Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

— Será que a história da maçã é pura fantasia?
Eu – que sou malandro velho – nem a pau eu comia!

 

 

Em primeiríssimo lugar,

jamais, jamais devemos desistir;

com maçã ou sem maçã, avante seguir.

Em segundíssimo lugar,

ad æternum, precisamos investir

para não conjugar o verbo inadimplir.

 

 

E também:

 

 

Precisamos parar de acreditar

nessa tal de história da maçã.

Isto é coisa de papa-moscas tantã.

Precisamos parar de tremelicar

por causa do mitológico do leviatã.1

Esta leviatã-(n)-ice... nem com febre terçã!

 

Precisamos nos livrar

tanto da falaz beneficência

quanto da bastarda malevolência.

Precisamos nos alforriar

tanto de ter intenção

quanto de abrir mão.

 

Precisamos nos desvencilhar

tanto da inútil insurreição

quanto da inhenha quietação.

Precisamos nos desembaraçar

tanto do arbitramento

quanto do não-julgamento.

 

Precisamos nos desemaranhar

tanto da falsa castidade

quanto da apocópica lubricidade.

Precisamos nos desenrascar

tanto da impassibilidade

quanto da impetuosidade.

 

Precisamos nos arredar

quanto do trevoso agnosticismo.

Precisamos nos aleixar

tanto das inócuas genuflexões

quanto das estúpidas [in]submissões.2

 

Precisamos nos livrar

tanto da insegura segurança

quanto da esperançosa esperança.

Precisamos nos desviar

tanto do não se omitir

quanto do deixar de agir.

 

Precisamos nos esquivar

tanto das discordantes concórdias

quanto das acordantes discórdias.

Precisamos nos descativar

quanto de outros que tais.

 

Precisamos nos apartar

tanto de só querer o lume

quanto de glosar o negrume.

Precisamos nos desalgemar

tanto da alucinatória folia

quanto da infesta monomania.3

 

Precisamos nos desalquimiar

tanto de sentir paúra do nigredo

quanto de devanear com o rubedo.4

Precisamos nos desinfeccionar

tanto dos rituais desprezíveis

quanto das magias prometíveis.

 

Precisamos nos afastar

tanto do nó que não ata nem desata

quanto da alabarda que mata.

se agasalhamos a intenção de Viver

unificados com e no Eterno Ser.

 

Precisamos nos libertar.

Tudo precisamos vencer,

tudo precisamos entender.

Precisamos nos esforçar

para reachar o Caminho.

 

 

 

A Compreensão/Illuminação
não vem e não chega ab-ruptamente!

 

 

 

Observação:

O gráfico acima é meramente pictórico e não está rigorosamente correto, pois, em princípio, a Compreensão (Sabedoria) não vem de fora. Toda a Sabedoria Cósmica (SOPhIa) sempre esteve, está e sempre estará em nós; apenas precisamos iniciaticamente [re]achá-La. Enquanto isso, para muitos, o jeito é: make it one for my baby and one more for the road.

 

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Notas:

1. Leviatã é o livro mais famoso do matemático, teórico político e filósofo inglês Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 – Hardwick Hall, 4 de dezembro de 1679), publicado em 1651, e que, até hoje, é muito estudado. O seu título se deve ao monstro bíblico Leviatã (no Primeiro Testamento, a imagem do Leviatã é retratada, pela primeira vez, no Livro de Jó, capítulo 41). O livro, cujo título por extenso é Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, trata da estrutura da sociedade organizada. Na obra Leviatã, Hobbes explanou seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isto, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e, por isto, formam sociedades entrando em um contrato social. De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, de maneira que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, seja um monarca, seja uma assembléia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma Democracia), deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. Hobbes argumentava que os homens só podem viver em paz se concordarem em se submeter a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja Católica e o Estado formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, criticava a livre-interpretação da Bíblia proposta pela Reforma Protestante. Hobbes argumentava que não podemos conhecer nada sobre o mundo exterior a partir das impressões sensoriais que temos dele. Esta Filosofia é vista como uma tentativa para embasar uma teoria coerente de uma formação social puramente no fato das impressões por si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para o homem agir em sentido de preservar sua própria vida, e construir, a partir deste imperativo, toda a sua Filosofia Política.

2. Como pode ser cabível alguém se insubmeter à Voz do Deus de seu Coração?

3. Aqui, sobretudo e particularmente, o sentido que desejo emprestar ao vocábulo monomania é o de manter como único pensamento espiritualismos variados e assemelhados, muitas vezes aprisionadores e destrutores, retardantes e asfixiantes, falsídicos e, ocasionalmente, fatídicos. Há gente que só pensa e só fala de coisas (pseudo-)espirituais; isto é aporrinhante (para quem tem que ouvir) e doentio (para quem dá de tarelar). Há gente que decora meia dúzia de palavras religiosas, e, de forma patológica e monocórdica, repete e repete sem saber o que está dizendo, fazendo de Deus, como diz Leonardo Boff, uma espécie de tapa-buraco. Pior é quando dão de engrupir os pacóvios bem-intencionados para arrumar uma bufunfinha (às vezes, é bufunfona!). Acho que nem uma guerra pode ser pior do que isto, porque a guerra, geralmente, mata rápido, e a escravização religiosa, como a Tænia solium, normalmente, vai parasitando e chuchando aos pouquinhos, e quando o pacóvio bem-intencionado se dá conta, está a pão e bananas, e, não raro, se tornou proprietário de um baita fecaloma. Amém-bolas! Há tempo para tudo! Há tempo para pecar (ainda que isto não seja obrigatório, pois o espírito que quer ser salvo não deve começar a pecar o quanto antes, como ensinou Grigoriy Yefimovich Rasputin) e há tempo para despecar; há tempo para plantar e há tempo para colheitar; há tempo montante e há tempo vazante; há tempo de fluxo e há tempo de refluxo; há tempo para rir e brincar e há tempo de diligenciar e ralar; há tempo de Donald Duck e bolinhas de gude e há tempo de terno e gravata; há, enfim, tempo para se devotar às coisas espirituais e há tempo para se dedicar às coisas materiais. Lembremos da imploração de Agostinho de Hipona (Tagaste, 13 de novembro de 354 – Hipona, 28 de agosto de 430): — Senhor, dai-me a castidade e a continência... Mas não agora! Adiantam o quê castidade e continência com vontade de trepar? O Hiponense sabia isto muito bem. Paciência e equilíbrio: há mesmo tempo para tudo! Ora, fazer do tempo um contratempo monomaníaco é o mesmo que confundir o ilustre senhor Luiz Inácio Lula da Silva com o molusco cefalópode da família dos loliginídeos Dorytheutis brasiliensis* fora da inácia e que silva.

* Dorytheutis brasiliensis = lula. Viu só? Há tempo para rir e brincar... Bom humor e muita água.

4. Na realidade, a Alquimia Operativa tem quatro fases: Nigredo, Albedo, Citredo (ou Citrinitas) e Rubedo. Todavia, o Sol da Consciência Illuminada não alvorará de crisóis e atanores e de calcinações, sublimações, dissoluções, putrefações, destilações, coagulações e tingiduras in vitro, mas, sim, da Transmutação Interior, in vivo. Não esqueçamos de que o atanor, por um lado, para os Iniciados Alquimistas, simbolizava o corpo humano, e que, por outro lado, o crisol configurava o processo de Internalização Mística, que conduz à Compreensão, que, em última instância, promove a Libertação. Fora, nada; dentro, tudo. Fora é, mais ou menos, como as lindas alegorias de carnaval; dentro é como... Dentro!

 

 

 

 

Música de fundo:

História da Maçã
Compositores: Haroldo Lobo & Milton de Oliveira
Intérprete: Jorge Veiga

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/jorge_ma.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://carolinaarm.multiply.com/
journal/item/95

http://www.y3.com/
search-results/700081/apple-target

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Thomas_Hobbes

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Leviat%C3%A3_(livro)

http://clipartsegravuras.no.sapo.pt/
cliparts.htm

http://downloads.open4group.com/wallpapers/
1024x768/alegorias-de-carnaval-10366.html