Muitos
admitem que a dor é algo mau e que o prazer é bom, embora
afirmem que mesmo o que agrada também é mau, quando priva
de prazeres maiores que os que ele próprio proporciona ou quando
culmina em dores maiores que este mesmo prazer. Chamam, inclusive, bom a
ter uma dor quando ela liberta de dores maiores que essa ou quando culmina
em prazeres maiores do que as dores.
O
homem, muitas vezes, sabe que as más ações são
más ações, mas as pratica na mesma, sem ser obrigado
a fazê-lo, empurrado e oprimido pelos prazeres. Assim, é verdade,
muitos que conhecem quais são as boas ações não
estão dispostos a praticá-las, por causa de prazeres momentâneos,
por serem dominados por eles.
O
comedimento poderá afastar a ilusão e mostrar a verdade, dando
à alma a posse de uma serenidade que lhe permita conservar a verdade
e salvar a vida.
Ora,
se a salvação da nossa vida estivesse em escolher entre par
ou ímpar ou na necessidade de fazer uma escolha correta, numa determinada
altura, de uma grande quantidade e, noutra, de uma pequena, ou entre uma
coisa e esta mesma coisa, ou entre uma coisa e outra diferente, ou entre
algo que está perto e algo que está longe? O que poderia salvar
a nossa vida? O conhecimento, não?
Já
que chegamos à conclusão de que a salvação da
nossa vida está na escolha correta entre prazer e dor, em maior e
menor número, em maior e menor tamanho, em maior ou menor distância,
não parecerá, em primeiro lugar, que está no comedimento,
uma vez que é a observação do que é excesso,
falta ou igualdade face às outras coisas? Logo, suponho que forçosamente
o comedimento seja também uma arte de conhecimento. Assim, nada é
superior ao conhecimento, pois ele supera sempre as restantes qualidades,
onde quer que esteja, quer se trate de prazer, quer se trate de todas as
demais.
Quando,
em matéria de prazeres e dores, se erra na escolha – ou, o
mesmo será dizer, de coisas boas e más – se erra por
falta de conhecimento; e não só de conhecimento, mas, também,
de comedimento. E, certamente, errar por falta de conhecimento é
agir com ignorância. E ser dominado exclusivamente pelo prazer é
a maior das ignorâncias.
Ignorância
= ter uma falsa opinião e estar enganado a propósito de muitos
assuntos importantes.
Todas
as ações louváveis são boas.
Porventura
a confiança em coisas censuráveis e más resulta de
qualquer outra razão que não de desconhecimento e ignorância?
Cada
qualidade tem
uma função particular, do mesmo modo que, no rosto, os olhos
não são iguais aos ouvidos, nem a sua função
é a mesma, nem nenhuma das partes é igual à outra,
nem na sua função nem em outros aspectos. É também
assim com as partes da virtude. Nenhuma se assemelha à outra, nem
em si própria nem na sua função.
A
justiça é semelhante ao ser-se justo.
Só
com dificuldade algo seria pio, se não fosse pia a própria
piedade.
A
justiça é idêntica à piedade, ou muito parecida,
e, mais do que todas as outras, a justiça se assemelha à piedade
e a piedade à justiça.
É possível sempre examinar
melhor um argumento se lhe retirarmos o «se».
Na
verdade, em um ponto ou em outro,
uma coisa se assemelha sempre à outra. O branco, em certa medida,
assemelha-se ao negro, o duro ao mole, e também as outras coisas
que parecem ser completamente opostas se assemelham
umas às outras.5
Para
cada coisa, em princípio, há um e somente um único
contrário. Se algo é realizado de uma maneira, é realizado
desta maneira, e se algo é realizado de maneira contrária
é
realizado pela
maneira contrária. O contrário do belo é o feio. O
contrário do bem é o mal. O
contrário dos timbres agudos da voz são os timbres graves.
Enfim, o que é realizado de modo contrário se realiza por
razões contrárias. E assim, o que é realizado insensatamente
é realizado ao contrário do que é realizado sensatamente.
A
Sensatez e a Sabedoria são uma coisa só.
O
que é bom é mutável e multifacetado, de modo que mesmo
aqui o que é bom para o exterior do corpo do homem poderá
ser péssimo para o seu interior.
É
difícil tornar-se, de verdade, um homem de bem, perfeito de mãos
e pés e espírito, obra lapidada sem falha.6
Se
houver contradição,
não
poderá haver beleza.
Querer
e desejar não são a mesma coisa, da mesma forma que se tornar
não é o mesmo que ser.
Anteposto ao mérito, os deuses
colocaram
o suor. E, quando
alguém atinge o cume do mérito, torna-se fácil, depois,
por difícil que seja, conservá-lo.
Conservar
a virtude é a mais difícil de todas as coisas.
Não
é comum falar-se de uma terrível riqueza, nem de uma terrível
paz, nem de uma terrível robustez, mas, sim, de uma terrível
doença, de uma terrível guerra e de uma terrível pobreza,
como se o que é terrível fosse mau.
Em um lugar, onde, em conjunto, bebam
homens que atingiram a perfeição e receberam educação,
não verás nem tocadoras de flauta, nem bailarinas, nem tocadoras
de harpa. Antes, bastam-se a si próprios para se entreterem sem essas
lérias ou criancices porque têm as suas vozes e falam e ouvem
ordenadamente e à vez, mesmo que bebam vinho em abundância.
Aqueles
que levam a ciência de cidade em cidade, vendendo-a a retalho, elogiam
sempre ao interessado tudo quanto vendem, mas, talvez, alguns deles desconheçam
o que é que desses artigos que vendem é bom ou mau para a
alma. Por isto, não jogues os dados à sorte nem corras riscos
em matérias tão delicadas. O perigo é muito maior na
compra da ciência do que na compra de alimentos. Com efeito, ao comprares
alimentos ou bebidas ao retalhista ou ao comerciante, podes transportá-los
noutros recipientes, e, antes de beberes ou comeres, podes levá-los
para te aconselhares, informando-te junto de quem souber, sobre se os deves
comer e beber, ou não, e quando, e em que quantidade. Assim, o perigo
na compra não é grande.
Pelo contrário, a ciência não se pode meter noutro recipiente.
É preciso pagá-la e metê-la na alma, e, uma vez assimilada,
ir para casa, ou para sofrer dissabores ou para usufruir vantagens.
As
massas, por assim dizer, não entendem nada; limitam-se a repetir
em coro aquilo que lhes disseram.
A
todos é preciso sempre ouvir do mesmo modo, mas não atribuir
a cada um o mesmo valor, antes mais ao mais sábio e menos ao mais
ignorante.
Um
tirano sempre força muitas coisas contrárias à Natureza.
Não está correto que
aquele que é inferior julgue os que são melhores; se for igual,
também não estará correto, porque aquele que é
igual procederá da mesma maneira. É necessário, sempre,
escolher alguém melhor para julgar.
Alguns
Pensamentos de Protágoras
O homem é a medida de
todas as coisas; das coisas que são, enquanto são, e das coisas
que não são, enquanto não são.
Sempre
existem dois lados para cada pergunta. (Citado
por Diógenes
Laércio).
Todo
o argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias,
inclusive este de que a tese favorável e contrária são
igualmente defensáveis. (Citado
por Sêneca em Cartas a Lucílio).
Os
seres humanos são subjetivos e mutáveis.
O
conhecimento não é outra coisa que a sensação.
(Citado por Platão
em Teeteto).
A alma não é nada além
dos sentidos. (Citado
por Diógenes
Laércio, apoiando-se em Platão).
Sobre
cada argumento podem-se enunciar dois discursos com exata antítese
entre si. (Citado
por Diógenes
Laércio).
As
coisas são para mim, tal como me aparecem, e para ti, tal como te
aparecem. (Citado por Platão
em Teeteto).
O mesmo sopro de vento
faz a um tiritar de frio, e a outro não. (Citado
por Platão em Teeteto).
A
matéria é um fluir. Fluindo, constantemente, ocorrem acréscimos
e perdas. As sensações transformam-se e mudam com a idade
e outras disposições dos corpos. (Citado
por Sexto Empírico).
O
homem é o juiz da realidade das coisas. O que parece aos homens é;
o que não parece não é. (Citado
por Sexto Empírico).
Dos deuses nada posso dizer.
Quanto à questão, se eles existem ou não, muitas razões
impedem que se possa chegar a sabê-lo, entre outras a obscuridade
da questão e a curta duração da vida.
Das
coisas belas, umas são belas por natureza e outras por lei; mas as
coisas justas não são justas por causa da Natureza. Os homens
estão continuamente disputando pela justiça e a alteram também
continuamente.
Toda
a vida do homem tem necessidade de ordem e de adaptação.
______
Notas:
1.
Aretê
(adaptação perfeita, excelência, virtude) é uma
palavra de origem grega que expressa o conceito grego de excelência,
ligado à noção de cumprimento do propósito ou
da função a que o indivíduo se destina. No sentido
grego, a virtude coincide com a realização da própria
essência, e, portanto, a noção se estende a todos os
seres vivos. Segundo Sócrates, a virtude é fazer aquilo que
a que cada um se destina. Aquilo que no plano objetivo é a realização
da própria essência, no plano subjetivo coincide com a própria
felicidade.
2. Nascido
por volta de 495 a.C., é filho de Xantipo e de Agariste, sobrinho
de Clístenes, outro grande estadista, e por muitos considerado o
pai da Democracia. Péricles reunia na sua pessoa quatro virtudes.
Em primeiro lugar, tinha a inteligência, isto é, a capacidade
de analisar uma situação política, de prever exatamente
o acontecimento e responder com um ato. Em segundo lugar, era dono de uma
grande eloqüência. Dir-se-ia que cada vez que falava perante
a Assembléia, depunha a sua coroa de chefe, só a voltando
a colocar com o consentimento de todos. Era um grande orador que tinha sempre
um relâmpago na língua. Sua terceira virtude era o patriotismo
mais puro: para Péricles, nada estava acima do interesse da comunidade
dos cidadãos, acima da honra da cidade de Atenas. Por último,
vinha o seu total desinteresse. Inteiramente dedicado ao seu país,
ou melhor, à sua Atenas, era inacessível a qualquer tipo de
corrupção.
3. Argumento
socrático que pretende mostrar a incapacidade dos sábios e
dos nobres cidadãos em transmitir aos outros a sua virtude. Ou seja:
a virtude é intransmissível; não pode ser ensinada.
Cada um deverá conquistá-la por si mesmo.
4. Assim são
muitas pessoas; quando não sabem alguma coisa, por vergonha de admitir
que não sabem, enrolam, enrolam, enrolam...
5. Isto deriva do fato
inelutável de o Universo global ser um. Para que alguma coisa fosse
absolutamente única e diferente de todas as outras, seria necessário
que proviesse de um outro universo, o que é impossível. Não
é, portanto, rigorosamente correto chamar de diferente ao que tem
diferenças, até porque são as diferenças que
nos fazem semelhantes.
6. Esta afirmação
(feita a Escopas, filho de Creonte da Tessália) é de Simônides
de Ceos (557 a.C. – 556 a.C.), um poeta grego, o maior autor de epigramas
(entre os antigos gregos, um epigrama era qualquer inscrição,
em prosa ou verso, colocada em monumentos, estátuas, moedas etc.,
dedicada à lembrança de um evento memorável, uma vida
exemplar etc.) do período arcaico. Marca uma mudança na Tradição
Poética, pois Simônides é o primeiro a fazer da Poesia
um ofício e receber benefícios por ela. Ao mesmo tempo, situa
a função poética a partir de um novo ângulo:
o esforço de reflexão sobre a natureza da Poesia. É
a Simônides que a Antigüidade atribui a famosa definição:
A pintura é
uma Poesia silenciosa e a Poesia é uma pintura que fala.
Simônides marcaria o momento em que o homem grego descobriu a imagem.
Páginas
da Internet consultadas:
http://mevans.wikispaces.com/Vocabulary+Ch.+6B
http://media.photobucket.com/image/book%20animated/
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http://www.search.com/
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hfe/protagoras/texto/t2.htm
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/
hfe/protagoras/texto/t1.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Sim%C3%B3nides_de_Ceos
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/hfe/protagoras/texto/index.htm
Fundo
musical:
Zambetas
Fonte:
http://www.navis.gr/midi/midi.htm#Greek