RENÉ GUÉNON – Pensamentos

 

 

 

René Guénon

René Guénon

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo é um breve resumo do pensamento de René Guénon (Blois, 15 de novembro de 1886 – Cairo, 7 de janeiro de 1951), metafísico, esoterista, crítico social francês e autor universalista, tendo esposado a tese da unidade transcendente das religiões, ou seja, que as diversas tradições religiosas mundiais têm um fundamento metafísico e espiritual convergente. Para o historiador das religiões, islamólogo e jornalista brasileiro Mateus Soares de Azevedo (Belo Horizonte, 24 de janeiro de 1959), René Guénon foi um crítico severo do exclusivismo religioso e de todo comunalismo e fundamentalismo extremista. Foi também um pioneiro da crítica da mentalidade materialista e individualista de nossos tempos. Para ele, o moderno Ocidente vive em profunda crise de valores e de sentido porque se separou de suas raízes espirituais e esqueceu as dimensões mais profundas da existência.

 

 

 

 

 

 

Escorço Biográfico

 

 

 

René Guénon (15 de novembro de 1886 – Cairo, 7 de janeiro de 1951) nasceu na cidade de Blois, na França. É considerado como o homem que deu origem à escola de pensamento que viria a ser denominada de Tradicionalista, sendo os seus livros verdadeiros clássicos na sua área, continuando ainda hoje a ter um forte impacto nos meios intelectuais do Ocidente e Oriente.

 

O conteúdo do seu trabalho pode ser dividido em quatro temas principais: doutrina metafísica, princípios tradicionais, simbolismo tradicional e crítica da mentalidade materialista, evolucionista e relativista da modernidade.

 

Para muitos, as suas análises foram o caminho mais efetivo a seguir para ver através das muitas pseudo-religiões que proliferaram no início do século xx. Os seus textos contribuíram para que muitas pessoas descobrissem que deveriam procurar Caminhos Iniciáticos verdadeiramente tradicionais, ajudando-as a discernir entre o Real e o ilusório.

 

Em uma Europa cada vez mais secularizada e afastada das suas fundações espirituais tradicionais, René Guénon reintroduziu as certezas intelectuais da Metafísica. Este feito foi conseguido na sua maior parte na sua grande obra L'Homme et son Devenir Selon le Vêdânta. A sua grande crítica ao mundo moderno foi desenvolvida ao longo de duas obras: La Crise du Monde Moderne e Le Règne de la Quantité et les Signes des Temps. Na sua teoria do conhecimento, que é a teoria tradicionalista, o conhecimento parte dos princípios, enquanto o conhecimento dos modernos resulta de constatações experimentais, da observação de fatos. Este empirismo moderno não merece credibilidade porque está longe de ser integral, logo submetido ao erro.

 

No entender de René Guénon, o materialismo serviu para impedir o homem de ter acesso às possibilidades de ordem superior, mas, a grande destruição virá pelas forças inferiores, subversivas, que usarão o neo-espiritualismo, através da bruxaria e da adivinhação, do Espiritismo e da Necromancia. Paralelamente, no grau da decadência, René Guénon não poupou críticas à filosofia de Henri Bergson, que considerou um bom representante do espírito moderno acusando-o de ter uma filosofia individualista e de ignorar a ordem supra-individual, por pôr a moral de lado, acusando-o, ainda, de através do seu intuicionismo, apelar ao subconsciente para despertar os elementos psíquicos mais baixos do ser humano, invocando uma intuição unicamente de ordem sensitiva misturada com forças obscuras do instinto e do sentimento, desprezando a intuição intelectual. René Guénon deixa um aviso para aqueles que seguem a concepção bergsoniana: Aquilo que eles tomam por uma plenitude de «vida» não é efetivamente mais do que o reino da morte e da dissolução sem regresso. Para o filósofo tradicionalista francês, o mundo materialista e profano no qual vivemos caminha em direção à sua dissolução, quando o reino da quantidade atingir o seu extremo, assegurando que o fim do ciclo tenebroso está próximo. Mas, enterrada a besta, renascerá uma nova civilização.

 

René Guénon faleceu no Cairo, pátria que adotou nos seus últimos anos, em 1951.

 

 

 

Pensamentos Guenonianos

 

 

 

A tradição, em uma acepção muito mais geral, pode ser tanto escrita quanto oral, apesar de que, habitualmente, senão sempre, ela deve ter sido antes oral na sua origem.

Preconceito Clássico atribuir aos gregos e aos romanos a origem de toda civilização.

O Homem Universal só existe virtualmente, e, de certa forma, negativamente, como se fosse um arquétipo ideal, até que a realização efetiva do ser total lhe dê uma existência atual e positiva. E isto vale para qualquer ser, considerado como efetuando ou devendo efetuar esta realização.

Admitir a criação "ex nihilo" [do nada] seria admitir o aniquilamento final de todos os seres criados, já que o que teve um começo deverá também ter um final, e não há nada mais ilógico do que falar de imortalidade em tal hipótese. Desta forma, a criação assim entendida é um absurdo, posto que é contrária ao Princípio de Causalidade, que é inegável para todo homem sincero e medianamente razoável, com o que podemos dizer como Lucrécio: "Ex nihilo nihil; ad nihilum nihil posse reverti". [Nada pode nascer do nada; nada pode ser resolvido em nada].

 

 

 

 

O Ilimitado é necessariamente uno, porque dois Ilimitados que não fossem idênticos se excluiriam um ao outro,1 resultando disto que não há mais do que um Princípio Único de todas as coisas, e este Princípio é o Perfeito, posto que o Ilimitado só pode ser tal se é o Perfeito.

Se a oposição Ser/Não-Ser está forçosamente contida na Perfeição Total – o Não-Ser sendo uma possibilidade de [vir-a-]Ser, de tal sorte que o Ser esteja contido em estado potencial no Não-Ser é evidente, em princípio, que esta oposição não pode ser mais do que aparente.

 

Se pelo Não-Ser se entende somente o puro nada, é inútil dele se falar, pois, que se pode dizer de aquilo que não é nada? Mas, a situação é toda outra, se se encara o Não-Ser como possibilidade de ser. O Ser é a manifestação do Não-Ser. Se assim for entendido, estará contido em um estado potencial no Não-Ser. A ligação do Não-Ser com o Ser é, então, a ligação do não-manifestado com o manifestado, e se pode dizer que o não-manifestado é superior ao manifestado do qual é o princípio, uma vez que, em potência, contém todo o manifestado mais aquilo que não é, não foi e não será jamais manifestado. Ao mesmo tempo, se vê que aqui é impossível falar de uma distinção real, pois, o manifestado está contido em princípio no não-manifestado. Entretanto, nós não podemos conceber o não-manifestado diretamente, mas, somente através do manifestado. Esta distinção existe, então, para nós, mas, somente para nós.

É o Ternário e não o binário o que é imediatamente produzido pela primeira diferenciação da Unidade Primordial.

 

 

 

 

O Perfeito é o princípio de todas as coisas, e, por isto, não pode produzir o imperfeito. Daí resulta que o imperfeito não existe, ou que, ao menos, o imperfeito só pode existir como elemento constitutivo da Perfeição Total, e, sendo assim, não pode ser realmente imperfeito, e o que chamamos imperfeição não é mais que relatividade. Assim, o que chamamos erro é Verdade Relativa, já que todos os erros devem estar compreendidos na Verdade Total, sem o que esta, estando limitada por algo que estaria fora dela, não seria Perfeita, o que equivale a dizer que não seria a Verdade. Os erros, ou, melhor dizendo, as Verdades Relativas, não são senão fragmentos da Verdade Total; é, pois, a fragmentação o que produz a relatividade, e, em conseqüência, poderíamos dizer que, se relatividade fosse realmente sinônimo de imperfeição, poderia se considerar como causa do mal. Todavia, o mal só é tal quando se distingue do bem. Se chamamos Bem ao Perfeito, realmente o relativo não é algo distinto, já que, em princípio, está contido nele; então, desde o ponto de vista universal, o mal não existe. Existirá unicamente se consideramos as coisas sob um aspecto fragmentário e analítico, separando-as de seu Princípio Comum, em lugar de considerá-las sinteticamente como contidas neste Princípio, que é a Perfeição. Assim é criado o imperfeito. Distinguindo o mal do Bem, os dois são criados por esta distinção mesma, pois o Bem e o mal são tais se opomos um ao outro e, se não há mal, não há motivo para se referir ao Bem no sentido ordinário desta palavra, senão unicamente da Perfeição. É, pois, a fatal ilusão do dualismo que realiza o Bem e o mal, e que, considerando as coisas sob um ponto de vista particularizado, substitui a Unidade pela multiplicidade, e encerra, assim, os seres sobre os quais exerce seu poder no domínio da confusão e da divisão. Este domínio é o império do Demiurgo.

A Metafísica pura, situando-se, por essência, acima e além de todas as formas e de todas as contingências, não é nem oriental nem ocidental: é universal.

Definir é sempre limitar.

O domínio metafísico está inteiramente fora do mundo fenomênico.

O Grande Mistério está além de toda forma e de toda expressão; mas, o próprio Silêncio é o Grande Mistério.

Em todas as Tradições, o Coração é considerado, antes de tudo, a Sede da Inteligência.

Não é por acaso que a Democracia se oponha à Aristocracia, e que este último termo designe, precisamente, pelo menos em sentido etimológico, o poder da elite. Esta, por definição, não pode ser senão uma minoria, e o seu poder, ou melhor, a sua autoridade, que deriva de uma superioridade intelectual e espiritual, não tem nada em comum com a força numérica sobre a qual se fundamenta a Democracia, nem com as forças irracionais do Coletivismo, tendências cujo caráter essencial é o sacrifício da minoria à maioria, e, também, o da qualidade à quantidade, e da elite à massa.

O mais elevado não pode provir do mais baixo porque o maior não pode provir do menor.

O símbolo propriamente dito é essencialmente sintético e, por isto mesmo, intuitivo de um certo modo, o que o torna mais apto do que a linguagem para servir de ponto de apoio à intuição intelectual, que está acima da razão.

 

 

 

 

O uso do simbolismo é uma necessidade? Aqui, é preciso estabelecer uma distinção: em si e de modo absoluto, nenhuma forma exterior é necessária; todas são de igual modo contingentes e acidentais em relação ao que expressam ou representam. É assim que, de acordo com o ensinamento dos hindus, uma figura qualquer, por exemplo, uma estátua que simboliza algum aspecto da Divindade, só deve ser considerada como um suporte, um ponto de apoio para a meditação. Trata-se, pois, de um simples auxiliar, e nada mais.

No princípio era o Verbo. O Verbo – o Logos é ao mesmo tempo Pensamento e Palavra. Em si, o Verbo é o Intelecto Divino o lugar dos possíveis.

Tudo o que existe, sob qualquer forma que seja, por ter seu princípio no Intelecto Divino, traduz ou representa este Princípio [o Verbo] à sua maneira e segundo sua ordem de existência.

De uma ordem a outra, todas as coisas se encadeiam e se correspondem, concorrendo para a harmonia universal e total, que é como um reflexo da própria Unidade Divina.

Chamamos pensamento tradicional a toda a forma de inteligência do mundo que, baseando-se em uma particular tradição religiosa ou na convicção fundamentada da unidade essencial que interliga todas as tradições deste tipo, proponha uma leitura do sentido do homem e do Universo e uma interpretação dos nossos tempos, assente nas noções de hierarquia de valores, de ordem, de oposição do sagrado e do profano e de uma tendencial Divinização como destino final da Humanidade.

O Tesouro da Sabedoria Não-humana, anterior a todas as idades, nunca pode[rá] se perder. Ele se envolve, no entanto, em véus cada vez mais impenetráveis, que O escondem aos olhares e sob os quais é extremamente difícil descobri-Lo.

A eterna continuidade liga todas as coisas.

Toda manifestação implica necessariamente um afastamento cada vez maior do Princípio do qual ela procede [Princípio Originante]. Partindo do ponto mais alto, a manifestação tende forçosamente para baixo, e, como os corpos pesados, se dirige para baixo com uma velocidade sem cessar crescente, até que encontra finalmente um ponto de paragem. Esta queda poderia ser caracterizada como uma materialização progressiva, porque a expressão do Princípio é Pura Espiritualidade. Dizemos a expressão, e não o próprio Princípio, porque este não pode ser designado por qualquer dos termos que parecem indicar uma oposição, estando além de todas as oposições.

 

 

In principio erat Satya Yuga...

 

 

Em AMeN e AUM há duas letras comuns A e M, que representam dois opostos ou complementares. N indica o produto dos dois termos, e, por isto, na palavra AMeN, está colocado depois, enquanto que, em AUM, o U indica o laço que une A e M, e, por isto, situa-se entre eles.

Alberto Magno e São Tomás estavam vinculados a uma organização hermética, mas, é possível que a denominação "Rosa-Cruz'' não estivesse ainda em uso nesta época. Eu, de fato, não creio que ela possa ter aparecido antes do século XIV.

No que se refere à Iniciação baseada no Esoterismo Cristão,2 tudo o que se pode conhecer dela é mais de ordem cosmológica e hermética, do que puramente metafísica. Isto, sem dúvida, está relacionado com a mentalidade ocidental, mais do que com o Cristianismo em si mesmo. Seria, não obstante, pouco provável que nunca tivesse havido outra coisa, mas, deve ter estado sempre reservada a um número muito pequeno, e não deixou vestígios aparentes. De outro modo, seria de supor que se trata de uma tradição incompleta na sua própria essência.

Canseliet3 (que não é Fulcanelli, mas, que se faz passar por seu continuador) não tem certamente nada de um ''mestre ''; além disto, do ponto de vista tradicional, não pode se vincular mais ou menos efetivamente mais do que a uma dessas correntes desviadas no sentido ''naturalista'' às quais me referi em diversas ocasiões.

A palavra Alquimia dá lugar, de fato, na maioria das pessoas, à uma certa confusão... Creio que Hermetismo seria mais conveniente, ou se poderia dizer Alquimia Espiritual, para evitar qualquer equívoco.4

Mesmo o Deus Ilimitado não pode criar quadrados circulares.

Em realidade, o Demiurgo não é uma potência externa ao homem; em princípio, não é mais do que a vontade do homem quando realiza a distinção entre Bem e mal. O Demiurgo, convertido em uma potência distinta e considerado como tal, é o príncipe deste mundo de que se fala no Evangelho de João. Não é, propriamente falando, nem bom nem mau, mas, tanto uma coisa quanto a outra, posto que contém em-si-mesmo tanto o bem quanto o mal.

Somos nós mesmos que criamos satã ou o adversário, e o criamos a cada instante, já que não se deve considerar isto como algo que ocorreu em um tempo determinado. Todavia, satã não é o mal-em-si-mesmo, mas, constitui, unicamente, o conjunto de tudo o que nos é contrário.5

 

 

 

 

Quando o ente-aí-no-mundo alcança o Conhecimento Real [Sabedoria = ShOPhIa], identifica todas as coisas com o Espírito Universal.

Os diferentes mundos – ou, segundo a expressão geralmente admitida, os diversos planos do Universo não são lugares ou regiões, senão modalidades de existência ou estados de ser.

A Verdade [Leis Universais] é una e imutável.

'Não há outro meio de obter a libertação completa e final6 que não seja pelo Conhecimento, que é o único instrumento que desata os laços das paixões. Sem o Conhecimento não se pode obter a Beatitude. A ação, não se opondo à ignorância, não a pode afastar; mas, o Conhecimento dissipa a ignorância, como a luz dissipa as trevas.' (Shankarâchârya, in: Tratado do Conhecimento do Espírito, apud, René Guénon).

Nascido Duas Vezes Aquele que chegou à identificação de si-mesmo com o Espírito universal e se conscientizou de que tudo é Espírito.

'Quando o Sol do Conhecimento Espiritual se levanta no céu do Coração, expulsa as trevas, penetra tudo, abarca tudo e Illumina tudo.' (Shankarâchârya, in: Tratado do Conhecimento do Espírito, apud, René Guénon).

Há de se ter muito cuidado em não confundir os diversos Planos do Universo, pois, o que se diz de um poderia não ser verdadeiro para o outro.

 

 

           

Greys7 Coloridos

 

 

A moral existe necessariamente no plano social – que é essencialmente o domínio da ação mas, não quando se considera o plano metafísico ou universal, posto que, então, já não há ação.

O ser superior à ação possui, não obstante, a plenitude da atividade; mas, é uma atividade potencial, uma atividade não-agente. Este ser não é imóvelcomo se poderia erroneamente admitir mas, imutável, quer dizer, superior à mudança. Com efeito, ele se identifica com o Ser que sempre é idêntico-a- si-mesmo, segundo a fórmula bíblica: o Ser é o Ser.

Nirvana Extinção do sopro ou da agitação, ou seja, estado de um ser que já não está submetido a nenhuma agitação, que está definitivamente8 liberado da forma. É um erro muito comum, ao menos no Ocidente, crer que não há nada quando não há forma, quando, em realidade, é a forma o que é irreal, e o informal é o real. Assim, o Nirvana, muito longe de ser o aniquilamento, como pretenderam alguns filósofos, é, pelo contrário, a plenitude do Ser.

Só através do Conhecimento é que se obtém a libertação.

O sofrimento é resultado do esforço, e, portanto, da ação, e é nisto que consiste o que chamamos de imperfeição, ainda que, na realidade, não haja nada imperfeito.

Transformação, em seu sentido etimológico, é a passagem para além da forma. O apego às coisas individuais ou às formas essencialmente transitórias e perecedouras é próprio da ignorância. Assim, as formas não são nada para o ser que delas se libertou.

Conhecimento Espiritual Libertação do império do Demiurgo.

O Conhecimento, para ser o que deve ser, não se limita a uma simples teoria, mas, comporta em si mesmo a realização correspondente.

Alguns sentem confusamente o fim iminente de qualquer coisa de que não podem definir exatamente a natureza e o alcance. É necessário admitir que eles têm uma percepção muito real, embora vaga e sujeita a falsas interpretações ou a deformações imaginativas, visto que, qualquer que seja esse fim, a crise que deve forçosamente aí conduzir é bastante visível, e que numerosos sinais não equívocos e fáceis de constatar conduzem todos de modo concordante à mesma conclusão. Este fim não é, sem dúvida, o «fim do Mundo», no sentido total em que alguns o querem entender, mas é, pelo menos, o fim de um mundo. E, se o que deve acabar é a civilização ocidental sob a sua forma actual, é compreensível que aqueles que se habituaram a nada mais ver que esteja fora dela, a considerá-la como a «civilização» sem epíteto, julguem facilmente que tudo acabará com ela, e que, se ela desaparecer, será realmente o «fim do Mundo»

Alguns escritores ocidentais, com pretensões mais ou menos iniciáticas, querem dar à cruz um significado exclusivamente astronômico, dizendo que é ''um símbolo da união crucial formada pela eclíptica com o Equador'', e também ''uma imagem dos equinócios, quando o Sol, em seu curso atual, cobre sucessivamente estes dois pontos. Para dizer a verdade, se a cruz é tal, é porque os próprios fenômenos astronômicos podem ser considerados, a partir de um ponto de vista mais elevado, como símbolos, e porque, desta maneira, podem neles ser encontrados, assim como em todos os outros lugares, esta figuração do Homem Universal; mas, se estes fenômenos são símbolos, é evidente que não são a coisa simbolizada, e que o fato de tomá-las por esta constitui uma inversão das relações normais entre as diferentes ordens de realidades. Quando encontramos a figura da cruz nos fenômenos astronômicos ou outros, ela tem exatamente o mesmo valor simbólico que a que nós mesmos podemos traçar; isto só prova que o verdadeiro simbolismo, longe de ser inventado artificialmente pelo homem, se encontra na própria Natureza, ou, para dizê-lo melhor, que a Natureza inteira não é mais do que um símbolo das realidades transcendentes. Reestabelecendo assim a interpretação correta do que se trata, as duas frases que acabamos de citar contêm um erro: com efeito, por um lado, a eclíptica e o equador não formam a cruz, já que estes dois planos não se cortam em ângulo reto; e, por outro lado, os dois pontos equinociais estão evidentemente unidos por uma só linha reta, de sorte que, aqui a cruz aparece menos ainda. O que, na realidade, é mister considerar é, de uma parte, o plano do equador e o eixo que, unindo os pólos, é perpendicular a este plano; e, por outra parte, as duas linhas que unem respectivamente os dois pontos solsticiais e os dois pontos equinociais. Temos, assim, o que se pode chamar, no primeiro caso, a cruz vertical, e, no segundo, a cruz horizontal. O conjunto destas duas cruzes, que tem o mesmo centro, forma a cruz de três dimensões, cujos braços estão orientados seguindo as seis direções do espaço; estas correspondem aos seis pontos cardeais, que, com o centro, formam o setenário.

 

 

 

 

Um ciclo é a representação do processo de desenvolvimento de um estado qualquer de manifestação, ou seja, tratando-se de ciclos menores, de alguma das modalidades mais ou menos limitadas ou especializadas de tal estado de manifestação. Em virtude da Lei de Correspondência, que relaciona todas as coisas na Existência Universal, há sempre, e necessariamente, uma certa analogia entre os diferentes ciclos da mesma classe, ou melhor, entre os ciclos principais e suas divisões secundárias. Esta analogia é a que possibilita o emprego de um só modo de expressão, se bem que isto deve, freqüentemente, ser entendido de forma simbólica, já que a essência de todo simbolismo se fundamenta precisamente sobre as correspondências e as analogias que existem na própria natureza das coisas... Os ciclos têm, às vezes, um caráter cósmico e histórico, já que concernem mais especialmente à Humanidade terrestre, permanecendo, porém, ao mesmo tempo, estreitamente ligados aos acontecimentos que, fora dela, se produzem em nosso mundo. Não há nisto nada que nos deva assombrar, já que a idéia de considerar a história humana como, de certo modo, isolada de todo o resto, é exclusivamente moderna e nitidamente oposta ao que ensinam todas as tradições, que, pelo contrário e unanimemente, afirmam a existência de uma correlação necessária e constante entre as ordens cósmica e humana.

A Metafísica, porque encerra uma lista ilimitada de possibilidades, deve tomar cuidado para nunca perder de vista o indizível, o que, de fato, constitui sua própria essência.

A verdade é que não há realmente nenhum "reino profano" que possa, de alguma forma, se opor a um "reino sagrado".

O "fim de um mundo" nunca poderá ser o fim de qualquer coisa, mas, o fim das ilusões.

O que nunca se viu antes foi a construção de uma civilização inteira com base em algo puramente negativo, sobre o que de fato poderia ser chamado a ausência de princípios, e é isto o que dá o mundo moderno seu caráter anormal e faz dele uma espécie de monstruosidade.

As mais altas verdades, que não seriam de modo algum comunicáveis ou transmissíveis por qualquer outro meio, tornam-se acessíveis até certo ponto, desde que sejam, se pudermos assim dizer, incorporadas aos símbolos, que, sem dúvida, as dissimularão a muitos, mas, que as manifestarão em todo seu resplendor aos olhos daqueles que sabem ver.

 

 

 

 

'Eu não encontrei nunca um só caso de clarividência magnética onde o sujeito não refletisse direta ou indiretamente as idéias do magnetizador.' (Daniel Dunglas Home, apud, René Guénon).

Todo verdadeiro símbolo aporta em si múltiplos sentidos, e isto desde a origem, pois não está constituído em virtude de uma convenção humana, mas, sim, em virtude da Lei de Correspondência que vincula todos os mundos entre si.

A irradiação do Sol Espiritual é o verdadeiro Coração do Mundo.

O efeito sempre pode ser tomado como símbolo da causa, em qualquer grau que seja, porque tudo o que ele é não passa da expressão de alguma coisa que é inerente à natureza desta causa.

A Existência Universal não é outra coisa que a manifestação integral do Ser, ou, para falar mais exatamente, a realização, em modo manifestado, de todas as possibilidades que o Ser comporta e contém, principalmente em sua própria Unidade.

O Todo Universal – que inclui em si mesmo todas as possibilidades não pode ser limitado de nenhuma maneira por nada.

Agartha: Falamos antes de alusões feitas por todas as tradições a alguma coisa que está perdida ou oculta, e que se representa sob diversos símbolos; isto, quando se toma em seu sentido geral – o que concerne a todo o conjunto da Humanidade terrestre – se relaciona precisamente com as condições do Kali Yuga. O período atual é, portanto, um período de obscurecimento e de confusão; suas condições são tais que, enquanto persistam, o Conhecimento Iniciático deve necessariamente permanecer oculto, De onde o caráter dos Mistérios da Antigüidade chamada histórica (que nem sequer se remonta até o princípio deste período) e das organizações que dão uma Iniciação Efetiva onde ainda subsiste uma verdadeira organização tradicional, mas da que não oferecem mais do que a sombra, quando o espírito desta doutrina deixou que vivificar os símbolos, que não são mais do que a representação exterior. E isto porque, por diversas razões, todo vínculo consciente com o Centro Espiritual do Mundo terminou por se romper, o que é o sentido mais particular da perda da Tradição, que concerne especialmente a tal ou qual centro secundário, que deixa de estar em relação direta e efetiva com o Centro Supremo. Deve-se falar, então, de algo que está mais oculto que verdadeiramente perdido, pois, não está perdido para todos, e alguns o possuem ainda integralmente. E , se for assim, outros têm sempre a possibilidade de voltar a encontrá-lo, contanto que o busquem como convém, quer dizer, que sua intenção esteja dirigida de tal modo que, pelas vibrações harmônicas que desperta segundo a Lei das Ações e Reações Concordantes, possa pô-los em comunicação espiritual efetiva com o Centro Supremo. Trata-se sempre de uma região que, como o paraíso terrestre, torna-se inacessível para a Humanidade ordinária, e que está situada fora do alcance de todos os cataclismos que transtornam o mundo humano no final de certos períodos cíclicos.

Tudo deriva da Grande Unidade.

Cairá o mundo moderno no abismo fatal? Ou, tal como na decadência do mundo greco-romano, uma nova recuperação se produzirá ainda desta vez?

 

 

 

Peregrinando Pelas Encarnações...

 

 

 

Peregrinando pelas encarnações,

somos todos Verdades Relativas...

Um Coração... Mil e um Corações...

(Im)possibilidades... Alternativas...

 

Peregrinando pelas encarnações,

Domando tinetas, cobiças e paixões,

vão mitigando os estupidificantes ais.

 

Peregrinando pelas encarnações

– primavera, verão, outono, inverno

e outras desconhecidas estações –

vamos transmutando nosso inferno.

 

Peregrinando pelas encarnações,

todos alcançaremos a Illuminação.

Então, já nem cegos nem camões,

nos unificaremos com a Imensidão.

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Não sei se efetivamente se excluiriam um ao outro, como pensou René Guénon, mas, raciocinando por absurdo – o que não é propriamente um raciocínio – o mais Ilimitado absorveria, por assim dizer, o menos Ilimitado. Mas, como não pode existir um Ilimitado maior e outro menor, porque o que é Ilimitado só pode ser Ilimitado...

2. O Esoterismo Cristão está presente na Igreja Joanita, como transmitiu Éliphas Lèvy. Desde a mais remota Antigüidade, em silêncio, diversos membros da alta hierarquia da Igreja Católica foram Iniciados em Fraternidades Iniciáticas. Um exemplo disto foi o Beato Papa João XXIII, Ordo Franciscanus Sæcularis, OFS, nascido Angelo Giuseppe Roncalli (Sotto Il Monte, 25 de novembro de 1881 – Vaticano, 3 de junho de 1963), Papa de 28 de outubro de 1958 até à data da sua morte, que escolheu como lema papal Obœdientis et Pax – Obediência e Paz.

3. Eugène Léon Canseliet (Sarcelles, 18 de dezembro de 1899 – Savignies, 17 de abril de 1982) foi um alquimista francês. De 1920 a 1923 foi o diretor da fábrica de gás de Sarcelles, da Companhia Georgi. Como discípulo de Fulcanelli, teria operado, então, pelas suas mãos, uma transmutação alquímica de chumbo em ouro, no laboratório do primeiro andar da fábrica, diante de três testemunhas: o pintor Julien Champagne, o químico Gaston Sauvage e o próprio Fulcanelli. É nesta fábrica que redige os dois livros de Fulcanelli, seguindo as notas que este lhe entregara. Em outubro de 1925, prefacia o primeiro livro, O Mistério das Catedrais, publicado em 1926. E, em abril de 1929, prefacia o segundo o livro, As Mansões Filosofais, publicado em 1930.

4. Uma boa questão para meditar é a seguinte: imagine um copo com água pela metade. A pergunta é: estará o copo meio cheio ou meio vazio?

 

 

 

5. Isto é como tenho dito: somos nós quem criamos os deuses e os demônios, e, como conseqüência, o nosso céu particular e o nosso inferno pessoal. Como não compreendemos isto, pomos a culpa da nossa episódica falta de dita no demônio, e, para resolver as coisas, negociamos com deus. O pior é que, por um mecanismo do qual as pessoas, normalmente, ignoram a existência, às vezes, as negociatas dão certo, e elas passam pela vida acreditando que vem do alto o que elas próprias, sem saber, põem em movimento.

6. Em princípio, a libertação completa e final é uma crença-aspiração infundada, que não poderá acontecer. E quem deseja a tal da libertação completa e final não é menos do que egoísta + pretensioso + orgulhoso + presuntuoso + etc. Como alguém pode pensar e desejar a libertação completa e final, enquanto o resto dos seres do Universo continua padecendo na escuridão? Sinceramente, eu não me conformo com isto.

7. Os Greys (também referenciados por Roswell Greys ou Grays), os quais receberam este nome em função da cor da sua pele, são supostos seres extraterrestres que, segundo as comunidades ufológica e paranormal, a New Age e os Teóricos dos Alienígenas do Passado, promoveram a existência e a evolução do ser humano. A origem dos Greys é comumente associada com a reivindicação da abdução de Betty e Barney Hill, um casal norte-americano que, em 1961, alegou haver sido abduzido por alienígenas. Segundo a Ufologia, os Greys são seres extraterrestres que possuem como características principais baixa estatura (algo em torno de 1,30 m), cor da pele variando entre acinzentada a amendoada, olhos grandes e negros, boca fina, narinas mínimas, corpo desproporcionalmente pequeno e raquítico com relação ao tamanho da cabeça e mãos como garras com três ou quatro dedos. Os Greys seriam oriundos do sistema Zeta Reticuli – uma estrela binária na Constelação de Reticulum (uma Constelação do Hemisfério Celestial Sul).

 

 

Grey
(Descrição artística)

 

 

7. Confesso que tenho uma certa (para não dizer total) resistência com peremptoriedades do tipo definitivamente e outras semelhantes. Para mim, só há uma coisa definitiva: a existência do incriado e indestrutível Universo. O resto esteve, está e estará sujeito à mudança.

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://introduccionalsimbolismo.com/
portugues/modulo3m.htm

http://www.maconaria.net/portal/index.php?
option=com_content&view=article&id=7

http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/
ESLH/Edicoes/7/imprime77178.asp

http://obraspsicografadas.org/2012/livro-
gratuito-o-erro-esprita-1923-de-ren-guenon/

http://www.grupotempo.com.br/tex_verbo.html

http://www.reneguenon.net/simbolismoplantas.html

http://www.stormfront.org/forum/t958561/

http://en.wikiquote.org/wiki/Ren%C3%A9_Gu%C3%A9non

http://ciclologia.com/ps15mom4a.htm

http://www.taringa.net/posts/ciencia-educacion/
10043968/Que-es-la-cuarta-dimension.html

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2012/02/rene-guenon-sobre-o-fim-do-mundo.html

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Música de fundo:

The Way You Look Tonight
Composição: Jerome Kern (música) & Dorothy Fields (letra)

Fonte:

http://www.paixao.sonhos.nom.br/internacionais.htm

 

Direitos autorais:

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