Não
adianta quão “sábios” ou “inteligentes”
sejam nossos pontos de vista; o fato é que todos nós só
escutamos o que queremos ou precisamos escutar. Mais vezes quando queremos
do que quando precisamos. E se poupássemos tempo, oportunidade e
energia? Por que sempre pensamos em aguardar a hora certa para tanta coisa,
e quando se trata de falar, falar, falar, estamos sempre interrompendo os
outros, estamos sempre nervosos querendo mostrar o que pensamos, sabemos
ou queremos? Por que não aguardamos também a hora certa? Ela
pode nem vir, ou vir em uma outra conversa. Mas é difícil.
É difícil desviar o olhar para outro lugar que não
seja o próprio umbigo... Ao não escutar, perco uma oportunidade
de aliviar alguma dor velada ou, quem sabe, aprender, eu mesma, um pouco
mais... Para falar sozinho e escutar a si mesmo não é necessário
mais ninguém, a não ser nós mesmos. O outro só
é necessário para que, além de falar sem que o escutemos
verdadeiramente, possamos interromper o tempo todo. Isto é justo?
É
difícil, é complicado ter empatia, porque isto implica esquecer
de si mesmo um pouco, e isto não é fácil, nem usual.
Afinal, é costume do homem querer ser o centro das atenções
– suas e dos outros. Mas até mesmo quando ele se propõe
a deixar de se preocupar consigo, ainda assim não é sempre
que consegue – ou mesmo tenta – se preocupar com os outros e
ter empatia.
Depois
de conhecer o vício, como é mais árdua a luta, como
é difícil vencer a inércia!
Se
as pessoas que felizmente não sofrem de nenhum tipo de depressão
soubessem o que é suportar o fardo dessa doença, jamais se
refeririam ao seu estado transitório de tristeza ou baixo astral
como se fosse depressão, que tem entre os tipos mais conhecidos a
depressão sazonal, a depressão clínica, a depressão
da velhice, a depressão pós-parto e o transtorno bipolar.
De
quantos pares de sapatos uma pessoa realmente precisa? De quantos vestidos?
De quantas bijuterias? De quantas gravatas? De quantas bonecas? De quantas
bolas? De quantos quadros? De quantos aparelhos de telefones? De quantas
linhas de telefone? Bem, na verdade, a pergunta está mal formulada.
Nos dias atuais, em que consumismo virou paliativo para solidão,
vazio, frustrações, objetivos maiores, o mais apropriado seria,
dentre outras coisas, formular as seguintes perguntas: quantos pares de
sapatos eu quero? Quantos vestidos (ou camisas) preciso ter em meu guarda-roupa
para que eu me sinta segura (seguro)? De quantos anéis necessito
para poder escolher, sem angústia, qual usar quando sair? E perfume?
Longe está o tempo em que uma pessoa usava um único perfume,
a sua marca registrada, a sua presença. Hoje, é perfume verão,
perfume inverno, perfume noite, perfume dia, perfume para férias.
Quantas
pessoas têm consciência do valor que tem uma palavra delicada,
um tratamento gentil, uma atitude tranqüila? Quantas percebem que há
tons de voz que podem trazer felicidade, esperança, alegria, ao passo
que outros certamente causarão mágoa, ressentimento, ódio?
Quantas pessoas se queixam de um tratamento ríspido e grosseiro sem
que tivessem dado qualquer motivo para isso? E quantas já estão
de tal forma acostumadas a gritar e a falar sem a menor polidez, que seu
discurso raramente flui com um tom de tranqüilidade ou, no mínimo,
de normalidade?
A
solidão é um estado que assusta muitos de nós e nos
causa a impressão de precisar ser evitada a qualquer custo, de tão
triste que nos parece ser. Estarmos sós, porém, não
significa necessariamente que estamos sentindo solidão. Podemos ser
solitários, por natureza ou opção, sem que com isto
sejamos infelizes.
Talvez
fosse mais saudável começarmos a pensar na morte de forma
diferente, sem defasagens entre discurso e atitudes. Quem sabe, procurarmos
novas descrições pictóricas, reexaminarmos nossas convicções,
prestarmos mais atenção ao que falamos e ouvimos, analisarmos
o que pensamos, ouvimos e vemos. Não é tão complicado.
O processo requer imparcialidade, muita humildade e coragem, quanto a isto
não há a menor sombra de dúvida. Mas, talvez, consigamos
perceber, ao menos, que a morte é tão natural quanto a vida,
e que uma não existe sem a outra.
A
declaração (ou seria ameaça?) “perdôo,
mas não me esqueço” é um claro exemplo de palavras
que se contradizem... Cabe unicamente a nós mesmos tentar não
viver com a dupla punição de perdoar... mas não esquecer.
Afinal
de contas, qual o propósito de se defender com tanta veemência
que preto não fica bem com marrom? Para que discutir horas a fio
sobre os motivos que levam uma pessoa a engordar ou emagrecer? Por que a
indelicadeza de corrigir o tempo todo, quando deveria ter ficado absolutamente
claro que o outro não gosta de ser corrigido? Isto sem contar discussões
sobre religião, crenças, política, só para citar
alguns temas preferidos pelos contestadores de plantão.
Só
é feliz quem perdeu toda esperança; porque a esperança
é a maior tortura que há, e o desespero [desesperança],
a maior felicidade. Apesar de parecer drástica ou
trágica esta citação do 'Samkya-Sutra', que por sua
vez cita o livro imemorial da espiritualidade indiana – o 'Mahabharata'
– estamos, na verdade, separados daquela felicidade que tanto perseguimos
justamente pelo fato de a estarmos perseguindo, de termos esperança
de um dia alcançá-la.
A mentira patológica, mentira
compulsiva ou pseudologia fantástica está relacionada ao transtorno
de personalidade anti-social... Na mentira patológica, o ato de dizer
mentiras é com freqüência um fim em si mesmo... As pessoas
portadoras de transtorno de personalidade anti-social, psicopatologia que
inclui os mentirosos compulsivos, têm tamanho menosprezo e desconsideração
pelos outros, são tão imprudentes no que concerne à
sua própria segurança e à segurança das outras
pessoas, são de uma falta tão impressionante de respeito,
carinho e apego a toda e qualquer pessoa, que não é de causar
admiração que só possam causar danos a todos ao seu
redor... Um mentiroso que mente deliberadamente sabe que mente, ao passo
que um mentiroso patológico pode não saber.
Pseudologia
Fantástica
Coisa
bem desagradável é ficarmos ouvindo lamúrias o tempo
todo. Não menos desagradável é quando somos nós
que lamuriamos, pois obrigamos pessoas que nada têm a ver com nossas
insatisfações a ouvir lamúrias indesejadas. Mas irritante
mesmo é ficarmos insistindo nesse comportamento, se não houve
prova em contrário de um fato: queixumes não resolvem nada.
(Grifo meu).
O
que podem fazer o ódio, as crenças cuidadosamente arraigadas
e, acima de tudo e origem mesma de tudo, a ignorância!
É
difícil compreender as inúmeras contradições
do ser humano. O livro sagrado que o religioso menciona para explicar uma
atitude baseada em idéias pré-concebidas é o mesmo
que ensina que ele deve viver em amor, harmonia e bondade.
Será
que no chamado Mandamento da Caridade há um 'post scriptum' revelado
apenas para uns poucos e privilegiados escolhidos? Para estes talvez seja:
Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti
mesmo. 'Post scriptum': Desde que o próximo seja da mesma raça
que a tua, tenha as mesmas convicções que as tuas, pertença
à mesma classe social e tenha a mesma religião! Aos que são
diferentes, as chamas do inferno!!!
Falta
de humildade é uma questão muito controversa. Conheço
poucas pessoas que têm a braveza de se confessar arrogantes. Não
preciso ir muito longe: quando me criticam, dizendo que fui arrogante, digo
que é meu jeito de falar, que fui mal interpretada. Mas quando fico
quietinha comigo mesma, acabo me confessando que fui, sim, arrogante.
Dificilmente
uma pessoa não disse ao menos uma mentira, uma única, ao longo
de sua vida. E agora, pergunto: quem dentre nós jamais julgou alguém,
algum evento, alguma coisa? Quem nunca emitiu um parecer ou formou um conceito
a respeito de algo ou alguém? E quem nunca condenou ou absolveu?
Condenamos porque tudo o que é diferente do que pensamos não
nos agrada. O mesmo raciocínio vale para a absolvição...
Por tudo isto, creio que quando se diz que não se deve condenar,
também acredito que não se deva absolver. Se condenar ou absolver,
terei como base única e exclusivamente as MINHAS verdades, tudo aquilo
que EU acho ser o correto. Condenarei ou absolverei com fundamento no que
aprendi e nas minhas opiniões DE AGORA.
A
amizade, a solidariedade, o companheirismo, a ternura, o
respeito mútuo devem constituir edificações resistentes
a intempéries, em vez de serem somente construídos durante
intempéries. De outra forma, em situações extremas
(seja alegria, seja dor), estaremos vivendo em um acampamento, após
o qual, cada um que cuide de desarmar e carregar sua barraca.
Quando
existe a desilusão é porque houve uma ilusão ou uma
esperança. Não existe aquela sem estas. E quem iludiu quem?
Se dizemos que alguém nos iludiu (voluntária ou involuntariamente),
por que não falaríamos que foi aquela pessoa quem nos desiludiu?
Não. Dizemos que nos desiludimos. Também no caso da decepção,
quando esta existe é porque houve uma confiança ou uma esperança.
E aí, dizemos ou que nos decepcionamos ou que alguém nos decepcionou.
Mas quem nos deu a esperança? Por que houve a confiança?
Os seres que pautam sua existência
pelo bem e pela pureza de sentimentos não pensam, jamais, que vão
ter recompensas. Simplesmente não há essa contabilidade. E
simplesmente e naturalmente eles crescem em bondade; multiplicam-se as coisas
boas em suas vidas, como se multiplicam as coisas boas e os resultados de
seus atos na vida de todos.
Existem
as cascas – como uma maquiagem – que servem apenas a determinados
propósitos e durante determinadas situações ou períodos
da nossa vida. Um dia, mais cedo ou mais tarde, sentiremos necessidade de
nos livrar delas, assim como tiramos a maquiagem ou a roupa de festa para
sentirmos nossa pele mais fresca e nossos corpos mais soltos.
Uma
vida cheia de meandros e complexidade poderá até nos trazer
'glamour', mas dificilmente trará a serenidade e a quase inocência
que se experimenta ao se adotar um jeito simples, genuinamente simples,
de ser.
Todos
temos nossas raivas, que em geral são passageiras. Todos experimentamos
mágoas, decepções, desilusões e indiferenças...
Odiar, porém, é um sentimento tão profundo, tão
grave, tão destrutivo, que uma vez instalado vai-se enraizando e,
como tudo que cria raízes, vai-se aprofundando e aprofundando e aprofundando.
Quanto mais suas raízes ganham forças, mais aquele que odeia
vai perpetuando o sentimento e dele se impregnando.
Quem
somos nós para julgar e condenar? Quem somos nós para execrar
algo ou alguém a partir dos nossos próprios conceitos e preconceitos?
Quem somos nós para decidir que os nossos são os conceitos
certos, perfeitos e que devem prevalecer? Quem nos deu essa autoridade,
afinal?
b)
Fragmentos de suas Poesias
MUDANÇAS
O
rio corre,
e o cristal de sua água,
o frescor de seu ruído,
evocam em mim uma verdade
sempre presente:
mudança.
MERGULHO
Sorrio.
Fecho os olhos.
Mergulho.
Volto.
E o ar que inalo é luz e paz.
ESPERANÇA
Entre
soluços e lágrimas
apago mágoas.
Tento sorrir
e consigo.
Soluços se calam,
lágrimas se secam.
Meu sorriso é puro, é de esperança,
de vontade de vencer.
Ele não é ainda o que sinto.
Mas é a esperança de um mundo melhor.
EGOÍSMO
Cresce
o vazio na alma
cada vez que tentam preenchê-lo
com egoístico interesse.
A cada sinal de individualismo
crescem os hiatos
entre sentimentos,
desejos
e metas
e aprofundam-se os abismos
entre pessoas.
O egoísmo é muito forte,
o egoísmo sequer se sabe,
e sem se saber
não pode imaginar seu potencial destruidor.
O
LIVRO DE CADA UM
Lido
e relido,
folheado e guardado,
reeditado
quantas vezes necessário for,
fonte de consulta,
de referências
e de lembranças doces ou amargas,
esse é o Livro que cada um de nós escreve.
PEDRAS
DO CAMINHO
Vivemos
tropeçando
nas pedras do caminho...
Quantas
pedras,
ainda,
no nosso caminho?
Quantas pedras mais
colocamos e continuaremos a colocar,
nós mesmos,
tendo que tropeçar em todas,
uma por uma?
ORAÇÃO
Deus
do meu coração,
Deus de minha compreensão,
dá-me forças
para que eu esqueça as mágoas
e não alimente o ódio.
Dá-me amparo
para que eu esqueça as alegrias
e não alimente a saudade.
Dá-me serenidade
para que eu prossiga em meu caminho,
aprendendo,
ajudando,
perdoando,
obtendo a paz que sei ser possível.
PRECISO
ASCENDER À LUZ
Preciso
continuar o livro –
preciso acender a luz.
Preciso terminar o Livro –
preciso ascender à Luz.
ANDARILHO
Por
que ando sem parar
e algumas vezes paro, e não consigo andar?
Por
que penso sem parar
e muitas vezes não paro para pensar?
Por
que, em vez de vaguear
à procura de luz
ou na senda das sombras,
não vejo luz à minha frente
e não sinto a luz dentro de mim?
Ao
invés de vaguear
por sombras ou escuridão,
por que não prossigo no caminho
de onde vim e para onde preciso ir?
Andarilho,
a buscar nada,
nada conquista e nada partilha.
Andarilho,
a pensar em nada,
ou a nada fazer a não ser pensar,
jamais se visita
jamais se deixa visitar.
SERENIDADE
Chove docemente lá fora.
Meu olhar sereno,
ao ver a chuva,
ilumina-se ainda mais,
e absorta nesses acordes,
minh'alma torna-se ainda mais serena,
límpida, livre.
Meu coração arde... é Sol.
O
ruído da chuva
alcança meus ouvidos
e se transforma em música.
O ruído da chuva
é a própria música.
Meu coração ilumina-se
e é tudo calor, sons e cores.
Fecho
os olhos.
Ouço
a chuva,
sinto o Sol,
descortina-se o caminho da paz,
da harmonia
e da serenidade.
Fiquei
comovido;
então, direi assim:
Nada
poderá me parar!
Nem
um amor baldado
nem
o transtorno bipolarizado.
Não
quero! Não vou parar!
Nada
poderá me delongar!
Nem
o abatimento da Flor
nem
o equinócio sem color.
Nada
poderá me retardar!
Nem
a dolor crucificadora
nem
a alegria prometedora.
Minha
Via Crucis vou
adornar!
Nada
poderá me anestesiar!
Nem
a neurastenia da arrepsia
nem
a hipocondria da melancolia.
Combaterei
sempre sem abdicar!
Nada
poderá me indiferentar!
Nem
a certeza das limitações
nem
os buracos e os senões.
Com
paciência, vou transmutar!
Nada
poderá me desanimar!
Nem
o demônio constrangente
nem
meu Deus quase silente.
Só
eu poderei me dignificar!
Nada
poderá me subjugar!
Eu
sei que sou uma estrela,
e
só eu poderei elastecê-la.
Não
me deixarei crucifixar!
Paz
ao Universo!