RABO DE GALLUS

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

1ª moldura: Phallus1
2ª moldura : Deus Min
2
3ª moldura: Deus Baco3

 

 

 

Nas festas de Baco,

rolava vinho e era preitejado um phallus.

Já em um balacobaco,

é o velho samba com rabo de gallus.4

 

Nos festejos do poder,

E para viajar e esquecer,

a boa uca5 e/ou uma narigada na carolina.5a

 

Depois da farromba,

ressaca, dor, nóia, delírio, pânico e solidão.

Quem se acanalha e zomba

pode chiar o quê de ter caído no alçapão?

 

Divertir-se não é pecado;

pecado é irresponsavelmente violar.

Entretanto, pecado[pecado]

é ensurdecer, contemporizar e recuar.

 

Trevas, choro e pesar por toda essa ruína.

Insisto: só a Voz do Coração

cantará a Música e enternecerá a quina.

 

 

 

 

 

 

 

 

_____

Notas:

1. Símbolo da fertilidade de alguns povos da Antigüidade. A explicação continua na nota 4.

2. Min era um dos Deuses dos antigos egípcios. No Egito, nos tempos de Sesostris I (aproximadamente 1900 a. C.), segundo rei da XII Dinastia Egípcia, o Deus Min se apresentava como uma figura humana possuidora de um falo de enormes dimensões, em permanente ereção. Era considerado o Deus dos caminhos – o guia e o protetor dos viajantes.

3. Baco em uma tela de Michelangelo Merisi da Caravaggio, 1571-1610. Baco era o filho do Deus olímpico Júpiter e da mortal Sêmele. Baco, Deus do vinho, representava seu poder embriagador, suas influências benéficas e sociais. Era considerado o promotor da civilização, o legislador e o amante da paz. Seu equivalente grego é Dioniso (Diónisos ou Dionísio).

 

Dionísio

Dioniso
(Estátua de Dioniso exposta no Louvre)

 

4. Rabo de gallus*, que eu saiba, não existe. O que existe mesmo é rabo de galo, também chamado de traçado, que é um drink-bomba arrasa-quarteirão feito de uma parte de vermute tinto e uma parte de uca. Eu não sei se hoje, nos balacobacos, nos telecotecos e nos bum-bum-paticumbum-ziriguiduns e em outros embalos, ainda se bebe rabo de galo, mas, antigamente, era comum. E por falar em drink-bomba arrasa-quarteirão, Carl Edward Sagan (1934 – 1996), em uma matemática de estarrecer, calculou: De Gettysburg à bomba arrasa-quarteirão, mil vezes mais energia explosiva. Da bomba arrasa-quarteirão à bomba atômica, mil vezes mais. E, da bomba atômica à bomba de hidrogênio, outras mil vezes. Mil vezes mil, vezes mil, é um bilhão [103 x 103 x 103 = 109]. Em menos de um século, a nossa arma mais temível se tornou um bilhão de vezes mais mortal. Mas nós não nos tornamos um bilhão de vezes mais sábios, nem um bilhão de vezes mais felizes e nem um bilhão de vezes mais seguros. Nem um bilhão de vezes mais fraternos, nem um bilhão de vezes mais justos e nem um bilhão de vezes mais equânimes, digo eu. Aliás, nos tornamos o quê? Estamos nos tornando exatamente o quê? Em um certo sentido, estamos mesmo nos tornando uma mistureba de um bilhão fudelhufas de cagahouses com um bilhão fudehouses de cagalhufas! Esse negócio é tão complicado que só com matemática muito avançada é possível de ser deduzido e explicado. É muitas vezes pior do que esse treco aí embaixo:

 

Integral tripla de uma função f(x,y,z,) de um sólido finito G

 

 

 

 

* Gallus, galli é galo em latim, que eu só usei no poema para rimar com phallus, phalli, ou seja, falo (representação do penis erectus, adorado pelos antigos como símbolo da fecundidade da natureza, e que, nas festas de Baco, era cerimoniosamente levavado como símbolo da geração). Realmente uma frescurinha literária da minha parte, já que eu poderia muito bem ter usado falo e não precisava ficar dando todas estas explicações históricas meio que inúteis e sem graça. A única justificativa plausível para dar cabimento à frescurinha literária é porque Baco, junto com Cupido, Diana, Fauno, Marte, Mercúrio, Minerva, Netuno, Vênus, Vesta, Vulcano e Calipso, é um deus da mitologia romana arcaica (que sofreu grandes modificações com a incorporação de grande parte da mitologia grega)... E os romanos se expressavam em latim. Bem, seja como for, essa parece ser a origem das famosas bacanálias, festividades romanas em honra de Baco (à imitação das festas dionisíacas gregas) Daí, portanto – e depois de todas estas explicações históricas meio que inúteis e sem qualquer graça ou chalaça – no caso deste poema, o rabo de gallus ter sido usado para rimar com phallus (subentendidamente erectus et activus; jamais mollis aut somnolentus).

5 e 5a. Uca é sinônimo de: abre, abre-bondade, abre-coração, abrideira, abridora, aca, ácido, aço, acuicui, a-do-ó, água, água-benta, água-bórica, água-branca, água-bruta, água-de-briga, água-de-cana, água-de-setembro, água-lisa, água-pé, água-pra-tudo, água-que-gato-não-bebe, água-que-passarinho-não-bebe, aguardente, aguarrás, agundu, alicate, alpista, alpiste, amarelinha, amorosa, anacuíta, angico, aninha, apaga-tristeza, a-que-incha, aquela-que-matou-o-guarda, a-que-matou-o-guarda, aquiqui, arapari, ardosa, ardose, ariranha, arrebenta-peito, assina-ponto, assovio-de-cobra, azeite, azougue, azulada, azuladinha, azulina, azulzinha, bafo-de-tigre, baga, bagaceira, baronesa, bataclã, bicarbonato-de-soda, bicha, bichinha, bicho, bico, birinaite, birinata, birita, birrada, bitruca, boa, boa-pra-tudo, bom-pra-tudo, borbulhante, boresca, braba, branca, brande, branquinha, brasa, braseira, braseiro, brasileira, brasileirinha, brava, briba, cachaça, cachorro-de-engenheiro, caeba, café-branco, caiana, caianarana, caianinha, calibrina, camarada, cambraia, cambrainha, camulaia, cana, cana-capim, cândida, canguara, canha, canicilina, caninha, caninha-verde, canjebrina, canjica, capote-de-pobre, cascabulho, cascarobil, cascavel, catinguenta, catrau, catrau-campeche, catuta, cauim, caúna, caxaramba, caxiri, caxirim, caxixi, cem-virtudes, chá-de-cana, chambirra, champanha-da-terra, chatô, chica, chica-boa, chora-menina, chorinho, choro, chuchu, cidrão, cipinhinha, cipó, cobertor-de-pobre, cobreia, cobreira, coco, concentrada, congonha, conguruti, corta-bainha, cotréia, crislotique, crua, cruaca, cumbe, cumbeca, cumbica, cumulaia, cura-tudo, danada, danadinha, danadona, danguá, delas-frias, delegado-de-laranjeiras, dengosa, desmanchada, desmanchadeira, desmancha-samba, dindinha, doidinha, dona-branca, dormideira, ela, elixir, engenhoca, engasga-gato, espanta-moleque, espiridina, espridina, espírito, esquenta-aqui-dentro, esquenta-corpo, esquenta-dentro, esquenta-por-dentro, estricnina, extrato-hepático, faz-xodó, ferro, filha-de-senhor-de-engenho, filha-do-engenho, filha-do-senhor-do-engenho, fogo, fogosa, forra-peito, fragadô, friinha, fruta, garapa-doida, gás, gasolina, gaspa, gengibirra, girgolina, girumba, glostora, goró, gororoba, gororobinha, gramática, granzosa, gravanji, grogue (CAB), guampa, guarupada, homeopatia, iaiá-me-sacode, igarapé-mirim, imaculada, imbiriba, incha, insquento, isbelique, isca, já-começa, jamaica, januária, jeriba, jeribita, jinjibirra, juçara, junça, jura, jurubita, jurupinga, lágrima-de-virgem, lamparina, lanterneta, lapinga, laprinja, lebrea, lebréia, legume, levanta-velho, limpa, limpa-goela, limpa-olho, limpinha, linda, lindinha, linha-branca, lisa, lisinha, maçangana, maçaranduba, maciça, malafa, malafo, malavo, malunga, malvada, mamadeira, mamãe-de-aluana (ou aluanda ou aruana ou aruanda ou luana ou luanda), mamãe-sacode, manduraba, mandureba, mangaba, mangabinha, marafa, marafo, maria-branca, maria-meu-bem, maria-teimosa, mariquinhas, martelo, marumbis, marvada, marvadinha, mata-bicho, mata-paixão, mateus, melé, meleira, meropéia, meu-consolo, miana, mijo-de-cão, mindorra, minduba, mindubinha, miscorete, mistria, moça-branca, moça-loura, molhadura, monjopina, montuava, morrão, morretiana, muamba, mulata, mulatinha, muncadinho, mundureba, mungango, não-sei-quê, negrita, nó-cego, nordígena, número-um, óleo, óleo-de-cana, omim-fum-fum, oranganje, oroganje, orontanje, oti, otim, otim-fifum, otim-fim-fim, panete, parati, parda, parnaíba, patrícia, pau-de-urubu, pau-no-burro, pau-selado, pé-de-briga, péla-goela, pelecopá, penicilina, perigosa, petróleo, pevide, pílcia, pilóia, pilora, pindaíba, pindaíva, pindonga, pinga, pingada, pinga-mansa, pinguinha, piraçununga, piribita, pirita, pitianga, pitula, porco, porongo, preciosa, prego, presepe, pringoméia, pura, purinha, purona, quebra-goela, quebra-jejum, quebra-munheca, quindim, rama, remédio, restilo, retrós, rija, ripa, roxo-forte, salsaparrilha-de-brístol, samba, santa-branca, santamarense, santa-maria, santinha, santo-onofre-de-bodega, semente-de-arenga, semente-de-arrenga, sete-virtudes, sinhaninha, sinhazinha, sipia, siúba, sorna, sumo-da-cana, sumo-de-cana-torta, suor-de-alambique, suor-de-cana-torta, supupara, suruca, tafiá, tanguara, teimosa, teimosinha, tempero, terebintina, tiguara, tindola, tíner, tinguaciba, tiguara, tiquara, tira-calor, tira-juízo, tira-teima, tira-vergonha, titara, tiúba, tome-juízo, três-martelos, três-tombos, uma-aí, unganjo, upa, urina-de-santo, vela, veneno, venenosa, virge, virgem, xarope-de-grindélia, xarope-dos-bebos, xarope-galeno, ximbica, ximbira, xinabre, xinapre, zuninga et cetera. E carolina é sinônimo de branca, branquinha, brilho, cocaína [fórmula química: C17H21NO4], farinha, neve, realce, senhora, pó et cetera.

 

Dosojin Japonês
Dosojin Japonês**
Narigada na Taturana***

** Dosojins são estátuas que representam as divindades que protegem os viajantes contra os maus espíritos, garantindo sua segurança. Geralmente, são encontrados nas estradas e cruzamentos. Originalmente, serviam também para demarcar os limites das vilas. Atualmente, acredita-se que ajudam casais e crianças. Muitos deuses fálicos se transformaram em espíritos guardiões, como acabou sucedendo com os Dosojins japoneses. Basta olhar para a figura acima para que se entenda logo porque esses Dosojins se tornaram espíritos guardiães e protetores dos viajantes contra os maus espíritos! Com todo respeito, mas se um Dosojin desses viesse trabalhar aqui no Rio de Janeiro como leão-de-chácara, em qualquer casa de diversão, a ordem e o respeito seriam mantidos sem qualquer esforço ou contestação, e a polícia poderia se dedicar a outras tarefas. E uma meia dúzia deles, tenho certeza, poria a Cidade Maravilhosa nos eixos em menos de uma semana. Bastava sair distribuindo mimosas porretadas fálico-dosojinícas com os seus phalli monumentais nas cabeças dos meliantes. Em São Paulo talvez demorasse um pouco mais porque a cidade é maior, mas ela também entraria nos eixos. Para finalizar, cabe uma explicação complementar: meti este pequeno apêndice fálico neste texto inspirado nos e por causa dos deuses Min e Baco. E assim, a Humanidade vai saltitando de um deus para outro, vivendo e morrendo, crendo e descrendo, matando e esfolando.

***Taturana = Carreira Grande e Grossa de Cocaína.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://40anos.nikkeybrasil.com.br/
ptbr/biografia.php?cod=243

http://pt.wikipedia.org/wiki/Integral_de_volume

http://www.brasilinter.com.br/
guerraproscrita/relancamentonilva.htm

http://www.geocities.com/
egyptology2000/dinastiasegipcias.html

http://www.istockphoto.com/
file_closeup/?id=2548590&refnum=810787

http://www.brasilescola.com/
mitologia/mitologia-romana.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dioniso

http://pt.wiktionary.org/wiki/falo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Baco

http://pt.wikipedia.org/wiki/Falo

 

Fundo musical:

Tarantella Abruzzese

Fonte:

http://www.lumiarte.com/
luardeoutono/musitalia/index.html