Precisamos,
um dia, todos nós, ficar livres de demiurgos e de pessoas que, presumidamente,
possuam poderes divinos semelhantes aos de um presumido demiurgo. Enfim,
não me lembro das palavras exatas, mas Max Heindel (1865 –
1919) disse mais ou menos que enquanto não nos libertarmos de pai,
de mãe, de ascendentes, de descendentes, de mestres espirituais,
de líderes de seitas religiosas, de deuses egregóricos, de
demônios milenares, de rituais, enfim, de tudo, continuaremos a malhar
em ferro frio, e, cada vez mais, ficaremos presos às nossas próprias
ilusões. Bolas! Ninguém fará o serviço que cabe
a cada um de nós fazer. Será que isto é assim tão
difícil de ser compreendido? E por que só uma chance para
fazer o serviço? Eu, que sou meio sem-vergonha, e que já passei
pelo Período de Saturno, pelo Período Solar e pelo Período
Lunar, já tive tantas, tantas, chances! Mas, acabei aprendendo, pelo
menos, que a Perfeita Liberdade só existe, ainda que relativa, em
nosso Coração. Esse ainda que relativa é que
é de lascar!
Todos
nós temos que encarnar;
isto
não deixa de ser uma prisão.
Carecemos
dormir e descansar;
isto
é outra categoria de prisão.
Também
precisamos de respirar.
Ora,
isto também é uma prisão.
E
necessitamos nos alimentar,
o
que não deixa de ser prisão.
Entretanto,
benfazejas prisões!
Como
cicatrizaríamos a ferida
e
como remiríamos os Corações
se
houvesse tão-só uma vida?
Enfim,
este trabalho – estruturado a partir de pesquisas feitas na Internet,
de outras obras e de trabalhos anteriores que publiquei – que não
pretende ser original e nada apresenta de original, meio que uma revisitação
de coisas que já escrevi (o que não o destitui de algum préstimo,
pois ensinar é repetir e repetir é ensinar), tão-somente
examina, muito superficialmente, alguns aspectos básicos da passagem
de Akhenaten sobre a Terra e daquilo que, salvo melhor entendimento, poderia
ser considerado como sendo o seu monopoliteísmo místico. Seja
como for, confessadamente, não sou religioso, mas, como Místico
e Ateu, aceito, sem reservas, todos os princípios morais elevados
de todas as religiões. Há Mandamento maior do que Não
Matarás?
Relegere,
Religere ou Religare?
Religião
pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo
que a Humanidade – por herança, por necessidade ou por ignorância
– considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem
como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.
Portanto, religião é um culto prestado a uma divindade derivado
da crença na existência de um ente supremo como causa, fim
ou lei universal. E assim, ao longo do tempo... Amon, Aton, Chu, Geb, Hathor,
Hórus, Ísis, Néftis, Nut, Osíris, Rá,
Seth, Tefnut , Tot, Anuket, Bes, Khnum, Hapi, Min, Meskhenet, Nefertum,
Ptah, Satet, Sekhmet, Bastet, Iah, Mafdet, Montu, Nekhbet, Sobek, Uadjit,
Anúbis, Imseti, Hapi, Duamutef, Kebehsenuef, Meretseguer, Serket,
Sokar, Caos, Erebus, Gaia, Nix, Pontos, Tártaro, Urano, Atlas, Céos,
Créos, Cronos, Febe, Hipérion, Jápeto, Mnemosyne, Oceanus,
Prometeu, Réia, Téia, Tétis, Têmis, Afrodite,
Apolo, Ares, Ártemis, Atena, Deméter, Dioniso, Éolo,
Eros, Hades, Hefesto, Hera, Hermes, Héstia, Poseidon, Zeus, Anfitrite,
Circe, Eos, Éris, Esculápio, Faetonte, Hebe, Hécate,
Hélios, Hipnos, Io, Íris, Ismênia, Leto, Maya, Métis,
Morfeu, Orion, Pan, Perséfone, Selene, Semele, Tânatos, Tífon,
Angerona, Abeona, Aurora, Baco, Bellona, Caronte, Ceres, Céu, Cupido,
Diana, Esculápio, Fama, Febo, Fortuna, Hora, Horas, Invidia, Iustitia,
Jano, Juno, Júpiter, Líber, Libéria, Lupércio,
Marte, Mercúrio, Minerva, Nemestrino, Netuno, Plutão, Proserpina,
Quirino, Saturno, Vênus, Vesta, Vitória, Vulcano, Lúlio,
Aegir, Alfadur, Balder, Borr, Bragi, Buri, Forseti, Frey, Freya, Frigga,
Iduna, Jord, Loki, Mímir, Njord, Nornas, Odin, Ran, Saga, Thor, Tyr,
Oxalá, Iemanjá, Oxum, Iansã, Ogum, Xangô, Brahma,
Vishnu, Shiva, Ixchel, Ah Puch, Camazotz, Chac Mool, Huracan, Kukulcán,
Acolmiztli, Acolnahuacatl, Acuecucyoticihuati, Amimitl, Atl, Atlacamani,
Atlacoya, Atlatonin, Atlaua, Ayauhteotl, Camaxtli, Centeotl, Centzontotochtin,
Centzonuitznaua, Chalchiuhtlatonal, Chalchiuhtlicue, Chalchiutotolin, Chalmecacihuilt,
Chalmecatl, Chantico, Chicomecoatl, Chicomexochtli, Chiconahui, Chiconahuiehecatl,
Cihuacoatl, Cipactli, Citlalatonac, Citlalicue, Ciucoatl, Ciuteoteo, Civatateo,
Coatlicue, Cochimetl, Coyolxauhqui, Ehecatl, Huehueteotl, Huitzilopochtli,
Huixtocihuatl, Ilmatecuhtli, Itzlacoliuhque, ItzliItzpapalotl, Ixtlilton,
Iztaccihuatl, Macuilxochitl, Malinalxochi, Mayahuel, Metztli, Mextli, Mictlan,
Mictlantecuhtli, Mixcoatl, Nagual, Nahual, Nanauatzin, Omacatl, Omecihuatl,
Ometecuhtli, Ometeotl, Opochtli, Patecatl, Paynal, Popocatepetl, Quetzalcóatl,
Tlalocan, Tecciztecatl, Teoyaomqui, Tepeyollotl, Teteoinnan, Tezcatlipoca,
Titlacauan, Tlahuixcalpantecuhtli, Tlaloc, Tlaltecuhtli, Tlazolteotl, Tlillan-Tlapallan,
Tloquenahuaque, Tonacacihuatl, Tonacatecuhtli, Tonantzin, Tonatiuh, Tzitzimime,
Tzizimime, Toci, Ueuecoyotl, Xilonen, Xipe, Totec, Xiuhcoatl, Xiuhtecuhtli,
Xochipilli, Xochiquetzal, Xocotl, Xolotl, Yacatecuhtli, Aqlla, Apu, Apu
Catequil, Apu Illapu, Apu Punchaw, Ataguchu, Cavillaca, Chaska, Chaska Quyllur,
Kuka Mama, Copacati, Iqiqu, Hanan Pacha, Waqas, Apu Inti, Ka-Ata-Killa,
Kay Pacha, Kon, Mama Hallpa, Mama Qucha, Mama Uqllu,
Mama Pacha, Mama Killa, Manco Capac, Unu Pacha Kuti, Pacha Kamaq, Paria
Qaqa, Supay, Uku Pacha, Urcaguary, Vichama, Viracocha, Wichama, Sara Mama,
Abacai, Andurá, Anhangá, Chandoré, Guaraci, Iara, Jaci,
Sumé, Tupã, Rudá, Eru Ilúvatar etc.
A
palavra religião foi usada durante séculos, particularmente
no contexto cultural da Europa, marcado pela presença do Cristianismo,
que se apropriou do termo latino religio (religionis).
Em outras civilizações não existe uma palavra equivalente.
O Hinduísmo antigo, por exemplo, utilizava a palavra rita,
que apontava para a ordem cósmica do mundo, com a qual todos os seres
deveriam estar harmonizados, e que também se referia à correta
execução dos ritos pelos brâmanes. Mais tarde, o termo
foi substuído por dharma, vocábulo que atualmente
é também usado pelo Budismo e que exprime a idéia de
uma lei divina e eterna, e seu significado espiritual pode ser considerado
como o Caminho para a Verdade Superior.
Historicamente,
foram propostas várias etimologias para a origem de religio.
Marcus Tullius Cicero (106 a. C. – 43 a. C.), na sua obra De Natura
Deorum (45 a. C.), afirma que o termo se refere a relegere,
reler, sendo característico das pessoas religiosas prestarem muita
atenção a tudo o que se relacionava com os deuses, relendo
as escrituras. Esta proposta etimológica sublinha o carácter
repetitivo do fenômeno religioso, bem como o aspecto intelectual.
Mais tarde, o autor cristão Lucio Cecilio Firmiano Lactancio (240
d. C – 320 d. C) rejeitou a interpretação de Cícero
e afirmou que o termo vem de religare, religar, ligar novamente
ou ligar com mais segurança, argumentando que a religião é
um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a Deus.
Já no livro A Cidade de Deus Aurelius Augustinus (354 d.
C. – 430 d. C.) afirmou que religio deriva de religere,
reeleger. Através da religião, a Humanidade reelegia de novo
a Deus, do qual se tinha separado. Mais tarde, na obra De Vera Religione,
Augustinus retomou a interpretação de Lactancio, que via em
religio uma relação com religare.
As
diversas religiões do mundo são, de fato, muito diferentes
entre si. Todavia, ainda assim é possível estabelecer uma
característica em comum entre todas elas. É fato que toda
religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente
envolvendo divindades ou deuses. As religiões costumam também
possuir relatos sobre a origem do Universo, da Terra e do homem, e o que
acontece após a morte. A maior parte das religiões admite
a vida após a morte, e é exatamente o pavor da morte que leva
as pessoas a adotar uma religião, como se isto fosse uma espécie
de passagem pré-adquirida ou de passaporte carimbado para o paraíso.
O
Monopoliteísmo de Akhenaten
Akhenaten
(Neferkheperura Waenra Amenhotep IV)
Os
antigos egípcios usaram vários nomes para se referirem à
sua Terra. Um deles era KMT (ou Kemet), que quer dizer Terra Negra, designação
que se aplicava especificamente ao território nas margens do Nilo
e que aludia à terra negra e fértil trazida pelo Rio todos
os anos, onde se plantava trigo, cevada e linho, e, portanto, o local de
onde era retirado o sustento. KMT também é o nome pelo qual
o Egito era conhecido pelos seus habitantes. Durante a sua longa história,
o Egito conheceria três grandes períodos marcados pela estabilidade
política, prosperidade econômica e florescimento artístico,
intercalados por três períodos de decadência. Um desses
períodos de prosperidade, designado como Império Novo, correspondeu
a uma era cosmopolita durante a qual o Egito dominou, graças às
campanhas militares do Faraó Tutmés III, uma área que
se estendia desde Curgos (na Núbia, entre a quarta e quinta cataratas
do Rio Nilo, tido como sagrado) até o rio Eufrates.
A
história do Antigo Egito foi dividida pelos investigadores nos seguintes
períodos:
Época
Pré-dinástica e Proto-dinástica (4.500 a 3.000 a. C.).
Época Tinita ou Época Arcaica (3.000 a 2.660 a. C.): I e II
dinastias.
Império Antigo (2.660 a 2.180 a.C): III a VI dinastias.
Primeiro Período Intermediário (2.180 a 2.040 a. C.): VII
a XI dinastias.
Império Médio (2.040 a 1.780 a. C.): XII dinastia.
Segundo Período Intermediário (1.780 a 1.560 a. C.): XIII
a XVII dinastias.
Império Novo (1.560 a 1.070 a. C.): XVIII a XX dinastias.
Terceiro Período Intermediário (1.070-664 a. C.): XXI a XXV
dinastias.
Época Baixa (664 a 332 a. C.): XXVI a XXX dinastias.
Época Greco-romana: Período Ptolemaico (332 a 30 a. C.) e
Domínio Romano (30 a. C. a 359 d. C.).
Foi
no Império Novo (1.560 a 1.070 a. C.), na XVIII dinastia, que Amen-hotep
IV, inicia uma revolução religiosa encaminhada no sentido
do monoteísmo, na qual o culto deveria ser reservado a Aton, o Disco
Solar. Este Faraó, cuja esposa foi a famosa Nefertiti, alterou o
seu nome para Akhenaten1 (O Esplendor de Aton), e abandonando
Tebas, fixa-se em uma nova capital mandada por si edificar, Akhetaton (Horizonte
de Aton), a atual Amarna (por esta razão este conturbado período
é designado como o Período de Amarna). Cosmicamente inspirado
(desde jovem não lhe agradavam as atividades relacionadas com a caça
e o manejo de armas), Akhenaten aboliu a adoração de ídolos
e a multiplicidade de deuses então existentes, instaurando o culto
a um só Deus, cuja manifestação física era representada
pelo Sol (Aton, a Energia no interior do Disco) – o Símbolo
da Vida e do Deus Verdadeiro – consoante as Doutrinas Secretas nas
quais era Iniciado e das quais era depositário e profundo conhecedor.
A
religião egípcia (não existiu propriamente uma religião
entre os egípcios, no sentido contemporâneo da palavra, e a
própria palavra religião não existia na língua
egípcia) é tradicionalmente classificada como uma religião
politeísta, conhecendo-se mais de duas mil divindades. Tratava-se
de uma religião nacional, sem aspirações universais,
que não era detentora de uma escritura sagrada. O mais importante
na religiosidade egípcia não eram as crenças, mas o
culto às divindades; assim, a religião egípcia preocupava-se
mais com a ortopraxia2 do que com a ortodoxia3. Alguns
deuses eram adorados localmente, enquanto outros assumiam um caráter
nacional, sobretudo quando estavam associados com determinada dinastia.
Os
deuses eram ordenados e hierarquizados em grupos. O agrupamento básico
era em três deuses, em geral um casal e o seu filho ou filha (tríade).
Assim, por exemplo, a tríade da cidade de Tebas era composta por
Amon, Mut e Khonsu. Os agrupamentos de divindades mais importantes foram
a Enéade de Heliópolis e a Ogdóade de Hermópolis,
que eram acompanhados por um relato sobre a criação do mundo.
As
representações dos deuses poderiam ser antropomórficas
(forma humana), zoomórficas (forma de animal) ou uma combinação
de ambas. Contudo, os egípcios em momento algum acreditaram, por
exemplo, que o Deus Hórus, muitas vezes representado com um homem
com cabeça de falção, tivesse de fato aquele aspecto,
como que metamorfizado. A associação dos deuses com determinados
animais relacionava-se com a atribuição ao deus de uma característica
desse animal (no caso de Hórus, a rapidez do falcão).
Os
templos no Antigo Egipto eram a morada da Divindade na Terra. Ao contrário
dos templos religiosos de hoje em dia, eles não eram acessíveis
às pessoas comuns: apenas poderiam penetrar nas suas regiões
mais sagradas, o faraó e os sacerdotes. Cada templo era dedicado
a uma Divindade, e no seu interior achava-se a estátua dessa divindade
guardada no naos4; diariamente a estátua era
lavada, perfumada, maquilhada e alimentada pelos sacerdotes. Em determinadas
épocas do ano, a estátua saía do templo em uma procissão,
à qual a população assistia; durante o percurso atuavam
músicos e cantores.
Os
antigos egípcios acreditaram em uma vida para além da morte,
mas não estavam preocupados com a reencarnação. Em
princípio, esta vida estava apenas acessível ao rei, mas após
o Primeiro Período Intermediário esta concepção
alargou-se a toda a população. Para aceder a esta vida, era
essencial que o corpo do defunto fosse preservado, razão pela qual
se praticou a mumificação. Segundo
as crenças egípcias antigas, para se conseguir a vida eterna,
o morto deveria mostrar que não tinha pecados. Então, depois
de morto, seu Coração era colocado em uma balança,
tendo de se equilibrar com a pena da verdade. Caso tivesse sucesso,
o morto seria julgado puro. Caso não, seria levado à destruição
eterna.
Voltando
a Akhenaten, a grande inovação geral e publicamente anunciada
foi a mudança do culto ao Sol, como mais um deus entre diversos deuses
que pululavam no Egito antigo, para o culto de um incomparável e
único Deus (im)pessoal simbolizado pelo Sol físico, pois Akhenaten
estava absolutamente cônscio de que todos os caminhos se abrem à
chegada de Aton, conforme Ele deixou escrito em seu Grande Hino a Aton.
Este fato enfureceu os seguidores da velha religião, mas, timidamente,
deu sustentação ao começo do monoteísmo (ainda
que haja defensores da idéia de que Akhenaten fosse henoteísta,
isto é, cultuasse uma única divindade, considerada suprema,
mas não negando a existência de outros deuses) e à origem
da admissibilidade e da adoração de uma Divindade real, espiritual,
não-terreal, exclusiva, existente por Si e presente em tudo e em
todos, ainda que em potência e oculta em cada ser, dependendo, por
isso mesmo, de cada um transformá-La conscientemente no Mestre-Deus
de seu Coração, coisa que só era ensinada aos Altos
Iniciados de sua Fraternidade, pois o povo, em geral, ainda não estava
preparado para esta suprema, consciente, responsável e irreversível
aventura, ainda que, Akhenaten soubesse que tudo, para todos, sem exceção,
deveria acontecer normal, progressiva e ascensionalmente no Coração.
Mas, para se fazer uma fritada de ovos é preciso quebrar os ovos.
Em outras palavras: antes de o candidato poder conhecer os Mistérios
Maiores (que, como disse Annie Besant, jamais serão publicados
em livros e só podem ser transmitidos de Mestre a discípulo)
é preciso que o postulante tenha sido aprovado nos Mistérios
Menores. Logo, é fácil de se perceber que a nova 'Religião'
de Akhenaten era, por assim dizer, dividida em dois segmentos programáticos:
um público, para o povo, com uma idéia de Deus exotérica,
sendo o Disco Solar a representação física de Aton;
outro privado, para os Iniciados, com uma idéia de Deus esotérica,
mas própria, particular e meritória de cada Iniciado. Daí
o que, talvez e salvo melhor juízo, possa ser considerado ou interpretado
como o sábio e tolerante monopoliteísmo de Akhenaten, ainda
que o Faraó fosse, in Corde, um Ateu Monoteísta,
e que, como já foi dito, tenha abolido a adoração antropomórfica
e supersticiosa de ídolos e a multiplicidade de deuses então
existentes. Akhenaten sabia que mesmo a avançada concepção
monoteística por ele proposta não poderia jamais produzir
uma visualização generalizada de um Deus único. Em
outras palavras isto significa que a idéia pode ser monoteísta,
mas a realização é pessoal, o que, invariavelmente,
se traduz em um politeísmo monoteísta ou monopoliteísmo,
o que é inteiramente distinto de henoteísmo.
Por
outro lado, todos os Místicos, no fundo, são meio que monopoliteístas,
pois, na realidade, à medida que vão sendo infundidos e inspirados
pela Consciência Cósmica, vão transmutando interiormente
o conceito-idéia que têm de Deus, até que ocorra –
quando ocorre! – a Suprema Compreensão Atéia Iniciático-Monoteísta
de que só há um Deus: o Deus de nossos Corações,
que dorme e que precisa ser acordado, que existe em potência e que
precisa ser transformado em ato, que aguarda em Silêncio para ser
edificado, isto porque ex nihilo nihil fit (nada vem do nada),
ou seja: nada pode vir a existir do nada, e nada que existe pode se transformar
em nada. Enfim, o fato é que, pelo mérito – exclusivamente
pelo mérito – os catecúmenos de Khem poderiam, no tempo
próprio, cruzar, Câmara por Câmara, o Umbral do Templo.
Para que um neófito se tornasse um Illuminado da 'Religião'
de Khem deveria conquistar, por esforço pessoal, esse Sagrado Privilégio.
Sagrado Privilégio que não embutia qualquer preconceito-diferença
entre homens e mulheres. Não havia, assim, um caminho peregrinante
para o homem e um outro caminho peregrinante, diferente, para a mulher.
As diferenças existentes entre os diversos seres estão apenas
no nível ou grau de compreensão da Coisa Cósmica, e,
portanto, da própria idéia de Deus. Este é mais um
argumento em favor no monopoliteísmo de Akhenaten, como como sói
acontecer, ainda hoje, em todas as fraternidades místico-iniciáticas,
pois, uma coisa é o que é estudado nos documentos privados
e individuais, e outra é o que realizam interiormente os estudantes.
No frigir dos ovos, de duas uma: ou caminhamos, ao logo da vida, de um monopoliteísmo
multifacetado para um monoteísmo singular5, ou somos ou
nos tornamos ateus. Como já tive oportunidade de afirmar em textos
anteriores, eu e o Deus do meu Coração nos classificamos como
Ateus Místicos Monoteístas.
Estava,
desta forma, consumado o primeiro sinal das futuras religiões ocidentais,
ainda que todas, de maneira geral, nunca tenham tido a dignidade de dizer
que copiaram esta idéia de Akhenaten. Aliás, como todo mundo
sabe, o que mais caracteriza todas as religiões hoje existentes é
o sincretismo, isto é, fusão de diferentes cultos ou doutrinas
religiosas, com reinterpretação de seus elementos. E de reinterpretação
em reinterpretação, o que se vê hoje, abastardada e
generalizadamente, são os conhecidos negócios com Deus. Toma-lá
uns tico-ticos e me dá-cá-já meu joão-da-cruz.
O Evangelho de São Mateus, XXV, 12 e 13, simbolicamente
adverte: Em verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai,
pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora. E no Evangelho
de São Lucas, XVII, 37 pode ser lido: Onde quer que estiver
o corpo, ajuntar-se-ão aí também as águias.
E, neste mesmo Evangelho, em XIII, 27, está escrito:
Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós
todos os que praticais iniqüidades. Estas três passagens
são profundamente místicas e, portanto, devem ser lidas misticamente.
Ai daquele que vender em nome de Deus; ai daquele que hipoteticamente comprar
em nome de Deus. Ai daquele que espoliar em nome de Deus; ai daquele que
hipoteticamente se deixar espoliar em nome de Deus. Ai daquele que se apresentar
como um intermediário de Deus; ai daquele que hipoteticamente se
submeter a hipócritas e iníquos intermediários de Deus.
Mas,
como já foi visto, no bojo das reformas que Akhenaten encetou, desencorajou
o culto aos deuses vigentes e tornou inócuas as obras que seu pai
– Amenhotep III – havia feito erigir em Luxor e em Karnak, ali
construídas tão-só para apaziguar a casta sacerdotal,
que não queria abdicar de Amon, e, muito menos, ver diminuídos
seus poderes e privilégios. Igualzinho como hoje! Também mudou
seu nome original – que significa Amon Está Satisfeito –
para o simbólico Akhenaten (ou Ikhnaten) – a Glória
de Aton. Abandonou Tebas e construiu novos edifícios e um Templo
em forma de cruz em El Amarna (Akhetaten – Horizonte do Sol –
dedicada à Eterna LLuz e à reverente comunhão
com a Natureza), a mais ou menos 300 km ao sul de Heliópolis. Sâr
Alden informa que no quinto ano de seu reinado, através de um Decreto
Real, uma radical reforma em todo o Egito aconteceu, tendo sido proibida
qualquer forma de culto, com exceção da adoração
de uma Única Deidade Espiritual que existia em toda parte e em todas
as coisas, mas não possuía origem [física] terrena.
Em um de seus Decretos Reais, inab-rogavelmente, estava selado: Este
é o meu Juramento de Verdade que desejo pronunciar e do qual jamais
direi que seja falso.