarão em cana, vendo o Sol nascer quadrado. Já a Mula, por outro lado, resolveu o problema dela: não precisa de cabeça.

O Saci: — Vou pensar nisso.

 

 

 

A Mula-sem-cabeça, o Saci e o Corpo-seco

 

 

 

_____

Nota

1. A chuva ácida é a designação dada à chuva ou a qualquer outra forma de precipitação atmosférica, cuja acidez seja substancialmente maior do que a resultante do dióxido de carbono (CO2) atmosférico dissolvido na água precipitada. A principal causa desta acidificação é a presença, na atmosfera terrestre, de gases e de partículas ricos em enxofre e em nitrogênio reativo, cuja hidrólise, no meio atmosférico, produz ácidos fortes. Assumem particular importância os compostos nitrogenados (NOx), gerados pelas altas temperaturas da queima dos combustíveis fósseis e os compostos de enxofre (SOx), produzidos pela oxidação das impurezas sulfurosas existentes na maior parte dos carvões e dos petróleos. Quimicamente, chuva ácida não seria uma expressão adequada, porque, para a Química, toda chuva é ácida, devido à presença do ácido carbônico (H2CO3), mas, para a Geografia, toda chuva com pH (potencial hidrogeniônico) abaixo do N.T. (Nível de Tolerância do pH) aproximadamente igual a 5,5, é considerada ácida. Os efeitos ambientais da precipitação ácida levaram à adoção, pela generalidade dos países, de medidas legais restritivas da queima de combustíveis ricos em enxofre, e obrigando a adoção de tecnologias de redução das emissões de nitrogênio reativo para a atmosfera. Principais reações químicas possíveis e elementares que poderão ocorrer no processo de formação da chuva ácida (as equações das reações abaixo estão simplificadas, pois, o mecanismo reacional é mais complexo):

 

S + O2 —› SO2

SO2 + H2O —› H2SO3

SO2 + O2 —› SO3

SO3 + H2O —› H2SO4

 

N2 + O2 —› 2 NO

2 NO + O2 —› 2 NO2

2 NO2 + H2O —› HNO2 + HNO3

2 HNO2 + O2 —› 2 HNO3

 

C + O2 —› CO2

CO2 + H2O —› H2CO3

 

Música de fundo:

Tema do Saci

https://www.youtube.com/watch?v=OvAxcy1pNkA

 

Páginas da Internet consultadas:

https://altairtavares.com.br/

https://hiveminer.com/User/Bulma%20Amaral

https://www.facebook.com/TapiocaMariaBonitaMaceio/

https://gifer.com/en/6FF

https://oglobo.globo.com/

https://tenor.com/

https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/atualidades
-vestibular/donald-trump-e-o-aquecimento-global/

http://www.vestibular1.com.br/revisao/chuva-acida/

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/
quimica/oxidos-chuva-acida.htm

https://www.todamateria.com.br/chuva-acida/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Chuva_%C3%A1cida

https://www.s-cool.co.uk/

https://br.pinterest.com/paulo1972/
minhas-ilustra%C3%A7%C3%B5es/

https://br.pinterest.com/pin/136585801178778983/

https://maselogico.blogspot.com.br/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Folclore_brasileiro#Corpo-seco

 

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