Noel
Rosa, Rubens Soares e
Rodolfo Domenico Pizzinga
—
'Por que bebes tanto assim rapaz? Chega, já é demais.'
Um
pudim de cana me abordou,
e, meio
cambalebêbado,
implorou:
—
Por favor, me dá u'a ajudinha aí;
estou
com fome, não comi.
Com
uma certa raiva contida,
botei
o dedo na ferida:
—
'Por que bebes tanto assim rapaz?
Chega,
já é demais.'
—
'Não
penses que a tua vida
melhorará
com a bebida.
Quem não
bebe te condena;
de ti não
poderei ter pena!'
O
pudim, pondo a mão no coração,
me deu
esta sábia lição:
—
Seu doutor: não sejas tão severo;
são
irmãos o extraviado e o austero.
—
Como
tu, em antanho já fui pedra;
hoje,
sou pinguço que não medra.
Não
desejo a ti o que passei;
de
tanto sofrer, nem mais chorar eu sei.
—
Um
dia, fui um Franco-iniciado,
e
acudia a quem estava ao meu lado.
Mas,
eu mesmo me desabençoei;
tanto
esquerdeei, que me excomunguei.
—
Acabei
me tornando um estupor,
e,
agora, só consigo viver de favor.
Não
me julgues, não digas não;
eu
e tu somos um só Coração.
—
Quem
sabe, nos reencontraremos.
Eu,
quiçá, para mais; tu, quiçá,
para menos.
Porventura,
até olvidemos este encontro;
mas,
não o transfaças em desencontro.
—
Seu
doutor: somos um, eu e tu;
e
o trigo e o joio; e Deus e o cafuçu.
Cada
vez que tu julgares,
enredarás
em acedares!
Envergonhado,
me arrependi.
E,
ao homem, estas palavras dirigi:
—
Meu irmão: vamos
almoçar;
perdão
por todo este mal-estar.
—
Oh!, como fui egoísta e ignorante!