Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

 

 

 

O coração do homem dispõe o seu caminho;

mas ao Senhor pertence dirigir os seus passos.1

Então, quem é o responsável por um descaminho:

o pecador ou o Senhor que dirige os seus passos?

 

Se o Senhor os passos do homem governa

por que alguns (ou muitos) ardem no inferno?

Por que para alguns está esconsa a Lanterna,

e para outros está garantido o céu ab æterno?

 

Três vezes não. Não há punição ou prêmio,

como também não há enfiteuse ou laudêmio.2

3

 

Cada homem é responsável por seus atos,

sejam eles contemporâneos, sejam eles inatos.

Nada é fixo, definitivo; tudo pode ser mutável.

 

 

 

 

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Notas:

1. Bíblia, Livro dos Provérbios, XVI, 9.

2. No Universo, não há punição ou prêmio, como também não há enfiteuse ou laudêmio. Há, sim, um processo permanente de ensino-aprendizagem-ensino... A Lei máxima regulatória do Universo é a Justiça Cósmica, que não é verde ou amarela, nem é azul ou vermelha; é incolor. Nada está acima desta Lei. Portanto, é tão-só e irredutivelmente o mérito que conforma a manifestação dos seres. As aparentes violações são mesmo apenas aparentes; e são aparentes porque, realmente, nada conhecemos do funcionamento desse ilimitado Universo. Quando conhececemos uma coisa, e se conhecemos mesmo, conhecemos um infinitésimo elevado a um infinitésimo dessa tal coisa. Então, por que a vaidade?

Para meditar: Dom Luciano Mendes, arcebispo de Mariana, Minas Gerais, que desde o dia 17 de julho de 2006 estava internado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP para tratamento de um câncer no fígado provocado por hepatite C, veio a falecer domingo, 17 de agosto de 2006. Mesmo sabendo que seu estado era terminal, teve forças, em sua lucidez católica, para, em seus instantes finais, dizer: — Deus é bom. Cada um que conclua o que puder concluir. Não é difícil.

3. O homem só é herdeiro de si próprio. A dita herança genética (contribuição dada ao genoma de cada ser vivo por um ser vivo parental, isto é, por organismos maternos e paternos) não é um acaso cósmico ou uma imposição divina. Antes, é o resultado de um acordo – geralmente acordado de forma inconsciente – que envolve os futuros pais e a criança que irá nascer. Isso não é uma regra geral e absoluta, mas, certamente, o ser-no-mundo não herda os 'pecados' dos outros. Por isso afirmei em um trabalho recente: do útero de uma santa mulher não poderão nascer um degenerado ou uma degenerada, como do útero de uma degenerada não poderão nascer um santo homem ou uma santa mulher. E quanto aos contratos – o karma – todos podem ser alterados. Ou para que serve a encarnação? Apenas para sofrer sem parar de sofrer? Eu me recuso a aceitar isso. E você?

Música de fundo:

Christus

Fonte:

http://www.aurora.dti.ne.jp/%7Eeggs/midiroom.htm