POR QUE NÃO?

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Não se pode trabalhar num esgoto sem cheirar a esgoto.

 

Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.

 

Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos, façamos tudo para não viver inteiramente como animais.

 

Sem futuro, o presente não serve para nada; é como se não existisse. Pode ser que a Humanidade venha a conseguir viver sem olhos, mas, então, deixará de ser Humanidade.

 

... é o que as palavras simples têm de simpático: não sabem enganar.

 

As religiões, todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a morte. Precisam dela como do pão para a boca.

 

A propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos do que o homem.

 

O tempo, ainda que os relógios queiram nos convencer do contrário, não é o mesmo para toda gente.

 

É necessário sair da ilha para ver a ilha; não nos vemos se não nos saímos de nós.

 

Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute.

 

Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida.

 

Por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o mais horrendo e cruel.

 

Não sou um ateu total. Todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.

 

Há uma pergunta que me parece dever ser formulada, e para a qual não creio que haja resposta: que motivo teria Deus para fazer o Universo? Só para que num planeta pequeníssimo de uma galáxia pudesse ter nascido um animal determinado que iria ter um processo evolutivo que chegou a isto?

 

Perguntou-se a José Saramago:
— Como podem homens sem Deus serem bons?
Sua resposta foi:
— Como podem homens com Deus serem tão maus?

 

 

José Saramago (16 de novembro de 1922 - )

 

 

 

 

 

 

 

Por que não os agnósticos?

Por que não os pernósticos?

Por que não os inconformistas?

Por que não os reacionistas?

 

 

Por que não os alcaiotes?

Por que não os sacerdotes?

Por que não os proxenetas?

Por que não os alcagüetas?

 

 

Podemos gostar ou não gostar,

podemos até nos desconformar,

mas não há dois; há tão-só Um.

 

 

Temos, enfim, que aceitar o fato

– seja desde já, seja no último ato –

de que somos Um no Todo-Um.

 

 

 

 

 

 

 

Fundo musical:

Pange Lingua (Santo Tomás de Aquino)

Fonte:

http://panjikristo.multiply.com/journal/item/29