OH! PORTUGAL!

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

Oh!, Portugal! Foste império;

hoje, razão mais que mistério!1

Esperançar um brilhar nublado

no qual galoparia o Desejado?2

 

 

Não ouças o Sr. Saramago.3

Federação ibérica? Carago!

Esta federação seria feérica,

estratosférica e cadavérica.4

 

 

Para amanhã é que se anda;

para anteontem, tudo desanda.

Para frente, ó querido Portugal!

 

 

Em tua espiritualizada Lisboa,

Impenetrabilis5 S.'. B.'.6 ressoa.7

Para o acme, ó querido Portugal!

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Como observa José Carlos Oliveira Machado em sua dissertação de mestrado em ensino da língua e literatura portuguesas – A Peregrinação: Mito(s), Símbolos, Realidade e UtopiaAntónio Quadros, na sua obra Portugal, Razão e Mistério (que tanto temática como estruturalmente converge para a teoria das três idades de Joaquim de Flora) exemplifica a sua noção de que a história é um produto teleológico, escatológico e profético. Segundo Joaquim de Flora (c. 1132 – 1202), também conhecido por Joaquim de Fiore, Gioacchino da Fiore, Joaquim de Fiori e Joaquim, o abade de Fiore, existiriam Três Estádios ou Idades da História, no desenvolvimento do Mundo e da Igreja de Deus, correspondentes às Três Pessoas da Santíssima Trindade. A Primeira Idade correspondeu ao Governo de Deus Pai, e é representada pelo poder absoluto, inspirador do temor sagrado que perpassa o Velho Testamento. É correspondente, portanto, ao tempo anterior à revelação de Jesus Cristo. A Segunda Idade inicia-se pela revelação do Novo Testamento e pela fundação da Igreja de Cristo, em que, através de Deus Filho, a Sabedoria Divina, que havia permanecido escondida da Humanidade, se revela. Apresenta, assim, similitude com a contemporaneidade de Joaquim de Flora. A Terceira Idade, que haverá de vir, corresponde ao domínio da Terceira Pessoa. Será o advento do Império do Divino Espírito Santo, um tempo novo onde o amor universal e a igualdade entre todos os membros do Corpo Místico de Deus, isto é entre os cristãos, serão alcançados. No Império do Divino Espírito Santo, as leis cristológicas serão finalmente realizadas, não só na sua Letra, mas, principalmente, no seu Espírito, e a mensagem que nelas está escondida será finalmente compreendida e aceita pela Humanidade. Na Terceira Idade não haverá necessidade de instituições disciplinadoras da fé, já que esta será universal e baseada diretamente na inspiração divina, pelo que poderão ser dispensadas as estruturas institucionais do poder temporal da Igreja. A Sabedoria Divina a todos iluminará igualmente, ou seja, todos serão igualmente beneficiados por uma Inteligência Espiritual que capacitará a todos a plena compreensão dos divinos mistérios. Bem, ao contrário do que afirmei no segundo verso, isto é mais mistério do que razão!

2. D. Sebastião, o décimo sexto rei de Portugal, foi cognominado o Desejado por ter sido o herdeiro esperado da Dinastia de Avis, mais tarde nomeado o Encoberto ou o Adormecido. Como explica Rodrigo Silva em As Raízes do Sebastianismo, D. Sebastião encontra, na conjuntura, espaço e condições para se tornar o Desejado. São os cristãos-novos portugueses com sua tradição messiânica, é o seu nascimento que afasta as pretensões espanholas de unificação mais uma vez, é a crise que se abala contra o império português, são as trovas de Bandarra, é a tradição medieval de o Encoberto, é o misticismo e a religiosidade de Portugal, é o milenarismo cristão. Enfim, há um terreno prolífero para o mito. Se se pode dizer que existem 'condições ideais' para o nascimento de um mito, aí está um: Portugal dos séculos XVI e XVII. Claro, D. Sebastião, com ou sem mito, não regressará da ilha velada em que estava esconso, montado em um cavalo branco, em uma manhã de nevoeiro, para independenciar a Nação. Esta luta permanente cabe a cada português – a todas as portuguesas e a todos os portugueses.

3. Em entrevista ao jornal Diário de Notícias, em 15 de julho de 2007, o escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português José de Sousa Saramago (Azinhaga, Golegã, 16 de novembro de 1922 – Tías, Lanzarote, 18 de junho de 2010), galardoado com o merecido Nobel de Literatura de 1998, afirmou que a integração entre Espanha e Portugal (federação ibérica) é uma forte probabilidade, e que os portugueses só teriam a ganhar se Portugal fosse integrado à Espanha. Eu não tenho qualquer dúvida sobre esta especulação: não concordo.

4. A independência portuguesa é, pois, marcada e qualificada pela convergência da superestrutura borgonhesa-lusitana e do espírito cristão, segundo o ideal cisterciense e templário, sob o magistério de S. Bernardo. (Portugal, Razão e Mistério, António Quadros, apud Filipe Miguel Dias Cardoso. In: D. Afonso Henriques: Irmão Confrade da Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão). Ora, se é assim – e é! – como pensar em uma união ibérica? Uniões físicas nada significam; geralmente, politicamente forçadas, dão em água de barrela.

5. Impenetrabilis, que, por mérito, para todos nós, poderá se tornar penetrabilis.

6. S.'. B.'. = Svmmvm Bonvm.

7. Para compreender concertada e adequadamente esta afirmação, recomendo a leitura da obra As Mansões Secretas da Rosacruz, de autoria de Raymond Bernard.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.quintadesantoandre.net/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_de_Fiore

http://www.klepsidra.net/
klepsidra2/sebastianismo.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Sebasti%C3%A3o_de_Portugal

http://opiniao-observador.blogspot.com/
2007/09/trivialidades-3-jos-saramago-unio.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Jos%C3%A9_Saramago

https://repositorio.utad.pt/bitstream/
10348/77/1/msc_jcomachado.pdf

http://urgrund.blog.com/

 

Música de fundo:

Lisboa Antiga
Compositores: José Galhardo, Amadeu do Vale & Raul Portela
Interpretação: Amália Rodrigues

Fonte:

http://carlosqueirozpt.multiply.com/
journal/item/400/400