O MONOPOLITEÍSMO DE AKHENATEN

 

Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

 

Movimento Eterno

 

 

 

 

 

A Título de Introdução
e Objetivo do trabalho

 

 

 

Recentemente, escrevi um trabalho sobre a religião da Perfeita Liberdade (PL Kyodan ou a Igreja da Perfect Liberty), e, ao final, apresentei uma reflexão pessoal, que, editada e ampliada para o presente trabalho, apresento como gancho, a seguir, a título de introdução para as reflexões que se seguirão.

 

Começarei propondo duas perguntas místico-metafísicas para exercitar uma reflexão dialética: 1ª - Por que depender de um intermediador entre um possível Deus transcendente (que excele e é, presumidamente, único em seu gênero) e os homens (presumidamente Sua criação), ou seja, por que estar e viver sujeito a um representante de Deus na Terra? 2ª - Como conciliar em termos místico-metafísicos – se conciliação houver – a admissibilidade (preconceituosa) de que todos os homens são iguais e de que possa haver (preconceituosamente) um caminho peregrinante para o homem e um outro caminho peregrinante, diferente, para a mulher?

 

Inicialmente, começarei a discutir a segunda pergunta. Primeiro, longe estamos de ser iguais, e, possivelmente, jamais seremos iguais, porque igualdade, neste caso e como querem os religiosos que seja vista e sentida – por confundirem-na com eqüidade – se houvesse ou se viesse a haver, significaria estaticidade, como que um tipo de ponto final, ambos inteiramente contrários a, pelo menos, uma das Leis Cósmicas desde sempre imutáveis: o movimento. Somos, sim, inteiramente diferentes porque, por mérito e por horas de vôo, viemos de instâncias cósmicas diferentes, nossa história pessoal peregrinadora é diferente, estamos em planos ou níveis de compreensão diferentes, e, por tudo isto e por muito mais, também por mérito, retornaremos para instâncias cósmicas diferentes. Entre muitos exemplos que justificariam esta assertiva, pergunto: serão iguais vivisseccionistas e veganos?

 

 

 

Instâncias Cósmicas Diferentes

 

 

Segundo, apesar do pouco e raso entendimento que tenho das Leis Espirituais, acredito que, neste âmbito, só a Doutrina da Necessidade (Lei da Reencarnação) possa explicar nascimentos masculinos, nascimentos femininos e outros tipos de nascimentos que, para esta rápida argumentação, não estão em causa. Admito que, a partir de um nível ou plano vibratório específico de evolução, o ser possa, inclusive, escolher, pelo seu livre-arbítrio espiritual conquistado, a polaridade (masculina ou feminina) em que encarnará, ainda que o número Sete regule ciclicamente estas Peregrinações. Contudo, penso que não haja uma Lei Cósmica exclusiva para os homens e outra exclusiva para as mulheres. Podemos não nos lembrar, o que, em certo sentido é muito bom, mas todos nós já fomos homens e mulheres, e vice-versa, muitas, incontáveis, vezes, como também, em eras remotíssimas, já fomos pedra, planta e animal. O que faz, o que determina – na Terra e em outros planetas da Terceira Dimensão – o tipo de sexo em que um ente encarnará, é a dupla necessidade de aprendizado e de compensação. Nossa origem universal é andrógina, una, e a separação se deu porque para subir é necessário descer, para ser livre é necessário conhecer a prisão, para compreender é necessário mergulhar na densidade plural e multifacetada, para evoluir é necessário involuir. Portanto, nada é de graça ou por apenas. Tudo depende de nós, somos responsáveis por tudo e ninguém poderá experienciar por nós o que cabe a nós, exclusivamente, perceber e incorporar à memória, ou seja, à nossa Impressão Digital Cósmica. Enquanto necessitarmos encarnar, seja em um corpo feminino, seja em um corpo masculino, o número que regulará esta insubstituível experiência, repito, é o Sete. E se igualdade há, ela se reduz e se circunscreve ao fato de que a Lei é a mesma para todos, pois, afinal, em outro sentido, somos, mesmo, cosmicamente, todos Um.

 

 

 

 

 

Quanto ao fato de haver intermediador(es) entre Deus e os homens, ou seja, representante(s) de Deus perante os homens... Bem, isto é impossível, para mim e para todos os Iniciados, de ser aceito. Nada de tudo que seu mestre mandar, faremos todos! No meu caso particular, pois nesta matéria, só posso falar por mim, eu não quero, sob nenhuma alegação, intermediador algum, seja lá quem for, para absolutamente nada de nada. Ou eu ando com as minhas pernas ou não ando. Com as pernas dos outros não quero andar, inclusive porque sei que isto é impossível e inócuo. E quem está diuturnamente construindo e quem aprimorará e aperfeiçoará ad æternum o Mestre-Deus do meu Coração sou eu e mais ninguém. Nesta Santa Obra ninguém põe a mão; o arquiteto, o engenheiro e o mestre-de-obras sou eu. Minhas responsabilidades são minhas e de mais ninguém. A única Voz que comanda meus pensamentos, minhas palavras e minhas ações é a Voz Insonora do meu Coração.

 

Precisamos, um dia, todos nós, ficar livres de demiurgos e de pessoas que, presumidamente, possuam poderes divinos semelhantes aos de um presumido demiurgo. Enfim, não me lembro das palavras exatas, mas Max Heindel (1865 – 1919) disse mais ou menos que enquanto não nos libertarmos de pai, de mãe, de ascendentes, de descendentes, de mestres espirituais, de líderes de seitas religiosas, de deuses egregóricos, de demônios milenares, de rituais, enfim, de tudo, continuaremos a malhar em ferro frio, e, cada vez mais, ficaremos presos às nossas próprias ilusões. Bolas! Ninguém fará o serviço que cabe a cada um de nós fazer. Será que isto é assim tão difícil de ser compreendido? E por que só uma chance para fazer o serviço? Eu, que sou meio sem-vergonha, e que já passei pelo Período de Saturno, pelo Período Solar e pelo Período Lunar, já tive tantas, tantas, chances! Mas, acabei aprendendo, pelo menos, que a Perfeita Liberdade só existe, ainda que relativa, em nosso Coração. Esse ainda que relativa é que é de lascar!

 

 

Todos nós temos que encarnar;

isto não deixa de ser uma prisão.

Carecemos dormir e descansar;

isto é outra categoria de prisão.

 

 

Também precisamos de respirar.

Ora, isto também é uma prisão.

E necessitamos nos alimentar,

o que não deixa de ser prisão.

 

 

Entretanto, benfazejas prisões!

Como cicatrizaríamos a ferida

e como remiríamos os Corações

se houvesse tão-só uma vida?

 

 

Enfim, este trabalho – estruturado a partir de pesquisas feitas na Internet, de outras obras e de trabalhos anteriores que publiquei – que não pretende ser original e nada apresenta de original, meio que uma revisitação de coisas que já escrevi (o que não o destitui de algum préstimo, pois ensinar é repetir e repetir é ensinar), tão-somente examina, muito superficialmente, alguns aspectos básicos da passagem de Akhenaten sobre a Terra e daquilo que, salvo melhor entendimento, poderia ser considerado como sendo o seu monopoliteísmo místico. Seja como for, confessadamente, não sou religioso, mas, como Místico e Ateu, aceito, sem reservas, todos os princípios morais elevados de todas as religiões. Há Mandamento maior do que Não Matarás?

 

 

 

 

Relegere, Religere ou Religare?

 

 

 

 

Religião pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a Humanidade – por herança, por necessidade ou por ignorância – considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças. Portanto, religião é um culto prestado a uma divindade derivado da crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal. E assim, ao longo do tempo... Amon, Aton, Chu, Geb, Hathor, Hórus, Ísis, Néftis, Nut, Osíris, Rá, Seth, Tefnut , Tot, Anuket, Bes, Khnum, Hapi, Min, Meskhenet, Nefertum, Ptah, Satet, Sekhmet, Bastet, Iah, Mafdet, Montu, Nekhbet, Sobek, Uadjit, Anúbis, Imseti, Hapi, Duamutef, Kebehsenuef, Meretseguer, Serket, Sokar, Caos, Erebus, Gaia, Nix, Pontos, Tártaro, Urano, Atlas, Céos, Créos, Cronos, Febe, Hipérion, Jápeto, Mnemosyne, Oceanus, Prometeu, Réia, Téia, Tétis, Têmis, Afrodite, Apolo, Ares, Ártemis, Atena, Deméter, Dioniso, Éolo, Eros, Hades, Hefesto, Hera, Hermes, Héstia, Poseidon, Zeus, Anfitrite, Circe, Eos, Éris, Esculápio, Faetonte, Hebe, Hécate, Hélios, Hipnos, Io, Íris, Ismênia, Leto, Maya, Métis, Morfeu, Orion, Pan, Perséfone, Selene, Semele, Tânatos, Tífon, Angerona, Abeona, Aurora, Baco, Bellona, Caronte, Ceres, Céu, Cupido, Diana, Esculápio, Fama, Febo, Fortuna, Hora, Horas, Invidia, Iustitia, Jano, Juno, Júpiter, Líber, Libéria, Lupércio, Marte, Mercúrio, Minerva, Nemestrino, Netuno, Plutão, Proserpina, Quirino, Saturno, Vênus, Vesta, Vitória, Vulcano, Lúlio, Aegir, Alfadur, Balder, Borr, Bragi, Buri, Forseti, Frey, Freya, Frigga, Iduna, Jord, Loki, Mímir, Njord, Nornas, Odin, Ran, Saga, Thor, Tyr, Oxalá, Iemanjá, Oxum, Iansã, Ogum, Xangô, Brahma, Vishnu, Shiva, Ixchel, Ah Puch, Camazotz, Chac Mool, Huracan, Kukulcán, Acolmiztli, Acolnahuacatl, Acuecucyoticihuati, Amimitl, Atl, Atlacamani, Atlacoya, Atlatonin, Atlaua, Ayauhteotl, Camaxtli, Centeotl, Centzontotochtin, Centzonuitznaua, Chalchiuhtlatonal, Chalchiuhtlicue, Chalchiutotolin, Chalmecacihuilt, Chalmecatl, Chantico, Chicomecoatl, Chicomexochtli, Chiconahui, Chiconahuiehecatl, Cihuacoatl, Cipactli, Citlalatonac, Citlalicue, Ciucoatl, Ciuteoteo, Civatateo, Coatlicue, Cochimetl, Coyolxauhqui, Ehecatl, Huehueteotl, Huitzilopochtli, Huixtocihuatl, Ilmatecuhtli, Itzlacoliuhque, ItzliItzpapalotl, Ixtlilton, Iztaccihuatl, Macuilxochitl, Malinalxochi, Mayahuel, Metztli, Mextli, Mictlan, Mictlantecuhtli, Mixcoatl, Nagual, Nahual, Nanauatzin, Omacatl, Omecihuatl, Ometecuhtli, Ometeotl, Opochtli, Patecatl, Paynal, Popocatepetl, Quetzalcóatl, Tlalocan, Tecciztecatl, Teoyaomqui, Tepeyollotl, Teteoinnan, Tezcatlipoca, Titlacauan, Tlahuixcalpantecuhtli, Tlaloc, Tlaltecuhtli, Tlazolteotl, Tlillan-Tlapallan, Tloquenahuaque, Tonacacihuatl, Tonacatecuhtli, Tonantzin, Tonatiuh, Tzitzimime, Tzizimime, Toci, Ueuecoyotl, Xilonen, Xipe, Totec, Xiuhcoatl, Xiuhtecuhtli, Xochipilli, Xochiquetzal, Xocotl, Xolotl, Yacatecuhtli, Aqlla, Apu, Apu Catequil, Apu Illapu, Apu Punchaw, Ataguchu, Cavillaca, Chaska, Chaska Quyllur, Kuka Mama, Copacati, Iqiqu, Hanan Pacha, Waqas, Apu Inti, Ka-Ata-Killa, Kay Pacha, Kon, Mama Hallpa, Mama Qucha, Mama Uqllu, Mama Pacha, Mama Killa, Manco Capac, Unu Pacha Kuti, Pacha Kamaq, Paria Qaqa, Supay, Uku Pacha, Urcaguary, Vichama, Viracocha, Wichama, Sara Mama, Abacai, Andurá, Anhangá, Chandoré, Guaraci, Iara, Jaci, Sumé, Tupã, Rudá, Eru Ilúvatar etc.

 

A palavra religião foi usada durante séculos, particularmente no contexto cultural da Europa, marcado pela presença do Cristianismo, que se apropriou do termo latino religio (religionis). Em outras civilizações não existe uma palavra equivalente. O Hinduísmo antigo, por exemplo, utilizava a palavra rita, que apontava para a ordem cósmica do mundo, com a qual todos os seres deveriam estar harmonizados, e que também se referia à correta execução dos ritos pelos brâmanes. Mais tarde, o termo foi substuído por dharma, vocábulo que atualmente é também usado pelo Budismo e que exprime a idéia de uma lei divina e eterna, e seu significado espiritual pode ser considerado como o Caminho para a Verdade Superior.

 

Historicamente, foram propostas várias etimologias para a origem de religio. Marcus Tullius Cicero (106 a. C. – 43 a. C.), na sua obra De Natura Deorum (45 a. C.), afirma que o termo se refere a relegere, reler, sendo característico das pessoas religiosas prestarem muita atenção a tudo o que se relacionava com os deuses, relendo as escrituras. Esta proposta etimológica sublinha o carácter repetitivo do fenômeno religioso, bem como o aspecto intelectual. Mais tarde, o autor cristão Lucio Cecilio Firmiano Lactancio (240 d. C – 320 d. C) rejeitou a interpretação de Cícero e afirmou que o termo vem de religare, religar, ligar novamente ou ligar com mais segurança, argumentando que a religião é um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a Deus. Já no livro A Cidade de Deus Aurelius Augustinus (354 d. C. – 430 d. C.) afirmou que religio deriva de religere, reeleger. Através da religião, a Humanidade reelegia de novo a Deus, do qual se tinha separado. Mais tarde, na obra De Vera Religione, Augustinus retomou a interpretação de Lactancio, que via em religio uma relação com religare.

 

As diversas religiões do mundo são, de fato, muito diferentes entre si. Todavia, ainda assim é possível estabelecer uma característica em comum entre todas elas. É fato que toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente envolvendo divindades ou deuses. As religiões costumam também possuir relatos sobre a origem do Universo, da Terra e do homem, e o que acontece após a morte. A maior parte das religiões admite a vida após a morte, e é exatamente o pavor da morte que leva as pessoas a adotar uma religião, como se isto fosse uma espécie de passagem pré-adquirida ou de passaporte carimbado para o paraíso.

 

 

 

 

O Monopoliteísmo de Akhenaten

 

 

 

 

Akhenaten
(Neferkheperura Waenra Amenhotep IV)

 

 

 

Os antigos egípcios usaram vários nomes para se referirem à sua Terra. Um deles era KMT (ou Kemet), que quer dizer Terra Negra, designação que se aplicava especificamente ao território nas margens do Nilo e que aludia à terra negra e fértil trazida pelo Rio todos os anos, onde se plantava trigo, cevada e linho, e, portanto, o local de onde era retirado o sustento. KMT também é o nome pelo qual o Egito era conhecido pelos seus habitantes. Durante a sua longa história, o Egito conheceria três grandes períodos marcados pela estabilidade política, prosperidade econômica e florescimento artístico, intercalados por três períodos de decadência. Um desses períodos de prosperidade, designado como Império Novo, correspondeu a uma era cosmopolita durante a qual o Egito dominou, graças às campanhas militares do Faraó Tutmés III, uma área que se estendia desde Curgos (na Núbia, entre a quarta e quinta cataratas do Rio Nilo, tido como sagrado) até o rio Eufrates.

 

A história do Antigo Egito foi dividida pelos investigadores nos seguintes períodos:

Época Pré-dinástica e Proto-dinástica (4.500 a 3.000 a. C.).

Época Tinita ou Época Arcaica (3.000 a 2.660 a. C.): I e II dinastias.

Império Antigo (2.660 a 2.180 a.C): III a VI dinastias.

Primeiro Período Intermediário (2.180 a 2.040 a. C.): VII a XI dinastias.

Império Médio (2.040 a 1.780 a. C.): XII dinastia.

Segundo Período Intermediário (1.780 a 1.560 a. C.): XIII a XVII dinastias.

Império Novo (1.560 a 1.070 a. C.): XVIII a XX dinastias.

Terceiro Período Intermediário (1.070-664 a. C.): XXI a XXV dinastias.

Época Baixa (664 a 332 a. C.): XXVI a XXX dinastias.

Época Greco-romana: Período Ptolemaico (332 a 30 a. C.) e Domínio Romano (30 a. C. a 359 d. C.).

 

Foi no Império Novo (1.560 a 1.070 a. C.), na XVIII dinastia, que Amen-hotep IV, inicia uma revolução religiosa encaminhada no sentido do monoteísmo, na qual o culto deveria ser reservado a Aton, o Disco Solar. Este Faraó, cuja esposa foi a famosa Nefertiti, alterou o seu nome para Akhenaten1 (O Esplendor de Aton), e abandonando Tebas, fixa-se em uma nova capital mandada por si edificar, Akhetaton (Horizonte de Aton), a atual Amarna (por esta razão este conturbado período é designado como o Período de Amarna). Cosmicamente inspirado (desde jovem não lhe agradavam as atividades relacionadas com a caça e o manejo de armas), Akhenaten aboliu a adoração de ídolos e a multiplicidade de deuses então existentes, instaurando o culto a um só Deus, cuja manifestação física era representada pelo Sol (Aton, a Energia no interior do Disco) – o Símbolo da Vida e do Deus Verdadeiro – consoante as Doutrinas Secretas nas quais era Iniciado e das quais era depositário e profundo conhecedor.

 

A religião egípcia (não existiu propriamente uma religião entre os egípcios, no sentido contemporâneo da palavra, e a própria palavra religião não existia na língua egípcia) é tradicionalmente classificada como uma religião politeísta, conhecendo-se mais de duas mil divindades. Tratava-se de uma religião nacional, sem aspirações universais, que não era detentora de uma escritura sagrada. O mais importante na religiosidade egípcia não eram as crenças, mas o culto às divindades; assim, a religião egípcia preocupava-se mais com a ortopraxia2 do que com a ortodoxia3. Alguns deuses eram adorados localmente, enquanto outros assumiam um caráter nacional, sobretudo quando estavam associados com determinada dinastia.

 

Os deuses eram ordenados e hierarquizados em grupos. O agrupamento básico era em três deuses, em geral um casal e o seu filho ou filha (tríade). Assim, por exemplo, a tríade da cidade de Tebas era composta por Amon, Mut e Khonsu. Os agrupamentos de divindades mais importantes foram a Enéade de Heliópolis e a Ogdóade de Hermópolis, que eram acompanhados por um relato sobre a criação do mundo.

 

As representações dos deuses poderiam ser antropomórficas (forma humana), zoomórficas (forma de animal) ou uma combinação de ambas. Contudo, os egípcios em momento algum acreditaram, por exemplo, que o Deus Hórus, muitas vezes representado com um homem com cabeça de falção, tivesse de fato aquele aspecto, como que metamorfizado. A associação dos deuses com determinados animais relacionava-se com a atribuição ao deus de uma característica desse animal (no caso de Hórus, a rapidez do falcão).

 

Os templos no Antigo Egipto eram a morada da Divindade na Terra. Ao contrário dos templos religiosos de hoje em dia, eles não eram acessíveis às pessoas comuns: apenas poderiam penetrar nas suas regiões mais sagradas, o faraó e os sacerdotes. Cada templo era dedicado a uma Divindade, e no seu interior achava-se a estátua dessa divindade guardada no naos4; diariamente a estátua era lavada, perfumada, maquilhada e alimentada pelos sacerdotes. Em determinadas épocas do ano, a estátua saía do templo em uma procissão, à qual a população assistia; durante o percurso atuavam músicos e cantores.

 

Os antigos egípcios acreditaram em uma vida para além da morte, mas não estavam preocupados com a reencarnação. Em princípio, esta vida estava apenas acessível ao rei, mas após o Primeiro Período Intermediário esta concepção alargou-se a toda a população. Para aceder a esta vida, era essencial que o corpo do defunto fosse preservado, razão pela qual se praticou a mumificação. Segundo as crenças egípcias antigas, para se conseguir a vida eterna, o morto deveria mostrar que não tinha pecados. Então, depois de morto, seu Coração era colocado em uma balança, tendo de se equilibrar com a pena da verdade. Caso tivesse sucesso, o morto seria julgado puro. Caso não, seria levado à destruição eterna.

 

Voltando a Akhenaten, a grande inovação geral e publicamente anunciada foi a mudança do culto ao Sol, como mais um deus entre diversos deuses que pululavam no Egito antigo, para o culto de um incomparável e único Deus (im)pessoal simbolizado pelo Sol físico, pois Akhenaten estava absolutamente cônscio de que todos os caminhos se abrem à chegada de Aton, conforme Ele deixou escrito em seu Grande Hino a Aton. Este fato enfureceu os seguidores da velha religião, mas, timidamente, deu sustentação ao começo do monoteísmo (ainda que haja defensores da idéia de que Akhenaten fosse henoteísta, isto é, cultuasse uma única divindade, considerada suprema, mas não negando a existência de outros deuses) e à origem da admissibilidade e da adoração de uma Divindade real, espiritual, não-terreal, exclusiva, existente por Si e presente em tudo e em todos, ainda que em potência e oculta em cada ser, dependendo, por isso mesmo, de cada um transformá-La conscientemente no Mestre-Deus de seu Coração, coisa que só era ensinada aos Altos Iniciados de sua Fraternidade, pois o povo, em geral, ainda não estava preparado para esta suprema, consciente, responsável e irreversível aventura, ainda que, Akhenaten soubesse que tudo, para todos, sem exceção, deveria acontecer normal, progressiva e ascensionalmente no Coração. Mas, para se fazer uma fritada de ovos é preciso quebrar os ovos. Em outras palavras: antes de o candidato poder conhecer os Mistérios Maiores (que, como disse Annie Besant, jamais serão publicados em livros e só podem ser transmitidos de Mestre a discípulo) é preciso que o postulante tenha sido aprovado nos Mistérios Menores. Logo, é fácil de se perceber que a nova 'Religião' de Akhenaten era, por assim dizer, dividida em dois segmentos programáticos: um público, para o povo, com uma idéia de Deus exotérica, sendo o Disco Solar a representação física de Aton; outro privado, para os Iniciados, com uma idéia de Deus esotérica, mas própria, particular e meritória de cada Iniciado. Daí o que, talvez e salvo melhor juízo, possa ser considerado ou interpretado como o sábio e tolerante monopoliteísmo de Akhenaten, ainda que o Faraó fosse, in Corde, um Ateu Monoteísta, e que, como já foi dito, tenha abolido a adoração antropomórfica e supersticiosa de ídolos e a multiplicidade de deuses então existentes. Akhenaten sabia que mesmo a avançada concepção monoteística por ele proposta não poderia jamais produzir uma visualização generalizada de um Deus único. Em outras palavras isto significa que a idéia pode ser monoteísta, mas a realização é pessoal, o que, invariavelmente, se traduz em um politeísmo monoteísta ou monopoliteísmo, o que é inteiramente distinto de henoteísmo.

 

Por outro lado, todos os Místicos, no fundo, são meio que monopoliteístas, pois, na realidade, à medida que vão sendo infundidos e inspirados pela Consciência Cósmica, vão transmutando interiormente o conceito-idéia que têm de Deus, até que ocorra – quando ocorre! – a Suprema Compreensão Atéia Iniciático-Monoteísta de que só há um Deus: o Deus de nossos Corações, que dorme e que precisa ser acordado, que existe em potência e que precisa ser transformado em ato, que aguarda em Silêncio para ser edificado, isto porque ex nihilo nihil fit (nada vem do nada), ou seja: nada pode vir a existir do nada, e nada que existe pode se transformar em nada. Enfim, o fato é que, pelo mérito – exclusivamente pelo mérito – os catecúmenos de Khem poderiam, no tempo próprio, cruzar, Câmara por Câmara, o Umbral do Templo. Para que um neófito se tornasse um Illuminado da 'Religião' de Khem deveria conquistar, por esforço pessoal, esse Sagrado Privilégio. Sagrado Privilégio que não embutia qualquer preconceito-diferença entre homens e mulheres. Não havia, assim, um caminho peregrinante para o homem e um outro caminho peregrinante, diferente, para a mulher. As diferenças existentes entre os diversos seres estão apenas no nível ou grau de compreensão da Coisa Cósmica, e, portanto, da própria idéia de Deus. Este é mais um argumento em favor no monopoliteísmo de Akhenaten, como como sói acontecer, ainda hoje, em todas as fraternidades místico-iniciáticas, pois, uma coisa é o que é estudado nos documentos privados e individuais, e outra é o que realizam interiormente os estudantes. No frigir dos ovos, de duas uma: ou caminhamos, ao logo da vida, de um monopoliteísmo multifacetado para um monoteísmo singular5, ou somos ou nos tornamos ateus. Como já tive oportunidade de afirmar em textos anteriores, eu e o Deus do meu Coração nos classificamos como Ateus Místicos Monoteístas.

 

Estava, desta forma, consumado o primeiro sinal das futuras religiões ocidentais, ainda que todas, de maneira geral, nunca tenham tido a dignidade de dizer que copiaram esta idéia de Akhenaten. Aliás, como todo mundo sabe, o que mais caracteriza todas as religiões hoje existentes é o sincretismo, isto é, fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com reinterpretação de seus elementos. E de reinterpretação em reinterpretação, o que se vê hoje, abastardada e generalizadamente, são os conhecidos negócios com Deus. Toma-lá uns tico-ticos e me dá-cá-já meu joão-da-cruz. O Evangelho de São Mateus, XXV, 12 e 13, simbolicamente adverte: Em verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora. E no Evangelho de São Lucas, XVII, 37 pode ser lido: Onde quer que estiver o corpo, ajuntar-se-ão aí também as águias. E, neste mesmo Evangelho, em XIII, 27, está escrito: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniqüidades. Estas três passagens são profundamente místicas e, portanto, devem ser lidas misticamente. Ai daquele que vender em nome de Deus; ai daquele que hipoteticamente comprar em nome de Deus. Ai daquele que espoliar em nome de Deus; ai daquele que hipoteticamente se deixar espoliar em nome de Deus. Ai daquele que se apresentar como um intermediário de Deus; ai daquele que hipoteticamente se submeter a hipócritas e iníquos intermediários de Deus.

 

Mas, como já foi visto, no bojo das reformas que Akhenaten encetou, desencorajou o culto aos deuses vigentes e tornou inócuas as obras que seu pai – Amenhotep III – havia feito erigir em Luxor e em Karnak, ali construídas tão-só para apaziguar a casta sacerdotal, que não queria abdicar de Amon, e, muito menos, ver diminuídos seus poderes e privilégios. Igualzinho como hoje! Também mudou seu nome original – que significa Amon Está Satisfeito – para o simbólico Akhenaten (ou Ikhnaten) – a Glória de Aton. Abandonou Tebas e construiu novos edifícios e um Templo em forma de cruz em El Amarna (Akhetaten – Horizonte do Sol – dedicada à Eterna LLuz e à reverente comunhão com a Natureza), a mais ou menos 300 km ao sul de Heliópolis. Sâr Alden informa que no quinto ano de seu reinado, através de um Decreto Real, uma radical reforma em todo o Egito aconteceu, tendo sido proibida qualquer forma de culto, com exceção da adoração de uma Única Deidade Espiritual que existia em toda parte e em todas as coisas, mas não possuía origem [física] terrena. Em um de seus Decretos Reais, inab-rogavelmente, estava selado: Este é o meu Juramento de Verdade que desejo pronunciar e do qual jamais direi que seja falso.

 

 

Propostas de Layout para Akhetaten

 

 

 

 

Considerações Finais

 

 

 

 

Akhenaten viveu em Verdade (Maat) até partir para o Eterno Oriente. A Sagrada Ankh foi por ele introduzida, e todos os membros da Organização usavam-na como símbolo iniciático. Foi nessa época que surgiu o monasticismo, pois, nos limites da Cidade de Akhetaten, 296 (duzentos e noventa e seis) irmãos da Ordem viviam sob juramento de não se afastar da sombra do Templo. (Há uma oculta relação entre 17, 153, 296 e a própria Tetractys Pitagórica.) Na realidade, esses Irmãos compunham a linha de frente – a infantaria, por assim dizer – para que seu Faraó pudesse levar a bom termo a Missão Sagrada de que estava incumbido.

 

Entusiasmado e voltado quase exclusivamente para os temas espirituais, revela sua biografia, Akhenaten desinteressou-se, em parte, dos seus afazeres administrativos, e não enfrentou politicamente, com a reclamada energia, o momento histórico que vivia seu País. Traições auxiliaram a piorar as coisas. Sua saúde começou a decair, vindo a passar pela Transição, volitiva e Iniciaticamente, em 24 de julho de 1350 a. C., com vinte e oito anos incompletos. Como Buddha, Jesus e todos os demais representantes cósmicos do Logos Solar vivenciou heróica e conscientemente seu Gethsemane. Historicamente se sabe que ali também houve covardias, defecções e infidelidades. A forma exata e rigorosa e a repercussão planetária de sua excepcional Grande Iniciação só são conhecidas dos Iniciados dos Altos Graus das Fraternidades Autênticas. Uma Vontade, uma postura corporal específica e Três Palavras...

 

 

 



 

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Notas:

1. A Proclamação do Faraó Solar Amenhotep IV pelo Supremo Conselho como Mestre ocorreu em 9 de abril de 1365 a.C., no Templo de Luxor, em presença de toda a família real e de sua futura esposa, Nefertiti (A Bela que veio).

2. Ortopraxia (uma prática certa) diferente de ortodoxia (uma fé certa). A ortopraxia deve ser entendida como um conjunto de técnicas e de credos que faz parte de uma determinada tradição, de técnicas e de credos que são passados de geração para geração e mantidos sem alterações.

3. Ortodoxia: caráter ou condição de ortodoxo (que professa padrões, normas ou dogmas estabelecidos e tradicionais); conformidade absoluta com um determinado padrão, norma ou dogma; interpretação, doutrina ou sistema teológico implantado como único e verdadeiro por uma religião; dogmatismo religioso; intolerância com relação ao que é novo e diferente.

4. Naos (do grego – templo) ou cella (do latim – espaço pequeno) era o espaço do templo reservado à estátua da divindade.

5. Isto porque, de uma forma ou de outra, acreditar em um único Deus e, ao mesmo tempo, invocar demiurgos, guias espirituais, santos, anjos, arcanjos et cetera é ainda uma forma de monopoliteísmo. Um monoteísmo puro admite apenas a existência de um Deus como Entidade Suprema, e nada mais, ainda que, na maioria dos casos, esta admissibilidade embuta, um pouco mais ou um pouco menos, um certo grau de antropomorfização e de fantasia henoteísta.

 

Bibliografia:

ANTIGA E MISTICA ORDEM ROSÆ CRUCIS (Paraná). A história da AMORC na jurisdição de língua portuguesa. AMORC-GLP, Curitiba, Paraná, 2000.

LEWIS, H. Spencer. Preguntas y respuestas rosacruces con la historia completa de la Orden Rosacruz. 5ª ed. Japón: Gran Logia Suprema de AMORC, 1966.

_______. Manual rosacruz. Brasil: Suprema Grande Loja da AMORC, 1964.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://catzappin.com/amarna/knowledge-state-of.asp

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http://www.britannica.com/ebc/art-4176/
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Fundo musical:

Estrellas de la Mar (Daniel Signer)

Fonte:

http://www.miditrax.com/Feb2000.htm