Arte Poética

 

ARISTÓTELES

 

(Fragmentos Selecionados)

 

 

 

Aristóteles

Busto de Aristóteles
(Museu do Louvre)

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo

 

 

 

Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), na Arte Poética, pretendeu discorrer sobre a produção poética de sua época: a tragédia, a epopéia e a comédia. Para tanto, selecionou certos aspectos da poesia e explicou-os separadamente, ressaltando a importância que cada parte tem no todo na produção poética.

 

Para o Estagirita, a arte poética consiste na imitação, em que sempre sobressaem três aspectos: os meios imitatórios, os objetos imitáveis e a maneira de imitá-los. Há também exprimibilidades distintas para se retratar os personagens, que também apresentam outros três aspectos. Segundo Aristóteles, os poetas podiam imitar os personagens pintando-os melhores, pintando-os iguais e pintando-os piores.

 

Enfim, este estudo, suave e informativo, pretendeu recortar, aqui e ali, alguns excertos desta obra aristotélica – a Arte Poética.

 

 

 

 

Arte Poética
(
Fragmentos Selecionados)

 

 

 

Tanto na epopéia quanto na poesia trágica, assim como na comédia e na poesia ditirâmbica, seus meios não são os mesmos, nem os objetos que imitam, nem a maneira de os imitar... Ou seja: a imitação é realizada segundo os meios, segundo os objetos e segundo a maneira.

 

Assim como alguns fazem imitações em modelo de cores e atitudes – uns com arte, outros levados pela rotina, outros com a voz – assim também na epopéia, na poesia trágica, na comédia e na poesia ditirâmbica a imitação é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia, empregados separadamente ou em conjunto.

 

Não se chama de poeta alguém que expôs em verso um assunto de medicina ou de física! Entretanto nada de comum existe entre Homero e Empédocles, salvo a presença do verso. Mais acertado é chamar poeta ao primeiro e, ao segundo, fisiólogo.

 

A tragédia se propõe a imitar os homens, representando-os piores; já a comédia os torna melhores do que são na realidade.

 

A tendência para a imitação é instintiva no homem, desde a infância. Neste ponto, distinguem-se os humanos de todos os outros seres vivos, isto é, por sua aptidão muito desenvolvida para a imitação. Pela imitação, adquirimos nossos primeiros conhecimentos, e nela todos experimentamos prazer. A prova é-nos visivelmente fornecida pelos fatos: objetos reais que não conseguimos olhar sem custo são contemplados por nós com satisfação em suas representações mais exatas. Tal é, por exemplo, o caso dos mais repugnantes animais e dos cadáveres.

 

 

 

 

A aquisição de um conhecimento arrebata não só o filósofo, mas todos os seres humanos, mesmo que não saboreiem tal satisfação.

 

Se acontece de alguém ainda não ter visto o original, não é a imitação que produz o prazer, mas a perfeita execução, ou o colorido, ou alguma outra causa do mesmo gênero.

 

A comédia é uma imitação de maus costumes, mas não de todos os vícios; ela só imita aquela parte do ignominioso que é ridículo.

 

A tragédia é a imitação de uma ação importante e completa, de certa extensão; deve ser composta em um estilo tornado agradável pelo emprego separado de cada uma de suas formas. Na tragédia, a ação é apresentada, não com a ajuda de uma narrativa, mas por atores. Suscitando a compaixão e o terror, a tragédia tem por efeito obter a purgação dessas emoções.

 

 

 

 

Um estilo tornado agradável é aquele que reúne ritmo, harmonia e canto.

 

O pensamento é tudo o que nas palavras pronunciadas expõe o que quer que seja ou que exprime uma sentença.

 

A tragédia é imitação, não de homens, mas de ações – da vida, da felicidade e da infelicidade (pois a infelicidade resulta também da atividade) sendo o fim que se pretende alcançar o resultado de uma certa maneira de agir, e não de uma forma de ser. Os caracteres permitem qualificar o homem, mas é da ação que depende sua infelicidade ou felicidade.

 

Sem ação não há tragédia, mas poderá haver tragédia sem os caracteres.

 

O caráter é o que permite decidir após a reflexão: eis o motivo por que o caráter não aparece em absoluto nos discursos dos personagens, enquanto estes não revelam a decisão adotada ou rejeitada.

 

Todo é o que tem princípio, meio e fim. O princípio não vem depois de coisa alguma necessariamente; é aquilo após o qual é natural haver ou se produzir outra coisa. O fim é o contrário: produz-se depois de outra coisa, quer necessariamente, quer segundo o curso ordinário, mas depois dele nada mais ocorre. O meio é o que vem depois de uma coisa e é seguido de outra.

 

O belo, em um ser vivente ou em um objeto composto de partes, deve não só apresentar ordem em suas partes como também comportar certas dimensões. Com efeito, o belo tem por condições uma certa grandeza e a ordem. Por este motivo, um ser vivente não pode ser belo, se for excessivamente pequeno (pois a visão é confusa, quando dura apenas um momento quase imperceptível), nem se for desmedidamente grande (neste caso o olhar não abrange a totalidade, a unidade e o conjunto escapam à vista do espectador, como seria o caso de um animal que tivesse de comprimento dez mil estádios). Daí se infere que o corpo humano, como o dos animais, para ser julgado belo, deve apresentar certa grandeza que torne possível abarcá-lo com o olhar; do mesmo modo as fábulas devem apresentar uma extensão tal que a memória possa também facilmente retê-las.

 

Quanto mais abrangente for uma fábula, tanto mais agradável será, desde que não perca sua clareza. Para estabelecer uma regra geral, eis o que podemos dizer: a peça extensa o suficiente é aquela que, no decorrer dos acontecimentos produzidos de acordo com a verossimilhança e a necessidade, torne em infortúnio a felicidade da personagem principal ou inversamente a faça transitar do infortúnio para a felicidade.

 

 

Pedro e o Lobo

 

A poesia é mais filosófica e de caráter mais elevado do que a história, porque a poesia permanece no universal e a história estuda apenas o particular. O universal é o que tal categoria de homens diz ou faz em determinadas circunstâncias, segundo o verossímil ou o necessário. Outra não é a finalidade da poesia, embora dê nomes particulares aos indivíduos...

 

A missão do poeta consiste mais em fabricar fábulas do que fazer versos, visto que ele é poeta pela imitação, e porque imita as ações.

 

O reconhecimento, como o nome indica, faz passar da ignorância ao conhecimento, mudando o ódio em amizade ou inversamente nas pessoas votadas à infelicidade ou ao infortúnio.

 

A mais bela tragédia é aquela cuja composição deve ser, não simples, mas complexa; aquela cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão (pois é esta a característica deste gênero de imitação). Em primeiro lugar, é óbvio não ser conveniente mostrar pessoas de bem passar da felicidade ao infortúnio (pois tal figura produz, não temor e compaixão, mas uma impressão desagradável); nem convém representar homens maus passando do crime à prosperidade (de todos os resultados, este é o mais oposto ao trágico, pois, faltando-lhe todos os requisitos para tal efeito, não inspira nenhum dos sentimentos naturais ao homem – nem compaixão, nem temor); nem um homem completamente perverso deve tombar da felicidade no infortúnio (tal situação pode suscitar em nós um sentimento de humanidade, mas também sem provocar compaixão nem temor). Outro caso diz respeito ao que não merece se tornar infortunado; neste caso, o temor nasce do homem nosso semelhante, de sorte que o acontecimento não inspira igualmente nem compaixão nem temor.

 

Mesmo a mulher, do mesmo modo que o escravo, pode possuir boas qualidades, embora a mulher seja um ente relativamente inferior e o escravo um ser totalmente vil.1

 

Quando o poeta organiza as fábulas e completa sua obra compondo a elocução das personagens, deve, na medida do possível, proceder como se ela decorresse diante de seus olhos, pois, vendo as coisas plenamente iluminadas, como se estivesse presente, encontrará o que convém, e não lhe escapará nenhum pormenor contrário ao efeito que pretende produzir.2

 

 

 

 

 

O poeta deve dialogar com o leitor o menos possível...3

 

O maravilhoso agrada...

 

É preferível escolher o impossível verossímil do que o possível incrível... Se o poeta se propõe imitar o impossível, a falta é dele. Mas se o erro provém de uma escolha mal feita, se ele representou um cavalo movendo ao mesmo tempo as duas patas do lado direito, ou se a falta se refere a algum conhecimento particular, como a medicina ou qualquer outra ciência, ou se de qualquer modo ele admitiu a existência de coisas impossíveis, então, o erro não é intrínseco à própria poesia.

 

 

 

 

No que diz respeito à poesia, deve-se preferir o impossível crível ao possível incrível.4

 

 

 

O Impossível Hulkrível!
(Aponte o mouse para o
Hulkrível aí em cima)

 

 

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Notas:

1. Sempre me perguntei o porquê de Aristóteles ter pensado desta maneira, e nunca consegui obter uma resposta que me satisfizesse. No caso do escravo, talvez, seja por ele ter sido presumidamente um bárbaro que foi vencido em batalha; mas, nem assim, isto justifica que se o considere vil. Não há escravidão por natureza, o escravo não é uma máquina sem alma e também não é aquele que, escravizado, deva realizar o projeto do escravizador. Escravizador, hoje; amanhã – nunca se sabe! – escravo. No caso da mulher... Bem, no caso da mulher, quando eu morrer, vou perguntar pessoalmente ao Senhor Estagirita por que ele a considerava um ente relativamente inferior. Mas, de antemão já vou avisando; nada do que ele apresente como argumento irá me convencer. E com licença da má palavra: mulher-ente-relativamente-inferior é o caralho!

2. De maneira geral, isto não vale só para as fábulas; na realidade, vale para tudo.

3. Não!!! O poeta deve dialogar com o leitor o mais possível. Ora, para quem escreve o poeta?

4. Será? E aí me lembrei de Luís Vaz de Camões (c. 1524 – 1580), o Grande Poeta Português que tinha um olho só, mas enxergava tudo!

Sôbolos rios que vão
por Babilónia, me achei,
onde sentado chorei
as lembranças de Sião
e quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
de meus olhos foi manado,
e, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.

 

Fundo musical:

Pireotissa

Fonte:

http://www.faliraki-info.com/greek-midi-music/

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

http://kamilacarla.wordpress.com/
2010/01/21/verde/

http://media.photobucket.com/

http://books.google.com.br/

http://topicos.estadao.com.br

http://recantodasletras.uol.com.br/
resenhasdelivros/1550163

http://queenmadonna51.blogspot.com/
2009/10/decoracao-de-halloween.html

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2235