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Nota:
1. O
terceiro verso do primeiro terceto deste poema – serve a Lilith
e não vê o Sol! – é meramente metafórico,
e procura tão-só simbolizar a avernosa Noite Negra da Alma,
que, ainda simbolicamente, poderá ou não ter algum tipo de
vinculação com a mitológica Lilith.
Assim
sendo, preliminarmente, no livro Kabbala – La Biblia:
Divino Proyecto del Mundo, Friedrich Weinreb informa que Lilith é
a mulher da noite e da esfera dos demônios, e tem em comum
com a palavra LaILaH (30-10-30-5), que significa noite, a mesma
raiz. A conexão simbólica* de Adão com Lilith foi conseqüência
de sua dor não elaborada, derivada da morte da Abel e do crime de
Caim (o primeiro Mago Negro iniciado diretamente por Lilith). Weinreb explica
que um sofrimento profundo não entendido poderá levar o homem
a uma perversão, a um desvio sexual e a um vínculo com Lilith.
Seja
como for, segundo Josilene Sousa, Lilith (ou Lua Negra) é um ponto
astronômico correspondente ao grau do apogeu da órbita lunar
projetado na eclíptica zodiacal. No campo mítico, o modelo
feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão
baseia-se no de um fragmento do ‘primeiro ego’, que seria Adão.
Vários textos históricos, no entanto, citam uma variante,
a criação de Lilith, a primeira mulher, feita em igualdade
de condições com o primeiro homem, e expulsa do Paraíso
por tentar fazer valer esta igualdade. Pode-se admitir, ainda, que o nome
de Lilith tenha raízes semíticas e indo-européias,
ligadas às palavras Lil (vento e ar), e também às
palavras sumérias Lulti (lascívia) e, como ensinou
Friedrich Weinreb, à palavra hebraica LaILaH (noite), tendo
sido venerada sob os nomes de Lilitu, Lilu, Ardat Lili e Lamaschtu. Não
se sabe com certeza de que forma a lenda de Lilith, esta primeira companheira
de Adão, foi banida da versão Bíblica da Igreja. Mas,
consultando as Escrituras hebraicas poderemos encontrá-la como uma
mulher condenada a ser inferior e subordinada ao homem. No fundo, Lilith
já fora criada como um demônio, tendo gerado, juntamente com
Adão, outros seres iguais a ela, que se vingaram da Humanidade. Essa
natureza satânica é, por assim dizer, uma advertência
do que a cultura rabínica e patriarcal nos faz com relação
àquela que perturbou a noite toda o sono de Adão: Lilith,
feita de sangue (menstruação) e de saliva (desejo) é
a expressão de fatalidade. Neste ponto, Lilith é mais fiel
ao protótipo da mulher do que a submissa Eva, embora ambas sempre
tenham sido veículos da tentação e do pecado. Só
que a recusa ao desejo, ao sonho erótico que subtraiu a porção
divina de Adão, chega, com Lilith, a extremos surpreendentes após
a separação deste casal. O alfabeto Bem Sirá
(século VI ou VII) conta que Lilith, inconformada com a situação
de desigualdade vivida com Adão, questiona: — Por
que devo me deitar embaixo de ti? Por que devo me abrir sob teu corpo? Por
que devo ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó
e, por isso, sou tua igual. Mas Adão, ciente da supremacia
do homem, nega-se a mudar a ordem e o equilíbrio preestabelecido.
Lilith revolta-se, pronuncia o nome mágico de Deus, acusa Adão
e vai embora. Voa para as margens do Mar Vermelho, onde passa a viver em
promiscuidade com os demônios, gerando cem demônios por dia
denominados Lillims (dentre eles, súcubos** e íncubos***).
E lá ela se transforma e assume seu tenebroso destino, seduzindo
homens em seu sonho e espalhando a morte. Encarnando o feminino negativo,
Lilith transfigura-se, posteriormente, em inúmeras deusas lunares
(Ihstar, Astarte, Isis, Cibele, Hécate), arquétipos das forças
incontroláveis do submundo – a Lua Negra. Até chegou
a ser personificada pela bruxa, na Idade Média, contra a qual o homem
moveu uma das mais sangrentas perseguições religiosas de toda
a sua trajetória terrena. Mas existem muitas outras histórias
sobre Lilith. Dizem que ela significa a outra ou o outro, em
um triângulo amoroso. Para os assírios, era considerada um
demônio. Alguns estudiosos dizem que ela era a mulher de Samuel, da
qual surgiram as imagens de Adão e Eva. No Zohar também
é assimilada como a rainha dos demônios que incitava os homens.
Na KaBaLa, Lilith pode corresponder ao 10º Sefiroh, Malkuth,
que reina no submundo e na escuridão, incapaz de fazer contato com
Deus, sempre sujeita a tentações e frustrações.
Enfim,
Beatrix Algrave informa que, segundo a tradição, o culto à
Lilith também possuiria relações com o período
menstrual. Por este motivo, as mulheres a cultuavam durante a Lua Nova,
pois em muitas culturas era comum associar as fases da Lua com a mulher;
quando a Lua Nova chegava, costumava-se dizer que a Deusa estava com as
regras. Assim, o período normalmente dedicado a Lilith, naquela época,
era exatamente o período menstrual. O período menstrual era
o momento em que as mulheres poderiam ter relações sexuais
livres da possibilidade de gravidez e, por isso, tais relações
estariam exclusivamente ligadas ao prazer (e não à procriação,
como era a perspectiva patriarcal). Assim, muitas vezes, foram feitas referências
a esta Deusa como o Espírito Menstrual. É em virtude
disto que, posteriormente, na sociedade judaica, se criou uma série
de tabus em relação à menstruação.
* Segundo
a Tradição, a conexão simbólica de Adão
com Lilith durou 130 anos e não produziu filhos, mas demônios,
pois tudo o que não está orientado no sentido na unificação
cria demônios. Em KaBaLa, o número 130 simboliza
o fim de uma convivência incorreta e desarmônica entre um homem
e uma mulher. A própria palavra SINaI (60-10-50-10) tem
valor numérico total igual a 130, apresenta um vínculo com
a palavra Sin e está conectada com a Lua, ou seja, com a
forma, com o corpo e com o mundo da esquerda. Lilith aparece, por exemplo,
no Antigo Testamento, na Profecia de Isaías, XXXIV, 14: E
nela se encontrarão os demônios com os onocentauros****,
e os sátiros*****
gritarão uns para os outros; ali se deitará a lâmia******
e encontrará o seu repouso. Enfim,
segundo a tradição talmúdica, Lilith é a Rainha
do Mal, a Mãe dos Demônios e a Lua Negra. Já em História
da Magia, Elifas Levi comenta os atributos de Lilith e de Nehemah:
Há no inferno –
dizem os cabalistas – duas rainhas dos vampiros: uma Lilith, a mãe
dos abortos; a outra Nehema, a beleza fatal e assassina. Quando um homem
é infiel à esposa que lhe foi destinada pelo céu, quando
se entrega aos descaminhos de uma paixão estéril, Deus lhe
toma a esposa legítima e santa e entrega-o aos beijos de Nehema...
Nehema pode ser mãe, mas não cria os filhos; entrega-os a
Lilith, sua funesta irmã, para que os devore.
** Súcubo
– Demônio ou fantasma maligno feminino que, segundo velha crença
popular, vem pela noite copular com um homem, perturbando-lhe o sono e causando-lhe
pesadelos.
***
Íncubo – Demônio ou fantasma maligno masculino que, segundo
velha crença popular, vem pela noite copular com uma mulher, perturbando-lhe
o sono e causando-lhe pesadelos.
****
O centauro aparece na iconografia cristã como uma besta infernal,
tentadora de donzelas. Às vezes, aparece sob a forma de onocentauro,
mistura de homem e de burro, com exagerados atributos sexuais.
*****
Sátiro = homem devasso, luxurioso.
******
Lâmia = monstro mítico representado por uma cabeça de
mulher com corpo de serpente que, segundo a lenda, se alimentava de homens
e de crianças.
Esta
nota foi editada das fontes:
Dicionário
Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
http://br.groups.yahoo.com/group/mitos_e_deuses/
messages/8203?viscount=-30&l=1
http://www.geocities.com/lillithoc/rainha.htm
http://www.beatrix.pro.br/cultobsc/lilith.htm
http://www.vanessatuleski.com.br/mitologia/lilith.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lilith
Quiróptero
Solitário
(à procura de uma artéria descuidada)
Bibliografia:
BLAVATSKY,
Helena Petrovna. A doutrina secreta. 6 volumes. 10ª ed. São
Paulo: Pensamento, 1998.
LÈVI,
Éliphas. História da magia. São Paulo: Pensamento,
1974.
SOUZENELLE,
Annick de. La letra, camino de vida (el simbolismo de las letras hebreas).
Buenos Aires: Editorial Kier S. A., 1995.
WEINREB,
Friedrich. Kabbala – La Biblia: Divino Proyecto del Mundo.
Buenos Aires: Editorial Sigal, 1991.
Música
de fundo:
Love
is a Many Splendored Thing (Sammy Fain & Paul Francis Webster)