A QUESTÃO DA POBREZA

 

 

 

Carnaval

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

O ser-humano-aí-no-mundo aceitou o conflito como parte da existência diária, porque aceitou a competição, o ciúme, a avidez, a ganância e a agressão como normas naturais da vida. Quando aceitamos tais normas de vida, estamos aceitando a estrutura social tal qual é, e vivendo segundo o padrão da respeitabilidade. E é nessa rede que está aprisionada a maioria, visto que quase todos aspiram a ser respeitáveis. [In: Liberte-se do Passado (Freedom From the Known), de autoria de Jiddu Krishnamurti.]

 

Vosmecê sabe com quem tá falando?
Não.
Com um coroné porreta e respeitável.
Óia coroné, eu quero mais é que ocê se lixe.
Teje preso, cidadão!
Num tejo, bobalhão.

 

Enquanto estivermos ajustados e agrilhoados aos padrões impostos pela sociedade, a nossa vida, obrigatoriamente, será um campo de batalha. Mas, se não os aceitarmos, estaremos, então, completamente livres da estrutura psicológica da sociedade, que criou em nós a avidez, a inveja, a cólera, o ódio, o ciúme, a ansiedade, a religiosidade, o nacionalismo, o preconceito, a separatividade etc., e de tudo isso somos muito ricos. A verdadeira pobreza é estar completamente livre da sociedade e dos padrões impostos pela sociedade. Temos de ser pobres interiormente, porque, então, não há mais buscar, nem indagar, nem desejar, nem nada! Só esta pobreza interior poderá ver a verdade existente numa vida completamente sem conflito. Tal vida é uma bênção não encontrável em nenhuma igreja ou templo. Enfim, só se vivermos em completa tranqüilidade interior poderemos viver em completa tranqüilidade exterior. [Ibidem.]

 

 

 

 

 

 

Nasci pobre, muito pobre,

de clareza e de intuição.

Fiquei rico, muito rico,

de miragem e de ilusão.

 

Nasci pobre, muito pobre,

sem pra comer ter um pão.

Fiquei rico, muito rico,

de empáfia e de presunção.

 

Nasci pobre, muito pobre,

e escravizado ao não-ser.

Fiquei rico, muito rico,

 

e me fiz ver.

 

Nasci pobre, muito pobre,

na poupança, sem baguines.

Fiquei rico, muito rico,

 

e passei a ser o Jim Jones.

 

Nasci pobre, muito pobre,

mas, do exército fiz meu set.

Fiquei rico, muito rico,

e me tornei Don Augusto Pinochet.

 

Nasci pobre, muito pobre,

sem prudência e sem tino.

Fiquei rico, muito rico,

 

e me mascarei de Eduardo Cosentino da Cunha.

 

Nasci pobre, muito pobre,

leso, rebiteso e incoeso.

Fiquei rico, muito rico,

e, hoje, Sérgio Cabral, to preso.

 

Nasci pobre, muito pobre,

com propensão pro absurdus.

Fiquei rico, muito rico,

e como o Inri Cristo, me impus.

 

Nasci pobre, muito pobre,

na Hungria, não em Orós.

Fiquei rico, muito rico,

e me converti em George Soros.

 

Nasci pobre, muito pobre,

carrapato-das-galinhas.

Fiquei rico, muito rico,

e, hoje, sou o Tio Patinhas.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de liberdade e de universalismo.

Fiquei rico, muito rico,

de nacionalismo e de chauvinismo.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de Res Divina e de independência.

Fiquei rico, muito rico,

de res extensa e de ambivalência.1

 

Nasci pobre, muito pobre,

de largueza e de justiça.

Fiquei rico, muito rico,

de avareza e de cobiça.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de irmandade e de amizade.

Fiquei rico, muito rico,

de cisma e de deformidade.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de unicidade e de alegria.

Fiquei rico, muito rico,

de muralhas e de xenofobia.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de ShOPhIa e de ilustração.

Fiquei rico, muito rico,

de coisismo e de imperfeição.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de isenção e de nobreza.

Fiquei rico, muito rico,

de imprecisão e de rudeza.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de candura e de singeleza.

Fiquei rico, muito rico,

de malícia e de brabeza.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de piedade e bondade.

Fiquei rico, muito rico,

de deixa-pra-lá e de maldade.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de acerto e de felícia.

Fiquei rico, muito rico,

de sacanagem e galezia.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de abio e de abóbora-menina.

Fiquei rico, muito rico,

de Confetee de Serpentina.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de bom senso e de razão.

Fiquei rico, muito rico,

de sujeição e de grilhão.

 

Nasci pobre, muito pobre,

de Rodolfo e de Pizzinga.

Fiquei rico, muito rico,

de crendice e de mandinga.

 

Nasci pobre, muito pobre,

e retrocedi até o fim.

Fiquei rico, muito rico,

e morri sem falar Sim.

 

 

 

Carnaval

 

 

 

Todavia, eu nada tenho


(como nada tenho contra bulhufas).

Só sei que elas não abrirão

a Porta da LLuz e da Beleza.

 

Outra coisa eu também sei:

ou mudamos hoje, já, agora,

ou será infernal e terrível

a nossa terminativa hora.

 

 

 

Precisamos abrir esta Porta!

 

 

 

_____

Nota:

1. Para o filósofo, físico e matemático francês René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650), res cogitans (coisa pensante) é o sujeito pensante, que encontra obstáculo para se manifestar em uma res extensa (coisa extensa), que é o corpo, a realidade deste mesmo ou a matéria. A característica essencial ou o atributo dos corpos é a extensão, quer dizer, o estar no espaço, com suas modificações ou modos, isto é, a quantidade, a forma e o movimento. Como conseqüência disto, os corpos se submetem à quantidade e podem ser explicados em termos mecanicistas. Já os seres-humanos-aí-no-mundo não são pura extensão, puro corpo, pois, possuem mentes, enquanto os animais são, para Descartes, pura extensão, puro corpo, como máquinas, e podem, segundo o filósofo, ser explicados em termos mecanicistas. Na perspectiva cartesiana, a realidade comporta dois aspectos: o extensivo e o qualitativo. Um objeto é um corpo que se caracteriza pela extensão, pelo movimento e também por um complexo de qualidades sensíveis. Mas, só a extensão e o movimento têm realidade objetiva, ou seja, existem independentemente do sujeito. As qualidades sensíveis (som, cor, odor, sabor etc.) são subjetivas, isto é, só existem na nossa consciência. Estamos perante uma Gnosiologia que compatibiliza um Realismo Crítico com um Idealismo Moderado. Na verdade, ao afirmar a prioridade do pensamento e do sujeito na ordem do conhecer, Descartes não reduz o ser ao pensar, não nega a realidade do mundo exterior nem a sua total independência em relação ao sujeito. Não adota, por isto, a posição do Idealismo Metafísico. Pelo contrário, ao admitir a existência de qualidades objetivas, assume uma posição de Realismo Crítico, uma vez que admite que a extensão é, em si mesma, algo diferente do pensamento. Nesta ordem de ideias, Descartes admitiu a existência de três substâncias:

1ª) res cogitans (espírito): substância pensante, imperfeita, finita e dependente;
2ª) Res Divina (Deus): substância eterna, perfeita, infinita, que pensa e é independente; e
3ª) res extensa (matéria): substância que não pensa, extensa, imperfeita, finita e dependente.

A questão que se apresenta é a de saber qual a razão de Descartes ter adotado esta ordem, que dá a primazia à res cogitans e não à Res Divina. Por que razão Descartes – ao contrário de toda a Tradição Escolástica – não ter colocado Deus em primeiro lugar? É justamente a audácia desta ruptura que faz de Descartes o primeiro filósofo moderno. A verdade inquestionável, indubitável, não é a da existência de Deus, como foi repetidamente mantido ao longo de todo o pensamento medieval, mas, a da existência do cogito. Assim, é a partir da res cogitans que Descartes se propõe a demonstrar a existência de Deus (em nós). Por tudo isto, lá no poeminha, a coisa não está correta, pois, não nascemos pobres, muito pobres, de Res Divina e de independência. Nascemos, sim, esquecidos de que somos Deuses, de que somos independentes e de que somos seres universais. Nossa Pátria Verdadeira não é algum lugar na Terra; são as Estrelas! Logo, enquanto formos ricos de res extensa, seremos ricos de ambivalência e de todos os males dela decorrentes.

 

 

 

René Descartes

René Descartes

 

 

Música de fundo:

Carnevale di Venezia
Compositor: Niccolò Paganini
Interpretação: Vadim Viktorovich Repin

Fonte:

https://www.youtube.com/watch?v=f4UILyoOC58

 

Páginas da Internet consultadas:

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Res_extensa

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