POEMINHA DO SAVOIR-VIVRE
(Convindo e desconvindo de
Alcofribas)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

 

François Rabelais1 disse:

 

 

François Rabelais

François Rabelais
(Alcofribas Nasier)

 

 

O bom vinho alegra o coração do homem.

 

Um homem nobre nunca odeia um bom vinho: é um preceito imperial.

 

O vinho tem o poder de encher a alma de toda a verdade, de todo o saber e de toda a filosofia.

 

Para quem sabe esperar, tudo chega com o tempo.

 

O hábito não faz o monge, e há quem, vestindo-o, seja tudo menos um frade.

 

O meu sonho é dever muito, não ter nada e, o resto, deixar para os pobres.

 

A falta de dinheiro é uma dor a que nenhuma outra se compara.

 

Conheço muitos que não puderam quando deviam porque não quiseram quando podiam.

 

A ignorância é a mãe de todos os males.

 

Amigo, perceberás que no mundo existem muito mais tolos do que homens; lembra-te disto.

 

Ao bom e sincero amor está sempre junto o temor.

 

No amor, gestos são incomparavelmente mais atraentes, eficazes e valiosos do que palavras.

 

Saio em busca de um Grande Talvez. É por isto que estou indo embora: para não ter de esperar a morte para procurar o Grande Talvez.

 

Ciência sem consciência não passa de ruína da alma.

 

Tudo na vida será difícil, desde que a compreensão e a boa vontade não sejam utilizadas.

 

Se não quiseres ver um tolo, deves, primeiro, quebrar o teu espelho.

 

Jamais me submeterei às horas. As horas foram feitas para o homem, e não o homem para as horas.

 

Levantarmo-nos de manhã não é bom. Beber de manhã é o melhor.

 

A ocasião tem todos os cabelos na parte da frente. Se a deixamos passar, não teremos forma de a puxar de volta; ela ficará careca na parte de trás da cabeça, e nunca mais retornará.

 

É mais difícil esconder a ignorância do que adquirir conhecimento.

 

Se a ociosidade fosse banida do mundo, em breve desapareceriam as artes de Cupido.

 

Em matéria de casamento, cada um deve ser árbitro dos seus próprios pensamentos, e apenas tomar conselhos consigo mesmo.

 

O homem tem o valor que a si próprio dá.

 

O homem nasceu para trabalhar, tal como o pássaro para voar.

 

É melhor escrever sobre risos que sobre lágrimas, pois o riso é o apanágio do homem.

 

Meu sentimento é que o tempo amadurece todas as coisas. Com o tempo, todas as coisas são reveladas. O tempo é o pai de verdade.

 

Geralmente, dívidas e mentiras andam juntas.

 

Toda a minha confiança está em Deus, meu protetor, que nunca abandona aqueles que colocam toda a sua esperança e todo o seu pensamento Nele.

 

Para Deus, nada é impossível. E se Ele quisesse que, de agora em diante, as mulheres parissem seus filhos pelas orelhas?

 

Nós sempre desejamos as coisas proibidas e o que nos é negado.

 

A verdadeira causa de infelicidade entre os homens é esperar caridade e benevolência e receber dano e aflição.

 

Há bêbados mais velhos do que médicos antigos.

 

Diga a verdade e envergonhará do diabo.

 

A frugalidade é para o vulgar.

 

Barriga cheia é barriga cheia.

 

Eu não empreenderei a guerra até que eu tente por todas as artes os meios de alcançar a paz.

 

Minha preocupação não é provocar, mas, antes, apaziguar; não é assaltar, mas, defender; não é conquistar, mas, proteger...

 

Tratai de vossas famílias, trabalhai cada um em sua vocação, instruí vossos filhos e vivei como vos ensina o bom Apóstolo São Paulo. Assim fazendo, tereis a guarda de Deus, dos anjos e dos santos convosco, e não haverá peste nem mal que vos afete.

 

Primeiro, inquirir a verdade; depois, admoestar.

 

Se o céu cair, pode-se ter esperança de pegar cotovias.

 

A Natureza abomina o vazio.

 

Como posso governar os outros, se não posso eu mesmo me governar?

 

Abadia de Thélème: 'Fay çe que vouldras.' Faça o que quiser. (Primeira referência à Thelema como Filosofia ou modus vivendi social).

 

Logo na entrada, acima da porta da Abadia de Thélème, contra os sorbonistas, estava escrito: Cá não entreis, hipócritas, carolas, velhos grotescos, mendincantes sonsos, piores do que os godos e os ostrogodos, precursores dos monos e das raposas! Pobres-diabos, beatos de sandália... Ide vender lá fora tais abusos!

 

Já para os representantes dos novos ideais iminentes do Renascimento, era este o convite entusiástico: Entrai, ó vós, e sede aqui bem-vindos, ó nobres cavaleiros que chegais! Neste lugar, o dinheiro que se ganha é todo gasto para o vosso bem, sem distinção de grandes ou pequenos... Entrai, ó vós, mulheres de alta estirpe! Com decisão entrai sem vacilar, ó lindas flores, de celeste face, cintura fina e porte tão discreto! Nesta mansão tereis morada honrosa.

 

Se tentarmos sentar em duas cadeiras, cairemos no chão.

 

O remédio para a sede? É o oposto para a mordida de um cão. Corra sempre atrás do cão, e ele nunca morderá você; beba sempre antes de ter sede, e você nunca terá sede.

 

 

 

 

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Nota:

1. François Rabelais (Chinon, 1494 – Paris, 1553) foi um escritor, padre e médico francês do Renascimento, que usou, também, o pseudônimo Alcofribas Nasier (um anagrama de seu verdadeiro nome).

Ficou para a posteridade como o autor das obras primas cômicas Pantagruel e Gargantua, que exploravam lendas populares, farsas, romances, bem como obras clássicas. Rabelais usou a escatologia para condenação humorística. A exuberância da sua criatividade, do seu colorido e da sua variedade literária asseguraram sua popularidade. Pertencente a um mundo dividido entre a sisudez da Santa Madre Igreja e a elegância das doutas referências à Antiguidade clássica, Rabelais resolveu, a certa altura da vida, explorar o mau gosto, tornando-se uma espécie de politicamente incorreto avant la lettre, para satirizar – e deixar enfurecidos – os seus pares. Todos eles.

Os detalhes da vida de Rabelais, são esparsos e de muito difícil interpretação. Foi um sacerdote de fraca vocação, erudito apaixonado pelo saber, de espírito ousado e com propensão para as novidades e para as reformas. Depois de aparentemente ter estudado Direito, tornou-se franciscano e iniciou os seus contatos com o movimento humanístico, trocando correspondências com o humanista francês Guillaume Budé (1467 – 1540) e com o teólogo Erasmo de Roterdão (1466 – 1536).

Mais tarde, mudou-se para o convento de Puy-Saint-Martin, e a partir de 1521, ou, talvez, mais cedo, começou a receber ordens sacras. Depressa adquiriu fama de grande humanista junto dos seus contemporâneos, mas, a sátira religiosa, o humor escatológico e as suas narrativas cômicas abriram o caminho para a perseguição. A sua vida estava dependente do poder de várias figuras públicas, nos tempos perigosos de intolerância que se viviam em França.

Por ordem da Sorbonne, viu confiscados os seus livros, tendo então passado para a Ordem dos Beneditinos. Interessa-se pelo Direito e, sobretudo, pela Medicina. Médico em Lyon, aí publica uma edição dos Aforismos, de Hipócrates, Pantagruel, em 1532, seguido, em 1534, por Gargantua. A proteção do cardeal e diplomata francês Jean du Bellay (1498 – 1560) salva-o da repressão da Sorbonne que lhe condenara a obra.

Depois de receber permissão para o abandono do hábito, obtém o doutoramento em Medicina. A publicação de Tiers Livre, em 1546, obriga-o a se refugiar em Metz e a passar dois anos em Roma. Só com a proteção do cardeal Jean du Bellay lhe é assegurada uma existência mais calma. Le Quart Livre, concluído em 1552, só foi publicado 11 anos após a sua morte.

Rabelais serviu-se da imaginação popular que herdara do espírito medieval, da estrutura narrativa das gestas, do estilo picaresco e da riqueza vocabular para versar alguns dos problemas mais decadentes do seu tempo, como a vivência religiosa, a administração da justiça ou a guerra justa.

Pretendeu libertar as pessoas da superstição e das interpretações adulteradas que a Idade Média alimentara, embora não indo contra o Evangelho nem contra o valor divino. A obra de Rabelais constitui uma das mais originais manifestações da crença do homem nas suas capacidades, simbolizadas pelo gigantismo dos personagens. Inimigo da Idade Média, ataca o gênio da cavalaria, a mania conquistadora, o espírito escolástico e, sobretudo, o sistema de educação. Rabelais renegou as tradições, a Escolástica, o pedantismo monacal e a rotina dogmática da Universidade de Paris.

 

 

 

 

 

 

 

Nem de perto nem de longe,

o hábito partejará um monge.

E o vinho não lota de filosofia;

ele só empresta ilusiva alegria.

 

E bufunfa? Para que bufunfa?

Para ter a rodo, só quem é lunfa.

Já o tempo... O pai de verdade?

Ele é bem mais pai da Saudade!

 

Mas, são irmãs dívidas e petas,

como são fechaduras e lingüetas.

Agora, quem em Deus esperança

marca passo na extensa andança.

 

Anote aí: ou é não ou é sim;

o talvez não acende estopim.

Talvez, pode ser que eu tope

jamais deu nem dará ibope.

 

E essa coisa de ser escravo

não vale nem sequer meio avo.

Cada ser-aí-no-mundo é livre

para aplicar seu savoir-vivre.

 

Se quiser, poderá ir ao tororó

ou degustar um gostoso biroró.

Se cismar, poderá até querer

desquerer um milenar querer.

 

Por fim, o que é o homem?

Um projeto de Super-homem

em que o somatório dos Eus,

um dia, resultará num Deus!

 

Para isto, todavia, é preciso

não ficar incluso nenhum siso.

Há duração para dente de leite,

e duração de diminuir o azeite.

 

Há duração de cagar mole,

e duração de evitar bole-bole.

Há duração para alienamento,

e duração para comedimento.

 

Há duração de genuflexão,

e duração de ouvir o Coração.

Há duração para não fazer,

e duração para fazer ocorrer.

 

Por isto, como água num rio,

temos que preencher o vazio.

O Um não tolera dorminhoco

nem quem da ShOPhIa é oco.

 

E quem não pisou na bola?

E quem não fez sua marola?

Clemência com o erro alheio!

Compaixão com cada anseio!

 

O que dói em um dói em todos:

sejam godos, sejam ostrogodos.

Não há dolor que exista isolada;

tudo sacoleja nossa caminhada.

 

Mas, do erro, virá a Alforria,

e, da velha arrelia, a Alegria!

Então, Hiper-homem! Enfim!

 

 

 

 

Tudo sacoleja nossa caminhada

 

 

 

Música de fundo:

Os Escravos de Jó

Fonte:

http://download.efmidi.com/midi-98608-
download-infantil-escravos_de_jo.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.clker.com/clipart-moon-smiling.html

http://mundogloob.globo.com/programas/
chaplin/materias/chaplin-virou-desenho.html

http://silver.neep.wisc.edu/~msallen/

http://www.fmd.pucminas.br/Virtuajus/
1_2006/Docentes/pdf/Renata.pdf

http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST4/005%
20-%20Meriele%20Miranda%20de%20Souza.pdf

http://pt.wikiquote.org/wiki/John_Green

http://www.ocultura.org.br/index.php/Fran%C3%A7ois_Rabelais

http://www.almirdefreitas.com/almir/
Gargantua_e_Pantagruel___Rabelais.html

http://www.clker.com/clipart-man-push.html

http://fr.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Rabelais

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Rabelais

http://giphy.com/gifs/5ciuhhe0rQva8

http://corpusimmobiliserrantemanimum.blogspot.com.br/
2011/06/el-predicador_1194.html

http://homepage1.nifty.com/96iruka/flash/animation.html

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/f/francois_rabelais_2.html

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/f/francois_rabelais.html

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/francois-rabelais/10

http://www.citador.pt/frases/citacoes/a/francois-rabelais

http://pt.wikiquote.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Rabelais

 

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