Este
estudo objetiva disseminar alguns ensinamentos e alguns princípios
místicos Rosacruzes publicados por membros-autores vinculados à
Rosacruz Áurea – que foi fundada e instalada por Jan van Rijckenborgh
e Catharose de Petri – tornando-se uma Ordem R+C própria e
autônoma empenhada nos trabalhos da Grande Obra, gigantesca e permanente
tarefa mística que reúne dezenas de ordens e fraternidades
religiosas e não-religiosas. Também inclui ensinamentos de
alguns pensadores mundialmente consagrados que, propriamente não
foram membros da Fraternidade, mas que, de uma forma ou de outra, illuminaram
e continuam a illuminar
a busca e o caminho de estudantes Rosacruzes. Fundamentalmente, este estudo
foi estruturado a partir de informações contidas na Internet,
particularmente em textos publicados no Pentagrama (Revista bimestral do
Lectorium Rosicrucianum) e no material disponibilizado no Website
da Organização, cujo endereço é:
http://www.rosacruzaurea.org.br/
Introdu%C3%A7%C3%A3o
É
claro que este muito resumido e despretensioso estudo é tão-somente
um pequeno couvert espiritual, e foi escrito e direcionado maiormente
para aqueles que não conhecem a Filosofia da Rosacruz Áurea.
Por este motivo, por exemplo, dei especial ênfase ao Nous,
sob a forma de fragmentos
garimpados no Décimo-terceiro Livro – De Hermes Trismegisto
para Tat: sobre o Nous Universal ou o Espírito Santificador,
já que muitos desconhecem o seu significado e a sua importância.
Assim, ainda que eu não pertença a esta Augusta Organização,
com prazer estou fazendo esta divulgação, pois entendo que
todos os Caminhos Rosacruzes são, em essência, um-no-Um.
Finalmente,
advirto que precisei fazer algumas pequenas edições e adaptações
para adequar os fragmentos selecionados a este tipo de texto. Todavia, obviamente,
não alterei um milímetro a intenção original
dos autores consultados, como é o caso, por exemplo, em alguns excertos,
em que substituí a palavra aluno por Iniciado, pois este, segundo
meu entendimento, foi o sentido da citação selecionada. E,
para concluir este item, peço desculpas aos membros da Rosacruz Áurea
por quaisquer equívocos ou demasias que eu tenha cometido na elaboração
deste estudo.
Jan
van Rijckenborgh
Jan
van Rijckenborgh
Jan
van Rijckenborgh (pseudônimo de Jan Leene) nasceu em 1896 em Haarlem,
Holanda, tendo entrado para a Sociedade Rosacruz (Het Rozekruisers Genootschap),
divisão holandesa da Rosicrucian Fellowship (movimento fundado por
Max Heindel por volta de 1909), em 1924. Este grupo rosacruz se tornaria
independente da Rosicrucian Fellowship em 1935.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, o trabalho foi proibido pelas forças de
ocupação nazista. Com o final da guerra, em 1945, o trabalho
exterior foi retomado e passou a adotar o nome Lectorium Rosicrucianum ou
Escola Internacional da Rosacruz Áurea, apresentando-se cada vez
mais como uma escola gnóstica, Gnosis significando aqui
o conhecimento direto de Deus, resultado de um caminho de desenvolvimento
espiritual.
Dos
anos 1930 aos anos 1960, Rijckenborgh publicou extensos comentários
do Corpus Hermeticum (atribuído a Hermes Trismegistus),
do Evangelho Gnóstico da Pistis Sophia, dos Manifestos Rosacruzes
(Fama Fraternitatis R.C., Confessio Fraternitatis R.C.
e Núpcias Químicas de Christian Rozenkreuz Ano 1459),
do livro Cristianópolis (de Johann Valentin Andreae), do
Tao Te King e vários outros, além de diversas outras
obras.
Zwier
Willem Leene foi co-fundador do movimento, tendo se unido aos dois em 1930
a Sra. Catharose de Petri (pseudônimo de H. Stok-Huyser).
J.
van Rijckenborgh viria a falecer em 1968, quando as atividades do Lectorium
Rosicrucianum já haviam se espalhado por vários países
da Europa e da América.
Catharose
de Petri
Catharose
de Petri
Catharose
de Petri (nome real Henriette Stok Huyser 1902 - 1990) foi uma servidora
da Gnosis e orientadora realista dos pesquisadores Sua divisa era:
auto-esquecimento
no serviço ao próximo é o caminho mais seguro e alegre
para Deus. Esse lema não era somente válido para
sua própria vida, porém, ela o dizia repetidamente como conselho
aos alunos que lhe eram confiados.
Catharose
de Petri nasceu em 1902, em Roterdã, como Henriette Stok Huyser.
Pouco se conhece dos primeiros anos de sua vida, pois ela era extremamente
discreta e pouco relatava ou compartilhava sobre si mesma, porém,
o que se sabe com segurança é que desde muito jovem estava
consciente de ter uma missão espiritual em sua vida. Portanto, não
é de surpreender que, em 1930, aos 28 anos, ela tenha se dedicado
integralmente à sua missão, juntamente com o senhor J. van
Rijckenborgh, do qual foi a mais importante colaboradora espiritual. Para
ela, era evidente que nenhuma igreja cristã podia trazer e oferecer
uma verdadeira renovação religiosa para o autêntico
pesquisador espiritual.
Juntamente
com o senhor J. van Rijckenborgh, ela dedicou toda a sua vida à construção
da sétupla Escola Espiritual da Rosacruz Áurea a
partir do nada, como dizia. Como parte deste trabalho, eles
escreveram livros, em conjunto e individualmente. Entre outras obras, explicaram
para os homens da atualidade antigos textos gnósticos. Ambos os autores,
em seus ensinamentos filosóficos, não deixavam de consultar
um ao outro, e seu trabalho era considerado como o resultado de uma única
e harmoniosa colaboração. Desta forma, A Gnosis Chinesa,
obra publicada pela Rozekruis Pers e escrita por ambos, é um brilhante
comentário do antigo texto hermético chinês: O Tao
Te King, adaptado para nosso tempo.
Além
disso, Catharose de Petri também acrescentou oito publicações
individuais ao legado gnóstico da escola espiritual transfigurística.
Estas obras também são totalmente sintonizadas com a Gnosis
Hermética e os ensinamentos da Rosacruz moderna, e por meio delas
o leitor poderá receber muitos conselhos do ponto de vista espiritual
para uma prática de vida cotidiana na Senda.
A
associação com o Sr. A. Gadal em 1956, em Ussat, no sul da
França, foi crucial para o desenvolvimento interior de Catharose
de Petri e de J. van Rijckenborgh e, portanto, da escola espiritual e de
seus alunos.
Catharose
de Petri era também extremamente ligada à Fraternidade dos
Cátaros. Foi de modo muito terno que ela escreveu alocuções
para a comunidade de alunos da escola espiritual, na qual esclarece o trabalho
espiritual dos cátaros e seu legado material e imaterial. Esses textos
foram publicados pela Rozekruis Pers com o nome A Tríplice Unidade
da Luz. A autora sempre aponta para o antigo método da total
autonegação, mediante aquilo que os cátaros chamavam
de endura, como condição indispensável para o caminho
de desenvolvimento espiritual. Esta também é a condição
dos alunos da Rosacruz através do contínuo aprendizado da
necessidade de ter um Coração puro. E esta é
de fato a Pomba Branca, símbolo cátaro para o Espírito
Santo, símbolo que também representa Catharose de Petri, enquanto
que J. van Rijckenborgh é representado pela Águia.
Após
o falecimento de J. van Rijckenborgh, em 1968, Catharose de Petri organizou
um grupo para assisti-la. Um grande trabalho espiritual em unidade desenvolveu-se,
e, deste modo, nesse meio tempo, a Escola Espiritual estendeu seus núcleos
para trinta e seis países, onde a renovação de vida
interior é colocada em prática do modo que Catharose de Petri
esperava e como tão amplamente é descrito e esclarecido em
suas obras. Quando faleceu, em 1990, ela tinha certeza, portanto, que o
trabalho continuaria.
A
Rosacruz Áurea
A
Rosacruz Áurea está ligada à corrente gnóstica.
A Gnosis (do grego gnosis)
é o conhecimento superior que incita o homem a descobrir em si mesmo
a centelha de Espírito pela qual ele pode se voltar para o Absoluto.
Isto, outra coisa não é do que a busca interior do Deus de
nossos Corações.
Marcada
pelo pensamento hermético que deu origem a tantas filosofias libertadoras,
escolas de pensamento e movimentos espirituais, a corrente gnóstica
é a base de toda a vida espiritual do Ocidente e do Oriente Médio.
Ela ilumina todas as grandes civilizações. Essênios,
cristãos gnósticos, cultos dos mistérios, maniqueus,
cátaros, alquimistas e rosacruzes dão testemunho da continuidade
dessa corrente.
Em
contraposição ao comportamento dogmático ordinário,
esses grupos mantiveram viva a tradição de uma salvação
pelo conhecimento interior: a Gnosis. Herdeira dessa tradição
gnóstica que vivifica no presente, a Rosacruz Áurea responde
hoje a uma tripla missão: 1ª) relembrar aos homens a nobreza
do estado humano verdadeiro, para convidá-los a empreender o caminho
do Renascimento da sua Alma; 2ª) dar a conhecer as conseqüências
práticas deste Caminho, isto é, as etapas deste processo de
mudança interior; e 3ª) oferecer os meios concretos para percorrer
o caminho proposto, graças à atividades espirituais em sintonia
com o ensinamento do Cristianismo Interior.
Em
todos os movimentos gnósticos encontram-se pontos característicos,
a saber:
•
O homem não pertence só a esta natureza, pertence também
a um mundo original perfeito de que guardou a nostalgia.
•
Ele sente-se estrangeiro nesta natureza porque possui no seu Coração
uma centelha da vida original.
•
Nesta centelha da absoluta perfeição – nesta Rosa do
Espírito – encontra-se o plano de regresso, a possibilidade
da reconstrução do ser perfeito que ele é em essência.
•
Ser de carne e de sangue sujeito ao domínio desta natureza, ele possui,
contudo, uma consciência cujas possibilidades, uma vez ligadas à
centelha da origem, libertam o Conhecimento – a Gnosis – do
caminho de regresso à sua Pátria verdadeira.
•
Um imenso processo, que deve ocorrer nele, no interior, enquanto ainda vive,
pode fazer nascer uma nova consciência e, com base na aspiração
ao regresso, levá-lo ao estado de Homem Verdadeiro.
•
Este processo implica o conhecimento do plano (Iniciação)
e um comportamento (rejeição do ego, amor por todos, libertação
de todos os condicionamentos mentais e emocionais) que ligue o candidato
às forças espirituais que realizarão nele a Transfiguração.
•
Este saber só pode ser transmitido por aqueles que realizaram em
si mesmos esta Ressurreição da Consciência original.
Sabedoria
Transfigurística
O
ensinamento da Sabedoria Transfigurística que o Lectorium Rosicrucianum
divulga faz parte da mensagem de todas as grandes religiões do passado.
O conceito de duas ordens de natureza, o conceito do princípio original
latente no Coração humano e o do Caminho da Transfiguração
podem ser encontrados, por exemplo, nas seguintes frases bíblicas:
Meu reino não
é deste mundo, (João, XVIII, 36), O
reino de Deus está em vós, (Lucas, XVII, 21) e
Ele deve crescer
e eu devo diminuir, (João, III, 30). O caminho da transfiguração
compreende cinco fases importantes: 1ª) compreender a natureza deste
campo de vida terrestre e experimentar o chamado interno para voltar à
Ordem Divina; 2ª) desejar verdadeiramente a salvação1;
3ª) render o eu ao Átomo-centelha do Espírito para que
a salvação possa ser realizada; 4ª) adotar um novo comportamento
(ou uma nova atitude de vida) que deve ser realizado espontaneamente sob
a direção do Átomo-centelha do Espírito; as
características desta nova atitude de vida estão descritas,
por exemplo, no Sermão da Montanha; e 5ª) despertar ou renascer
na esfera de Vida Original.
Alguns
Símbolos
e seus Significados
A
Rosa-Cruz
A
cruz com a rosa no ponto de intersecção dos dois braços,
em cor dourada. A haste horizontal representa o mundo da matéria
e da mortalidade onde vivemos. A haste vertical simboliza o Espírito
de Deus, a LLuz
que brilha neste mundo para libertar da matéria o que na verdade
é imortal. Quando um ser humano abre seu Coração para
a LLuz
da verdade, nele podem encontrar-se as hastes vertical e horizontal da cruz.
Em seu ponto de intersecção floresce uma rosa, proveniente
da centelha espiritual que cada ser humano possui como uma Chave.
Círculo, Triângulo e Quadrado
O
círculo simboliza a eternidade, o infinito e, também, o microcosmo.
O triângulo simboliza as três grandes forças que emanam
do Logos: Pai, Filho e Espírito Santo. O quadrado simboliza o fundamento
para a construção do novo ser humano.
O
Pentagrama
O
Pentagrama é o símbolo do ser humano renascido, do
novo homem. Ele é também o símbolo do Universo e de
seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. O homem
que realiza o Pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno
mundo, consegue permanecer no Caminho de Transfiguração. Os
antigos denominavam a Ciência da Transfiguração de Teofania,
o que significa: reaparecimento do Homem Divino.
Sabedoria
da Rosacruz Áurea
(Diversos Autores)
A
Filosofia
da Rosacruz não emite conceitos gerais sobre a vida: na verdade,
ela toca o aluno muito pessoalmente em sua própria existência.
Três faculdades latentes devem
ser despertadas na vida do Iniciado: a faculdade da nova Vontade (inflamada
em Deus), a faculdade da nova Sabedoria (que torna claro o Plano Divino)
e a faculdade da nova Atividade (que contribui para a realização
do Plano de Deus). A Escola Espiritual desenvolve no Iniciado
a nova Vontade, por meio da lei espiritual; a nova Sabedoria, mediante a
filosofia da lei espiritual; e a nova Atividade, pela aplicação
da Lei Espiritual. A Lei espiritual é a idéia divina que se
encontra na base do mundo e da Humanidade. A filosofia da Lei espiritual
traz a idéia divina ao Iniciado.
Ela ilumina a idéia diante da consciência do Iniciado
e o faz compreender seu incomensurável afastamento da Pátria
original. Ela o faz perceber a degenerescência humana em relação
à idéia divina e lhe dá clara visão do caminho
de retorno. A aplicação da Lei Espiritual é a realização
da idéia divina: o árduo e inevitável caminho de retorno,
o romper com a natureza terrena e seus instintos e o construir do novo homem.
A Lei Espiritual pode ser igualmente vista como Deus, do qual estamos desligados;
a filosofia da Lei Espiritual, como Cristo, que, num amor infinito, emana
de Deus para nos salvar e desce até nosso estado decaído;
e a aplicação da Lei Espiritual, como Espírito Santo,
que realiza o processo total do renascimento, colocando-o em execução
e levando-o a um bom termo.
Aqueles
que compreendem e experimentam os mistérios da Rosacruz são
animados por um grandioso entusiasmo e irradiam indomável energia
e intensa alegria. Eles se colocam, com toda humildade, diante do Fogo insondável
da Lei Espiritual. Quando a filosofia da Lei Espiritual os toca, eles se
acham de cabeça erguida diante da LLuz reveladora do Amor Universal.
E quando a aplicação da Lei Espiritual vem exigir deles toda
a atenção e toda a devoção, esperam, de braços
abertos, o Santo Batismo da Água Viva da Regeneração
Divina.
O
conhecimento absoluto jamais poderá ser o quinhão do homem
que vive segundo os sentidos.
O ciúme é uma possessão
diabólica que gera um ódio tão irreconciliável
que, muitas vezes, se torna assassino.
Não
negues nem mutiles o que te pertence.
O
Eterno Imutável manifesta-se no tempo em concordância com o
presente... Todo movimento espiritual deve compreender qual é a tarefa
da Fonte Universal de toda Vida no presente.
O
homem deve se desligar de um modo de viver falso. Ele deve 'esmagar a terra',
seu eu-inferior; deve abandoná-lo e construir, no interior de seu
cercado, o Novo Homem – a Arca Celeste que lhe permitirá entrar
no Templo de Deus.
O
tempo dos mistérios está completo. O homem que quiser empreender
o processo de renovação gnóstica é colocado
diante dos sete vezes sete aspectos de seu microcosmo. São sete campos
de vida, com seus núcleos de consciência: os sete 'Rishis'
e a tarefa a ser cumprida.
O
chamado divino obriga os seres humanos a reagir de modo consciente, harmonioso
e inteligente à Força Divina Regeneradora do momento presente.
Para
o homem terrestre, o Sol é o símbolo da fonte de luz de onde
tudo procede. Ele também representa a verdade interior inviolável
depositada como um princípio no Coração de todos os
homens. Podemos, portanto, dizer que o Princípio Solar é inerente
a cada um.
O
objetivo da verdadeira Alquimia é transformar a natureza mortal em
Ouro da Alma, e, como o ouro se une ao mercúrio, fazer com que a
Alma acabe se unindo ao Espírito.
A pureza e a autenticidade do Ouro
Interior dependem da nobreza da Alma de quem soube liberá-Lo em si
mesmo. Quanto mais forte for a aspiração a esta LLuz Eterna,
mais intensa será a ligação mantida com Ela, e mais
elevada será a espiritualidade. Quanto mais forte for a base interior,
maior será o teor do Ouro da Alma.
O
Coração humano está em relação
com o Sol e reage ao calor que ele irradia. O núcleo espiritual do
Coração – também chamado de Rosa-do-coração
– reage às irradiações de Vulcano, o Sol Espiritual.
Da mesma forma que o homem material está imerso na luz solar, o núcleo
do homem espiritual é iluminado, provado e alimentado pela Luz de
Vulcano. Esta energia luminosa oculta é evocada, liberada pelo Espírito
Divino. Quando este Ouro escondido consegue se desembaraçar de suas
impurezas e chega a se manifestar, o Homem Espiritual irradia uma força
capaz de despertar os outros homens para fazer com que eles alcancem a verdadeira
Vida.
No 'Apocryphon', de João,
está escrito que o Pai – e, portanto, o criador, o pensador
– se reflete na Mãe, a água, a energia. Sobre esta união,
repousam os cinco atributos do Pai: a Energia, o Amor (a Mãe), o
Entendimento, a Incorruptibilidade, a Vida Eterna e a Verdade.
A razão terrestre não
possui a Chave que permite abrir e desvendar suficientemente os mistérios
do espaço e do tempo, para perceber a eternidade que está
por detrás. A razão somente pode observar o que é de
seu domínio, ou, como se diz, com justeza: 'A razão somente
pode se exprimir no domínio da razão'. Tudo o que se encontra
fora dela continua oculto, secreto e misterioso para ela.2
A
luz do Sol dá testemunho da existência do Sol, mas o olho do
sistema biológico humano não suporta sua potência. A
luz do Sol Espiritual dá testemunho de sua existência, mas
o eu do sistema humano não suporta suas irradiações.
É por isto que a fonte original de toda a criação envia
mensageiros para o homem que vive nas trevas. Eles dão testemunho
da fonte de onde provêm e são como balizas no oceano das forças
opostas, que é o mundo dialético.
No
momento em que a eternidade surge no Coração como objetivo
único da vida, os Mistérios da Manifestação
universal vão se desvendando pouco a pouco.3
O
destino de toda verdadeira Escola de Mistérios é não
somente ir à frente dos buscadores em seu caminho, mas, sobretudo,
desvendar com eles os Mistérios Gnósticos.
Meu
carcereiro abriu a porta de minha prisão. É claro que ele
apenas a entreabriu, mas agora já posso respirar! Os sete mantos
que me envolvem estreitamente já não me apertam.
A
chave que abre minha cela é uma Palavra. Uma Palavra que tem um som
tão doce, um perfume tão agradável. Há quanto
tempo eu não A ouvia!
Sim, reconheço meu Reino e
a Falange dos Fiéis que seguem Tua Luz. Nossa santa aliança
é para sempre, pela eternidade. Também reconheço minha
queda. Somente Tu, meu Irmão, sabes por que, do Coração
do Universo, mergulhei nas trevas. Sabes por que eu Te deixei, por que percorri
a região dos homens e habitei entre eles. Este será nosso
segredo, para sempre.
Agora
conheço Tua Palavra!
Agora,
sinto que o mundo já não pode me reter por muito tempo. Eu
sei: a Palavra me liberta.
E
agora o Homem está de pé, entre o esposo e a esposa, como
servidor da LLuz. Está chegando a hora da união!
Envelhecer
faz parte do tempo, que determina a vida e as experiências. O tempo
não traz a mudança; ele é a própria mudança!
De
fato, a lei da conservação da energia e a lei da entropia
têm, as duas, uma função, mas em duas naturezas que
é preciso contrapor rigorosamente. Nestes últimos séculos,
a ciência teve um progresso considerável na Europa; entretanto,
pensava-se que nenhuma energia se perdia. Os manuais que tratam das ciências
naturais ensinavam isto até recentemente. É verdade que, na
Natureza Divina – a Natureza Original – não há
nenhuma perda de energia. É unicamente lá que se aplica a
lei da conservação da energia. Mas na natureza que se formou
em conseqüência do extravio dos homens, trata-se verdadeiramente
de perda de energia e é preciso aplicar a lei da entropia. Melhor
dizendo: a natureza, apesar de possuir uma formidável capacidade
de regeneração em períodos muito longos, sofre realmente
uma perda, uma dissolução de energia. Constantemente são
feitos novos cálculos sobre o tempo de duração da Terra,
sobre o tempo que o Sol ainda irá nos iluminar. Esses cálculos
são importantes quanto à criação visível,
a criação que corresponde a uma expiração, que
deve ser seguida por uma inspiração. Todo esse processo de
expirações e inspirações contínuas se
estende por tempos inacreditavelmente longos e ultrapassam todo entendimento
humano. Não podemos simplesmente dizer que a natureza é caótica
e que não se regenera. Enquanto a consciência humana pensar
e viver a partir de seu próprio caos, a natureza parecerá
caótica. Mas, assim que a consciência biológica se fundir
em uma nova consciência, mais elevada, que ultrapasse os limites humanos,
ela vivenciará a Harmonia Divina da criação.
Entropia
Aquele
que finalmente permite o reencontro entre seu ser temporal e seu Ser Eterno
em devir é ao mesmo tempo eterno e temporal: ele é homem e
é Deus.
Em
antigos textos da mística da antiga Pérsia, é dito
que a viagem interior se divide em fases denominadas: “Alma natural”,
“Alma arrependida”, e “Alma que atingiu a paz”.
Quando alguém consegue perceber as tendências da “Alma
natural”, a “Alma arrependida” põe-se a falar,
e depois ela segue em frente até a fase em que nasce “a Alma
que atingiu a paz”.
No
Fogo do Sol Vermelho, a Alma do peregrino é provada e purificada.
Se ele persevera e continua a seguir a voz da “Alma arrependida”,
sua atração pelas coisas do mundo desaparecerá.
O
primeiro inimigo não é o outro, mas o próprio ser interior,
e é preciso triunfar sobre ele no decorrer da guerra santa interna.
O
Primeiro Inimigo
O
misticismo é definido como o conhecimento intuitivo direto do divino.
Tais experiências interiores não estão exclusivamente
associadas a uma forma de religião qualquer, mas resultam da entrega
interior. Houve místicos em todas as grandes religiões, geralmente
como uma ramificação, e às vezes também como
uma corrente subterrânea que corre ao mesmo tempo em que a corrente
geral.
O
quinto livro de Hermes é uma parte de um diálogo entre Hermes
e Tat. Tat dirige a nossa atenção à realeza, a uma
vocação à realeza, a um verdadeiro vir-a-ser humano
superior. A Tat é dito que a chave do verdadeiro vir-a-ser humano
está na devoção, na coragem para perseverar na conquista
da verdadeira piedade. Este é o segredo! A posse da intrepidez, da
coragem para se impor apesar de todos os obstáculos. Se não
tendes essa força de realização, que vence resistências
e obstáculos, se não quereis irromper desse modo, então
jamais alcançareis a Sabedoria, jamais chegareis ao amor à
Humanidade, no sentido da lei básica da Gnosis. Irrompei através
de tudo, ainda que, em sentido burguês, às vezes não
vos pareça perfeitamente justo ou que não vos convenha. Então,
e só então, a Sabedoria se encaminhará para vós.
Quando ousardes verdadeiramente, com a poderosa Força-luz da Gnosis,
em absoluta sinceridade, e empurrardes para o lado todos os obstáculos,
não os aceitando, não os reconhecendo, tereis atravessado
o Portal.4
Como
o homem pode viver em conformidade com o Décimo Terceiro Éon?
O candidato aos mistérios gnósticos deverá enfrentar
treze momentos de transformação anímica, durante os
quais ele precisa lutar até o fim para alcançar o verdadeiro
renascimento da alma. Essas transformações da alma, por assim
dizer, substancializam-se nos treze cânticos de arrependimento da
'Pistis Sophia'. No primeiro cântico, a 'Pistis Sophia' descobre a
dialética e o estado de condenação da Humanidade. Ela
entoa o cântico da Humanidade. No segundo cântico, a 'Pistis
Sophia' descobre sua própria condição natural. Ela
entoa o cântico da consciência. Nessa base, a 'Pistis Sophia'
entoa o cântico da humildade diante da única luz verdadeira.
Segue-se, então, o cântico da demolição: o eu
é levado à sepultura. O cântico da rendição
é a fase seguinte: a 'Pistis Sophia' faz a entrega total de si mesma.
Nessa base, é entoado o cântico da confiança. Ela implora
pela LLuz com fé absoluta. No sétimo cântico de arrependimento,
a 'Pistis Sophia' entoa o cântico da decisão. É a ascensão
ou a queda. Em seguida, começa a perseguição. Os éons
da natureza atacam a 'Pistis Sophia' de maneira vigorosa, e ela entoa o
cântico da perseguição. Depois de entoar o cântico
da ruptura, a 'Pistis Sophia' se livra de modo definitivo de seus perseguidores.
A seguir, a 'Pistis Sophia' entoa o cântico do atendimento da oração.
E, pela primeira vez, ela vê a LLuz das Luzes. A força da fé
é submetida, então, a uma prova final. A 'Pistis Sophia' entoa
o cântico da prova de fé. Em décimo segundo lugar, a
'Pistis Sophia' vivencia a grande prova que podemos comparar à tentação
no deserto. Ela entoa o cântico da grande prova. Por fim, a 'Pistis
Sophia' canta o décimo terceiro cântico de arrependimento,
o cântico da vitória: a alma eleva-se, reconhece o Espírito
e vai ao seu encontro, ao seu Pimandro.
Atravessando
todas as esferas dos éons,
caminha a Pistis Sophia,
depois de ter purificado no Gólgota
o santuário do corpo.
Nenhum poder do mal pode impedi-la
de abrir a vontade para o Espírito.
Entoando os cânticos de vitória,
ela ingressa, agora, na eterna festa do Amor.
|
O
Bem, Asclépio, está exclusivamente em Deus, ou melhor, Deus
é o Bem em toda a eternidade. Conseqüentemente, o Bem é
necessariamente o fundamento e a essência de todo o movimento e de
todo o devir: não existe nada destituído dele! O Bem é
circundado por uma força reveladora estática em perfeito equilíbrio
– a inteira plenitude, a fonte universal, a origem de todas as coisas
– quando denomino aquilo que tudo preenche, quero dizer o Bem Absoluto
e Eterno.
Tudo
o que foi criado está cheio de sofrimento, pois a geração
mesma é um sofrimento. Onde há sofrimento, o Bem está
decididamente ausente. Porque onde está o Bem, certamente não
há sofrimento. Pois, onde está o dia, não está
a noite, e onde está a noite, não está o dia. Por isto,
o Bem não pode habitar no que é criado, porém, somente
no incriado. Contudo, como a matéria de todas as coisas participa
do Incriado, participa como tal igualmente do Bem. Neste sentido, o mundo
é bom, pois até o ponto onde também produz todas as
coisas, ele é, como tal, bom; todavia, em todos os outros aspectos,
não é bom, porque também está sujeito aos sofrimentos
e a mutabilidade, e é mãe de todas as criaturas suscetíveis
de sofrimento.
O
homem estabelece as normas de bondade mediante a comparação
com o mal, porque o mal não demasiadamente grande vale aqui como
o Bem, e o que aqui é julgado como o Bem, é a menor parte
do mal. Portanto, de modo algum, pode aqui ser livre da mácula do
mal. Aqui o Bem é sempre de novo atingido pelo mal, e, deste modo,
cessa de ser bom. Assim, o Bem se degenera em mal. Assim o Bem está
somente em Deus; sim, Deus é o Bem.
Entre os homens, Asclépio,
encontra-se o Bem unicamente segundo o nome, todavia em parte alguma como
realidade, o que, é, aliás, impossível. Porque o Bem
não pode encontrar lugar em um corpo material que está quase
sufocado em males e em esforços penosos, dores e desejos, instintos
e ilusões e imagens dos sentidos.
O
instinto de cobiça do ventre5,
o incitador de todas as maldades, é o erro que nos tem aqui afastado
do Bem.
Não se pode encontrar o Belo
e o Bem naqueles que estão no mundo. Todas as coisas perceptíveis
aos olhos são formas aparentes, algo como silhuetas. Todavia, tudo
o que vai além dos sentidos se aproxima ao máximo do Ser do
Belo e do Bem. E assim como o olho não pode ver a Deus, tampouco
pode ver o Belo e o Bem, pois ambos são partes perfeitas de Deus,
porque próprias d'Ele e d'Ele somente, inseparáveis de Seu
Ser, e expressão do supremo amor de Deus e a Deus.
Se
assim pudesses reconhecer a Deus, reconhecerias o Belo e o Bem em sua suprema
glória radiante, inteiramente iluminada por Deus, pois essa Beleza
é incomparável, essa Beleza é inimitável, assim
como Deus mesmo o é. A medida que reconheces a Deus, reconheces também
o Belo e o Bem. Eles não podem ser participados a outros seres, por
serem inseparáveis de Deus.
Se buscaste encontrar a Deus, busca
também o Belo, pois há somente um caminho que conduz daqui
ao Belo: uma vida ativa que serve a Deus nas mãos da Gnosis.
Aqueles
que estão sem a Gnosis e não trilham o caminho da devoção
ousam chamar o homem de belo e bom – ele que jamais viu, mesmo em
sonhos, o que é o Bem, porém que está nas garras de
todas as formas do mal, e que considera o mal, como o bem e, deste modo,
acolhe o mal sem jamais ser saciado, temendo ser dele privado e, lutando,
tenta, com todo o seu poder, conservá-lo e mesmo fazê-lo multiplicar.
O
Nous, ó Tat, provém da própria essência de Deus,
se se pode usar semelhante termo com respeito a Deus, e esta somente ele
conhece. Seja como for, apenas o Nous conhece perfeitamente a si próprio.
Não
se distingue o Nous da Essência Divina; Ele se origina dessa fonte,
assim como a luz dimana do Sol.
Nos homens, esse Nous é bom.
e, por isto, alguns homens são deuses; seu estado humano muito se
assemelha ao divino. Eis porque o bom Demônio designou os deuses como
homens imortais e os homens, deuses mortais. Onde há Alma, existe
também o Nous, da mesma forma que onde existe a verdadeira Vida,
também há Alma. Nos seres irracionais, o Nous é a Natureza.
Neles, a Alma é simplesmente vida, destituída de Nous, pois
este é o benfeitor das Almas humanas: ele as trabalha e forma em
vista do Bem.
Toda
a Alma é atormentada pela dor e pelo prazer assim que entra em um
corpo. A dor e o prazer propagam-se pelo corpo denso como incêndio,
onde a Alma submerge e sucumbe.
Quando o Nous pode conduzir as almas,
ele verte-lhes sua LLuz e opõe-se às suas tendências.
O Nous aflige a alma apartando-a do prazer, que é a origem de todo
o seu estado doentio, da mesma forma que um bom médico cauteriza
ou extirpa a parte doente do corpo.
Contudo, a grande enfermidade da
Alma é sua negação a Deus e o pensamento errôneo,
de onde se originam todos os males e absolutamente nada de bom. Por isto,
o Nous, ao lutar contra esta doença, confere à alma novamente
o Bem, do mesmo modo que o médico restitui a saúde ao corpo.
As
almas humanas que não são conduzidas pelo Nous se encontram
em estado idêntico ao das almas dos animais irracionais. O Nous colabora
com elas, dando livre curso a seus desejos. Elas, por sua vez, são
atraídas por esses desejos mediante veemência de sua concupiscência,
que buscam em seu estado irracional. E, semelhante aos seres irracionais,
abandonam-se incondicionalmente a seus instintos e a seus desejos, jamais
saciando seus vícios, pois as conseqiiências irracionais dos
instintos e dos desejos são um mal ilimitado.
Cada um procede segundo seu próprio
modo de agir, para acumular experiências.6
Todos
os homens experimentam as determinações do destino. Todavia,
os que seguem a razão e que, como dizemos, são conduzidos
pelo Nous, não as sentem como os outros, pois, estando livres do
mal, não as sentem como algo maléfico.
Um
homem conduzido pela razão conhecerá a dor do adultério
e do assassínio tão bem quanto um adúltero e um assassino,
embora ele nunca os tenha cometido. É impossível escapar da
transformação, tampouco do nascimento; porém, quem
possui o Nous pode se livrar do mal.
As
coisas do Espírito são indivisíveis e o Nous, a Alma
de Deus, que governa todas as coisas, é capaz de realizar tudo o
que deseja. O Nous, a Alma Divina, domina deveras tudo: o 'fatum', a lei
e todo o resto; nada lhe é impossível. Ele é capaz
de sublimar a alma humana, colocando-a além do 'fatum', e de submetê-la
a seu jugo quando ela se mostra negligente. São essas as palavras
primorosas do Bom Demônio.
Tudo
o que é incorpóreo e está alojado em um corpo está
sujeito a 'pathos' (paixão, sofrimento), e, a rigor, é a própria
paixão. Ora, tudo o que gera movimento é incorpóreo
e tudo o que se movimenta é corpóreo. Como o incorpóreo
se movimenta pelo Nous e esse movimento é 'pathos', ambos estão
submetidos também ao sofrimento. Tanto aquele que gera o movimento
quanto o que é movido; o primeiro por causar o movimento e o segundo
por estar sujeito ao impulso do movimento. Todavia, quando o Nous se separa
do corpo, ele se liberta também do sofrimento. Talvez seja melhor
dizer, meu filho, que nada existe sem 'pathos', porém que tudo está
sujeito a ela. 'Pathos' difere de vivenciar 'pathos'. Com efeito, uma é
ativa, a outra, passiva. Os corpos também são ativos por si
mesmos. São imóveis ou móveis. Em ambos os casos, existe
'pathos'.
Deus concedeu ao homem, único
entre o seres mortais, dois dons: o Nous e o Verbo, tão preciosos
quanto a imortalidade. Se o homem empregar corretamente esses dons, não
diferirá em nada dos imortais. E ainda mais: ele se libertará
do corpo e será conduzido por ambos para o coro dos Deuses e dos
Bem-aventurados.
O
Verbo, a Palavra, é comum a todos os homens. Todavia, os outros seres
viventes possuem uma voz ou um som totalmente inerentes a eles.
A
Humanidade é somente uma. O Verbo também é um. Se traduzido
de uma língua para outra, verifica-se que é o mesmo tanto
no Egito, como na Ásia e na Grécia. O Deus Bem-aventurado,
o Bom Demônio, disse que a Alma está no corpo, o Nous na Alma,
o Verbo no Nous, e que Deus é, portanto, o Pai de todos. O Verbo
é, portanto, a imagem e o Nous de Deus; o corpo é a imagem
da Idéia, e esta última a imagem da Alma.
Deus envolve e penetra tudo; o Nous
envolve a Alma; a Alma envolve o ar (éter); o ar envolve a matéria.
Assim, o ar (éter) é a parte mais sutil da matéria,
a Alma, a parte mais sutil do ar, o Nous, a parte mais sutil da Alma, e
Deus, a parte mais sutil do Nous. Deus envolve e penetra tudo; o Nous envolve
a alma; a alma envolve o ar (éter); o ar envolve a matéria.
Nunca
houve, não há, nem jamais haverá no mundo algo que
esteja morto.7
Os
seres viventes não morrem, porém, seus corpos, sendo compostos,
dissolvem-se. Esta dissolução não é morte, mas,
sim, a dissolução de um composto. Esta dissolução
não tenciona aniquilamento, antes, uma nova gênese, uma renovação.
Pois, qual é a força vital atuante? Não é movimento?
O que é ou está imóvel neste mundo? Sem movimento nada
pode ser concebido.
Tudo o que existe neste mundo está
em movimento, seja minguante, seja crescente. O que está em movimento,
também está vivo. Uma lei sagrada determina que nada que esteja
vivo permaneça idêntico e, portanto, imutável. Embora
o mundo seja imutável, visto em sua totalidade, todas as suas criaturas
se modificam, sem, contudo, perecerem ou serem destruídas. São
as palavras, os nomes, que perturbam e desassossegam os homens.
Movimento
e Mudança
A vida não se explica pelo
nascimento, mas pela consciência, e a transformação
não é uma morte, porém um esquecimento. Sob este prisma,
tudo é imortal: a matéria, a vida, o alento, a Alma, o espírito,
o intelecto, o instinto, e, em conjunto, compõem o Ser Vivente.
Cada
ser vivente é, nesse sentido, imortal. Todavia, o mais imortal é
o homem, pois é capaz de receber Deus e com ele se tornar uno. Somente
com esse ser vivente, Deus se comunica: à noite, através de
sonhos; durante o dia, por meio de sinais que lhe predizem o futuro de várias
formas: pelos pássaros, pelas entranhas, pelo vento, pelo carvalho,
por todos os meios pelos quais o homem seja capaz de conhecer o passado,
o presente e o futuro.
Se
desejas te aproximar de Deus pela reflexão, então, contempla
a ordem mundial e sua beleza. Considera a necessidade de tudo o que é
perceptível e, também, a providência que governa o passado
e o futuro. Vê como a matéria é plena de vida, e como
opera o movimento desse Deus indescritível com todos os seres bons
e belos: deuses, demônios e homens.
No
Todo, nada há que não seja Deus. Por isto, não se pode
descrever Deus com nenhum desses conceitos: grandeza, lugar, qualidade,
forma ou tempo, pois ele é o Todo, e, como tal, está em tudo
e tudo abrange. Adora esse Verbo, meu filho, e venera-o. Há somente
uma religião, um Único modo de servir e de venerar a Deus:
não sendo mau.
Se
o Tao pudesse ser definido, ele não seria o eterno Tao. Se o Nome
pudesse ser pronunciado, não seria o Nome Eterno. Na condição
de não-ser, pode-se dizer que ele é o fundamento da onimanifestação.
Na condição de ser, ele é a Mãe de todas as
coisas. (Tao Te King).
Se
o Coração permanentemente 'não-é', se ele permanece
livre de todos os desejos e interesses terrenos, é possível
contemplar o mistério da Essência Espiritual do Tao. (Lao
Tsé).
A
cada inspiração, junto com a oxigênio que preenche os
pulmões, penetram também forças espirituais e etéricas.
Além disso, por incrível que pareça, também
é possível, mediante a expiração, transmitir
a Força de Deus, a LLuz de Deus e o Amor de Deus. De fato, se um
homem permitisse que as forças de Deus inaladas circulassem em si
de maneira correta através da circulação sangüínea,
dele emanariam pensamentos plenos de amor, uma vontade pura e atos justos
de fato. Assim sendo, através do sistema respiratório, por
meio da inspiração e da expiração, os homens
estão igualmente próximos de Deus. A diferença reside
no fato de que cada qual transmite a Força Divina à sua maneira,
de acordo com seu estado de desenvolvimento interior. Cada qual a exala
segundo o estado mais ou menos puro de seu sistema sangüíneo.
Existe
uma nítida diferença entre as noções de «saber»
e de «Sabedoria8».
Para os pesquisadores no caminho, é importante compreender que a
Sabedoria divina nada tem em comum com os conhecimentos adquiridos e a compilação
de informações. O homem recebeu o poder do entendimento para
ser capaz de reagir à Sabedoria Universal, de transformá-La
e, uma vez transformada, de conservá-La.
De
forma geral, os homens – privados das influências do Logos e
do poder de Kundalini –
são influenciados
e dominados pelas normas, pelas hipóteses, pelas necessidades da
civilização dialética, pela religião e por outras
especulações sentimentais que substituem o Saber Absoluto.
O
ser humano possui três centros importantes: o santuário da
cabeça, o santuário do Coração e o santuário
pélvico.
Em
nosso cérebro, encontram-se sete espaços vazios. No candidato
sério que empreende o caminho libertador em Jesus Cristo, essas sete
cavidades serão tocadas, uma após outra, pela «Força
Divina Mediadora». Este contato é descrito como o Toque do
Espírito Sétuplo, as Sete Harmonias Divinas ou ainda as Sete
Cordas Descidas no Poço da Morte. Quando esses sete espaços
do cérebro estão preenchidos e ativados e o processo da Transfiguração
é sustentado pelo ser sangüíneo do Candidato, essas cavidades
são preenchidas de força libertadora. Tudo isto é acompanhado
de um desenvolvimento do cerebelo e do maravilhoso bulbo raquidiano, pelo
qual se produz uma circulação espiritual mental entre o Candidato
e o Criador. Na antiga obra caldaica O Livro dos Números, esta fase
corresponde a Samaël, o Hierofante do Mistério Oculto que entra
em ligação com Michaël, a Sabedoria Terrestre Superior.
É graças a esta Illuminação Sétupla,
pelo Espírito Santo, que o Candidato pode ser denominado um Mahat
(Mahatma), um Manas, um Pensador. Esta Illuminação incentiva
o processo de Transfiguração.
O
verdadeiro Homem possui sete poderes, que correspondem a um mundo sétuplo.
Trata-se do Homem liberto das limitações e da rotina inerentes
à natureza dialética. Estes sete poderes são os seguintes:
•
o primeiro e o mais elevado é o poder do Amor. É uma força
que transforma tudo em LLuz. Todos os escritos sagrados falam da supremacia
da LLuz. Deus é Amor e, portanto, Deus é LLuz;
•
o segundo é
o poder da Sabedoria, suscetível de ser alcançada e assimilada
pela razão;
•
o terceiro poder do homem é a Vontade que, sustentada pelo Amor e
pela Sabedoria, executa a Vontade de Deus;
•
o quarto é o
poder
do Pensamento, que serve ao Iniciado sustentado pelo Amor, pela Sabedoria
e pela [Trans]razão,
e que, sob o impulso da Vontade, forma seu mental, até nos mínimos
detalhes;
•
o quinto poder é aquele que os antigos denominavam de Kundalini Shakti.
É o próprio princípio da Vida. Nossa filosofia a define
como sendo uma energia dinâmica concentrada que anima o mental;
•
o sexto poder é a manifestação da Forma. É o
Poder Divino do mental evocador. A Palavra criadora engendra uma poderosa
vibração de natureza mágica que leva a mente a se manifestar
na matéria;
•
o sétimo poder entra em ação a partir da síntese
dos outros seis; ele coloca a serviço do Divino tudo o que foi realizado
pelos outros seis poderes. As forças dos seis primeiros poderes engendram
uma LLuz Universal que irradia no sétimo. Enfim, considerados como
focos de combustão, cada um desses poderes possui um núcleo
de consciência cuja radiação constitui o sétimo
poder.
A
morte da antiga natureza corresponde ao nascimento da nova natureza.
Campo
de Respiração —
é o campo de força que liga a personalidade ao ser aural;
campo no qual se concentram e se equilibram as forças e as substâncias
que permitem a conservação da personalidade.
Ser
Aural — campo
de manifestação que envolve a personalidade e que possui uma
estrutura e um conteúdo próprios. É uma esfera que
possui pontos magnéticos, como um céu estrelado, traços
das numerosas encarnações no microcosmo. Esses pontos atraem
as forças exteriores e as enviam para a personalidade e o santuário
da cabeça. O ser aural também é denominado de «Eu
Superior»: é um ser radiante e luminoso que permanece em interação
com a personalidade. Para o Transfigurista, é o pior adversário
do processo fundamental de renovação.
Microcosmo
— significa
pequeno mundo ou 'minutus mundus'. É um sistema vital de forma esférica
e de natureza complexa que compreende (do interior para o exterior): o corpo
físico, o corpo etérico, o corpo astral e o corpo mental (os
quatro formando a personalidade), o campo de manifestação
ou campo de respiração, o ser aural com seu campo magnético
sétuplo envolto pela 'lípika'. O microcosmo do homem de hoje
se encontra mutilado e degenerado.
Natureza
original —
é o domínio de onde provém a Humanidade, de onde ela
caiu, e de onde ela se distanciou antes de se perder na matéria.
O homem tem como núcleo de seu ser a lembrança deste reino
de imortalidade, que o impulsiona a procurar o caminho do retorno.
Personalidade
— o ser humano
é um sistema composto de quatro corpos: o corpo físico ou
material, o etérico ou corpo vital, o astral e o corpo mental. Eles
formam a personalidade e são, hoje, quase que exclusivamente governados
pelo «eu».
Pineal
— a glândula
pineal encontra-se no centro da cabeça, sob o cérebro. Ela
é formada de grãos de matéria mineral. É a sede
da Illuminação interior, a porta pela qual a Sabedoria Divina
pode entrar diretamente.
Hipófise
— glândula
de secreção interna situada na cabeça.
Esfera
Material — domínio no qual os elementos Fogo, Terra,
Ar e Água entram em manifestação.
Esfera
Refletora —
é a contraparte etérica da matéria visível.
Domínio dos ditos inferno, purgatório e céu, três
esferas pertencentes também à natureza da morte. Nos éteres
da Esfera Refletora, todos os pensamentos, todas as paixões
e todos os atos da Humanidade se inscrevem e são refletidos,
de onde provém o seu nome. Após a morte do corpo físico,
os outros corpos se dissolvem na Esfera Refletora para dar lugar à
próxima encarnação.
Da
mesma forma que o Um era no princípio, assim também tudo volta
ao Um e retorna à Unidade. (Sinésio,
alquimista grego, séc. IV).
Andar
e estar de pé simbolizam o avançar e a firmeza. Os pés
andam pela terra deixando um registro que não pode mais ser apagado
pelo tempo. É o registro deixado pelo homem que reencontra sua verdadeira
essência na Força Crística Universal. Ao reconhecer
e seguir este caminho, ele doa a força vital renovadora liberada
nele para libertar a si mesmo, aos outros e à toda a criação
manifestada. Esta influência é recíproca e indica a
co-responsabilidade do homem por tudo o que se acha na Terra, tanto em cima
como embaixo.
Aquele que respeita profundamente
os «grandes em espírito» e que deseja segui-los, não
pode honrá-los melhor do que se tornando «vazio» a fim
de ser preenchido pelo conhecimento vivente autêntico. Eis aí
o caminho que é mostrado para a Humanidade: um caminho destituído
de todo culto pessoal, um caminho livre de qualquer dogma, um caminho no
tempo onde a Vida Eterna se derrama. O vaso é precioso, com a condição
de que esteja vazio.
Quem
atravessa o campo da hesitação deve dispor de uma fé
firme e inabalável. Deve ousar perseverar através de todos
os obstáculos. A alma do viajante da eternidade deve permanecer em
Cristo. E ela aí permanecerá se ele não adormecer e
velar com Cristo, que, em nós, vence a morte.
O que embeleza o deserto –
diz o Pequeno Príncipe – é
que ele esconde um poço em algum lugar. (O
Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry).9
O
Poço que Embeleza o Deserto
Sob
o ponto de vista espiritual, o mundo dos fenômenos é um mundo
de pobreza, de esterilidade e de aridez porque o Espírito de Deus
está ausente. Ele não mantém nenhuma relação
consciente com o Espírito Divino. Entretanto, o Espírito irradia
sobre o mundo. Ele é, ao mesmo tempo, transcendente e imanente. Isto
significa que é possível procurá-Lo, encontrá-Lo
e reconhecê-Lo. Quando a ligação com o Espírito
se restabelece, o mundo ressequido e desolado pode reviver e manifestar
sua beleza original.
O
Coração do homem pode ser considerado como um jardim. Um magnífico
jardim para o prazer do ser amado. É o jardim lendário de
'Fohat', no qual os bem-amados de Deus colhem as rosas. O jardim de 'Fohat'
situa-se no limite entre o céu e a Terra; é a «ponte
de luz» que permite ao pensamento divino descer na matéria.
Não existe descrição mais delicada e imagem mais sutil
para representar o santuário espiritual do Coração.
Segundo a Doutrina Secreta,10
os Filhos de 'Fohat', em suas diversas manifestações, formam
o elo entre o Espírito e a matéria. Os ocupantes do jardim
mantêm uma ligação com o Amor – o Eros místico
dos gregos.
O
homem
que dissipou toda ilusão e toda imitação semeia nos
Corações dos buscadores a compreensão e a esperança.11
Conclusão
Concluirei
este estudo com uma reflexão final: é necessário Morrer
diariamente para (Re)Nascer diariamente. Só Morrendo para o mundo
é possível (Re)Nascer para e na Consciência Cósmica.
Só pela libertação reaparecerá o Homem Divino.
Que Ele, o celeste
em mim, cresça, e que eu, o humano, diminua. Este,
no meu modo de entender, parece ser o cerne dos ensinamentos da Rosacruz
Áurea. Mas, na verdade, devo dizer, nesta conclusão, que todas
as Ordens e Fraternidades R+C da modernidade passam por este princípio
básico nas elaborações de seus sistemas de ensino,
e isto, talvez, de uma forma ou de outra, se deva ao fato de que todas elas,
em última análise, derivam da Teosofia de Madame Blavatski,
e isto inclui o Grau Rosacruz da Maçonaria. A Rosacruz Áurea,
evidentemente, tem personalidade própria e se caracteriza pela ênfase
que dá à necessidade da leitura de textos que examinem em
profundidade, e não apenas superficialmente, os dilemas e os mistérios
da natureza humana.
______
Notas:
1. Há
uma diferença incoadunável, incombinável, incompossível
e inconcordável entre o que poderia ser considerado como salvação
religiosa
e salvação mística.
Resumidamente, eu diria que salvação não existe, mas,
concedendo que exista, a salvação
mística depende
exclusivamente do postulante, pois ele reconheceu que tudo depende exclusivamente
dele e que ele é o único responsável por tudo. Não
há prêmio nem castigo, não há céu refrigerado
nem inferno torrificador, não há milagre, não há
arrebatamento e não há escolhidos a
priori;
tudo acontecerá a
posteriori por mérito, por mérito e por mérito.
2. É
incontestável que a razão ilumina; mas só a Transrazão
Illumina
e Liberta.
3. A
primeira regra é: paciência. O resto vem depois. Ninguém
jamais poderá compreender o significado do A
se não compreender o significado do M,
ainda que MA e
AM
sejam exatamente a mesma coisa.
4. Que
não está fora, mas, sim, em nosso Coração!
5. Plexo
Solar.
6. Por
isto, interferir nas experiências alheias é o maior erro bem-intencionado
que alguém poderá vir a cometer. Oferecer a Chave, sim; abrir
a Porta, jamais!
7. Isto
equivale a entender que as duas características básicas do
Universo são movimento e mudança.
8. Como
há uma nítida diferença entre razão (que só
opera no âmbito da razão) e transrazão (que opera no
âmbito da Consciência Cósmica). No caso deste fragmento,
penso que o autor tenha desejado se referir a SheMAH-IM –
a Sabedoria Cósmica – cujo número é 396. Então,
SheM-a (340) refere-se ao mundo teogônico criado diretamente
pela Palavra, significando, inclusivamente, aquele que possui o conhecimento
essencial do Nome Efetivo (Verbum
Dimissum).
9. O
aviador e escritor Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lyon em 29
de junho de 1900. Ficou conhecido pelas suas obras: Correio do Sul (1928),
Vôo na Noite (1931), Terra dos Homens (1939), Piloto
de Guerra (1942) e O Pequeno Príncipe (1943). Saint-Exupéry
sempre procurou o ser
humano autêntico. Palavras como fontes
no deserto são dirigidas ao pesquisador solitário,
que ele conduz rumo ao futuro que nasce
lentamente. Em O Pequeno Príncipe, ele escreve:
Eu sempre amei
o deserto. A gente se senta sobre uma duna de areia. Não se vê
nada. Não se ouve nada. E, no entanto, uma coisa irradia silenciosamente.
O que embeleza o deserto, diz o pequeno príncipe, é que ele
esconde um poço em algum lugar... Fiquei surpreso por compreender
de repente essa misteriosa irradiação da areia. Quando eu
era menino, morava em uma casa antiga, e conta a lenda que nela havia um
tesouro enterrado. É claro, ninguém jamais conseguiu encontrá-lo,
e talvez nem mesmo o tenha procurado. Mas ele era o encantamento dessa casa.
Minha casa escondia um segredo no fundo do seu coração. Sim,
digo ao pequeno príncipe, tratando-se da casa, das estrelas ou do
deserto, o que lhes dá sua beleza é o invisível!
10.
Obra monumental de autoria de Helena Petrovna Blavatsky (1831 - 1891).
11.
Não a esperança de esperar; mas a esperança de que
é possível, pelo trabalho e pelo mérito, vencer e chegar
lá.
Por isto, está certa a sabedoria popular: No
campo da hesitação estão enterrados os ossos de milhões
daqueles que, no caminho para a vitória, sentaram-se para descansar
e... nesse momento, morreram.
Páginas
da Internet consultadas:
http://clement.baruteau.free.fr/work/spip.php?article19
http://www.rosacruzaurea.org.br/files/
Primeiro_Capitulo_O_Verbo_vivente.pdf
http://www.rosacruzaurea.org.br/
http://www.rosacruzaurea.org.br/
http://www.editoralrc.com.br/aut-depetri.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Catharose_de_Petri
http://pt.wikipedia.org/wiki/J._van_Rijckenborgh
Fundo
musical:
Fur
Elise (Beethoven)
Fonte:
http://www.lepanto.com.br/dados/classicas.htm