Rose Nânie Heringer da Silva
(Ensaios e Poesias)

 

 

 

 

Rose Nânie Heringer da Silva

Rose Nânie Heringer da Silva

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Texto

 

 

 

Este texto é uma revisitação prazerosa dos ensaios e das poesias escritas por Rose Nânie, que põe sua alma em tudo que escreve. Sua obra, em parte, é autobiográfica, o que, mais do que uma inspiração para o leitor, é um exemplo de esforço e de luta no derrubamento do seu demônio interior e conquista do Deus de seu Coração.

 

Rose Nânie, que conheço há mais de trinta anos, é um exemplo vivo de uma máxima de Raymond Bernard (19 de maio de 1923 – 10 de janeiro de 2006), que, sempre que há oportunidade, gosto de repetir: Na Via Iniciática prestigiosa que seguimos, as tentações são numerosas, as quedas ocasionais e a dúvida periódica. Eu poderia citar diversas qualidades da Nânie, mas vou ficar apenas com uma: ela não desiste.

 

 

 

 

Rose Nânie
Curriculum Vitæ

 

 

 

Rose Nânie Heringer da Silva

Rose Nânie Heringer da Silva

 

 

 

Rose Nânie Heringer da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 9 de abril de 1956 e é mãe de dois filhos. É mística, escritora e tradutora (inglês/português e português/inglês) desde 1982 e exerce hoje em dia, primordialmente, a profissão de secretária.

 

Formou-se em Complementação Pedagógica pela Universidade Santa Úrsula em 1983, obtendo diploma de Licenciatura Especial em Inglês.

 

Especializou-se na língua inglesa pela Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa e através de diversos cursos de conversação, redação e tradução, tanto na Cultura Inglesa como no Instituto Brasil-Estados Unidos, Curso Oxford, Britannia, Curso de Tradução do Professor Daniel Brilhante de Brito, dentre outros. Possui os diplomas de Proficiency in English das Universidades de Michigan (1982) e Cambridge (1983), e o de Translator from/into English da Universidade de Cambridge.

 

Seu Website pessoal é o Fiat Pax, cujo endereço é:

http://www.fiatpax.pro.br/

 

 


 

Pensamento de Rose Nânie

a) Fragmentos de seus Ensaios

 

 

 

Não adianta quão “sábios” ou “inteligentes” sejam nossos pontos de vista; o fato é que todos nós só escutamos o que queremos ou precisamos escutar. Mais vezes quando queremos do que quando precisamos. E se poupássemos tempo, oportunidade e energia? Por que sempre pensamos em aguardar a hora certa para tanta coisa, e quando se trata de falar, falar, falar, estamos sempre interrompendo os outros, estamos sempre nervosos querendo mostrar o que pensamos, sabemos ou queremos? Por que não aguardamos também a hora certa? Ela pode nem vir, ou vir em uma outra conversa. Mas é difícil. É difícil desviar o olhar para outro lugar que não seja o próprio umbigo... Ao não escutar, perco uma oportunidade de aliviar alguma dor velada ou, quem sabe, aprender, eu mesma, um pouco mais... Para falar sozinho e escutar a si mesmo não é necessário mais ninguém, a não ser nós mesmos. O outro só é necessário para que, além de falar sem que o escutemos verdadeiramente, possamos interromper o tempo todo. Isto é justo?

 

É difícil, é complicado ter empatia, porque isto implica esquecer de si mesmo um pouco, e isto não é fácil, nem usual. Afinal, é costume do homem querer ser o centro das atenções – suas e dos outros. Mas até mesmo quando ele se propõe a deixar de se preocupar consigo, ainda assim não é sempre que consegue – ou mesmo tenta – se preocupar com os outros e ter empatia.

 

Depois de conhecer o vício, como é mais árdua a luta, como é difícil vencer a inércia!

 

 

 

 

Se as pessoas que felizmente não sofrem de nenhum tipo de depressão soubessem o que é suportar o fardo dessa doença, jamais se refeririam ao seu estado transitório de tristeza ou baixo astral como se fosse depressão, que tem entre os tipos mais conhecidos a depressão sazonal, a depressão clínica, a depressão da velhice, a depressão pós-parto e o transtorno bipolar.

 

De quantos pares de sapatos uma pessoa realmente precisa? De quantos vestidos? De quantas bijuterias? De quantas gravatas? De quantas bonecas? De quantas bolas? De quantos quadros? De quantos aparelhos de telefones? De quantas linhas de telefone? Bem, na verdade, a pergunta está mal formulada. Nos dias atuais, em que consumismo virou paliativo para solidão, vazio, frustrações, objetivos maiores, o mais apropriado seria, dentre outras coisas, formular as seguintes perguntas: quantos pares de sapatos eu quero? Quantos vestidos (ou camisas) preciso ter em meu guarda-roupa para que eu me sinta segura (seguro)? De quantos anéis necessito para poder escolher, sem angústia, qual usar quando sair? E perfume? Longe está o tempo em que uma pessoa usava um único perfume, a sua marca registrada, a sua presença. Hoje, é perfume verão, perfume inverno, perfume noite, perfume dia, perfume para férias.

 

Quantas pessoas têm consciência do valor que tem uma palavra delicada, um tratamento gentil, uma atitude tranqüila? Quantas percebem que há tons de voz que podem trazer felicidade, esperança, alegria, ao passo que outros certamente causarão mágoa, ressentimento, ódio? Quantas pessoas se queixam de um tratamento ríspido e grosseiro sem que tivessem dado qualquer motivo para isso? E quantas já estão de tal forma acostumadas a gritar e a falar sem a menor polidez, que seu discurso raramente flui com um tom de tranqüilidade ou, no mínimo, de normalidade?

 

A solidão é um estado que assusta muitos de nós e nos causa a impressão de precisar ser evitada a qualquer custo, de tão triste que nos parece ser. Estarmos sós, porém, não significa necessariamente que estamos sentindo solidão. Podemos ser solitários, por natureza ou opção, sem que com isto sejamos infelizes.

 

Talvez fosse mais saudável começarmos a pensar na morte de forma diferente, sem defasagens entre discurso e atitudes. Quem sabe, procurarmos novas descrições pictóricas, reexaminarmos nossas convicções, prestarmos mais atenção ao que falamos e ouvimos, analisarmos o que pensamos, ouvimos e vemos. Não é tão complicado. O processo requer imparcialidade, muita humildade e coragem, quanto a isto não há a menor sombra de dúvida. Mas, talvez, consigamos perceber, ao menos, que a morte é tão natural quanto a vida, e que uma não existe sem a outra.

 

A declaração (ou seria ameaça?) “perdôo, mas não me esqueço” é um claro exemplo de palavras que se contradizem... Cabe unicamente a nós mesmos tentar não viver com a dupla punição de perdoar... mas não esquecer.

 

Afinal de contas, qual o propósito de se defender com tanta veemência que preto não fica bem com marrom? Para que discutir horas a fio sobre os motivos que levam uma pessoa a engordar ou emagrecer? Por que a indelicadeza de corrigir o tempo todo, quando deveria ter ficado absolutamente claro que o outro não gosta de ser corrigido? Isto sem contar discussões sobre religião, crenças, política, só para citar alguns temas preferidos pelos contestadores de plantão.

 

Só é feliz quem perdeu toda esperança; porque a esperança é a maior tortura que há, e o desespero [desesperança], a maior felicidade. Apesar de parecer drástica ou trágica esta citação do 'Samkya-Sutra', que por sua vez cita o livro imemorial da espiritualidade indiana – o 'Mahabharata' – estamos, na verdade, separados daquela felicidade que tanto perseguimos justamente pelo fato de a estarmos perseguindo, de termos esperança de um dia alcançá-la.

 

A mentira patológica, mentira compulsiva ou pseudologia fantástica está relacionada ao transtorno de personalidade anti-social... Na mentira patológica, o ato de dizer mentiras é com freqüência um fim em si mesmo... As pessoas portadoras de transtorno de personalidade anti-social, psicopatologia que inclui os mentirosos compulsivos, têm tamanho menosprezo e desconsideração pelos outros, são tão imprudentes no que concerne à sua própria segurança e à segurança das outras pessoas, são de uma falta tão impressionante de respeito, carinho e apego a toda e qualquer pessoa, que não é de causar admiração que só possam causar danos a todos ao seu redor... Um mentiroso que mente deliberadamente sabe que mente, ao passo que um mentiroso patológico pode não saber.

 

 

Pseudologia Fantástica

 

 

Coisa bem desagradável é ficarmos ouvindo lamúrias o tempo todo. Não menos desagradável é quando somos nós que lamuriamos, pois obrigamos pessoas que nada têm a ver com nossas insatisfações a ouvir lamúrias indesejadas. Mas irritante mesmo é ficarmos insistindo nesse comportamento, se não houve prova em contrário de um fato: queixumes não resolvem nada. (Grifo meu).

 

O que podem fazer o ódio, as crenças cuidadosamente arraigadas e, acima de tudo e origem mesma de tudo, a ignorância!

 

É difícil compreender as inúmeras contradições do ser humano. O livro sagrado que o religioso menciona para explicar uma atitude baseada em idéias pré-concebidas é o mesmo que ensina que ele deve viver em amor, harmonia e bondade.

 

Será que no chamado Mandamento da Caridade há um 'post scriptum' revelado apenas para uns poucos e privilegiados escolhidos? Para estes talvez seja: Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. 'Post scriptum': Desde que o próximo seja da mesma raça que a tua, tenha as mesmas convicções que as tuas, pertença à mesma classe social e tenha a mesma religião! Aos que são diferentes, as chamas do inferno!!!

 

Falta de humildade é uma questão muito controversa. Conheço poucas pessoas que têm a braveza de se confessar arrogantes. Não preciso ir muito longe: quando me criticam, dizendo que fui arrogante, digo que é meu jeito de falar, que fui mal interpretada. Mas quando fico quietinha comigo mesma, acabo me confessando que fui, sim, arrogante.

 

Dificilmente uma pessoa não disse ao menos uma mentira, uma única, ao longo de sua vida. E agora, pergunto: quem dentre nós jamais julgou alguém, algum evento, alguma coisa? Quem nunca emitiu um parecer ou formou um conceito a respeito de algo ou alguém? E quem nunca condenou ou absolveu? Condenamos porque tudo o que é diferente do que pensamos não nos agrada. O mesmo raciocínio vale para a absolvição... Por tudo isto, creio que quando se diz que não se deve condenar, também acredito que não se deva absolver. Se condenar ou absolver, terei como base única e exclusivamente as MINHAS verdades, tudo aquilo que EU acho ser o correto. Condenarei ou absolverei com fundamento no que aprendi e nas minhas opiniões DE AGORA.

 

A amizade, a solidariedade, o companheirismo, a ternura, o respeito mútuo devem constituir edificações resistentes a intempéries, em vez de serem somente construídos durante intempéries. De outra forma, em situações extremas (seja alegria, seja dor), estaremos vivendo em um acampamento, após o qual, cada um que cuide de desarmar e carregar sua barraca.

 

Quando existe a desilusão é porque houve uma ilusão ou uma esperança. Não existe aquela sem estas. E quem iludiu quem? Se dizemos que alguém nos iludiu (voluntária ou involuntariamente), por que não falaríamos que foi aquela pessoa quem nos desiludiu? Não. Dizemos que nos desiludimos. Também no caso da decepção, quando esta existe é porque houve uma confiança ou uma esperança. E aí, dizemos ou que nos decepcionamos ou que alguém nos decepcionou. Mas quem nos deu a esperança? Por que houve a confiança?

 

Os seres que pautam sua existência pelo bem e pela pureza de sentimentos não pensam, jamais, que vão ter recompensas. Simplesmente não há essa contabilidade. E simplesmente e naturalmente eles crescem em bondade; multiplicam-se as coisas boas em suas vidas, como se multiplicam as coisas boas e os resultados de seus atos na vida de todos.

 

Existem as cascas – como uma maquiagem – que servem apenas a determinados propósitos e durante determinadas situações ou períodos da nossa vida. Um dia, mais cedo ou mais tarde, sentiremos necessidade de nos livrar delas, assim como tiramos a maquiagem ou a roupa de festa para sentirmos nossa pele mais fresca e nossos corpos mais soltos.

 

Uma vida cheia de meandros e complexidade poderá até nos trazer 'glamour', mas dificilmente trará a serenidade e a quase inocência que se experimenta ao se adotar um jeito simples, genuinamente simples, de ser.

 

Todos temos nossas raivas, que em geral são passageiras. Todos experimentamos mágoas, decepções, desilusões e indiferenças... Odiar, porém, é um sentimento tão profundo, tão grave, tão destrutivo, que uma vez instalado vai-se enraizando e, como tudo que cria raízes, vai-se aprofundando e aprofundando e aprofundando. Quanto mais suas raízes ganham forças, mais aquele que odeia vai perpetuando o sentimento e dele se impregnando.

 

Quem somos nós para julgar e condenar? Quem somos nós para execrar algo ou alguém a partir dos nossos próprios conceitos e preconceitos? Quem somos nós para decidir que os nossos são os conceitos certos, perfeitos e que devem prevalecer? Quem nos deu essa autoridade, afinal?

 

 

 

 

 

 

 

 

b) Fragmentos de suas Poesias

 

 

 

 

MUDANÇAS

 

O rio corre,
e o cristal de sua água,
o frescor de seu ruído,
evocam em mim uma verdade
sempre presente:
mudança.

 

 

MERGULHO

 

Sorrio.
Fecho os olhos.
Mergulho.
Volto.
E o ar que inalo é luz e paz.

 

 

ESPERANÇA

 

Entre soluços e lágrimas
apago mágoas.
Tento sorrir
e consigo.
Soluços se calam,
lágrimas se secam.
Meu sorriso é puro, é de esperança,
de vontade de vencer.
Ele não é ainda o que sinto.
Mas é a esperança de um mundo melhor.

 

 

EGOÍSMO

 

Cresce o vazio na alma
cada vez que tentam preenchê-lo
com egoístico interesse.
A cada sinal de individualismo
crescem os hiatos
entre sentimentos,
desejos
e metas
e aprofundam-se os abismos
entre pessoas.
O egoísmo é muito forte,
o egoísmo sequer se sabe,
e sem se saber
não pode imaginar seu potencial destruidor.

 

 

O LIVRO DE CADA UM

 

 

Lido e relido,
folheado e guardado,
reeditado
quantas vezes necessário for,
fonte de consulta,
de referências
e de lembranças doces ou amargas,
esse é o Livro que cada um de nós escreve.

 

 

PEDRAS DO CAMINHO

 

 

Vivemos tropeçando
nas pedras do caminho...
Quantas pedras,
ainda,
no nosso caminho?
Quantas pedras mais
colocamos e continuaremos a colocar,
nós mesmos,
tendo que tropeçar em todas,
uma por uma?

 

 

ORAÇÃO

 

 

Deus do meu coração,
Deus de minha compreensão,
dá-me forças
para que eu esqueça as mágoas
e não alimente o ódio.
Dá-me amparo
para que eu esqueça as alegrias
e não alimente a saudade.
Dá-me serenidade
para que eu prossiga em meu caminho,
aprendendo,
ajudando,
perdoando,
obtendo a paz que sei ser possível.

 

 

PRECISO ASCENDER À LUZ

 

 

Preciso continuar o livro –
preciso acender a luz.
Preciso terminar o Livro –
preciso ascender à Luz.

 

 

ANDARILHO

 

 

Por que ando sem parar
e algumas vezes paro, e não consigo andar?

 

Por que penso sem parar
e muitas vezes não paro para pensar?

 

Por que, em vez de vaguear
à procura de luz
ou na senda das sombras,
não vejo luz à minha frente
e não sinto a luz dentro de mim?

 

Ao invés de vaguear
por sombras ou escuridão,
por que não prossigo no caminho
de onde vim e para onde preciso ir?

 

Andarilho, a buscar nada,
nada conquista e nada partilha.

 

Andarilho, a pensar em nada,
ou a nada fazer a não ser pensar,
jamais se visita
jamais se deixa visitar.

 

 

 

 

 

 

SERENIDADE

 

 

Chove docemente lá fora.
Meu olhar sereno,
ao ver a chuva,
ilumina-se ainda mais,
e absorta nesses acordes,
minh'alma torna-se ainda mais serena,
límpida, livre.


Meu coração arde... é Sol.

 

O ruído da chuva
alcança meus ouvidos
e se transforma em música.
O ruído da chuva
é a própria música.
Meu coração ilumina-se
e é tudo calor, sons e cores.

 

Fecho os olhos.

 

Ouço a chuva,
sinto o Sol,
descortina-se o caminho da paz,
da harmonia
e da serenidade.

 

 

 

 

Fiquei comovido;
então, direi assim:

 

 

 

 

 

 

 

Nada poderá me parar!

Nem um amor baldado

nem o transtorno bipolarizado.

Não quero! Não vou parar!

 

 

Nada poderá me delongar!

Nem o abatimento da Flor

nem o equinócio sem color.

 

 

Nada poderá me retardar!

Nem a dolor crucificadora

nem a alegria prometedora.

Minha Via Crucis vou adornar!

 

 

Nada poderá me anestesiar!

Nem a neurastenia da arrepsia

nem a hipocondria da melancolia.

Combaterei sempre sem abdicar!

 

 

Nada poderá me indiferentar!

Nem a certeza das limitações

nem os buracos e os senões.

Com paciência, vou transmutar!

 

 

Nada poderá me desanimar!

Nem o demônio constrangente

nem meu Deus quase silente.

Só eu poderei me dignificar!

 

 

Nada poderá me subjugar!

Eu sei que sou uma estrela,

e só eu poderei elastecê-la.

Não me deixarei crucifixar!

 

 

 

 

Paz ao Universo!


 

 

 

 

 

 

 

Música de fundo:

The Sound of Silence (Simon & Garfunkel)

Fonte:

http://www.charles50tao.com.br/
diversas_internacionais_V.htm

 

Página da Internet consultada:

http://www.fiatpax.pro.br/home.htm