MIGALHAS PTOLOMAICAS


 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Ptolomeu

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo apresenta para reflexão algumas migalhas do pensamento de Cláudio Ptolomeu (90 – 168), cientista grego que viveu em Alexandria, uma cidade do Egito, tendo se tornado um ilustre discípulo da Escola de Alexandria.. Ele é reconhecido pelos seus trabalhos em Matemática, Astrologia, Astronomia, Geografia e Cartografia. Realizou também trabalhos importantes em Ótica e Teoria Musical. Ptolomeu acreditava não só que os padrões de comportamento eram influenciados pelos planetas e pelas estrelas, mas, também, que as questões de estatura, tez, nacionalidade e até as deformações físicas congênitas eram determinadas pelas estrelas.

 

Na época de Ptolomeu, a diferença entre Astronomia e Astrologia não era muito clara. O grande mérito de Ptolomeu foi, baseando-se no sistema de mundo de Aristóteles, fazer um sistema geométrico-numérico, de acordo com as tabelas de observações babilônicas, para descrever os movimentos do céu.

 

A sua obra mais conhecida é o Almagesto (que significa O Grande Tratado) – um tratado de Astronomia. Esta obra, uma síntese dos trabalhos e observações de Aristóteles, Hiparco, Posidônio e outros, é uma das mais importantes e influentes da Antigüidade Clássica. É composta de treze volumes com tabelas de observações de estrelas e planetas e com um grande modelo geométrico do Sistema Solar, tudo baseado na cosmologia aristotélica. Nela está descrito todo o conhecimento astronômico, babilônico e grego, tendo servido de base para as Astronomias árabes, indianas e européias até o aparecimento da Teoria Heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473 – 1543). No Almagesto, Ptolomeu apresenta um sistema cosmológico geocêntrico, isto é a Terra está no centro do Universo e os outros corpos celestes, planetas e estrelas, descrevem órbitas ao seu redor. Estas órbitas eram relativamente complicadas resultando de um sistema de epiciclos, ou seja círculos com centro em outros círculos.

 

Na área da Astrologia, Ptolomeu desenvolveu o Tetrabiblos, um dos mais importantes livros de Astrologia que sobreviveu da Antigüidade. O texto foi baseado em escritos e documentos mais antigos babilônicos, egípcios e gregos.

 

A sua obra mais extensa é Geographia, que, em oito volumes, contém todo o conhecimento geográfico greco-romano. Ela inclui coordenadas de latitude e longitude para os lugares mais importantes. Naturalmente, os dados da época continham muitos erros e o mapa que está apresentado está bastante deformado, sobretudo nas zonas exteriores ao Império Romano.

 

Ptolomeu inventou a projeção cônica eqüidistante meridiana, na qual distâncias ao longo dos meridianos e ao longo de um paralelo central são representadas em uma escala constante – os paralelos sendo representados como círculos e os meridianos como retas.

 

Ptolomeu é também autor do tratado Óptica, um conjunto de cinco volumes sobre este tema, em que estuda reflexão, refração, cor e espelhos de diferentes formas.

 

No campo da Música, escreveu Harmônica ou Teoria do Som, um tratado sobre teoria matemática da música, no qual é mostrado como as notas musicais podem ser traduzidas em equações matemáticas e vice-versa.

 

Ptolomeu foi considerado o primeiro cientista celeste. No entanto, Ptolomeu foi duramente criticado por alguns cientistas, como Tycho Brahe e Isaac Newton, sendo acusado de não ter realizado nenhuma observação astronômica, mas apenas plagiado dados de Hiparco, entre outras acusações.

 

Enfim, ao ler as migalhas que serão apresentadas a seguir, imagine que você está fazendo café. Depois de feito, o que se faz? Despreza-se a borra e bebe-se o café.

 

 

 

Migalhas Ptolomaicas

 

 

 

Astronomia é a ciência que trata dos movimentos dos corpos celestes, que são regulares, imutáveis e perfeitos. Astrologia é a ciência que trata das mudanças que os movimentos dos corpos celestes provocam nas coisas terrenas.

 

 

 

 

A causa da maioria das coisas e da totalidade dos eventos é esclarecida a partir do ambiente.

 

O poder ativo da natureza essencial do Sol é aquecer e, em algum grau, secar. Isto se torna ainda mais fácil de perceber no caso do Sol do que para qualquer outro corpo celeste, devido a seu tamanho e à obviedade de suas mudanças sazonais, pois quanto mais ele se aproxima do zênite mais ele nos afeta desta forma. O poder da Lua consiste principalmente em umedecer, claramente porque ela está perto da Terra e por causa das exalações úmidas que vêm daí. Sua ação, desta forma, é precisamente esta: na maior parte, amolecer e causar putrefação em corpos, mas ela também tem, moderadamente, a sua parte no poder de aquecer por causa da luz que ela recebe do Sol. A qualidade de Saturno é principalmente de esfriar e, mais raramente, secar, provavelmente porque ele está mais afastado tanto do calor do Sol como das exalações úmidas da Terra. Tanto no caso de Saturno quanto no caso dos outros planetas existem poderes, também, que aparecem através da observação de seus aspectos com o Sol e com a Lua, porque alguns deles parecem modificar as condições do ambiente de uma forma, alguns de outra, por aumento ou diminuição. A natureza de Marte é principalmente secar e queimar, em conformidade com sua coloração abrasiva e em razão da sua proximidade com o Sol, pois a esfera do Sol está localizada logo abaixo dele. Júpiter possui uma força ativa temperada porque seu movimento ocorre entre a influência fria de Saturno e o poder incinerador de Marte. Ele aquece e também umedece, e porque seu poder de cura é o maior em razão das esferas subjacentes, ele produz ventos fertilizantes. Vênus tem os mesmos poderes e a mesma natureza temperada de Júpiter, mas age de forma oposta, pois aquece moderadamente por causa da sua proximidade do Sol, mas umedece principalmente, do mesmo modo como a Lua, por causa da quantidade da sua própria luz e porque se apropria das exalações da atmosfera úmida que envolve a Terra. Mercúrio, em geral, em alguns momentos, seca e absorve a umidade porque ele nunca está muito longe, em longitude, do calor do Sol, e, então, umedece, porque está próximo, logo acima, da esfera da Lua, que está mais próxima da Terra; e muda rapidamente de uma ação para a outra, inspirado, por assim dizer, pela velocidade de seu movimento nas proximidades do próprio Sol.

 

Se o domínio da morte se deve a Saturno, ele produzirá morte por excesso de frio. Júpiter causa a morte por angina, inflamação dos pulmões, apoplexia, espasmos, dores de cabeça, desempenho patológico do coração e por todas as doenças derivadas do excesso de ar, de respiração imoderada e impura. Marte causa a morte por meio de febres constantes, ferimentos súbitos e espontâneos, males dos rins, expectoração de sangue e hemorragias de várias espécies; por aborto, por parto, por erisipelas, e, em suma, por males que procedem de calor abundante e imoderado. Vênus produz morte por desordens do estômago e do fígado, por escorbuto e disenteria; também por consumpção ou debilidade, por fístulas e venenos e por todas as doenças que incidam em excesso ou escassez de umidade e sua corrupção. Finalmente, Mercúrio causa morte por fúria, loucura, melancolia, epilepsia, síncopes, tosses e obstruções e por todas as doenças que derivem de excesso ou falta de secura. Se Saturno estiver em signos fixos e em quadratura ou oposição ao Sol, e em condição adversa, produzirá morte por sufocamento, ocasionado tanto por multidões quanto por enforcamento ou estrangulamento. Se ele (Saturno) estiver situado em lugares ou signos de forma bestial, o nativo será destruído por animais selvagens e, se Júpiter também der testemunho, estando ao mesmo tempo seriamente afligido, a morte terá lugar em público, e de dia; por exemplo, sendo lançado ao combate contra feras. Se Saturno estiver situado em oposição a algum dos astros no ascendente, causará morte na prisão; já se estiver configurado por Mercúrio, especialmente na proximidade da constelação da Serpente na esfera, e em signos terrestres do zodíaco produzirá morte por picadas ou mordidas venenosas e por feras e répteis. E, caso Vênus também se ligue a Saturno e a Mercúrio assim combinados, a morte se seguirá por envenenamento ou traição feminina. Se Saturno estiver em Virgem ou Peixes ou signos de água, configurado com a Lua, ele trará morte por meio da água, por afogamento ou sufocamento, e, se estiver perto de Argo,1 por naufrágio. Se Marte estiver em signos de forma humana e posicionamento em quadratura ou oposição ao Sol ou à Lua, e em condição adversa, trará morte por chacina, em guerra civil ou externa, ou por suicídio. Já se Vênus estiver presente, a morte será produzida por mulheres, e caso Mercúrio também esteja com eles configurado, a morte ocorrerá através de ladrões, assaltantes ou salteadores.

 

O Sol, junto com o ambiente, está sempre da mesma forma afetando tudo na Terra, não só pelas mudanças que acompanham as estações do ano para produzir a geração dos animais, a produtividade das plantas, o fluxo das águas e as mudanças nos corpos, mas também por suas revoluções diárias, que levam calor, umidade, secura e frio em ordem regular e em correspondência com as posições relativas ao zênite. A Lua, também, uma vez que é o corpo celeste mais próximo da Terra, exerce sua influência da forma mais abundante sobre as coisas mundanas, pois elas, em sua maioria, animadas ou inanimadas, são simpáticas a ela e com ela mudam conjuntamente; os rios aumentam e diminuem seu volume de acordo com sua luz, os mares geram suas próprias marés de acordo com seu nascer e seu poente, e as plantas e os animais, no todo ou em uma mesma parte, crescem e minguam com ela. Já as passagens das estrelas fixas e dos planetas pelo céu muitas vezes significam que as condições do ar serão de calor, de vento ou de neve, e as coisas mundanas são afetadas da mesma forma.

 

Embora o poder do Sol prevaleça no ordenamento geral da qualidade, os outros corpos celestes ajudam ou se opõem a ele em detalhes particulares. A Lua de forma mais óbvia e contínua, como, por exemplo, quando está nova, crescente ou cheia, e as estrelas a intervalos maiores e de forma mais obscura, como quando de seus aparecimentos, ocultações e aproximações.

 

Por um lado, um tipo de ambiente é proporcional a um tipo de mistura e pode contribuir para a saúde; por outro, outro tipo de ambiente é desproporcional e contribui para a adversidade.

 

A Astrologia deve ser abordada de maneira indutiva, conjectural e qualitativa. Há muitos que, não sendo bem instruídos na Astrologia, provocam a opinião de que até mesmo os que são bem-sucedidos o são por acaso; mas isto é incorreto. Tal argumento não é sobre a ciência, mas sobre a incapacidade dos que a praticam. Muitos, entretanto, tiram proveito e enganam as pessoas em nome da Astrologia, quando, na verdade, estão usando outras técnicas preditivas. A maioria dos que, para ter lucro, julgam digno confiar em outra técnica usando o nome da Astrologia, por um lado, enganam os leigos, porque parecem prever muitas coisas, até mesmo aquelas que por natureza não podem ser objeto de prognóstico. Por outro lado, por causa disto, dão oportunidade aos mais esclarecidos de criticar até aquelas coisas que podem ser previstas por natureza. Mas, isto não é necessário. Nem se deve desprezar a Filosofia desta forma porque alguns indignos parecem praticá-la.

 

Mesmo observadores que não usem meios científicos, como agricultores e marinheiros, perceberão as conseqüências de configurações mais óbvias, como as do Sol e as da Lua.

 

A educação e os hábitos contribuem para o curso da vida.

 

 

 

 

O prognóstico pelo emprego da Astronomia é bom para a alma, pois fornece uma visão geral das coisas humanas e divinas. Para o corpo é igualmente bom porque informa sobre o que é apropriado para cada temperamento.

 

São dois os prognósticos pela Astronomia: o primeiro, equivalente em ordem e poder, leva ao conhecimento dos posicionamentos do Sol, da Lua, das estrelas, dos seus aspectos relativos uns aos outros e da Terra; o outro, leva em consideração as mudanças que estes aspectos criam, por meio de suas propriedades naturais, nos objetos sob sua influência.

 

Pareceria, à primeira vista, que aqueles que criticam a inutilidade do prognóstico não têm nenhuma consideração pelos assuntos mais importantes, mas apenas por este: que o conhecimento adiantado dos acontecimentos que vão acontecer de qualquer modo é supérfluo; fazem-no também sem qualquer reserva e sem a devida discriminação. Pois, em primeiro lugar, deveríamos considerar que até com acontecimentos que terão necessariamente lugar, o fato de serem inesperados pode muito bem causar pânico excessivo e alegria delirante, enquanto o conhecimento prévio acostuma e acalma a alma através da experiência dos acontecimentos distantes como se fossem presentes, e a prepara para aceitar com calma e serenidade o que quer que aconteça.

 

Nas coisas terrenas, há interferências de outras causas, além das celestiais (causas primárias), como o acaso, o ambiente e a seqüência natural (decorrente da causa primária), que podem servir de forças de resistência.

 

Se os acontecimentos futuros dos homens não forem conhecidos ou se forem conhecidos e os remédios não forem aplicados, eles seguirão, sem dúvida, o curso da natureza primária. Mas, se forem reconhecidos antes do tempo e os remédios forem fornecidos, novamente de acordo com a natureza e o destino, ou eles não ocorrerão ou serão menos graves.

 

Absolutamente todos os eventos futuros são inevitáveis e inescapáveis, mas a possibilidade de uma prática defensiva deve ser bem-vinda, apreciada e considerada vantajosa.

 

A Medicina é uma das principais aplicações da Astrologia, podendo principalmente explicitar o caráter prognóstico, diagnóstico, terapêutico e preventivo.

 

Não é a estrela ou signo que produzem um certo efeito, mas a qualidade da estrela ou do signo, já que uma determinada qualidade sempre produzirá o mesmo efeito.

 

Tal é, pois, a doutrina sucinta dos acidentes do corpo. Mas as qualidades da alma, que pertencem à inteligência e ao raciocínio, dependem, em cada um, da condição de Mercúrio. Aquela que diz respeito aos costumes e às tendências inferiores derivam dos astros cujas configurações são mais grosseiras, quer dizer da Lua e daqueles que se lhe assemelham, quer por conjunção, quer pelo aspecto. E visto que a diversidade das tendências e dos movimentos da alma é muito grande, esta consideração não é simples e não deve ser feita temerariamente sem distinção, mas necessita de muitas e diversas conjecturas. Com efeito, os signos nos quais Mercúrio e a Lua se encontram contribuem muito para as qualidades da alma assim como os aspectos dos astros em relação ao Sol e aos ângulos e a natureza de qualquer planeta, pela relação que têm com certas inclinações da alma.2

 

Nos lugares favoráveis, se o Sol tem familiaridade com o Senhor das condições do Espírito, faz os homens mais justos, mais destros, mais religiosos e mais graves. Todavia, nos lugares desfavoráveis e que não se harmonizam já com o dominador, imprime-lhes menos brilho, compromete-os em negócios mais difíceis, torna-os menos notáveis, obstinados, rudes, cruéis, intratáveis e, em geral, obtendo menos sucesso.

 

O Zodíaco é um círculo e, portanto, não tem um começo natural.

 

Em condições parecidas, a qualidade dos astros é mais pura e sua potência é mais forte; em condições opostas, seu poder é adulterado e mais fraco.

 

 

Estações
Características
Idades da vida
Primavera
Umidade
Primeira (delicadeza e viço)
Verão
Calor
Segunda (até plenitude)
Outono
Secura
Terceira (após plenitude)
Inverno
Frialdade
Quarta (declínio, dissolução)

 

A posição da Lua é de grande alcance, pois se se afasta da latitude meridional ou setentrional, gera a variedade dos costumes, a propriedade nos conselhos e a inconstância. Nos modos, agudiza o espírito e ajuda à prontidão na invenção, à destreza e torna os homens mais avisados. Quando a Lua nasce ou aumenta em capacidade luminosa, torna os homens mais generosos, mais abertos, mais afoitos e mais livres. Todavia, na conjunção ou quando é ocultada pelo Sol fá-los mais covardes, mais idiotas, desistir mais facilmente do que se haviam proposto realizar, mais tímidos e mais desprezíveis.

 

Cada estação do ano corresponde a três signos, sendo que cada um deles representa uma fase da estação: o início, o meio e o fim. As estações começam sempre com os signos cardinais (Áries, Câncer, Libra e Capricórnio), aos quais se seguem os signos fixos (Touro, Leão, Escorpião e Aquário). O fim das estações equivale aos signos mutáveis (Gêmeos, Virgem, Sagitário e Peixes).

 

Os signos são masculinos e femininos. A ordem é alternada porque o dia está sempre ligado à noite e próximo dela, como o feminino e o masculino. Áries e Libra, tomados como base, são considerados masculinos e diurnos, pois o círculo equinocial que passa por eles realiza o primeiro e mais poderoso movimento de todo o Universo.

 

 

Signos
Características
Áries e Libra
Masculino
Touro e Escorpião
Feminino
Gêmeos e Sagitário
Masculino
Câncer e Capricórnio
Feminino
Leão e Aquário
Masculino
Virgem e Peixes
Feminino

 

Quando apenas Mercúrio possui o governo do Espírito nos lugares favoráveis, faz os homens inteligentes, prudentes, dóceis, informados sobre muitas coisas, sutis em inventar, fazendo várias experiências, raciocinando sobre tudo, conjecturando bem, procurando a natureza das coisas, hábeis, imitadores, bondosos, calculistas, especulativos, matemáticos, interessados por diversos mistérios, não compreendendo nada em vão. Pelo contrário, em lugares desfavoráveis, fá-los manhosos, precipitados, esquecidos, tendo impulsos rápidos, superficiais, volúveis, mudando de opinião, fúteis, desejosos de prejudicar, loucos, fáceis de serem enganados, mentirosos, menosprezando as diferenças das coisas e das pessoas, instáveis, infiéis, fraudulentos, injustos e, por fim, planejadores de conselhos perigosos e praticando maldades de forma ousada e temerariamente.

 

Quem vive mais ao sul (do equador ao trópico de verão) tem pele negra, cabelo crespo, hábitos selvagens, estatura baixa e natureza sangüínea; quem vive entre o trópico de verão e as Ursas tem cor e estatura medianas, natureza uniforme e hábitos civilizados. Em cada região surgem traços especiais de caráter e costumes, decorrentes de seus climas, que também variam segundo a situação, altitude ou adjacências, mas que guardam familiaridade natural com as estrelas nos signos.

 

Nos eclipses, deve-se observar as cores dos luminares, dos raios de luz, auréolas e semelhantes. Se a cor cobrir o luminar todo ou a região que o circunda, a maioria das partes dos países será afetada; caso contrário, será afetada apenas a parte para a qual o fenômeno se inclina.

 

Os cometas pressagiam guerras, tempo quente, condições perturbadas e diversas outras conseqüências. No Zodíaco, a posição da cabeça e a direção da cauda do cometa mostram as regiões afetadas: a cabeça aponta o tipo de acontecimento e a classe sobre a qual terá efeito; o tempo de duração do cometa equivale ao tempo de duração do acontecimento; e a posição relativa ao Sol indica o início do acontecimento (no oriente, acontecimentos que chegam rapidamente, no Ocidente, vagarosamente).

 

Estes sinais atmosféricos devem ser considerados para se fazer um prognóstico específico, a saber: 1º) Nascer ou pôr do Sol claro, firme e sem nuvens —› bom tempo; 2º) Disco variado ou avermelhado, com raios rubros, presença de nuvens paraélicas, formações amareladas de nuvens ou emissão de longos raios —› ventos fortes e que vêm dos ângulos para os quais os sinais apontam; 3º) Nascer ou pôr do Sol escuro ou lívido, com nuvens ou auréolas à sua volta ou nuvens paraélicas, emissão de raios lívidos ou escuros —› tempestades e chuvas; 4º) Lua fina e clara sem nada ao redor —› tempo claro; 5º) Lua fina e vermelha, com disco da parte não iluminada visível e perturbado —› ventos na direção da sua inclinação; 6º) Lua escura ou pálida e espessa —› tempestades e chuvas; 7º) Lua com uma auréola clara desvanecendo-se gradualmente —› bom tempo; 8º) Lua com duas ou três auréolas —› tempestades (quanto mais auréolas, mais severas as tempestades); 9º) Lua com auréolas amarelas e quebradas —› tempestades com vento forte; 10º) Lua com auréolas pálidas ou escuras e quebradas —› tempestades com vento e neve; 11º) Auréolas em torno de estrelas e planetas —› o que é próprio de suas cores e das naturezas dos astros que circundam; 12º) Estrelas fixas muito juntas, que parecem mais brilhantes e maiores do que o normal —› ventos que sopram de sua própria região; 13º) nebulosas opacas, espessas, invisíveis —› chuva torrencial; 14º) nebulosas claras e cintilantes —› ventos fortes;15º) Estrelas Asnos ao norte da Praesepe invisível —› vento norte; 16º) Estrelas Asnos ao sul da Praesepe invisível —› vento sul; 17º) Cometas —› secas ou ventos (quanto maior, mais severos os ventos); 18º) Estrelas cadentes num ângulo —› vento daquela direção; 19º) Estrelas cadentes de ângulos opostos —› confusão de ventos; 20º) Estrelas cadentes dos quatro ângulos —› tempestades de todo tipo, com trovões, relâmpagos e semelhantes; e 21º) Arco-íris —› tempestade depois de tempo limpo e tempo limpo depois de tempestade.

 

A teoria dos acontecimentos universais controla o prognóstico particular, pois suas condições são maiores e independentes. No entanto, a causa tanto do universal quanto do particular é o movimento dos planetas, do Sol e da Lua, ou seja, o prognóstico baseia-se na observação das alterações nas naturezas próprias que correspondem aos movimentos dos corpos celestes, partindo do cálculo da disposição e dos aspectos dos mesmos. Contudo, não há um único ponto de partida para os universais. Para os indivíduos, entretanto, o ponto de vista principal é o singular, ou seja, o mapa natal, e os outros surgirão em momentos da vida específicos, variando de grau conforme as idades da vida e os sucessivos significados dos ambientes em relação a este momento inicial. A semente recebe suas qualidades do ambiente, e, ao crescer, suas modificações implicam sempre misturas com matéria que lhe é afim, assemelhando-se cada vez mais com a sua qualidade inicial.

 

Se o momento da concepção for conhecido, deve-se tomá-lo como ponto de partida, pois com ele também se conhecem previamente acontecimentos anteriores ao nascimento. Caso contrário, deve-se usar o momento do nascimento para determinar a natureza específica do corpo e da alma. No nascimento, que se dá debaixo de uma conformação dos céus semelhante à que governou sua concepção e formação, a criança adquire atributos adicionais, tipicamente da natureza humana. Ou seja, a causa primária é a configuração no momento da concepção. O momento do nascimento tem necessária e naturalmente potencialidade muito semelhante. Enfim, cabe ao astrólogo ser hábil para aplicar as descrições gerais aos casos particulares.

 

Das ciências que fornecem prognóstico pelo emprego da Astronomia, ó Syros, duas têm mais importância e autoridade. Por meio de uma delas, primeira em ordem e poder, compreendemos as configurações usuais dos movimentos do Sol, da Lua e dos astros em relação uns com os outros e com a Terra. Por meio da segunda, usando a natureza dessas configurações, investigamos as particularidades que concretizam as transformações no ambiente à sua volta.

 

O Sol exalta-se em Áries porque é aí que a duração do dia e o poder de aquecimento do Sol começam a aumentar. A depressão em Libra se dá pelas razões opostas. Saturno, em uma posição oposta à do Sol, como nas regências dos signos, exalta-se em Libra e deprime-se em Áries. Onde o calor aumenta, diminui o frio e vice-versa. A Lua exalta-se em Touro, pois é o primeiro signo do seu próprio triângulo e também porque é onde, após uma conjunção em Áries (exaltação do Sol), começa a aumentar a sua luz e altura. Escorpião, signo oposto, é a sua depressão. Júpiter, que produz os ventos do norte, alcança o ponto mais setentrional em Câncer, levando seu poder ao apogeu. Exaltação em Câncer e depressão em Capricórnio. Marte é fogoso e fica ainda mais em Capricórnio, na culminação sul. Em contraste com Júpiter, Marte recebeu Capricórnio como exaltação e Câncer como depressão. Vênus é úmida e aumenta seu poder em Peixes, anunciando a úmida primavera. Exaltação em Peixes e depressão em Virgem. Mercúrio é mais seco, logo, por contraste, exalta-se em Virgem e deprime-se em Peixes.

 

A Lua influencia a primeira infância (0 – 4 anos), fixando a alma no corpo e promovendo rápido crescimento. Mercúrio influencia a segunda infância (5 – 14 anos), favorecendo o início do desenvolvimento intelectual e a parte lógica da alma. Vênus influencia a juventude (15 – 23 anos), estimulando a inspiração e o impulso para o amor. Neste período, um tipo de frenesi entra na alma: incontinência, desejo por gratificação sexual, paixão fulminante, astúcia e amor impetuoso. O Sol influencia a maturidade (24 – 43 anos), implantando na alma maestria e direção nas ações. Tem início o desejo de posses, poder, glória e boa posição; muda a ingenuidade para a seriedade com decoro e ambição. Marte influencia a meia-idade (44 – 59 anos), surgindo a preocupação com a idade, exigindo cuidados com o corpo e com a alma. Júpiter influencia a velhice (60 – 72 anos). Vêm a fadiga, a renúncia ao trabalho manual, ao tumulto e à atividades perigosas. Em seu lugar, entra o decoro, a previdência, o retraimento, junto com a cautela, a admoestação e a consolação. É o tempo em que o ser busca a honra. Enfim, Saturno tem influência sobre o fim da vida (73 anos em diante). Aqui, os movimentos do corpo e da alma estão 'esfriados' e impedidos em seus impulsos, prazeres, desejos e velocidade. Perde-se a vontade; vem a fraqueza.

 

 

 

 

Quando apenas Vênus domina nos lugares importantes faz homens afáveis, bons, amando os prazeres, destinados a adquirir a afeição dos outros, eloqüentes, dados à elegância e às assembléias, ciosos, alegres, não conseguindo suportar o sofrimento, com jeito para as artes, de gestos agradáveis, religiosos, com uma boa constituição física, tendo sonhos realistas, usando de uma natureza benevolente para com o seu próximo, bondosos, misericordiosos, fáceis de reconciliar, não fazendo nada em vão e, por fim, dados às volúpias sensuais. Em lugares desfavoráveis, fá-los preguiçosos, apaixonados, efeminados, tímidos, indiferentes nas suas ações, inclinados à lascívia, indiferentes à infâmia e leva-os a viver sem brilho.

 

 

Corpos
Celestes
Qualidades
Influência
Características
Sol
Quente e seco
Benéfica/Maléfica
Masculino
Lua
Quente e úmida
Benéfica
Feminina
Mercúrio
Depende do Sol e da Lua
Benéfica/Maléfica
Feminino
Vênus
Quente e úmido
Benéfica
Feminino
Marte
Quente e seco
Maléfica
Masculino
Júpiter
Quente e úmido
Benéfica
Masculino
Saturno
Frio e seco
Maléfica
Masculino

 

Não devemos acreditar que eventos separados ocorram para a Humanidade como resultado de una causa celestial, como se eles tivessem sido ordenados originalmente para cada pessoa por um comando divino irrevogável e destinados a acontecer sem a possibilidade de nenhuma outra causa, qualquer que seja, intervir.

 

Algumas coisas acontecem à Humanidade através de circunstâncias gerais e não como resultado das propensões naturais do indivíduo – por exemplo, quando os homens perecem em multidões devido à conflagração de uma peste ou cataclismo, por mudanças monstruosas e inescapáveis no ambiente, pois a causa subordinada sempre deve dar lugar à maior e mais forte. Outras ocorrências, no entanto, estão de acordo com o próprio temperamento individual, através de antipatias menores e fortuitas do ambiente.

 

 

 

 

Tanto no geral quanto em particular, quaisquer que sejam os eventos que dependam de uma primeira causa, que seja irresistível e mais poderosa que qualquer uma que se oponha a ela, estes devem acontecer de qualquer modo. Por outro lado, dos eventos que não têm esta característica, aqueles que possuem forças que lhe resistam são facilmente evitados, enquanto aqueles que não possuem estas forças não seguem as causas primárias naturais, é claro, mas isto é devido à ignorância e não à necessidade de um poder superior.

 

Algumas coisas, porque suas causas eficientes são numerosas e poderosas, são inevitáveis; mas outras, pelas razões contrárias, podem ser evitadas.

 

Um certo Poder que emana da Substância Etérea Eterna se espalha e permeia toda a região em torno da Terra, que está completamente sujeita à mudanças, pois, dos elementos sublunares primários, o Fogo e o Ar são envolvidos e alterados pelos movimentos do Éter, e eles, por sua vez, envolvem e mudam todo o resto, a Terra e a Água, as plantas e os animais.

 

Eu sei que sou mortal e criatura de um só dia; mas, quando perscruto o conjunto dos círculos giratórios das estrelas, os meus pés deixam de tocar a Terra e, lado a lado com o próprio Zeus, sacio-me de ambrosia, o alimento dos deuses.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Argo, na mitologia grega, foi a embarcação construída com a ajuda da deusa Atena para que Jasão e os argonautas viajassem em suas aventuras.

2. Como informa Cristina de Amorim Machado no artigo O Tetrabiblos de Ptolomeu: um Texto e sua Circunstância, dentre os críticos da Astrologia, no século III, destacam-se o médico e filósofo grego Sexto Empírico, que viveu entre os séculos II e III a.C., e o neoplatônico Plotino (205 – 270 d.C.), que questionaram o determinismo astral e a astrologia fatalista. Plotino lembra, como Ptolomeu já o fizera no Tetrabiblos, os diversos outros fatores que determinam o destino, considerando a Astrologia como um saber conjectural. Em suas Enéadas (II: 3 - 1), Plotino admite que as estrelas indicam o futuro, numa escrita que pode ser lida por quem é capaz de usar a analogia sistematicamente. Ensinou Plotino: O movimento dos astros indica os eventos futuros, e não os produz, como se crê freqüentemente.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Argo

http://www.4shared.com/all-images/sOWqra4
d/Screen_Savers.html?&firstFileToShow=100

http://www.4shared.com/all-images/
sOWqra4d/Screen_Savers.html

http://blog.reddodo.com/news/
animated-devil-on-your-screen

http://www.oracula.com.br/
numeros/022010/05-carvalho.pdf

http://ecologiadoser.blog.terra.com.br/2010/06/05/
a-prostituta-de-babilonia-ela-corrompe-roma-69/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ptolemeu

http://temqueler.files.wordpress.com/
2007/12/ptolomeu.pdf

http://www.das.inpe.br/~alex/Ensino/cursos/
historia_da_ciencia/artigos/Ptolomeu_29.pdf

http://www.astrologiamedieval.com/
blog/?tag=tetrabiblos

http://www.historiaimagem.com.br/
edicao10abril2010/tetrabiblos.pdf

http://geometrias.eu/deposito/tptolo.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Teorema_de_Ptolomeu

http://www.bibliotecasadalsuud.com/
tetrabiblos.htm

http://www.psicoastro.com/
artigos/tetrabiblos-de-ptolomeu

 

Música de fundo:

I've Got the World on a String
Composição: Harold Arlen (música) & Ted Koehler (letra)
Interpretação: Ella Fitzgerald

Fonte:

http://beemp3.com/