PAZ DURADOURA
(Absurdo uno dato, sequitur alterum1)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Reflexões de Muhammad Yunus

 

 

 

Muhammad Yunus

 

 

 

As frustrações, a hostilidade e a raiva, geradas pela pobreza, não podem garantir a paz.

 

A paz duradoura só será alcançada quando grandes grupos de pessoas saírem da pobreza.

 

A pobreza talvez seja a ameaça mais séria à paz mundial. Ela leva à desesperança, fazendo as pessoas cometerem atos impensados.

 

A pobreza também cria refugiados econômicos e conflitos entre os povos por recursos escassos, como água, terras, fontes de energia e outras mercadorias.

 

Os pobres têm habilidades profissionais não utilizadas ou subutilizadas. Definitivamente, não é a falta de habilidades que torna pobres as pessoas pobres. A pobreza não é criada pelos pobres; ela é criada pelas instituições e por políticas equivocadas que a cercam. Para eliminar a pobreza, tudo o que temos de fazer é implementar mudanças apropriadas nas instituições e nas políticas, e/ou criar novas instituições e novas políticas. O Banco Grameen (Grameen Bank) criou uma metodologia e uma instituição para atender às necessidades financeiras dos pobres, e estabeleceu condições razoáveis de acesso ao crédito, capacitando os pobres a desenvolver suas habilidades profissionais, para obter uma renda maior a cada ciclo de empréstimos.

 

Há muitas pessoas a apelar ao perdão da dívida do Terceiro Mundo, mas, isto não me entusiasma nada, principalmente, se for feito sem condições. Defendo um perdão com condições. Significa que o dinheiro tem de ser pago ao próprio país, através da criação de um fundo colocado à disposição das organizações de microcrédito e em benefício do seu povo. Estas deixarão de recorrer a dádivas ou a empréstimos externos.

 

Sou contra o perdão incondicional da dívida do Terceiro Mundo. O fato de um país credor prescindir de receber a dívida não significa que o dinheiro possa ser gasto de qualquer maneira. Um representante na direção do fundo teria por missão vigiar a correta aplicação do dinheiro. É a garantia de que esse dinheiro chegará às pessoas, e não ficará nas mãos do Governo.

 

Andamos a falar de milhões e milhões de dólares para investir e desenvolver a Economia, e havia pessoas, nos anos que se seguiram à independência do Bangladesh, que apenas precisavam de um dólar!

 

Não queremos ganhar dinheiro; não é esse o nosso objetivo. Existe um plano de poupança que atribui uma ação por cada dois dólares. Por isto, os nossos 2,4 milhões de clientes são os donos do Banco Grameen.

 

Os nossos dados apontam para um período entre cinco e quinze anos necessários para que uma família que se beneficia do microcrédito possa ultrapassar o limiar da pobreza. Queremos reduzir este tempo para um máximo de dez anos, e, depois, progressivamente, para oito ou sete anos. Temos de olhar, também, para as questões de saúde. As pessoas doentes não podem trabalhar...

 

O microcrédito é apenas uma parte, mas é a peça-chave que representa o ponto de partida para as restantes (programas de saúde, de ensino, de formação etc.).

 

Cada geração deveria deixar um mundo melhor do que aquele que encontrou. [E devemos morrer melhores menos escrotos! – do que quando aqui chegamos.]

 

Precisamos eliminar a pobreza, deixá-la apenas nos museus, o mais rápido possível, de uma vez por todas.

 

Criamos instituições que excluem metade do mundo e destroem o meio ambiente.

 

Geralmente, o talento inato das pessoas pobres acaba morrendo com elas, e o mundo acaba ficando privado de tudo o que elas poderiam ter feito.

 

A pobreza é imposta artificialmente aos seres humanos.

 

A pobreza leva à desesperança e a conflitos entre os povos por recursos escassos. Aquele que não tem nada a perder não encontra razões para se abster da violência.

 

O microcrédito é uma força de paz a longo prazo, pois tira as pessoas da pobreza e faz os povos terem relações comerciais entre si, evitando as guerras.

 

O que acontece quando as empresas com responsabilidade social não dão lucros? A experiência mostra que a prioridade vai para os lucros. As empresas precisam buscar a maximização do lucro; elas não estão equipadas para lidar com os problemas sociais.

 

Precisamos reconhecer as aspirações multifacetadas dos seres humanos. Para isto, precisamos de um novo tipo de empresa, que não tenha como objetivo apenas o lucro – uma empresa que seja totalmente dedicada à resolução de problemas sociais e ambientais.

 

Os pobres são merecedores de crédito? As instituições financeiras sempre acharam que não. Como resultado, vemos os pobres excluídos do sistema financeiro. Quando inverti a pergunta – Os bancos são merecedores das pessoas? então, percebi que não, e compreendi que era hora de criar um novo tipo de banco.

 

É ultrajante que as pessoas de baixa renda, que lutam para conseguir se sustentar com o que ganham, sejam as que têm que pagar mais pelos serviços financeiros básicos, isto, quando têm acesso a eles.

 

Ao observar as pessoas mais pobres do mundo, percebi que a capacidade empresarial é praticamente universal, todos têm talento para identificar as oportunidades ao seu redor.

 

Para mim, os pobres são como bonsais. Quando você coloca uma boa semente de uma árvore grande em um vaso pequeno, obtém uma réplica fiel da árvore mais alta, embora os bonsais tenham apenas alguns centímetros de altura. Os pobres são pessoas-bonsais. Não há nada errado com as sementes. O problema é que a sociedade nunca lhes deu uma boa base para crescer.

 

A primeira e mais importante tarefa do desenvolvimento é ligar a máquina da criatividade dentro de cada pessoa.

 

[Em breve] as fronteiras e as distâncias não significarão praticamente nada; o conhecimento, o talento e a capacidade serão tudo.

 

A Democracia é a melhor estrutura política para desenvolver a energia criativa das pessoas. A tecnologia da informação é um instrumento capaz de fortalecer a Democracia.

 

Os recursos não-renováveis [petróleo, gás natural e carvão mineral são os principais] estão se esgotando rapidamente, enquanto a demanda por eles continua a crescer! [E dá-lhe pré-sal!]

 

Na modalidade de Capitalismo que a maioria segue há uma nociva relação entre o meio ambiente e o crescimento econômico. Quanto mais se desenvolve a Economia mundial, maior é a ameaça ao planeta Terra, e, a longo prazo, à nossa própria sobrevivência. Os EUA, por exemplo, com 4,5% da população mundial representa 25% das emissões de gases do efeito estufa [GEE]! [O Protocolo de Quioto determina que sete gases devem ter suas emissões reduzidas. São eles: CO2 – dióxido de carbono, N2O óxido nitroso, CH4 metano, CFCs – clorofluorcarbonetos, HFCs hidrofluorcarbonetos, PFCs - perfluorcarbonetos e SF6 hexafluoreto de enxofre].

 

A solução evidente para a desigualdade econômica – a aceleração do crescimento econômico dos países em desenvolvimento está acompanhada de prejuízos catastróficos ao Planeta. Podemos chamar esta situação problemática de 'Dilema do Crescimento'.

 

Uma sociedade ideal deveria criar um ambiente favorável para as pessoas liberarem sua criatividade, e, para isto, permitir a liberdade individual é essencial.

 

Os países ricos estão exaurindo os bens que deveriam ser patrimônio de toda Humanidade. Enquanto isso, os especialistas de 'marketing' incentivam as pessoas a comprar mais do que precisam!

 

O mercado é dominado pelas vozes do Capitalismo atual, representado pelas grandes corporações, que incitam os consumidores, através do 'marketing', a comprar mais serviços e mercadorias o mais rápido possível. Compre Mais! Compre Mais! Compre Já! Compre Já! [O senhor Ciro Bottini, vendedor oficial do canal de TV Shoptime (canal 30 da NET), faz exatamente isto, e com a maior expertise.]

 

Pense se você realmente precisa disto! Isto é reciclável? Você está exaurindo recursos não-renováveis?

 

A tecnologia floresce na direção que nossas mentes determinam. Quando nos empenharmos verdadeiramente para produzir um estilo de vida sustentável em todo o Planeta, as tecnologias que precisarmos começarão a aparecer. Mas, infelizmente, a maior parte da criatividade do mundo está preocupada em disseminar nos países pobres o estilo de vida insustentável dos países desenvolvidos. [E também e principalmente as porcarias.]

 

Precisamos de um acordo internacional, entre todos os países, com diretrizes que protejam o meio ambiente e a sociedade da competição desenfreada nos negócios.

 

Apresento uma lista de sonhos que gostaria que se realizassem até 2050:

Não haverá mais pobres no mundo.

Não haverá mais passaportes nem vistos de entrada.

Não haverá mais guerras, exércitos ou armas.

Não haverá mais doenças incuráveis, mortalidade infantil ou materna.

Haverá um sistema educacional mundial acessível a todas as pessoas.

Haverá uma única moeda mundial.

O sistema econômico mundial encorajará as empresas a compartilhar sua prosperidade.

Haverá um sistema de informação, que tornará contas bancárias e transações ilegais transparentes, facilitando a monitoração e a investigação de ações criminosas.

Todas as pessoas terão um estilo de vida sustentável com o meio ambiente.

Seremos capazes de prever com mais exatidão e antecipadamente a intensidade das catástrofes naturais.

Não existirá discriminação entre as pessoas de nenhum tipo.

Todas as culturas florescerão em toda plenitude de beleza e de criatividade, contribuindo para a magnífica e unificada sociedade humana.

 

Ao considerarmos a História do ser humano, fica claro que sempre conseguimos o que queremos.

 

O fato de aceitarmos a idéia de que sempre existirão pobres – de que isto faz parte da vida humana – é exatamente o motivo de as pessoas continuarem pobres. Se acreditarmos que a pobreza é inaceitável, e que não deve haver lugar para ela na sociedade, então, criaremos as instituições apropriadas e aplicaremos as políticas adequadas para um mundo sem pobreza.

 

Todos os seres humanos têm a capacidade inata não só de cuidar de si mesmos, mas, também, de aumentar o bem-estar do mundo como um todo.

 

Ninguém nasce para sofrer as misérias da fome e da pobreza. Cada um que vive na pobreza tem o potencial para se tornar tão bem-sucedido quanto qualquer outra pessoa no mundo.

 

O fim da pobreza? Impossível? De maneira nenhuma.

 

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Nota:

1. Muhammad Yunus (Chittagong, 28 de junho de 1940) é um economista e banqueiro bengali. Yunus acredita que todo ser humano possui instintos de sobrevivência e de autopreservação. Uma prova disto são os milhões de pobres que existem no mundo, que, mesmo sendo miseráveis, conseguem contornar ao máximo sua situação desesperante. Sendo assim, segundo Yunus, a forma mais efetiva de ajudar estas pessoas é incentivar o que elas inerentemente já têm: seu instinto. Yunnus concebeu, então, e conseguiu implantar a mais conhecida e bem-sucedida experiência de microcrédito (grameencredit – o nome grameen é derivado da palavra grama, que significa rural ou aldeia na língua bengali) do mundo, conceito que não existia até a década de 1970. Yunus a iniciou em 1976, concedendo empréstimos de pequena monta, com seus próprios recursos, para famílias muito pobres de produtores rurais, empréstimos estes focalizados principalmente nas mulheres. Os bons resultados obtidos nesta primeira fase do projeto levaram-no a expandir essas operações com recursos de terceiros. Yunus criou, então, o Banco Grameen – primeiro banco do mundo especializado em microcrédito, visando erradicar a pobreza no mundo – que empresta sem garantias nem papéis.

Características gerais do microcrédito (no conceito de Yunus):

a) promover o crédito como um dos direitos humanos;

b) sua missão principal é auxiliar as famílias pobres a se ajudarem a superar a pobreza. O microcrédito é dirigido aos mais pobres, especialmente às mulheres pobres;

c) uma das peculiaridades que mais caracteriza o microcrédito bolado por Yunus é que ele não é baseado em qualquer garantia real nem em contratos que tenham valor jurídico. É baseado exclusivamente na confiança, e não no Direito ou em algum outro sistema coercitivo.

d) o microcrédito é oferecido no intuito de gerar auto-empregos, fomentando todas as atividades que criem renda para os pobres ou, ainda, para a construção de suas habitações, ao contrário dos empréstimos destinados ao consumo;

e) foi criado para enfrentar os bancos tradicionais, que rejeitam os pobres – para eles considerados indignos de crédito. Em conseqüência disto, o microcrédito não aceita a metodologia bancária tradicional e criou sua metodologia própria;

f) oferece seus serviços na porta da casa dos pobres, adotando o princípio de que as pessoas não devem ir ao banco, mas, sim, o banco deve ir às pessoas;

g) para obter um empréstimo, um tomador tem que se reunir a um grupo de tomadores, que ficam moralmente responsáveis por seu pagamento;

h) os empréstimos podem ser obtidos em uma seqüência sem-fim. Novos empréstimos se tornam disponíveis, se os anteriores estiverem sendo pagos;

i) todos os empréstimos devem ser pagos em pequenas prestações, semanais ou bissemanais;

j) mais de um empréstimo pode ser concedido, simultaneamente, ao mesmo tomador;

k) os empréstimos são sempre vinculados a planos de poupança para os tomadores;

l) geralmente, estes empréstimos são concedidos por instituições sem fins lucrativos ou por instituições cuja propriedade é controlada, na sua maioria, pelos próprios tomadores. O microcrédito procura operar a uma taxa de juros o mais próximo possível dos juros do mercado local, cobrando a taxa básica – no Brasil, equivaleria à Taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC) – não a taxa cobrada pelos emprestadores tradicionais. As operações do microcrédito devem ser auto-sustentáveis; e

m) a prioridade do microcrédito é auxiliar a construir o capital social. Isto é obtido pela criação de grupos e de centros destinados a desenvolver lideranças. O microcrédito dá uma ênfase toda especial à formação do capital humano e à proteção do meio-ambiente.

Em 2006, por seus por seus esforços em prol do desenvolvimento econômico e do desenvolvimento social, Muhammad Yunus foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz.

 

Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Gases_do_efeito_estufa

http://www.bahiaeconomica.com.br/

 

 

 

A maldita conta é esta: 94% + 6% = 100%

 

 

 

são carreados para 40%.

vão para os outros 60%.

 

 

 

 

1,... bilhões de seres vivem

com menos de US$ 1/dia.

3,... bilhões de seres vivem

com cerca de US$ 2/dia.

 

 

 

 

1% dos ricalhaços2 pelaí

tem um capim equivalente

a 57% dos seres-aí-aqui-ali...

Oh!, isto é estupefaciente!

 

 

 

 

a disparidade pouco diminui.

Constatação trivial: mais-valia

que tudinho abstrui e obstrui.

 

 

 

 

Os livres mercados irrestritos

agravam: pobreza e corrupção,

incompatibilidades e conflitos,

infrações, doenças e poluição.

 

 

 

 

os carentes não levam nada.

Quero virar um bagalhudo;

se for preciso, faço baianada.3

 

 

 

 

Este assunto só agoura,

e não há quem o ignore.

Não luzirá paz duradoura,

 

 

 

 

Em nome da ganhança,

produtos são adulterados,

a cada dia, mais alabança,

operários são explorados.

 

 

 

 

Sinceramente? Estou cheio.

Esta ventilação me deprime

e me dá um certo almareio.

Quando veremos o sublime?

 

 

 

 

Basta de miseráveis-bonsais!

Chega de tanta escravatura.

Chega de exclusões e de ais.

Chega de acanhada estatura.

 

 

 

 

 

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Nota:

1. Absurdo uno dato, sequitur alterum. Permitido um absurdo, logo se segue outro.

2. Eu nada tenho contra os ricalhaços. Usei este vocábulo apenas para enfatizar e fazer sobressair a importância o tema. Mas, convenhamos: 1% não casa com 57% nem aqui nem na China. Isto é pra lá de estupefaciente!

3. Se você não viu, vale a pena dar uma conferida no filme da Metro-Goldwyn-Mayer, de 1980, A Fórmula (The Formula), que começa nos dias finais da Segunda Guerra Mundial, com os russos já na periferia de Berlim, com George C. Scott, Marlon Brando, John Gielgud e Marthe Keller, escrito por Steve Shagan e dirigido por John G. Avildsen. Eu acredito que o enredo seja mais do que simples ficção.

 

Música de fundo:

Too Close for Comfort
Composição: Jerry Bock, George David Weiss & Larry Holofcener
Interpretação: Sammy Davis Jr.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://zanquetta.wordpress.com/
2012/01/24/osvaldo-e-do-tricolor/

http://pt-br.ben10.wikia.com/wiki/
Arquivo:Ped_Gigante_Supremo.PNG

http://anovacabecadesempre.blogspot
.com.br/ 2010_07_01_archive.html

http://www.hkocher.info/
minha_pagina/dicionario/a03.htm

http://nicholasgimenes.blogspot.com.br/2008/
12/livro-um-mundo-sem-pobreza-creating.html

 

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