RAINER MARIA RILKE
(Pensamentos)

 

 

Rainer Maria Rilke

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Texto

 

 

 

Este estudo é uma compilação de pensamentos e de reflexões (muito levemente editados) de Rainer Maria Rilke, que, pela sua obra inovadora e pelo seu incomparável estilo lírico, é considerado um dos mais importantes poetas modernos da Literatura alemã, mas, que, se eu tivesse que defini-lo, diria que foi o Poeta da Solidão.

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Rainer Maria Rilke
(por Paula Modersohn-Becker, 1906)

 

 

 

Rainer Maria Rilke, por vezes também Rainer Maria von Rilke (Praga, República Checa, 4 de dezembro de 1875 – Valmont, Suíça, 29 de dezembro de 1926) foi um poeta de língua alemã do século XX. Escreveu também poemas em francês.

 

Rilke nasceu em Praga, na Boêmia, (atual República Checa), então pertencente ao Império Austro-Húngaro, e mudou seu nome, originalmente René, para Rainer. Rilke fez seus estudos nas universidades de Praga, de Munique e de Berlim. Em 1894, fez sua primeira publicação, uma coleção de versos de amor, intitulados Vida e Canções. Não exerceu nenhuma profissão, tendo vivido, sempre, à custa de amigas nobres.

 

Alguns anos depois, em 1899, Rilke viajou para a Rússia a convite da escritora e psicanalista Lou Andreas-Salomé, filha de um general russo, e que foi sua amante por longos anos. Sua passagem pela Rússia imprimiu uma inspiração religiosa em seus poemas. Rilke passou a enxergar a Natureza, dadas as dimensões e a exuberância das paisagens russas, como manifestação divina presente em todas as coisas. Sobre este aspecto, publicou, em 1900, a coleção Histórias do Bom Deus.

 

Em 1901, casou com Clara Westhoff, da qual logo se separou. O século XX trouxe para a poesia de Rilke um afastamento do lirismo e dos simbolistas franceses com os quais ele se identificara. Em 1905, publicou O Livro das Horas, de grande repercussão na época. Nesta obra, seus poemas já apresentavam um estilo concreto, bem característico desta sua fase.

 

Em 1902, foi para Paris, e de 1905 a 1906 trabalhou como secretário do escultor Auguste Rodin. Rodin exerceu grande influência sobre o poema de Rilke, que se reflete em suas publicações de 1907 a 1908.

 

Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, em 1914, Rilke morava em Munique, e lá permaneceu durante todo o conflito. Antes de se mudar para Munique, ele viveu na região do Trieste, e publicou, em 1913, A Vida de Maria, e iniciou a redação de Elegias de Duíno, texto que só viria a ser publicado em 1923. Duíno era um castelo na região de Trieste, Itália, onde Rilke morou por dois anos antes da Guerra, a convite da princesa Maria von Thurn und Taxis. Após o conflito na Europa, Rilke se mudou para a Suíça, a última de suas pátrias de eleição, onde viveu seus últimos anos.

 

Rilke possui uma obra original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra a união transcendental do mundo e do homem, em uma espécie de espaço cósmico interior.

 

Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira metade do século XX.

 

Sua obra foi influenciada pelo Expressionismo e influenciou muitos autores e intelectuais de diversas partes do mundo.

 

 

 

Penamentos Rilkeanos

 

 

 

Outra coisa é o verdadeiro canto. Um sopro ao nada. Um vôo em Deus. Um vento.

 

O senhor é tão jovem, tem diante de si todo começo, e eu gostaria de lhe pedir, da melhor maneira que posso, meu caro, para ter paciência em relação a tudo que não está resolvido em seu Coração. Peço-lhe que tente ter amor pelas próprias perguntas, como quartos fechados e como livros escritos em uma língua estrangeira. Não investigue agora as respostas que não lhe podem ser dadas, porque não poderia vivê-las. E é disto que se trata: de viver tudo. Viva agora as perguntas. Talvez passe, gradativamente, em um belo dia, sem perceber, a viver as respostas. Talvez o senhor já traga consigo a possibilidade de construir e formar, como um modo de viver especialmente afortunado e puro; eduque-se para isso. Mas, aceite com grande confiança o que vier, e se vier apenas de sua vontade, se for proveniente de qualquer necessidade de seu íntimo, aceite-o e não o odeie. A carne é um fardo, verdade. Mas, é difícil a nossa incubência, quase tudo o que é sério é difícil, e tudo é sério. Se o senhor reconhecer apenas isto e chegar a conquistar, a partir de si, de sua disposição e de seu modo de ser, de sua experiência e infância, uma relação inteiramente própria (não dominada pela convenção e pelo hábito) com a carne, então, o senhor não precisará mais ter receio de se perder e se tornar indigno de sua melhor posse.

 

Um ser humano amar a outro talvez seja a mais difícil das tarefas, a mais importante, o último teste e a última prova, o trabalho para o qual todos os trabalhos só foram preparação.

 

Isto é, de forma básica, a única coragem exigida de nós: ter coragem para o mais estranho, para o mais singular e para o mais inexplicável que possamos encontrar.

 

Primeiro, o amor não é nada. Surgem, entrega e união com outra pessoa, e significa (para o que seria uma união de esclarecidos e inacabados, ainda não ordenada?) um grande incentivo para o indivíduo amadurecer.

 

Amor: duas solidões se protegendo uma à outra.

 

Rosa!
Oh!, pura contradição!
Volúpia de ser o sono
de ninguém,
sob tantas pálpebras.

 

Extingue minha visão;
eu ainda posso te ver.
Tapa meus ouvidos;
eu ainda posso te ouvir.
Mesmo sem pés,
posso caminhar em tua direção,
e, sem boca,
ainda posso suplicar por ti.
Quebra meus braços,
e eu vou te envolver
com o meu Coração,
como se fosse uma mão.
Estrangula meu Coração,
e meu cérebro ainda pulsará.
E, mesmo que meu cérebro se incendeie,
hei de te levar em meu sangue.

 

Ser amado é se consumir na chama. Amar é luzir com luz inesgotável. Ser amado é passar; amar é durar.

 

O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes.

 

Basta sentir que se poderia viver sem escrever para já não se ter o direito de fazê-lo.

 

 

 

Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isto que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só.1

 

Sou alheio a toda e qualquer intenção crítica.

 

Não há nada menos apropriado para tocar em uma obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes.

 

As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis... A maior parte dos acontecimentos é inexprimível, e ocorre em um espaço em que nenhuma palavra nunca pisou.

 

Aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensas que possam vir de fora.

 

Nada pode perturbar mais a nossa evolução [reintegração] do que olhar para fora, e aguardar de fora respostas a perguntas a que, talvez, somente o nosso sentimento mais íntimo possa responder, na hora mais silenciosa.

 

Vejo que as tempestades vêm aí/pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,/batem nas minhas janelas assustadas,/e ouço as distâncias dizerem coisas/que não sei suportar sem um amigo,/que não posso amar sem uma irmã...

 

Quão pequeno é aquilo contra o que lutamos,/como é imenso o que contra nós luta...

 

Triunfamos sobre o que é pequeno/e o próprio êxito nos torna pequenos./Nem o eterno nem o extraordinário/serão derrotados por nós...

 

E havia já um pouco de eternidade/nas minhas entranhas.

 

A solidão é como uma chuva./Ergue-se do mar ao encontro das noites;/de planícies distantes e remotas/sobe ao céu, que sempre a guarda./E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,/quando todas as vielas se voltam para a manhã/e quando os corpos, que nada encontraram,/desiludidos e tristes se separam;/e quando aqueles que se odeiam/têm de dormir juntos na mesma cama:/então, a solidão vai com os rios...

 

A distância é puro sonho...

 

Oh!, solidão! Oh!, perda de tempo tão pesada... Oh!, tempo estranho! Oh!, perda de tempo! Oh!, solidão!

 

Oh!, tristeza sem sentido! Oh!, sonho! Oh!, medo! Oh!, infindável abismo!

 

Para onde? Para onde?

 

Vivo a minha vida em círculos cada vez maiores, que se estendem sobre as coisas. Talvez não possa acabar o último, mas quero tentar.2

 

 

 

 

As obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar. Apenas o amor pode captá-las, conservá-las e ser justo em relação a elas.

 

Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério – o único existente.

 

Tudo quanto é velocidade não será mais do que passado, porque só aquilo que demora nos inicia.

 

Relate tudo com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança.

 

Mesmo que você se encontrasse em uma prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, este tesouro de recordações?

 

O destino não vem do exterior para o homem, ele emerge do próprio homem.3

 

Os homens, com o auxílio das convenções, têm resolvido tudo com facilidade e pelo lado mais fácil da facilidade; mas, é claro que precisamos nos ater ao difícil.

 

 

 

 

Na vida, não há aulas para principiantes; exigem-nos logo o mais difícil.

 

O nosso mundo é um pano de cena atrás do qual se escondem os segredos mais profundos.

 

Há desejos a longo prazo que duram toda a vida. De modo que, não se pode esperar o seu cumprimento.

 

O tempo não é uma medida. Um ano não conta; dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva, e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas, só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade.

 

Como hei de segurar a minha alma
para que não toque na tua?
Como hei de elevá-la acima de ti,
até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão,
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita,
quando o teu coração treme.
Pois, o que nos toca – a ti e a mim –
isto nos une, como um arco de violino,
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh!, doce canção!

 

Como suportar, como salvar o visível, senão fazendo dele a linguagem da ausência, do invisível?

 

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

 

Quem agora chora,
em algum lugar do mundo,
Sem razão chora no mundo,
Chora por mim.
Quem agora ri,
em algum lugar na noite,
Sem razão ri dentro da noite,
Ri-se de mim.
Quem agora caminha,
em algum lugar no mundo,
Sem razão caminha no mundo,
Vem a mim.
Quem agora morre,
em algum lugar no mundo,
Sem razão morre no mundo,
Olha para mim.

 

No mundo, a coisa é determinada. Na arte, ela o deve ser mais ainda: subtraída a todo o acidente, libertada de toda a penumbra, arrebatada ao tempo e entregue ao espaço, ela se torna permanência, ela atinge a eternidade.

 

Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas, ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam, e minhas portas se abrem...

 

Aproxime-se, então, da Natureza. Depois, procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde.

 

Sou o intervalo entre as duas notas que, a muito custo, se afinam, porque a da morte quer ser mais alta… Mas, ambas, vibrando na obscura pausa, reconciliaram-se. E é lindo o cântico.

 

 

 

 

As folhas caem como se do alto
caíssem, murchas, dos jardins do céu;
caem com gestos de quem renuncia.
E a Terra, só, na noite de cobalto,
cai de entre os astros na amplidão vazia.
Caímos todos nós. Cai esta mão.
Olha em redor: cair é a lei geral.
E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
todas as coisas que caindo vão.

 

Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.

 

Quem, se eu gritasse, em meio à legião de anjos, me ouviria?

 

Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas.

 

Não é somente a inércia a culpada pela repetição dos relacionamentos humanos, caso a caso, indescritivelmente, de forma monótona e sem renovação. É a timidez diante de novas e imprevisíveis experiências, para as quais acreditamos não estar preparados. Portanto, somente alguém que está preparado para tudo, que não exclui nada, nem o mais enigmático, vivenciará a relação com o outro como algo vivo.

 

De repente, ser realização, ser verão, ser Sol.

 

Talvez, todos os dragões nas nossas vidas são princesas que estão apenas à espera de nos ver agir, apenas uma vez, com beleza e coragem. Talvez, tudo aquilo que nos assusta é, na sua essência mais profunda, algo desamparado que quer o nosso amor.

 

Toda dúvida poderá se tornar uma qualidade, se a educarmos.

 

Viva suas perguntas agora, mesmo, talvez, sem saber as respostas.

 

Eu asseguro que a maior tarefa para um vínculo entre duas pessoas é a de que cada um respeite a solidão do outro.

 

Tudo está florescendo cada vez mais imprudentemente. Se fossem vozes em vez de cores, haveria uma gritadeira inacreditável no coração da noite.

 

Este é o milagre que acontece entre aqueles que realmente amam: quanto mais dão, mais possuem.

 

Deixe a vida acontecer. Acredite: a vida é direita. Sempre.

 

As emoções puras ajudam você e se levantar. As emoções impuras – que aproveitam apenas um dos lados do seu ser – só causam distorções.

 

A Primavera está de volta. A Terra é como uma criança que sabe poemas.

 

 

 

 

O amor é como o sarampo. Quanto mais velho você fica, pior é o ataque.

 

Nenhuma grande arte foi feita sem que o artista tivesse conhecido o perigo.4

 

Eu quero estar com aqueles que sabem coisas secretas ou quaisquer outras sozinhos.

 

Não devem, por fim, essas antiqüíssimas dores se tornar mais fecundas para nós? Não é tempo de que, amando, nos libertemos do ser amado e, trêmulos, suportemos isso como a flecha suporta a corda tensionada para, recolhida no ímpeto, ser mais do que ela mesma. Pois, em nenhuma parte existe o permanecer.

 

Ficar é nada.

 

Quem encarar seriamente a questão do amor irá descobrir que, como acontece com a questão da morte, difícil como é, não existe uma resposta iluminada, nenhuma solução, nenhuma sugestão de caminho ainda foi encontrada. E, para essas duas grandes preocupações que carregamos com segurança, dissimuladas dentro de nós, e que passamos para frente sem resolver, nenhum princípio reconfortante será aprendido, nada encontrando uma concordância geral.

 

Que idade alguém deveria atingir para realmente admirar o bastante, para em nenhuma parte ficar aquém do mundo? Mas, quantas coisas ainda subestimamos, desprezamos, desconhecemos. Deus, quantas oportunidades e exemplos para nos tornarmos alguma coisa, e, em contrapartida, quanta indolência, dispersão e meia-vontade de nossa parte!

 

Ter uma pessoa próxima, cujas visões opostas se aliam a uma amizade profunda e convicta, pode ser uma influência maravilhosamente instrutiva. Pois, enquanto formos obrigados a ver o outro sempre como algo falso, mau, hostil, em vez de simplesmente o outro, não entraremos em uma relação tranqüila e justa com o mundo em que todos devem ter lugar: parte e contraparte; eu e o sumamente diferente de mim. E, apenas sob o pressuposto e a admissão de tal mundo completo, poderemos dar um arranjo amplo, espaçoso e arejado ao nosso Eu Interior, com seus contrastes e contradições internos.

 

De ser humano para ser humano, é tudo tão difícil e não ensaiado, tão sem modelo e sem exemplo, que deveríamos, em cada relacionamento, viver com total atenção, criativos sempre que se existir algo novo, e houver tarefas e questões e demandas.

 

Parece-me que resulta em nada, senão em desordem, quando o empenho geral (aliás, uma ilusão!) tem a pretensão de aliviar ou abolir, de forma esquemática, as dificuldades. Pode ser que isto reduza a liberdade da pessoa muito mais do que o sofrimento propriamente dito, que passa ao indivíduo que nele confia instruções indescritivelmente apropriadas e quase ternas, para dele escapar – se não para o exterior, então para o interior. Querer melhorar a situação de alguém pressupõe uma certa compreensão de suas condições, como nem mesmo um poeta a possui a respeito de um personagem de sua própria invenção. Muito menos, então, a pessoa que pretende ajudar, tão infinitamente excluída e cuja distração se torna total com sua doação. Querer mudar, melhorar a situação de uma pessoa significa oferecer-lhe, no lugar das dificuldades em que ela tem prática e experiência, outras dificuldades que, talvez, a peguem ainda mais de surpresa.

 

A experiência mais profunda de criar é feminina, pois, é a experiência de receber e de suportar.

 

É preciso aprender a perceber que é justo o humano que nos faz sozinhos. Quanto mais humanos nos tornamos, tanto mais diferentes ficamos. É como se, de repente, os seres se multiplicassem por mil; um nome coletivo, que antes abarcava milhares, logo se tornará muito estreito para dez pessoas, e seremos obrigados a considerar cada indivíduo inteiro. Pense: quando um dia tivermos seres humanos, em vez de povos, nações, famílias e sociedades; quando não será mais possível agrupar nem mesmo três pessoas em um só nome! O mundo, então, não deverá se tornar maior?

 

O futuro entra em nós, a fim de se transformar em nós, muito antes de ele acontecer.5

 

É bom ser solitário, mas, a solidão é difícil, e, por ser difícil, é um motivo a mais para que possamos com ela conviver.

 

Há uma multidão de seres humanos, mas, há muito mais faces, pois, cada pessoa tem várias.

 

 

 

Toda sublimidade da minha mente começa no meu sangue.

 

É preciso tomar alguma decisão contra o medo...

 

Pode até ser bom, mas não há casamentos agradáveis.

 

Cantar verdadeiramente é uma lufada diferente.

 

Um cão que se vê no espelho pensa: há um outro cão.

 

Há tantas coisas sobre as quais uma pessoa idosa poderia falar, pois, quando se envelheceu, conhecê-las é uma questão de disciplina.

 

Nenhum sentimento é definitivo.

 

Quem já não se sentou diante da cortina do seu próprio Coração? Ela se levanta, e o cenário está caindo aos pedaços.

 

 

 

 

No amor, precisamos praticar apenas uma coisa: deixar o outro partir. Segurá-lo é fácil; nós não precisamos aprender isto.

 

Ou trabalho dos olhos foi feito. Agora, faça seu Coração trabalhar as imagens aprisionadas dentro de você.

 

Não presuma que alguém que, agora, procura consolá-lo, viva despreocupado entre as palavras simples e calmas que, às vezes, lhe fazem tão bem. Sua vida também poderá ser muito triste e difícil, talvez, até, muito mais do que a sua. Se não fosse assim, ele nunca teria sido capaz de dizer as palavras certas.

 

E, agora, damos as boas-vindas ao novo ano, cheio de coisas que nunca foram!

 

Ah!, como é bom estar entre pessoas que estão lendo!

 

Faça o seu ego poroso. Abertura, paciência, receptividade e solidão são tudo.

 

De tanto olhar as grades, seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na Terra:
grades, apenas grades para olhar.

 

As únicas tristezas que são perigosas e insalubres são aquelas... que tentamos afogá-las com o barulho...

 

É preciso – e a nossa evolução, aos poucos, há de se processar neste sentido – que nada de estranho nos possa advir, senão o que nos pertence desde há muito. Já se modificaram muitas noções relativas ao movimento; há de se reconhecer, aos poucos, que aquilo a que chamamos destino sai de dentro dos homens, em vez de neles entrar. Muitas pessoas não percebem o que delas saiu, porque não absorveram o seu destino enquanto o viviam nem o transformaram em si mesmas. Afigurou-se-lhes tão estranho que, em seu confuso espanto, julgavam-no saído justamente naquele momento, e juravam nunca antes ter encontrado em si algo parecido. Como os homens durante muito tempo se iludiram acerca do movimento do Sol, assim se enganam ainda em relação ao movimento do que está para vir. O futuro está firme, caro Sr. Kappus, nós é que nos movimentamos no espaço infinito.

 

Deus, que será de Ti quando eu morrer?/Eu sou Teu cântaro (e se me romper?)/A tua água (e se me corromper?)/Sou Teu agasalho, sou Teu afazer./Vai comigo o significado Teu./Não tens mais sem mim aquela casa, Deus,/que com quentes palavras Te acolhia./Perdem Teus pés exaustos as macias/sandálias: também elas eram eu.

 

Em uma idéia criadora revivem mil noites de amor esquecidas, que a enchem de altivez e altitude. Aqueles que se juntam à noite e se entrelaçam em um baloiçar de volúpia executam obra grave, reunindo doçuras, profundezas e forças para a canção de algum poeta vindouro, que há de surgir para dizer indizíveis prazeres. Eles estão evocando o futuro; mesmo que estejam enganados, que se abracem cegamente, o futuro virá apesar de tudo; um homem novo se há de erguer. Estamos colocados no meio da vida como no elemento que mais nos convém. Também, em conseqüência de uma adaptação milenar, tornamo-nos tão parecidos com ela que, graças a um feliz mimetismo, se permanecermos calados, quase não poderemos ser distinguidos de tudo o que nos rodeia.

 

O pesado e o difícil, contanto que o carreguemos corretamente, também indica o peso específico da vida, e nos ensina a conhecer a unidade de medida de nossas forças, com a qual, daí em diante, também podemos contar, quando nos sentirmos felizes e bem-aventurados.

 

A vida é transformação. O que é bom é transformação, e o que é ruim também.

 

Em cada coisa nova, o velho está todo contido, só que diferente e bastante aumentado.

 

Não creio que importe ser feliz, no sentido em que as pessoas esperam ser felizes. Mas, consigo entender plenamente essa felicidade árdua, que consiste em despertarmos forças com um trabalho resoluto, as quais começam a trabalhar, elas mesmas, em nós.

 

Não há senão um Caminho. Procure entrar em si mesmo.

 

O único Caminho é o de dentro.

 

Vá para dentro de si.

 

 

 

 

 

 

Trabalho Impostergável
(Confiança, Humildade, Resignação)

 

 

 

Com confiança, aceite o que vier.

Com humildade, permita sem talher.

Resignado, acolha o que desconvier.

 

Com confiança, anule o aberrativo.

Com humildade, mude o impositivo.

Resignado, admita o que é definitivo.

 

Com confiança, mergulhe no Silêncio.

Com humildade, desafaste o silêncio.

Resignado, ensine o que é o Silêncio.

 

Com confiança, poupe o seu irmão.

Com humildade, partilhe o seu pão.

Resignado, tolere a opção pelo não.

 

Com confiança, vá, mas não fique.

Com humildade, não encare o tique.

Resignado, ouça a léria do cacique.

 

Com confiança, livre-se da prisão.

Com humildade, receba a Iniciação.

Resignado, lance Luz na escuridão.

 

Com confiança, rejeite a mais-valia.

Com humildade, realize a Alquimia.

Resignado, procure mitigar a sangria.

 

Com confiança, combata o corrupto.

Com humildade, desincline o abrupto.

Resignado, não maldiga o interrupto.

 

Com confiança, prossiga na Senda.

Com humildade, desfrute a merenda.

Resignado, não vitupere a exeqüenda.

 

Com confiança, ouça seu Coração.

Com humildade, levante-se do chão.

Resignado, dê guarida à contramão.

 

 

 

Guaridando a Contramão

 

 

 

______

Notas:

1. Isto é uma bobagem sesquipedalíssima. Desde quando, no mergulho interior, em meditação, não se encontra ninguém? Só se o cara for um zé-dos-anzóis-sem-alma ou zarolho ou cegueta. Todos nós que, esforçada e meritosamente, chegamos ao Período Terrestre, ao meditarmos, encontraremos o Universo inteiro dentro de nós. É só uma questão de jeitinho, como quando se namora pela primeira vez. Agora, solitude? Buraco negro? Oco? Nem em poesia. Enfim, a solidão pela solidão é uma espécie de egoísmo + morbidade + doença mental + sei-lá-o-quê + lá-sei-o-quê.

2. Ora, se não houve começo e se não haverá fim, em princípio, não há último círculo, não há última síntese. Na animação lá em cima, o último círculo – branco – simboliza uma síntese, que, oportunamente, se transformará em tese, e novos círculos se formarão, só que em uma dimensão mais elevada, mais refinada. Mas, por que escrevi em princípio? Porque, muito, muitíssimo, além do Plano Dharmakayco, que não faço a menor idéia de como possa ser, realizaremos o último círculo – uma espécie de fusão com a Consciência Cósmica, em que a individualidade desaparece como individualidade, prevalecendo tão-somente a Unidade. Mas, nem é bom pensar nisto agora. Temos de tratar de nos tornar melhores, isto sim, e, se conseguirmos, estaremos fazendo o dever de casa direitinho. Mirabolâncias confundem mais do que elucidam.

3. Disse o Senhor Buddha: Você é o que foi, e você será o que faz agora. Não adianta chiar: somos responsáveis por tudo.

4. Não sei se é propriamente perigo, mas, estou certo de que as decepções e as tristezas acabam funcionando como catalisadores para grandes criações e benfazejas realizações. Em uma das biografias que li sobre a vida do Frank Sinatra, é relatado que ele, ainda jovem, queria gravar Stormy Weather (uma canção de 1933, com música de Harold Arlen e letra de Ted Koehler, e que coloquei como fundo musical deste estudo), mas, seu professor de canto, na época, recomendou que ele esperasse alguns anos, argumentando que ele precisaria sofrer alguns desapontamentos, frustrações e desilusões, para poder registrar na interpretação da letra o sentimento de perda e de solidão que ela transmitia. Mais tarde, de forma incomparável, Sinatra gravou a música. Eu mesmo, nesta vida, por ser superlativamente emotivo, sofri duramente devido a alguns amores desfeitos e inconclusos, mas, não sem esfoladuras, acabei superando todos eles, e me tornando mais seguro e progressivamente um pouco melhor como ser humano. Seja como for, isto é certo: todas as procelas da vida somos nós que fabricamos.

5. Não é que o futuro se transforme, pois, o tempo (que não é Tempo) é uma ilusão, e só confunde, perturba e causa embaraços. Nós, sim, pela compreensão – e só pela compreensão – é que vamos lentamente nos ajustando em relação aos equívocos cometidos e à Harmonia Cósmica a ser descoberta e realizada em nosso interior. Por isto, é que, geralmente, pensamos que o futuro é melhor do que o passado; mas, toda transformação depende de nós, não das circunstâncias. As circunstâncias, quando muito, poderão estimular mudanças, mas, a real e efetiva mudança só poderá ocorrer em nosso interior. E lá vai o mantra: tudo depende só de nós.

 

 

 

 

Música de fundo:

Stormy Weather
Composição: Harold Arlen (música) & Ted Koehler (letra)
Interpretação: Frank Sinatra

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.starlifterradio.com/2012/03/future-grid/

http://relembramentos.wordpress.com/
tag/rainer-maria-rilke/

http://ogrifoemeu.com/tag/rainer-maria-rilke/

http://www.culturapara.art.br/opoema/
rainermariarilke/rainermariarilke.htm

http://www.citador.pt/poemas/
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http://www.releituras.com/rilke_menu.asp

http://www.goodreads.com/author/
quotes/7906.Rainer_Maria_Rilke

http://bloggdaro.blogspot.com.br/
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http://www.comunicacaoepolitica.com.br/
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notes-sheet-music-moving-sound-clip-art.htm

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:
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http://www.citador.pt/frases/
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