Um
cardiologista muito conhecido teve um infarto fulminante e... morreu. Seu
funeral foi muito pomposo e muitos dos seus colegas médicos compareceram.
Durante
o velório, um enorme coração vermelho rodeado de coroas
de flores permaneceu imóvel atrás do caixão.
Quando
o padre terminou de benzer o defunto uma música heróica começou
a tocar, o enorme coração (que até então permanecia
dignamente imóvel como uma sentinela vigilante) iluminou-se, estremeceu
e se abriu, e o caixão entrou automática e lentamente dentro
dele emocionando todos os presentes até as lágrimas. O coração
então se fechou levando no seu interior o famoso médico para
a eternidade...
Seguiu-se
um silêncio sepulcral. Literalmente sepulcral e comovente. Até
os dípteros esquizóforos da subordem dos ciclórrafos
pararam de zunir e os ortópteros da família dos blatídeos
(gigantescos e muito comuns em velórios) se enterneceram. A cena
era realmente enternecedora. Um pouco macabra, talvez, mas comovente. Nesse
momento, nesse exato momento, um dos presentes explodiu em gargalhadas causando
surpresa e uma certa indignação nos presentes. Questionado
por que estava rindo tanto, ele, constrangido, explicou:
—
Desculpem-me. Por favor não me levem a mal. É que eu estava
imaginando o meu funeral... Sou ginecologista.
Aí,
o proctologista desmaiou.
Não
há profissão menos digna
nem
tarefa que seja indigna.
Indignidade,
sim, é lucrar
e
dos outros se aproveitar.
Indignidade,
também, é defraudar
e
viver a enganar.
Indignidade
inominável é matar
para
poder enfartar.
Há
um rosário de indignidades,
de
perversidades e de maldades.
Fazer
a guerra por patriotismo
é
um exemplo de maldade-cinismo.
Toda
guerra é demagógica.
Há
coisa mais ilógica,
insana
e malevolente
do
que descarregar um pente?