As
frustrações, a hostilidade e a raiva, geradas pela
pobreza, não podem garantir a paz.
A
paz duradoura só será alcançada quando grandes
grupos de pessoas saírem da pobreza.
A
pobreza talvez seja a ameaça mais séria à paz
mundial. Ela leva à desesperança, fazendo as pessoas
cometerem atos impensados.
A
pobreza também cria refugiados econômicos e conflitos
entre os povos por recursos escassos, como água, terras,
fontes de energia e outras mercadorias.
Os
pobres têm habilidades profissionais não utilizadas
ou subutilizadas. Definitivamente, não é a falta de
habilidades que torna pobres as pessoas pobres. A pobreza não
é criada pelos pobres; ela é criada pelas instituições
e por políticas equivocadas que a cercam. Para eliminar a
pobreza, tudo o que temos de fazer é implementar mudanças
apropriadas nas instituições e nas políticas,
e/ou criar novas instituições e novas políticas.
O Banco Grameen
(Grameen Bank) criou
uma metodologia e uma instituição para atender às
necessidades financeiras dos pobres, e estabeleceu condições
razoáveis de acesso ao crédito, capacitando os pobres
a desenvolver suas habilidades profissionais, para obter uma renda
maior a cada ciclo de empréstimos.
Há
muitas pessoas a apelar ao perdão da dívida do Terceiro
Mundo, mas, isto não me entusiasma nada, principalmente,
se for feito sem condições. Defendo um perdão
com condições. Significa que o dinheiro tem de ser
pago ao próprio país, através da criação
de um fundo colocado à disposição das organizações
de microcrédito e em benefício do seu povo. Estas
deixarão de recorrer a dádivas ou a empréstimos
externos.
Sou
contra o perdão incondicional da dívida do Terceiro
Mundo.
O fato de um país credor prescindir de receber
a dívida não significa que o dinheiro possa ser gasto
de qualquer maneira. Um representante na direção do
fundo teria por missão vigiar a correta aplicação
do dinheiro. É a garantia de que esse dinheiro chegará
às pessoas, e não ficará nas mãos do
Governo.
Andamos
a falar de milhões e milhões de dólares para
investir e desenvolver a Economia, e havia pessoas, nos anos que
se seguiram à independência do Bangladesh, que
apenas
precisavam de um dólar!
Não
queremos ganhar dinheiro; não é esse o nosso objetivo.
Existe um plano de poupança que atribui uma ação
por cada dois dólares. Por isto, os nossos 2,4 milhões
de clientes são os donos do Banco Grameen.
Os
nossos dados apontam para um período entre cinco e quinze
anos necessários para que uma família que se beneficia
do microcrédito possa ultrapassar o limiar da pobreza. Queremos
reduzir este tempo para um máximo de dez anos, e, depois,
progressivamente, para oito ou sete anos. Temos de olhar, também,
para as questões de saúde. As pessoas doentes não
podem trabalhar...
O
microcrédito
é
apenas uma parte, mas é a peça-chave que representa
o ponto de partida para as restantes (programas
de saúde, de ensino, de formação etc.).
Cada
geração deveria deixar um mundo melhor do que aquele
que encontrou. [E
devemos morrer melhores
– menos
escrotos! – do que quando aqui chegamos.]
Precisamos
eliminar a pobreza, deixá-la apenas nos museus, o mais rápido
possível, de uma vez por todas.
Criamos
instituições que excluem metade do mundo e destroem
o meio ambiente.
Geralmente,
o talento inato das pessoas pobres acaba morrendo com elas, e o
mundo acaba ficando privado de tudo o que elas poderiam ter feito.
A
pobreza é imposta artificialmente aos seres humanos.
A
pobreza leva à desesperança e a conflitos entre os
povos por recursos escassos. Aquele que não tem nada a perder
não encontra razões para se abster da violência.
O
microcrédito é uma força de paz a longo prazo,
pois tira as pessoas da pobreza e faz os povos terem relações
comerciais entre si, evitando as guerras.
O
que acontece quando as empresas com responsabilidade social não
dão lucros? A experiência mostra que a prioridade vai
para os lucros. As empresas precisam buscar a maximização
do lucro; elas não estão equipadas para lidar com
os problemas sociais.
Precisamos
reconhecer as aspirações multifacetadas dos seres
humanos. Para isto, precisamos de um novo tipo de empresa, que não
tenha como objetivo apenas o lucro – uma empresa que seja
totalmente dedicada à resolução de problemas
sociais e ambientais.
Os
pobres são merecedores de crédito? As instituições
financeiras sempre acharam que não. Como resultado, vemos
os pobres excluídos do sistema financeiro. Quando inverti
a pergunta – Os bancos são merecedores das pessoas?
–
então,
percebi que não, e compreendi que era hora de criar um novo
tipo de banco.
É
ultrajante que as pessoas de baixa renda, que lutam para conseguir
se sustentar com o que ganham, sejam as que têm que pagar
mais pelos serviços financeiros básicos, isto, quando
têm acesso a eles.
Ao
observar as pessoas mais pobres do mundo, percebi que a capacidade
empresarial é praticamente universal, todos têm talento
para identificar as oportunidades ao seu redor.
Para
mim, os pobres são como bonsais. Quando você coloca
uma boa semente de uma árvore grande em um vaso pequeno,
obtém uma réplica fiel da árvore mais alta,
embora os bonsais tenham apenas alguns centímetros de altura.
Os pobres são pessoas-bonsais. Não há nada
errado com as sementes. O problema é que a sociedade nunca
lhes deu uma boa base para crescer.
A
primeira e mais importante tarefa do desenvolvimento é ligar
a máquina da criatividade dentro de cada pessoa.
[Em
breve] as
fronteiras e as distâncias não significarão
praticamente nada; o conhecimento, o talento e a capacidade serão
tudo.
A
Democracia é a melhor estrutura política para desenvolver
a energia criativa das pessoas. A tecnologia da informação
é um instrumento capaz de fortalecer a Democracia.
Os
recursos não-renováveis [petróleo,
gás natural e carvão mineral são os principais]
estão se esgotando rapidamente, enquanto a demanda por eles
continua a crescer! [E
dá-lhe pré-sal!]
Na
modalidade de Capitalismo que a maioria segue há uma nociva
relação entre o meio ambiente e o crescimento econômico.
Quanto mais se desenvolve a Economia mundial, maior é a ameaça
ao planeta Terra, e, a longo prazo, à nossa própria
sobrevivência. Os EUA, por exemplo, com 4,5% da população
mundial representa 25% das emissões de gases do efeito estufa
[GEE]! [O Protocolo
de Quioto determina que sete gases devem ter suas emissões
reduzidas. São eles: CO2
–
dióxido de carbono, N2O
– óxido nitroso, CH4
– metano, CFCs – clorofluorcarbonetos,
HFCs – hidrofluorcarbonetos, PFCs -
perfluorcarbonetos e SF6
– hexafluoreto de enxofre].
A
solução evidente para a desigualdade econômica
– a aceleração do crescimento econômico
dos países em desenvolvimento
– está
acompanhada de prejuízos catastróficos ao Planeta.
Podemos chamar esta situação problemática de
'Dilema do Crescimento'.
Uma
sociedade ideal deveria criar um ambiente favorável para
as pessoas liberarem sua criatividade, e, para isto, permitir a
liberdade individual é essencial.
Os
países ricos estão exaurindo os bens que deveriam
ser patrimônio de toda Humanidade. Enquanto isso, os especialistas
de 'marketing' incentivam as pessoas a comprar mais do que precisam!
O
mercado é dominado pelas vozes do Capitalismo atual, representado
pelas grandes corporações, que incitam os consumidores,
através do 'marketing', a comprar mais serviços e
mercadorias o mais rápido possível. Compre Mais! Compre
Mais! Compre Já! Compre Já! [O
senhor Ciro Bottini, vendedor oficial do canal de TV Shoptime (canal
30 da NET), faz exatamente isto, e com a maior expertise.]
Pense
se você realmente precisa disto! Isto é reciclável?
Você está exaurindo recursos não-renováveis?
A
tecnologia floresce na direção que nossas mentes determinam.
Quando nos empenharmos verdadeiramente para produzir um estilo de
vida sustentável em todo o Planeta, as tecnologias que precisarmos
começarão a aparecer. Mas, infelizmente, a maior parte
da criatividade do mundo está preocupada em disseminar nos
países pobres o estilo de vida insustentável dos países
desenvolvidos. [E
também e principalmente as porcarias.]
Precisamos
de um acordo internacional, entre todos os países, com diretrizes
que protejam o meio ambiente e a sociedade da competição
desenfreada nos negócios.
Apresento
uma lista de sonhos que gostaria que se realizassem até 2050:
•
Não haverá mais pobres no mundo.
•
Não haverá mais passaportes nem vistos de entrada.
•
Não haverá mais guerras, exércitos ou armas.
•
Não haverá mais doenças incuráveis,
mortalidade infantil ou materna.
•
Haverá um sistema educacional mundial acessível a
todas as pessoas.
•
Haverá uma única moeda mundial.
•
O sistema econômico mundial encorajará as empresas
a compartilhar sua prosperidade.
•
Haverá um sistema de informação, que tornará
contas bancárias e transações ilegais transparentes,
facilitando a monitoração e a investigação
de ações criminosas.
•
Todas as pessoas terão um estilo de vida sustentável
com o meio ambiente.
•
Seremos capazes de prever com mais exatidão e antecipadamente
a intensidade das catástrofes naturais.
•
Não existirá discriminação entre as
pessoas de nenhum tipo.
•
Todas as culturas florescerão em toda plenitude de beleza
e de criatividade, contribuindo para a magnífica e unificada
sociedade humana.
Ao
considerarmos a História do ser humano, fica claro que sempre
conseguimos o que queremos.
O
fato de aceitarmos a idéia de que sempre existirão
pobres – de que isto faz parte da vida humana – é
exatamente o motivo de as pessoas continuarem pobres. Se acreditarmos
que a pobreza é inaceitável, e que não deve
haver lugar para ela na sociedade, então, criaremos as instituições
apropriadas e aplicaremos as políticas adequadas para um
mundo sem pobreza.
Todos
os seres humanos têm a capacidade inata não só
de cuidar de si mesmos, mas, também, de aumentar o bem-estar
do mundo como um todo.
Ninguém
nasce para sofrer as misérias da fome e da pobreza. Cada
um que vive na pobreza tem o potencial para se tornar tão
bem-sucedido quanto qualquer outra pessoa no mundo.
O
fim da pobreza? Impossível? De maneira nenhuma.
_____
Nota:
1. Muhammad
Yunus (Chittagong, 28 de junho de 1940) é um economista e
banqueiro bengali. Yunus acredita que todo ser humano possui instintos
de sobrevivência e de autopreservação. Uma prova
disto são os milhões de pobres que existem no mundo,
que, mesmo sendo miseráveis, conseguem contornar ao máximo
sua situação desesperante. Sendo assim, segundo Yunus,
a forma mais efetiva de ajudar estas pessoas é incentivar
o que elas inerentemente já têm: seu instinto. Yunnus
concebeu, então, e conseguiu implantar a mais conhecida e
bem-sucedida experiência de microcrédito (grameencredit
– o nome grameen
é derivado da palavra grama, que significa rural ou aldeia
na língua bengali) do mundo, conceito que não
existia até a década de 1970. Yunus a iniciou em 1976,
concedendo empréstimos de pequena monta, com seus próprios
recursos, para famílias muito pobres de produtores rurais,
empréstimos estes focalizados principalmente nas mulheres.
Os bons resultados obtidos nesta primeira fase do projeto levaram-no
a expandir essas operações com recursos de terceiros.
Yunus criou, então, o Banco Grameen – primeiro banco
do mundo especializado em microcrédito, visando erradicar
a pobreza no mundo – que empresta sem garantias nem papéis.
Características
gerais do microcrédito (no conceito de Yunus):
a) promover
o crédito como um dos direitos humanos;
b) sua missão
principal é auxiliar as famílias pobres a se ajudarem
a superar a pobreza. O microcrédito é dirigido aos
mais pobres, especialmente às mulheres pobres;
c) uma das peculiaridades
que mais caracteriza o microcrédito bolado por Yunus é
que ele não é baseado em qualquer garantia real nem
em contratos que tenham valor jurídico. É baseado
exclusivamente na confiança, e não no Direito ou em
algum outro sistema coercitivo.
d) o microcrédito
é oferecido no intuito de gerar auto-empregos, fomentando
todas as atividades que criem renda para os pobres ou, ainda, para
a construção de suas habitações, ao
contrário dos empréstimos destinados ao consumo;
e) foi criado
para enfrentar os bancos tradicionais, que rejeitam os pobres –
para eles considerados indignos de crédito.
Em conseqüência disto, o microcrédito não
aceita a metodologia bancária tradicional e criou sua metodologia
própria;
f) oferece seus
serviços na porta da casa dos pobres, adotando o princípio
de que as pessoas não devem ir ao banco, mas, sim, o banco
deve ir às pessoas;
g) para obter
um empréstimo, um tomador tem que se reunir a um grupo de
tomadores, que ficam moralmente responsáveis por seu pagamento;
h) os empréstimos
podem ser obtidos em uma seqüência sem-fim. Novos empréstimos
se tornam disponíveis, se os anteriores estiverem sendo pagos;
i) todos os
empréstimos devem ser pagos em pequenas prestações,
semanais ou bissemanais;