O PRESENTE

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

http://www.rdpizzinga.pro.br

 

Música de fundo: Águas de Março - Antonio Carlos Jobim
Fonte:
http://www.saturn-soft.net/Music/Music1/MIDI/Jazz/Menu.htm

 

IMPORTANTE

 

     Este texto não é de minha autoria. Gostaria de ter tido a inspiração para escrevê-lo, mas, eu o recebi de uma pessoa querida em um e-mail. Entretanto, cacoete de professor, introduzi algumas pequenas modificações no original. Realmente, contudo, apenas os comentários (verídicos) que apresentarei ao final são meus. O fato que relatarei já já, aconteceu recentemente em uma madrugada chuvosa e fria da minha muito querida Cidade do Rio de Janeiro. As águas de Março virão em breve, que eu prefiro ao invés do frio. Espero que não causem nem inundações, nem desabriguem os irmãos com-poucas-posses.

 

 

 

 

UM GESTO DE AMOR
(Quantas vezes isto já não aconteceu?)

 

     Um garoto pobre, com cerca de doze anos de idade, vestido e calçado de forma humilde, entra em uma loja, escolhe um sabonete comum, e pede ao proprietário que o embrulhe para presente.

     — É para minha mãe — diz com orgulho o garoto.

     O dono da loja ficou muito comovido diante da singeleza da escolha daquele presente. Olhou com piedade para o seu jovem freguês e, sentindo uma grande compaixão, teve vontade de ajudá-lo. Pensou que poderia embrulhar, junto com o sabonete escolhido, algum artigo mais significativo. Entretanto, ficou indeciso: ora olhava para o garoto, ora para os artigos que tinha em sua loja. Deveria ou não fazer? O coração dizia sim, a mente dizia não.

     O garoto, notando a indecisão do homem, pensou que ele estivesse duvidando de sua capacidade de pagar. Colocou a mão no bolso, retirou as moedinhas que dispunha e as colocou sobre o balcão.

     O homem ficou ainda mais comovido quando viu as moedinhas de valor tão insignificante. Continuava experimentando um enorme conflito mental. Em sua intimidade concluíra que, se o garoto pudesse, compraria algo bem melhor para sua mãe. Lembrou de sua própria mãe. Fora pobre, e, muitas vezes, em sua infância e adolescência, também desejara presentear sua mãe. Quando conseguiu um emprego, ela já havia partido deste mundo. O garoto, com aquele gesto, estava involuntariamente mexendo nas profundezas dos seus sentimentos.

     Do outro lado do balcão, o menino começou a ficar ansioso. Alguma coisa parecia estar errada. Por que o homem não embrulhava logo o sabonete? Ele já o escolhera, pedira para embrulhar e até tinha mostrado as moedas para o pagamento. Por que a demora? Qual seria o problema?

     No campo da emoção, dois sentimentos se entreolhavam: a compaixão do lado do homem e a desconfiança por parte do garoto.

     Impaciente, o menino perguntou: — Moço, está faltando alguma coisa?

     — Não — respondeu o proprietário da loja. — É que de repente me lembrei de minha mãe. Ela morreu quando eu ainda era muito jovem. Sempre quis dar um presente para ela, mas, desempregado, nunca consegui comprar nada.

     Na espontaneidade de seus doze anos, o menino perguntou: — Nem um sabonete?

     O homem sentiu um calafrio e se calou. Refletiu um pouco, e desistiu da idéia de melhorar o presente do garoto. Embrulhou o sabonete com o melhor papel que havia na loja, colocou uma fita colorida e despachou educadamente o jovem freguês sem responder mais nada.

     A sós, pôs-se a refletir. Como é que nunca pensara em dar algo pequeno e simples para sua mãe? Sempre entendera que presente tinha que ser alguma coisa significativa, cara, tanto assim que, minutos antes, sentira piedade da singela compra, e pensara em melhorar o presente que o pobre menino comprara.

     Comovido, entendeu que naquele dia havia recebido uma fantástica lição. Junto com o sabonete do menino, seguia algo muito mais importante e grandioso. O melhor de todos os presentes: um gesto de amor!

 

 

     Invista no amor. Esta é a lição que este episódio ensina. O amor é o mais poderoso meio de tornar as pessoas felizes. Em qualquer circunstância, em qualquer data especial, em quaisquer comemorações, o mais importante não é o que se dá, mas como se dá.

     Todo presente deve se revestir de sentimento, e não deve haver quaisquer diferenças entre homenagens a uma pessoa pobre ou a uma pessoa rica. Uma homenagem, vinda do coração, é uma HOMENAGEM.

     A expressão deve ser sempre do afeto. O que se deve dar é o coração a vibrar em puro e pleno amor.

     O valor do presente não está no quanto ele vai aumentar o conteúdo das caixas registradoras de quem o vende, mas, sim, o quanto ele somará na contabilidade emocional do coração de quem o recebe.

 

 

COMENTÁRIOS

 

RIO  DE  JANEIRO

Rio de Janeiro
A Cidade que eu moro e que amo demais.
Se você passar o mouse sobre o Rio à noite...
Fontes das Fotografias Digitais:
http://www.worldhistory.com/wiki/R/Rio-de-Janeiro.htm
http://www.fisiculturismo.com.br

 

     Hoje, 11 de Dezembro de 2004, por volta de 1 hora da madrugada, depois de vivenciar na noite de sexta-feira passada, em um local do Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, um dos episódios mais emocionantes e importantes de minha vida, voltando para casa de táxi, entabulei uma conversa com o taxista que me trouxe, conversa essa que procurarei reproduzir em seguida da maneira mais fidedigna.

     O homem era muito simpático e dono de um gigantesco bigodão. Para mim, o bigode daquele quase senhor já entrado nos "enta", era absolutamente monumental. Talvez, pensei – começando a mergulhar nos delírios de sempre – se ele resolvesse vendê-lo, daria para fazer uma meia peruca para alguém, e ele ganharia uma boa grana. Quem sabe, com o dinheiro apurado na venda, pudesse dar de entrada em um carro mais novo do que aquela charanga que ele tinha. Aquela caranguejola sacudia tanto e fazia tanto barulho, que mais parecia um liqüidificador velho. Mas, como o meu próprio carro não está muito melhor do que o dele, e como não dou a mínima para essas coisas, me esqueci do calhambeque e resolvi estabelecer um diálogo com o taxista.

     — E aí meu amigo. Como vão as coisas. — Falei para puxar um papinho. Para mim é impossível estar junto a um ser humano qualquer, sem tentar ter uma conversinha amigável. Converso com todo mundo. Porteiros, faxineiros, pipoqueiros, malandros, ladrões, ascensoristas, descuidistas, pivetes, prostitutas, lésbicas, garçons, garçonetes, traficantes, mentirosos, homossexuais, sem-nada, e, quando calha, com doutores. Mas, os taxistas são meus preferidos. Com eles, aprendo verdadeiras lições de vida. Às vezes, tenho a oportunidade de, disfarçadamente e muito de leve, meter um rosacrucianismozinho na prosa, em uma linguagem exotérica. Foi exatamente o que aconteceu mais uma vez nesta fria e fantástica madrugada. Eu, realmente, não perco uma chance de ser solidário. Essa coisa besta de dizer, de recomendar ou de escrever uma coisa e de praticar outra, é uma putíssima hipocrisia. Não se envolver com os problemas dos outros? Pára com isso, fariseu. Ostentar virtude e misericórdia sem tê-las é farisaísmo da melhor qualidade. Tô fora. Rosacruzes, maçons, teósofos, antroposósofos, religiosos, agnósticos, todos, têm que fazer a sua parte. Jamais hipoteticamente. Sempre categoricamente. Não participar e silenciar quando o momento pede ação e discurso, é entrar por omissão para o clube das trevas farisaicas. E desse clube eu nunca fui, não sou e não serei sócio.

     — A barra não tá fácil. — Respondeu o taxista. E continuou o papo explicando: — Tem muito táxi na praça. Por causo disso resolvi trabalhar de noite. Também é melhor, porque tem menos trânsito e menas confusão. E o tempo passa mais rápido.

     — Compreendo. — Respondi. — Mas, não é meio perigoso trabalhar à noite?

     — É e não é, né. A gente precisa ter cuidado — disse o taxista-bigodão. O bigode dele era tão grande que, sem querer, eu só olhava para aquele bidode descomunal. Não conseguia mesmo desgrudar o olho daquela montanha de pelos. Nessas horas, não sei o porquê, eu deliro e começo sempre a pensar nas coisas mais engraçadas, ainda que verossímeis. Primeiro tentei construir mentalmente uma cena dele tirando meleca. Desisti. Achei que o bigode atrapalharia. Depois, fiquei imaginando aquele homem tomando sopa. Seria possível ele tomar sopa sem molhar o bigodão? Concluí que não. Quando ia emendar outro devaneio, ele continuou as explicações: — Mas, de dia também é um perigo.

     — Sempre pensei que de dia era mais seguro. — Respondi, esquecendo dos delírios em que estava me metendo.

     — De certa maneira, é, né. — Concordou o profissional do super-bigode, bigodaço que não me saía nem da cabeça nem dos olhos. — Mas, às vezes, de dia também a gente pode quebrar a cara. — Arrematou o homem me olhando de soslaio, como se estivesse me examinando.

     Por que? — Perguntei — Você já passou por alguma situação difícil?

     — Vou contar pro o senhor. — disse o taxista muito sério. — Eu tenho vinte e cinco anos de praça e só fui assaltado uma vez. Tem mais ou menos dois anos. Por um garoto de quinze anos. Eu acho que ele devia ter mesmo uns quinze anos. O garoto fez sinal pra mim na Rua Doutor Satamini, lá na Tijuca, e me pediu para levá-lo na Jorge Rudge. Era, mais ou menos, duas da tarde. Pleno dia. Foi conversando comigo numa boa. Assim como o senhor. Quando cheguei lá, ele encostou um revólver na minha barriga, e disse: Perdeu cara. Passa a féria toda, se não vai dançar. Manda logo a grana que eu num tô brincando.

     Penalizado, comentei: — Mas nada de grave aconteceu, pois não?

     Continuando a relatar o infausto ocorrido, o taxista contou-me: — Depois que ele me tomou os R$ 180,00 da féria, mandou eu sair do carro e me mandar. Não tive alternativa. O garoto estava nervosíssimo e eu não queria que ele perdesse a cabeça. Tenho família, né. Tratei de sair logo do carro e correr. Já há alguns metros do carro ouvi um barulho de metal. Então parei de correr e olhei pra trás. O garoto não estava mais por lá. Resolvi voltar e vi que as chaves do carro estavam jogadas sobre o capô. Peguei as chaves pra dar o fora dali o mais rápido possível. Mas, não é que o filho da puta do garoto arrancou os fios da caixa de fusível? Tive, então, que chamar um reboque. Foi mais R$ 200,00 que gastei. Se eu pego esse filho da puta eu mato ele.

     — Meu irmão — interrompi o desabafo do homem com todo o cuidado. — Não vale a pena.

     — Vale sim. — Disse o bigodão, arfando e destilando mágoa e ódio ao mesmo tempo. Eu já vi esse filho da puta duas vezes, mas não tive oportunidade de pegá-lo. Mas, quando eu puder, vou passar com o carro por cima dele.

     — Não faça isso, meu irmão. — Disse eu consternado. — Não vale a pena. E já se passaram dois anos. Já pensou se você mata esse garoto em um acesso de fúria? Ele poderia ser seu filho. Quem sabe foi mal educado pelos pais. É possível que nem saiba a diferença entre estar vivo e não estar. Você sabe. Não é, meu irmão? Se você tivesse um filho que fizesse uma besteira dessas, e depois alguém o matasse, como você ficaria? Mas, há algo muito pior do que isso. Se você matar esse menino, você assume um compromisso para o resto de sua existência com as forças do mal. Não vai passar um dia sem que você não se lembre do que fez. Assassinar uma pessoa é gravíssimo. Pior quando há premeditação. Se você o tivesse matado no momento do roubo, era outra coisa. Ainda que também não seja cosmicamente lícito, há fortes atenuantes. Isso eu lhe digo como espiritualista. Ou você não se importa com a sua própria vida? Acho que ela vale mais do que R$ 180,00. E até mais do que os outros R$ 200,00 que você gastou para rebocar e consertar o carro. Ou não? Bem, eu não estou lhe dando uma lição de moral, porque acho que lições de moral não adiantam nada. Apenas estou expressando minha opinião porque você me contou o fato.

     O homem me olhou por uns instantes, silenciou e acabou dizendo: — O senhor tem razão. Não vale mesmo a pena.

     Eu não disse mais uma palavra até o homem estacionar em frente ao prédio em que moro. A corrida marcava R$ 12,50. Dei uma nota de R$ 50,00 e pedi que ele me desse de troco R$ 35,00. Quando comecei a abrir a porta para sair, virei-me para ele, olhei fixamente o centro de sua testa, e disse: — Lembre-se: não vale a pena. Desejo-lhe paz ao seu coração, meu irmão, fique com Deus e tenha uma boa noite de trabalho.

     O homem, absolutamente calmo, respondeu: — Boa noite para o senhor também.

 

 

 

 

PRESENTES

 

     Geralmente, quando as pessoas pensam em presentes, pensam apenas em coisas materiais. Pedir desculpas, um conselho, uma opinião sincera, um muito obrigado, um por favor, um abraço, um sorriso, um beijo, um envolvimento em um problema que não é nosso, são presentaços que oferecemos, pois brotam de nosso ser mais recôndito. Valem muito mais do que ouro em pó, ou esses presentes de araque que as pessoas dão para fazer média. São momentos racionais-emocionais nos quais quem 'fala', geralmente, não é o eu objetivo, mas, o Eu Maior que cada um de nós tem dentro de si. Não podemos, portanto, deixar de oferecer nossos melhores préstimos em situações como essa desse taxista.

     Uma frase, uma simples palavra, um gesto, podem mudar a vida de um ser humano. Temos sempre que encontar tempo e, de coração aberto, com disponibilidade categórica, ouvir os problemas dos outros, e auxiliá-los a encontrar soluções para seus fardos e desencantos. O Judaísmo ensina que 'quem salva uma vida, salva a Humanidade'. Mas, essa Lei é muito mais ampla e muito mais profunda: Quem salva uma vida — qualquer vida — está muito mais do que apenas salvando uma vida. Está salvando todos os universos e todos os seres de todos os universos. Está, mesmo, presenteando todo o Kósmos.

     Mais tarde, já em casa, mentalizei e imprimi na consciência daquele homem a idéia para que esquecesse o ocorrido, e que não pensasse mais em qualquer forra ou em qualquer revanche. Como não tive a oportunidade de perguntar seu nome, minha mentalização foi dirigida para a imagem mental que consegui reter do homem, e o nome que usei para comandar meus pensamentos até ele pelo Cósmico foi: Taxista Bigodão.

     

        

 

TRÊS SUGESTÕES PARA REFLEXÃO

 

     A seguir, apresento três imagens em flash para reflexão. Foram feitas por mim — para todos, pois bolei essas imagens para quem vier a ler este texto — com o auxílio, é claro, do meu professor-tio-hippão de trancinhas de Web Design. Quase fiquei louco para fazer essas imagens. E já esqueci como são feitas. E o meu professor-tio-hippão de trancinhas só ficava dizendo: — Presta atenção, Rodolfo. Você não está prestando atenção no que o tio está ensinando.

 

 

     Bem, sugiro que, ao visualizar cada uma das imagens abaixo, o leitor tente afastar da mente todos os pensamentos, e permita que as imagens interajam com seu subconsciente por apenas um minuto em cada imagem. Certamente uma nova idéia surgirá. Logo que surgir um pensamento ou uma idéia, não olhe mais para as imagens. Elas poderão provocar e superpor novas idéias ou novos pensamentos, e, assim, de certa maneira, 'contaminar' a primeira intuição que veio à mente. Medite sobre o que seu Eu Interno transferiu, em primeira-mão, para sua Mente Objetiva. Se desejar, anote suas reflexões para futuras consultas. Por último, lembre-se: ninguém poderá explicar qualquer uma de suas sensações. Experiências internas pessoais são, por um lado, intransferíveis: e, por outro, impossíveis de ser analisadas por quem quer que seja, que não o próprio experimentador. O que é sagrado não deve ser profanado. Quem profana o que é sagrado está fechando uma porta. Sugestão: tecle F11 para poder visualizar melhor as imagens em flash. Para retornar, tecle novamente F11.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DADOS SOBRE O AUTOR

Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.

 

 

 

PAZ  PROFUNDA

 

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