A QUESTÃO DO IDEAL

 

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

O que é um ideal? Um ideal é uma criação [fantasiosa] da nossa mente na sua busca por segurança, por respeitabilidade, por aceitação, por bem-estar e por conforto. Mas, os ideais, de maneira geral, são desunidores e destrutivos, porque são catalisadores de separação. Eles são a projeção dos nossos próprios desejos, e acendem o conflito entre o que sou, o que é a Realidade e o que desejo ser. Todo idealista é um ente que está lutando entre o que é e o que deveria ser [ou o que ele gostaria que fosse]. A questão é: por que dar atenção ao que deveria ser? O grande problema humano é o medo, porque nos impede de compreender o-que-é. Os problemas, portanto, só existem porque a nossa mente resiste. Agora, preste atenção nisto: quando a mente não tem nenhum ideal, quando não está tentando se tornar algo, há um “estado de ser”, em que não existe o tempo. Criar uma antítese, para, depois, lutar contra a antítese, para produzir uma síntese não adianta nada e não leva a nada. [In: Viver Sem Temor, de autoria de Jiddu Krishnamurti.]

 

 

 

 

 

 

Eu queria saber como a Coisa é,
então, criei o coisismo.

Eu queria divulgar como a Coisa é,
então, criei o rodolfismo.

Eu queria que cressem em como a Coisa é,
então, criei o achismo.

Eu queria que a Coisa fosse ininteligível,
então, criei um busílis sesquipedalérrimo.

Eu queria que a Coisa fosse idolatrada,
então, criei o comportamento de manada.

 

 

 

 

Eu queria me salvar,
então, criei um Jardim do Éden.

 

 

Jardim do Éden

Jardim do Éden

 

 

Eu queria não pecar,
então, criei a autocastração.
1

Eu queria pôr a culpa alguém,
então, amaldiçoei a pobre da serpente.

 

 

Sr. Adão, D. Eva e D. Cobra

 

A história da maçã
é uma big baboseira.
Maçãzinha igual àquela
eu sempre compro na feira!

A lengalenga da maçã
foi inventada por teólogos,
que pariram essa besteira
e outros dislates antólogos!

Quem tá morto de fome
não rejeita uma maçã.
Quando ronca o pandulho,
entra tudo, até açã!

Por isto, meu bom amigo,
por favor, não entre nessa.
Não aceite essa chorumela,
nem para pagar promessa.

 

Eu queria exemplificar,
então, criei a história de Caim e Abel.

Eu queria acusar qualquer um,
então, criei a cobra paradisíaca.

 

 

Come... Come... Come...
Come essa maçãzinha!
Come... Come... Come...
Ouça a sua amiguinha!

 

 

Eu queria evitar o inferno,
então, criei o sacrifício.

Eu queria não ter cagaço,
então, criei a persignação.

Eu queria festejar e recordar,
então, criei a procissão.

Eu queria rezar e honrar,
então, criei o rosário.

Eu queria ser perdoado,
então, criei (mais) um Zeus.

Eu queria aterrar os religiosos,
então, criei o pecado mortal.

Eu queria zerar o Pecado Original,
então, criei o Batismo.

Eu queria castigar as feiticeiras,
então, criei o
Malleus Maleficarum.

 

 

Malleus Maleficarum

 

 

Eu queria alcançar a iluminação,
então, criei a montanha.

Eu queria inspirar a Humanidade,
então, criei a Sarça Ardente.

Eu queria dar um fim na escravidão,
então, criei as Dez Pragas do Egito.

Eu queria embaraçar as mentes,
então, criei o sentimento de culpa.

Eu queria execrar a traição,
então, criei as trinta moedas de prata.

Eu queria incriminar alguém,
então, criei o
lavabo manus meas.

Eu queria acabar com a pouca-vergonha,
então, criei o mito da exterminação.

Eu queria enquadrar os escravizadores,
então, criei o abrimento do
Yam Suf.

Eu queria queimar todas as bruxas,
então, criei a fogueira.

 

 

 

Ai... Ai... Ai...
Esse fogo tá quentinho!
Ai... Ai... Ai...
Vai torrar o meu furinho!
Ai... Ai... Ai...
Vê se apaga esse foguinho!
Ai... Ai... Ai...
Ajude-me Santantoninho!

 

 

Eu queria punir os anticonformistas,
então, criei a excomunhão.

 

 

O Sinal da Excomunhão

O Sinal da Excomunhão
(Éliphas Lèvi)

 

 

Eu queria dominar e submeter,
então, criei a absolvição dos pecados.

Eu queria ligar e desligar,
então, criei o poder sacerdotal.

Eu queria mandar e contramandar,
então, criei o Direito Canônico.

Eu queria arrecadar,
então, criei a venda de cargos eclesiásticos.

Eu queria comercializar indultos,
então, criei a venda de indulgências.

Eu queria gozar a vida,
então, criei inadequação eclesial nababesca.

Eu queria saber o que estava acontecendo,
então, criei a confissão auricular.

Eu queria impingir a credulidade,
então, criei os prodígios e os milagres.

Eu queria impor e expandir a demonologia,
então, criei o exorcismo.

 

 

 

 

Eu queria fortalecer o mito,
então, criei o Santo Sudário.

Eu queria expiar os erros cometidos,
então, criei o Sacrifício Vicário.

Eu queria avultar o respeito,
então, criei a infalibilidade
ex catedra,
(que até 18 de julho de 1870 não existia no Catolicismo).

Eu queria proteger o Catolicismo,
então, criei as concordatas.

Eu queria impingir a obediência,
então, criei a pena eterna
(+ 6 meses).

Eu queria zerar a heresia,
então, criei a inquisição.

Eu queria infligir a maior dor possível,
então, criei a empalação.

 

 

A Insânia da Inquisição

 

 

Eu queria anular a heterodoxia,
então, criei as guerras santas.

Eu queria estar protegido,
então, criei o escapulário.

Eu queria manter o compromisso assumido,
então, criei a fé cega e fanática.

Eu queria obter um milagre,
então, criei a pedinchice ajoelhada.

Eu queria semear a onipotência de Jesus,
então, criei a Sua filiação divina.

Eu queria exaltar o monoteísmo,
então, criei o
credo in unum deum.

Eu queria o ouro dos Cavaleiros Templários,
então, criei calúnias para os arrasar.

Eu queria divulgar a Promessa,
então, criei a devoção
.

Eu queria alardear a minha devoção,
então, criei uma baita chaga em cada mão
.

Eu queria me justificar,
então, criei o tentador.

Eu queria me privar,
então, criei o jejum.

Eu queria me estimular,
então, criei esperança.

Eu queria ser arrebatado,
então, criei o Dia do Juízo.

Eu queria negociar com o Senhor,
então, criei o dízimo.

 

 

Chico Tim Tones Anysio

Chico Tim Tones Anysio

 

 

Eu queria me punir,
então, criei o cilício.

Eu queria me purificar,
então, criei o celibato.

Eu queria me isolar dos pecantes,
então, criei o eremitismo.

Eu queria não transar,
então, criei o cinto de castidade.

Eu queria ser feliz,
então, criei uma Terra Prometida.

Eu queria sei-lá-o-quê,
então, criei um monstro de sete cabeças.

 

 

Monstro de Sete Cabeças

Monstro de Sete Cabeças

 

 

Eu queria, queria, queria...
Então, inventei, criei e coisei.

E na mesma, na mesma, na mesma...
Eu fiquei, delirei e empacotei.

 

 

O Saxofonista Delirante

 

 

 

_____

Nota:

1. Um exemplo desta maluquice esquizofrênica foi o triste caso do teólogo cristão, filósofo neoplatônico patrístico e padre grego bem-intencionado, mas, meio lelé, Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesaréia ou ainda Orígenes, o Cristão, [Alexandria, Egito, cerca de 185 – Cesaréia (ou, mais provavelmente, Tiro), 253], que praticou a autocastração, ao tomar literalmente o conteúdo do versículo 12, do capítulo 19, do Evangelho de Mateus: Alguns são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros ainda se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus. Quem puder aceitar isto, então, aceite. Eu vou morrer e renascer um milhão de vezes e não aceitarei a literalidade deste versículo nunca. Nem bêbado! Nem cheirado! Optar pela nulidade sexual eu até compreendo e, com muitas reservas, aceito, porém, se automutilar jamais. Se o ser-humano-aí-no-mundo masculino devesse nascer sem pirulito (que bate-bate ou que-não-bate ou que-já-bateu), a Natureza teria providenciado isto. Logo, qualquer tipo de automutilação é, como eu disse, uma maluquice esquizofrênica, que só tem paralelo no eunuquismo alheio e na mutilação genital feminina, que são crueldades sem paralelo. A mutilação genital feminina (MGF) é geralmente executada por um circuncisador tradicional com a utilização de uma lâmina de corte, com ou sem anestesia, e se concentra em 27 países africanos, Indonésia, Iêmen e no Curdistão iraquiano, sendo também praticada em vários outros locais na Ásia, no Médio Oriente e em comunidades expatriadas em todo o mundo. Mais da metade dos casos documentados pela UNICEF se concentram em apenas 3 países (Indonésia, Egito e Etiópia). A idade em que a MGF é realizada varia entre alguns dias após o nascimento e a puberdade. Em metade dos países com dados disponíveis, a maior parte das jovens é mutilada antes dos cinco anos de idade.

 

 

Orígenes de Alexandria

Orígenes de Alexandria

 

 

Música de fundo:

Get Happy
Composição: Harold Arlen (música) & Ted Koehler (letra)
Interpretação: Frank Sinatra

Fonte:

https://slivkimp3.biz/song/frank_sinatra_get_happy/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.lifeofleo.in/

https://www.lcm.com.br/site/

https://ottoassistente.com.br/

https://www.netclipart.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mutilação_genital_feminina

https://tenor.com

http://caricaturistavinicius.blogspot.com

https://uiip.com.br

http://clipart-library.com

www.animatedimages.org/

http://www.davidwfletcher.com

https://imgur.com/KLIDBMl

https://pt.wikipedia.org/wiki/Inquisição

https://www.pinterest.ca/pin/365776800973013710/

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