A QUESTÃO DA BELEZA
(Que, Desde Sempre, Existe Em Todos Nós)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Beleza

 

 

 

O importante não é o prazer nem a dor. É, antes, estar em comunhão com todas as coisas, ser sensível tanto ao feio como ao belo. Poderemos estar rodeados de grande beleza, por montanhas, campos e rios, mas, se não estivermos plenamente despertos para tudo, isto equivale a estarmos mortos. Poderemos ter um belo rosto e traços finos, poderemos nos trajar com gosto e ter maneiras polidas, poderemos pintar ou descrever bem a beleza de uma paisagem, mas, se não houver aquele íntimo sentimento de bondade, todos os acessórios exteriores da beleza só conduzem a uma vida muito superficial, a uma vida sofisticada, a uma vida sem muita significação. É a Beleza Interior que dá graça e singular delicadeza à forma e ao movimento exteriores. Quando a mente só está preocupada consigo mesma e com suas próprias atividades, não é bela. O que quer que fizer, ela permanecerá feia, limitada e, por conseguinte, incapaz de saber o que é a Beleza. Por isto, só a Bondade Interior nos dará Beleza. E só da sensibilidade à totalidade da existência brotam a Bondade e o Amor. E só a mente que Ama é, de fato, uma mente Religiosa, porque está inserida no movimento da Realidade, da Verdade, de Deus; só esta mente pode saber o que é a Beleza. Enfim, a mente que não pertence a nenhuma nação, a nenhum grupo e a nenhuma sociedade, que de nenhuma autoridade depende, que não é impelida pela ambição nem contida pelo medo só esta mente está sempre florescendo em Amor e Bondade. Porque está no movimento da Realidade, ela sabe o que é a Beleza. Porque é sensível tanto ao feio como ao belo, é uma mente criadora, de ilimitada compreensão. [Esta é mente de um Iniciado nos Mistérios Eternos, porque fora da Iniciação nada do que acima foi dito poderá ser compreendido nem realizado.] [In: A Cultura e o Problema Humano (título do original: This Matter of Culture), de autoria de Jiddu Krishnamurti.]

 

 

 

Feio

 

 

 

Se eu visse um homossexual,

interiormente, eu o criticava.

Se eu visse um bissexual,

interiormente, eu o acoimava.

Se eu visse um multissexual,

interiormente, eu o estigmatizava.

Se eu visse um zerossexual',

interiormente, eu o menosprezava.

Se eu visse um drag queen (ou uma drag king),

interiormente, eu chorava.

Se eu visse um despudorado,

interiormente, eu o criminava.

Se eu visse uma lesbiana,

interiormente, eu a condenava.

Se eu visse uma bocetinha,

interiormente, eu a censurava.

Se eu visse um garoto de programa,

interiormente, eu o ridicularizava.

Se eu visse um proxeneta,

interiormente, eu me horrorizava.

Se eu visse uma alcoviteira,

interiormente, eu me persignava.

Se eu visse um soropositivo,

interiormente, eu me afastava.

Se eu visse um chincheiro,

interiormente, eu o desprezava.

Se eu visse um traficante,

interiormente, eu o desqualificava.

Se eu visse uma criança de rua,

interiormente, eu me atemorizava.

 

 

 

 

Se eu visse um descuidista,

interiormente, eu o depreciava.

Se eu visse um mexicano,

interiormente, eu o emparedava.

Se eu visse um soteropolitano,

interiormente, eu o acordava.

Se eu visse um muçulmano,

interiormente, eu o degredava.

Se eu visse um judeu ortodoxo,

interiormente, eu o anatematizava.

Se eu visse um pastor evangélico,

interiormente, eu o catequizava.

Se eu visse um ayatollah,

interiormente, eu o amesquinhava.

 

 

Ayatollah Ruhollah Musavi Khomeini

Ayatollah Ruhollah Musavi Khomeini1

 

 

Se eu visse um babalorixá,

interiormente, eu o apequenava.

 

 

Babalorixá Joãozinho da Goméia

Babalorixá Joãozinho da Goméia

 

 

Se eu visse um esquimó,

interiormente, eu me congelava.

Se eu visse um feioso,

interiormente, eu vomitava.

Se eu visse um pedófilo,

interiormente, eu o amputava.

Se eu visse um bororó,

interiormente, eu o separava.

Se eu visse um burro-sem-rabo,

interiormente, eu o desengatava.

 

 

Burros-sem-rabo

 

 

Se eu visse um sem-teto,

interiormente, eu o enxotava.

 

 

Sem-teto

Sem-teto

 

 

Se eu visse um sem-ventura,

interiormente, eu o enjeitava.

 

 

Sem-ventura

 

 

Se eu visse um quiquiqui,

interiormente, eu tataranhava.

Se eu visse um nariz apertado,

interiormente, eu fanhoseava.

Se eu visse um 'kojeka',

interiormente, eu me 'kojekava'.

Se eu visse um comunista,

interiormente, eu o transfigurava.

Se eu visse um serial killer,

interiormente, eu o eletrocutava.

Se eu visse um meliante do Primeiro Comando da Capital,

interiormente, eu o 'solitarizava'.

Se eu visse um descrente,

interiormente, eu o desvalorizava.

Se eu visse um abracadabrista,

interiormente, eu o esconjurava.

Se eu visse um extraterrestre,

interiormente, eu ordenava: go home now.

 

 

 

 

Se eu visse uma múmia paralítica,

interiormente, eu a embalsamava.

Se eu visse o Boi Xavante,

interiormente, eu o 'pirogava'.

Se eu visse um corrupto(r),

interiormente, eu o exprobrava.

Se eu visse um Papai Noel,

interiormente, eu não me emocionava.

Se eu visse uma árvore de Natal,

interiormente, eu não me sensibilizava.

 

 

Árvore de Natal

Árvore de Natal

 

 

E assim, preconceituoso + bronco, eu sempre fui

gentil por fora, mas, insolente por dentro.

E, ± como o Dorian Gray, acabei esticando,

horrendo por fora e execrável por dentro.

Mas, de tanto perambular pelo Multiuniverso,

eu acabei 'compreentindo'2: somos todos um.

E pude, enfim, transmutar minha cuca ignóbil

em uma mente criadora de ilimitada compreensão,

sempre florescendo em Amor, Bondade e Beleza,

Piedade, Solidariedade e Unimultiplicidade,

pois, tudo isto sempre esteve em meu interior,

como está no interior de todos os seres-aí.

 

 

 

Dorian Gray
(Estamos o que não Somos,
e, por não sermos o que Somos,
morremos e samsarizamos!)

 

 

 

______

Notas:

1. Ruhollah Musavi Khomeini, nascido em Khomein, em 24 de setembro de 1902 e falecido em Teerã, em 3 de junho de 1989, foi uma autoridade religiosa xiita iraniana, líder espiritual e político da Revolução Iraniana de 1979, que depôs Mohammad Reza Pahlavi, na altura o Xá do Irã, e instaurou uma República Islâmica. Governou o Irã desde a deposição do xá Reza Pahlavi até a sua morte em 1989. Costuma ser referido como Imã Khomeini dentro do Irã e no mundo ocidental como Ayatollah Khomeini. Após a Revolução, Khomeini se tornou o Líder Supremo do País, uma posição criada na Constituição da República Islâmica como a autoridade política e religiosa mais alta da nação, que ele manteve até sua morte. Ele foi sucedido por Ali Khamenei, em 4 de junho de 1989.

2. 'Compreentindo' = Compreendendo + Sentindo.

 

 

 

 

Música de fundo:

Ding Dong Merrily on High
Composição: George Ratcliffe Woodward

Fonte:

http://www.freexmasmp3.com/ding-dong-merrily.html

 

Páginas da Internet consultadas:

https://cardplayer.com.br/

https://www.metropoles.com/

http://www.palmares.gov.br/?p=31927

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruhollah_Khomeini

http://conceitosetemas.blogspot.com/

https://medium.com/@edysenador/pcc-a-
ascensão-do-crime-organizado-9678743319a6

https://www.animatorpete.com/

https://br.pinterest.com/pin/235735361723497583/

https://www.mob76outlook.com/

https://gifer.com/en/2aSq

https://giphy.com/

https://www.cec.com.br/

https://theasc.com/magazine/may97/dorian/index.htm

 

Direitos autorais:

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